terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Ecossistemas poderão ser restaurados por meio da engenharia da biodiversidade

Por Elton Alisson, da Agência FAPESP , publicado originalmente na revista Eco21 –

Muitos cientistas consideram que as atividades humanas começaram a ter, a partir do fim do século 18, um impacto tão significativo no clima e nos ecossistemas da Terra a ponto de der dado origem a uma época geológica que denominaram Antropoceno.


As eliminações de espécies nesse período mais recente da história do planeta Terra podem rivalizar com as grandes extinções em massa registradas ao longo de outras eras geológicas. A fim de restaurar essa perda de biodiversidade e o funcionamento do ecossistema terrestre seria preciso aplicar, urgentemente, o conhecimento ecológico existente.

Um estudo de autoria de pesquisadores brasileiros e britânicos indicou que há condições teóricas, metodológicas e tecnológicas sem precedentes para enfrentar esse desafio.

Resultado de uma pesquisa apoiada pela FAPESP e de um pós-doutorado realizado com Bolsa da FAPESP, o trabalho teve resultados publicados na revista Trends in Ecology & Evolution.


“Estamos a apenas alguns passos de possibilitar a realização da ‘engenharia da biodiversidade’, ou seja, manipular a biodiversidade para projetar a composição de comunidades ecológicas e garantir a permanência das funções de um ecossistema”, disse Rafael Luís Galdini Raimundo, professor do Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e primeiro autor do estudo, à Agência FAPESP.

“Temos agora todas as condições teóricas e metodológicas para entender e prever melhor as consequências da inclusão ou da retirada de uma espécie de uma comunidade para fim de manejo na diversidade funcional de um ecossistema”, avaliou.

De acordo com os autores do estudo, a manipulação de comunidades ecológicas para restauração tem uma longa história científica e é feita há mais de um século, principalmente em países da Europa e nos Estados Unidos.

Tradicionalmente, contudo, as iniciativas de restauração têm sido focadas na inclusão ou na remoção de espécies com o intuito de resgatar padrões de riqueza de plantas e animais, sem se concentrar nas interações ecológicas entre populações, espécies e predadores e presas, por exemplo.

Essas interações ecológicas são determinantes para os padrões de biodiversidade e de funcionamento de um ecossistema por moldar a força e os modos de seleção natural. Eventuais mudanças nos padrões dessas interações provocadas pela extinção de espécies ou pela entrada de espécies invasoras, por exemplo, afetam a evolução de características funcionais ecologicamente relevantes, como o tamanho do bico de aves que se alimentam de frutos (frugívoras) e o tamanho dos frutos que dispersam.

Na Mata Atlântica, a perda de grandes espécies de aves como tucanos (Ramphastidae) e jacutingas (Pipile jacutinga) tem levado à diminuição da dispersão de árvores com sementes grandes. Já a diminuição de espécies dispersoras do palmito-juçara (Euterpe edulis) tem feito com que suas sementes passem a ser distribuídas por poucas áreas do bioma. Consequentemente, tem diminuído o tamanho das sementes da planta, dizem os autores do estudo.

“As interações entre espécies representam a ligação entre processos ecológicos e evolutivos e também podem ser vistas como a conexão entre a estrutura da biodiversidade e o funcionamento do ecossistema”, disse Galdini Raimundo.


Condições propícias
O desenvolvimento de modelos matemáticos de redes adaptativas permitiu a ecólogos compreender melhor como mudanças nos padrões de interações ecológicas – que definem a estrutura de uma rede de interações – são seguidas por mudanças na dinâmica e nas propriedades das populações de cada espécie, como sua abundância e características.

Essas mudanças ecológicas e evolutivas nas propriedades das espécies podem desencadear novas reconfigurações no nível da rede de interações, fechando um ciclo.

“A aplicação da abordagem de rede à ecologia permite gerar previsões para o que acontece com processos evolutivos e ecológicos nessas redes de interações complexas e criar hipóteses testáveis de diferentes estratégias de manejo”, disse Galdini Raimundo. “Com isso, é possível construir comunidades estáveis, com todas as funções ecossistêmicas operando normalmente.”

Apesar do potencial dos modelos de redes adaptativas na gestão de ecossistemas, até recentemente os dados necessários para alimentá-los impediam sua aplicação como uma ferramenta preditiva na ecologia da restauração.

