sexta-feira, 30 de abril de 2021

“Dados bateram certinho”, disse Salles, mas investigação sobre madeira apreendida na Amazônia revela irregularidades inquestionáveis

 


“Dados bateram certinho”, disse Salles, mas investigação sobre madeira apreendida na Amazônia revela irregularidades inquestionáveis

"Dados bateram certinho", disse Salles, mas investigação sobre madeira apreendida na Amazônia revela irregularidades inquestionáveis

No final de dezembro do ano passado, a Polícia Federal confiscou mais de 60 mil toras de madeira nativa extraída da Amazônia, operação que foi considerada a maior da história do país. O volume apreendido passou de 200 mil m3. A madeira foi localizada na divisa entre os estados do Pará e do Amazonas e foi avaliada em R$ 130 milhões. Provavelmente teria como destino a exportação.

A descoberta da carga se deu depois que uma balsa com documentação irregular foi encontrada em novembro, navegando no rio Mamuru, na área do município amazonense de Parintins. A partir daí, a Polícia Federal (PF) começou a investigar o movimento de madeireiros com a ajuda de imagens de satélite.

Desde então, a ação que era para ser considerada um triunfo do governo contra o crime ambiental no país se tornou uma disputa pessoal entre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a Polícia Federal.

Salles criticou a operação na Amazônia. Foi até o Pará, duas vezes, uma delas pagando a viagem para jornalistas, para fazer uma “verificação” da madeira apreendida. O ministro afirmou que houve falhas na ação e que as empresas proprietárias das toras teriam razão para contestar a investigação. Ele teria comprovado a origem de duas toras… Sim, duas!

Indignado com a declaração, o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, responsável pela apreensão, disse que era a primeira vez que via um ministro da pasta se posicionar contra a proteção da Floresta Amazônica e garantiu que as toras eram ilegais.

No último dia 14 de abril, Saraiva enviou então uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo de demonstrar a interferência indevida de Salles, assim como do senador Telmário Mota (Roraima) e do presidente do Ibama, Eduardo Bin. O documento menciona “o intento de causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública”. São citados na notícia-crime os “crimes de advocacia administrativa, obstrução às operações e organização criminosa”.

Saraiva ressaltou que apesar das toras estarem etiquetadas, os empresários não conseguiram provar ainda a posse das terras de onde a madeira foi retirada. A suspeita é de grilagem nas terras públicas da região. O delegado também destacou que uma das madeireiras envolvidas no caso já recebeu 20 autos de infração ambiental do Ibama, cujos valores de multas resultam em aproximadamente R$ 8.732.082,00.

Mesmo com todas essas provas em mãos, no dia seguinte à apresentação da notícia-crime ao STF, o delegado da PF foi exonerado do cargo de superintendente no Amazonas.

Agora, uma reportagem da revista Veja dos jornalistas Juliana Castro e Eduardo Gonçalves, que tiveram acesso ao inquérito da Polícia Federal que investiga a apreensão histórica da madeira, revela ainda mais evidências de como não há dúvida de que as toras apreendidas são fruto de ação criminosa.

Pra começar, 70% da madeira apreendida ainda não foi “reinvidicada” por ninguém. Ou seja, até este momento, apenas 30% das toras parecem ter um “dono”. Por que uma carga tão valiosa estaria sendo menosprezada pelos seus proprietários? Certamente porque é ilegal.

Segundo, as espécies de madeiras apreendidas não correspondem àquelas descritas na documentação florestal. Além disso, o registro era de que a madeira era originária de uma área de plano de manejo, mas na verdade, foi retirada de uma unidade de conservação. Por último, o itinerário feito pelas balsas não corresponde com o trajeto realizado.

Salles continua defendendo os madeireiros e insistindo na alegação de que Alexandre Saraiva só quer a atenção da mídia. Muita gente em Brasília discorda dele.

Um grupo de deputados já entrou com um pedido de CPI na Câmara para investigar suas ações no Ministério do Meio Ambiente, como neste caso da apreensão das madeiras, e a ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, determinou que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre as notícias-crime apresentadas contra Salles. Para ela, “os fatos narrados são de gravidade incontestável e envolvem tema de significação maior para a vida saudável do planeta, como é a questão ambiental”.

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Foto: reprodução Twitter Ricardo Salles

Marfim artificial é mais bonito que marfim natural

 

Marfim artificial é mais bonito que marfim natural

Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/04/2021

Marfim artificial é feito em impressora 3D
Peças de marfim natural (esquerda) e marfim artificial (direita).
[Imagem: TU Wien]

Engenharia da arte

A Arquidiocese de Viena, na Áustria, deparou-se com um problema difícil de resolver: Como restaurar obras de arte de marfim, uma vez que, para proteger os elefantes, o comércio de marfim está proibido desde 1989.

Os religiosos foram então buscar ajuda dos seus vizinhos, os engenheiros da Universidade Tecnológica de Viena.

"O projeto de pesquisa começou com uma valiosa urna funerária do século 17, na igreja paroquial de Mauerbach. Ela é decorada com pequenos enfeites de marfim, alguns dos quais se perderam com o tempo. A questão era se eles poderiam ser substituídos pela tecnologia de impressão 3D," conta o professor Jurgen Stampfl, que aceitou o desafio.

Não só puderam, como a equipe criou uma técnica que replica o marfim de forma quase perfeita - incluindo sua característica translucência -, criando peças virtualmente indistinguíveis a olho nu.