As técnicas de sequenciamento do genoma desenvolvidas nos últimos anos permitiram obter dados de interação de espécies em uma escala sem precedentes, dando origem ao big data da biodiversidade.


Segundo os pesquisadores, essas técnicas de sequenciamento possibilitaram não apenas obter dados da estrutura ecológica de redes, mas também sobre as relações filogenéticas entre espécies dentro de uma comunidade – o que é fundamental para prever como uma rede ecológica irá reconectar sua estrutura e como novas dinâmicas irão remodelar características e a abundância de espécies.

“Fundir técnicas de sequenciamento de genoma de última geração com redes ecológicas fornece novas ferramentas para estudar a resiliência de comunidades interagentes às mudanças ambientais, ao mesmo tempo que incorpora importantes atributos, como a diversidade funcional”, disse Darren Evans, professor da Newcastle University, na Inglaterra, e coautor do estudo.

Alguns dos gargalos para o uso desses modelos ecológicos evolutivos e preditivos são ampliar as colaborações em pesquisa, de modo a permitir monitorar locais para fazer as previsões de rede adaptativas, e aumentar a interação entre pesquisadores que realizam os trabalhos em campo e implementam as práticas de restauração e os teóricos.

“A aplicação desses modelos depende do estabelecimento de uma via de mão dupla entre o pesquisador que faz os modelos e gera as predições e quem está em campo, testando as práticas de restauração nessa escala de comunidade, para aprimorar os modelos, gerar predições mais acuradas e, com o tempo, em longo prazo, conseguirmos refinar essa engenharia da biodiversidade”, disse Galdini Raimundo.

(#Envolverde)

Cinco barragens vizinhas a Córrego do Feijão não têm sirene nem plano de evacuação

Por Brasil de Fato – 
 
Empresa Mineração Ibirité Ltda. (MIB) possui cinco empreendimentos com rejeitos a 800 metros da comunidade

Moradores de Brumadinho (MG) manifestaram preocupação com as condições da mineradora da empresa Mineração Ibirité Ltda. (MIB). A mineradora está instalada em Córrego do Feijão, área atingida pelo crime socioambiental de 25 de janeiro, quando uma barragem da Vale se rompeu e causou a morte de 166 pessoas. A MIB possui cinco barragens de rejeitos sem sirenes de emergência a 800 metros da comunidade de Córrego de Feijão e, segundo os moradores, não apresentou à comunidade um plano de evacuação em caso de rompimento.

As atividades da MIB estão paralisadas a pedido do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), já que a área de atividade de mineração da MIB fica próxima ao local do rompimento da barragem da Vale. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) determinou que a MIB adote medidas para impedir “todo e qualquer carreamento de sedimentos para os Córregos do Feijão e Samambaia”.

Além de temer pela falta de plano diante de um possível rompimento de alguma das barragens da MIB, os moradores sofrem os impactos do funcionamento cotidiano da mineradora. Segundo Rejane e Ricardo Morais, casal que mora ao lado da mineradora, os transtornos causados pela MIB começaram em 2008. “Estamos há mais de dez anos sofrendo com os barulhos dos explosivos e falta de energia, a poeira do minério e rachaduras na estrutura. Nossa casa está sustentada por duas pilastras de madeira”, denunciam.

Em 2017, o TJ-MG determinou que a mineradora deixasse de fazer desmontes explosivos. O método utilizado pela mineradora provoca vibrações que poderiam causar danos às estruturas das barragens.
A reportagem entrou em contato com o MIB para conhecer o posicionamento da empresa sobre as denúncias, mas não obteve resposta.


Modelo de alto risco
Há dois métodos básicos na construção de barragens: os alteamentos à jusante e à montante. Em entrevista recente ao Brasil de Fato, Bruno Milanez, professor do Departamento de Engenharia de Produção Mecânica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explicou o que causa instabilidade no segundo modelo – usado pela Vale e pela MIB.


“A barragem à montante é construída em direção aos rejeitos. À medida que a barragem vai se tornando mais alta, fazendo os subsequentes alteamentos, os ‘degraus’ que vemos, ela tem uma inclinação, subindo sobre o rejeito. Chega um momento em que se faz a barragem sobre o próprio rejeito, um material, pelo seu teor de água, que não é muito estável”, disse.

Milanez também apontou que, nas barragens à jusante, os níveis são construídos na direção oposta aos rejeitos e utilizam como base o solo compactado. Esse elemento em que se fundam as barragens, tecnicamente chamado de “material de empréstimo”, torna a barragem à jusante mais cara.


É essa diferença de custos que explica a opção das mineradoras privadas pelo método de alteamento à montante, apesar do alto risco aos moradores.

*Com informações do MAB

Edição: Mauro Ramos

(#Envolverde)

Usinas que destruíram rios rendem R$ 43 milhões a políticos e empresários de Mato Grosso

Por Lázaro Thor Borges, em Cuiabá, De Olho nos Ruralistas – 
 
Entre os beneficiados está um ex-deputado tucano e o ex-ministro Blairo Maggi, mais conhecido como produtor de soja; em delação, ex-governador Silval Barbosa disse que créditos para empresas foram pagos de forma irregular

As empresas que deram início ao boom das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) em Mato Grosso, em 2005, já colhem lucros de seus empreendimentos. Apenas a Maggi Energia S.A., que pertence ao ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi (PR), lucrou R$ 18 milhões em 2017, R$ 3 milhões a mais do que no ano anterior.

A empresa do ex-governador de Mato Grosso se associou à MCA Energia, do ex-deputado Carlos Avalone (PSDB), e à Linear Participações e Incorporações, do empresário José Geraldo Nonino, para construir uma rede de usinas hidrelétricas distantes 10 quilômetros uma das outras em um trecho do Rio Juruena.

A empresa Juruena Participações e Investimentos, também em nome de José Nonino, opera as PCH’s Cidezal, Parecis, Rondon, Telegráfica e Sapezal, todas no Rio Juruena. Em 2017, o lucro da empresa foi de R$ 25 milhões, R$ 16 milhões a mais do que no ano anterior, segundo dados do balanço financeiro da empresa. As empresas do complexo Juruena lucraram R$ 43 milhões, juntas, em 2017.


Árvores secam nas margens de lago construído na PCH Bocaiúva, em Brasnorte (MT). (Foto: ALMT)
A construção do complexo foi contestada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Ministério Público Estadual (MPE) por conta de uma série de irregularidades no licenciamento, mas ainda assim as obras foram concluídas. As ações civis públicas sequem em tramitação.

“Estes projetos literalmente barraram o rio”, conta Andreia Fanzeres, coordenadora do programa de direitos indígenas da Operação Amazônia Nativa (Opan). “É inavegável, não sobe nem desce nada, o impacto ambiental foi grande e o impacto social jamais foi considerado”.

As alterações afetaram principalmente os pescadores dos municípios ao redor do rio e os indígenas da etnia Enawenê-nawê, que vivem do peixe e não comem carne vermelha. As barragens impediram que as espécies subissem o rio na piracema para se reproduzir, reduzindo o volume dos animais nas águas.


PCH’S FORAM CONSTRUÍDAS SEM PAGAR TRIBUTOS

 

 

O grupo de Maggi e Avalone, precursor na construção de usinas do tipo, conseguiu viabilizar boa parte destas construções graças a créditos tributários na ordem de R$ 75 milhões. É o que diz trechos da delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (MDB), sucessor de Maggi. Em acordo firmado com o MPF, Silval conta que o pagamento dos créditos foi feito de forma irregular.

Segundo o ex-governador, Avalone e Nonino o procuraram em 2010 para cobrar o saldo. O valor foi pago meses depois, com uma condição: 50% do dinheiro retornaria ao governo para que Barbosa quitasse outros débitos ilegais adquiridos na gestão Maggi. O caso continua sendo apurado e nenhum dos citados foi preso até hoje.


Madeira retirada do lago da PCH Bocaiúva, inundado de forma irregular. (Foto: ALMT)
Os construtores do Complexo também foram beneficiados com falhas no licenciamento ambiental feito pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema). Em 2011, quando as PCH’s entraram em operação, foi aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar 43 usinas.



Entre as solicitações da CPI está um pedido para tornar públicos os dados sobre a renúncia tributária feita pelo governo de Mato Grosso. Em agosto de 2012, o relator da CPI das PCH’s, deputado Dilmar Dal Bosco (DEM), pediu a relação completa das usinas beneficiadas, mas nunca obteve resposta.