O resultado foi tão bom que pode não apenas atender às necessidades de restauração, como também criar um novo mercado para a área de artes plásticas e artesanato - a equipe já está se preparando para comercializar seu material, que eles batizaram de Digory (em inglês, marfim é ivory).

Marfim artificial

A equipe começou o projeto trabalhando com cerâmicas usadas em odontologia, mas as exigências do marfim vão além das melhores tecnologias em material dental disponíveis.

"Tivemos que atender a uma série de requisitos ao mesmo tempo,", disse Thaddãa Rath, pesquisador responsável pelo projeto. "O material não precisa apenas parecer marfim, a resistência e a rigidez também devem ser adequadas e o material deve ser usinável."

Ele encontrou a solução misturando uma resina sintética, partículas de fosfato de cálcio com um diâmetro médio de cerca de 7 micrômetros e pó de óxido de silício extremamente fino.

"Você também deve ter em mente que o marfim é translúcido," explica Rath. "Somente se você usar a quantidade certa de fosfato de cálcio o material terá as mesmas propriedades translúcidas do marfim."

Processado a quente, o material fica em estado líquido, pronto para passar por uma impressora 3D. Na saída dos bicos da impressora, o material é curado com um laser UV camada por camada, até que o objeto seja finalizado, já no formato desejado.

Marfim artificial é feito em impressora 3D
Peças de marfim artificial, com diferentes ajustes de cor para imitar os originais.
[Imagem: TU Wien]

Acabamento e restauração

Para se equiparar aos objetos de arte, o objeto impresso em 3D pode então ser polido e ter sua cor ajustada para criar um substituto de uma peça específica de marfim aparentemente autêntica.

Para o acabamento e retoque da cor do objeto, Rath conseguiu os melhores resultados usando o chá preto. As linhas escuras características que normalmente atravessam o marfim também podem ser aplicadas posteriormente com alta precisão.

O desenvolvimento do material é uma ótima notícia para o campo da restauração. Além de ser barato e mais fácil de ser usinado do que o marfim natural, a tecnologia 3D possibilita a reprodução dos melhores detalhes automaticamente: Em vez de esculpi-los meticulosamente em processos que duram semanas e até meses, os objetos agora podem ser impressos em questão de horas.

Bibliografia:

Artigo: Developing an ivory-like material for stereolithography-based additive manufacturing
Autores: Thaddãa Rath, Otmar Martl, Bernhard Steyrer, Konstanze Seidler, Richard Addison, Elena Holzhausen, Jurgen Stampfl
Revista: Applied Materials Today
Vol.: 23, 101016
DOI: 10.1016/j.apmt.2021.101016

Tecnologia universal trata esgotos e efluentes de qualquer indústria

 

Tecnologia universal trata esgotos e efluentes de qualquer indústria

Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/04/2021

Tecnologia universal trata esgotos e efluentes de qualquer indústria
Água gerada pela primeira etapa do tratamento de salmoura da indústria de fertilizantes (direita).
[Imagem: UrFU/Eduard Nikulnikov]

Tratamento universal de efluentes

Cientistas da Rússia afirmam ter desenvolvido uma tecnologia de tratamento de esgotos e efluentes que não tem paralelo no mundo.

Segundo a equipe, a tecnologia é universal, o que significa que ela é adequada para quase todas as empresas industriais, independentemente do processo e dos rejeitos gerados.

O processo limpa as águas residuais industriais não apenas removendo os componentes insolúveis da solução, mas também dessalinizando a água.

O tratamento de efluentes por essa tecnologia ocorre em duas etapas. A primeira é a limpeza preliminar da água, retirando partículas em suspensão. Esta etapa já foi testada no setor petrolífero e usa membranas cerâmicas.

Em seguida, vem a eletrodiálise. Com a ajuda de membranas aniônicas e catiônicas, todos os componentes salinos são separados em duas zonas, o que resulta em uma solução muito salgada (10 vezes mais salgada que a água do mar) e água purificada.

"Fomos mais longe e usamos um tipo adicional de membrana bipolar," disse o professor Alexander Cherepanov, da Universidade Federal Ural. "Essa é uma construção dos dois primeiros tipos de membranas. Ela decompõe a água do lodo em grupos hidrogênio e hidroxila, que se ligam aos componentes do sal separados. Com isso, obtemos ácido clorídrico e álcali. Assim, de uma solução inicial, obtemos duas - ácida e alcalina."

Tecnologia universal trata esgotos e efluentes de qualquer indústria
A equipe está desenvolvendo unidades modulares para converter salmoura em ácidos e álcalis.
[Imagem: UrFU/Karina Golovanova]

Da mineração à alimentação

Soluções ácidas e alcalinas são reagentes químicos usados na indústria, conforme demonstraram os testes feitos pela equipe em uma empresa de mineração de fertilizantes.

"Ou seja, nós não apenas não descartamos os resíduos da produção de potássio, mas os processamos em um produto comercializável, usando matéria-prima de custo zero," acrescentou Cherepanov. "Isso significa que a indústria do potássio não precisa comprar reagentes químicos. Eles vão retirá-los do lixo da pós-produção."

Mas os produtos liberados pós-tratamento podem ter uso mais amplo, servindo como base para a produção de produtos químicos domésticos, materiais para a fabricação de vidros, detergentes e até alimentos, além de servirem para a mineração e o setor de petróleo.

Nesse último caso, soluções ácidas e alcalinas com conteúdo de sal residual são ideais para remover contaminantes dentro de poços de petróleo e aumentar a recuperação dos reservatórios.

Com base na operação de sua planta-piloto, a equipe afirma que cada unidade de tratamento pode ter uma vida útil de dez anos.