RIO EM TERRA INDÍGENA TEVE LEITO DESVIADO



Na denúncia referente ao Complexo Juruena, os técnicos contratados pela Assembleia Legislativa do estado comprovaram que a Sema considerou apenas o impacto de cada empreendimento individualmente, sem avaliar o efeito global das obras e da operação das hidrelétricas.


A CPI das PCH’s encaminhou todos os resultados da apuração para o MPF e para o Ministério Público Estadual. Os resultados também incluem uma lei, de autoria do deputado Dilmar Dal Bosco, que determina que toda PCH deve ter projeto aprovado pelo legislativo estadual.


Desde janeiro, o observatório dedica uma editoria específica a temas que envolvem o Cerrado.
Na maioria das denúncias apuradas a Sema permitiu irregularidades antes, durante e depois da operação das pequenas hidrelétricas. Um dos casos mais emblemáticos foi a construção da PCH Bocaiúva, no Rio Cravari, em Brasnorte (a 572 quilômetros de Cuiabá).


A empresa responsável desviou o leito do rio, depositou adubos químicos na água e provocou a morte de milhares de peixes.



No caso da PCH Bocaiúva, o dano ambiental foi patrocinado pelo Estado, pois o empreendimento recebeu financiamento de R$ 96,5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Estas e outras facilidades atraem políticos, empresários e até contraventores. É o caso do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, que também resolveu investir em pequenas centrais hidrelétricas. Ele entrou na briga para construir uma usina na Fazenda Colibri no Pantanal, em Santo Antônio do Leverger (a 38 quilômetros de Cuiabá).


O local já havia sido registrado pelo empresário Pedro Rodrigues na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Rodrigues denunciou ameaças e uma tentativa de homicídio. Na Sema, o projeto de João Arcanjo tramitou de uma forma incomum: a licença prévia foi deferida sete dias depois do pedido ser protocolado, mas o processo acabou suspenso pela Aneel.


“O impacto é muito grande e não tem retorno social nenhum, não existe legislação alguma para os municípios que sofrem impacto”, conta a procuradora Fernanda Amorim, que participou da CPI. “Há exemplos de lugares em que os pescadores ficam desempregados, só existem empregos na construção, depois o funcionamento é todo automatizado e muitos trabalhadores ficam nas cidades, que não têm capacidade de oferecer serviços públicos”.


PEQUENAS HIDRELÉTRICAS, GRANDES NEGÓCIOS

 



O Rio Cravari, que passa na Terra Indígena Manoki, teve o leito desviado com adubos químicos. 
(Foto: ALMT)
As facilidades no licenciamento e no funcionamento explicam por que existem atualmente 63 PCH’s em Mato Grosso: 96 projetadas e 6 em construção. Somente na Bacia do Juruena são 77 PCH’s, entre projetadas, em construção e em operação.

Um estudo publicado em 2013 sobre o impacto das PCH’s na bacia do Rio Paraguai mostra que cada quilômetro inundado pelas pequenas barragens pode render mais de R$ 3,2 milhões por ano. O que equivaleria a mais de 80 mil sacas de soja ou quase 11 mil sacas de café arábica.

Pensando nessa lucratividade é que Eraí Maggi, o primo sojicultor de Blairo Maggi, também entrou no negócio. A Bom Futuro Energia S.A, braço energético da holding homônima, foi criada em 2007, e hoje opera três pequenas hidrelétricas em operação. Eraí pretende construir a PCH Perdidos e a PCH Sumidouro, ambas no Rio Claro, entre os municípios de Diamantino e São José do Rio Claro.


O temor de que a história se repita, dessa vez com outro membro da família Maggi, fez a Rede Juruena Vivo protocolar uma carta à Aneel, em setembro, solicitando consulta aos povos tradicionais no entorno das PCH’s sempre que for autorizar empreendimentos como o de Eraí.  A ideia é que o empreendedor possa encontrar um local menos delicado para investir.

“Quando identificamos os problemas no licenciamento o argumento é de que o empreendedor já gastou um monte de dinheiro e quando chega aqui na ponta os movimentos sociais e os indígenas vêm atrapalhar”, relata Andreia Fanzeres. “A sociedade civil e os povos potencialmente afetados devem participar do processo desde o início”. (#Envolverde)

Fique sabendo o que aconteceu entre 08 e 14 de fevereiro de 2019

Fique sabendo o que aconteceu entre 08 e 14 de fevereiro de 2019



Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, investigado por fraude, defendeu a flexibilização de leis ambientais, mesmo depois da tragédia de Brumadinho (MG), e afirmou que o líder seringueiro Chico Mendes não tinha relevância. Por isso, separamos 20 fatos para entender o papel do ambientalista na defesa da floresta


Indígenas da Raposa Serra do Sol se preparam para contrapor medidas de Bolsonaro

 

 

Dez anos após a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) ter sido confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, indígenas das etnias macuxi, wapichana, ingarikó, patamona e taurepang se preparam para enfrentar medidas do presidente Jair Bolsonaro que impactam seus territórios, como a abertura da TI para fazendeiros não indígenas e a permissão de exploração mineral na área. O presidente e seus assessores argumentam que os índios impedem o desenvolvimento econômico. Mas, hoje, as comunidades têm seus próprios rebanhos de gado, cujo número corresponde a 6,2% do rebanho estadual, com diferenciais: o pasto natural e a existência de cabeças de propriedade comum. Além disso, os indígenas estão caminhando para a implementação de um projeto de energia eólica, estudado na região em parceria com o ISA. Saiba mais aqui.


Cacique Babau Tupinambá relata sofrer ameaças de morte

 

 

O líder tupinambá Rosilvaldo Ferreira da Silva, conhecido como Cacique Babau, denunciou junto ao Ministério Público Federal (MPF) ameaças contra sua vida e a de sua família. A informação que chegou aos indígenas foi de que ocorreram reuniões em Itabuna (BA), entre fazendeiros, policiais civis e militares, para discutir uma forma de incriminar falsamente os índios com o tráfico de drogas e inventar uma troca de tiros para matar três irmãos de Babau e duas sobrinhas. A denúncia, direcionada ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Dias Toffoli, e à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi feita em reunião realizada na última sexta (8) com o coordenador da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR), subprocurador-geral da República, Antônio Carlos Bigonha. Cacique Babau já integra o Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. Saiba mais aqui e aqui.

 

 

Diretor do consórcio do Linhão de Tucuruí afirma que as negociações do componente indígena estão concluídas

 

 

O diretor técnico do consórcio Transnorte — formado pelas empresas Alupar e Eletronorte —, Raul Ferreira, confirmou que estão concluídos os estudos do componente indígena do Linhão de Tucuruí, que impactou os Waimiri Atroari e seu modo de vida tradicional. Assim, as obras da rede de transmissão de energia devem ser retomadas no segundo semestre na Terra Indígena deste povo. O diretor técnico explicou que o consórcio junto aos indígenas está fazendo a topografia na TI e o inventário florestal, que são atividades exigidas pelo Ibama para conceder a licença ambiental. O empreendimento foi licitado em 2011 mas por inconclusão do componente indígena não tinha saído do papel. Saiba mais aqui.


Municipalização da saúde indígena pode significar precarização no atendimento

 

 

Após primeira reunião anual do Conselho Nacional de Saúde, a representante dos povos pernambucanos relata a ameaça de municipalização da saúde indígena, de modo a retirar da União a prerrogativa de financiar o subsistema com recursos próprios. O risco apontado é que os municípios não estão suficientemente estruturados para garantir assistência a esse contingente populacional, o que pode sobrecarregar o SUS. Em Pernambuco, por exemplo, cerca de 46 mil índios, distribuídos em 15 cidades, podem ter que abarcar a nova demanda. Saiba mais.


MPF pede a paralisação imediata de mineração na TI Nonoai Rio da Várzea (RS)

 

 

O Ministério Público Federal (MPF) em Passo Fundo (RS) expediu recomendação para o município de Liberato Salzano (RS) paralisar imediatamente as atividades de mineração, no caso de extração de cascalho, na Terra Indígena Nonoai Rio da Várzea. Além disso, exigiu a adoção de medidas necessárias para a recuperação da área. A extração ocorria sem licença ambiental e sem autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral, sucedido pela Agência Nacional de Mineração – ANM. Saiba mais aqui.


Ministra da Agricultura defende alterar a legislação para que indígenas produzam em larga escala em suas terras

 

 

No 1º Encontro Nacional dos Agricultores Indígenas, realizado na aldeia Matsene, em Campo Novo dos Parecis (MT), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defendeu alteração na legislação para permitir aos indígenas a produção em larga escala em suas terras. Na região do Campo Novo dos Parecis, índios das etnias paresi, nambikwara e manoki têm autorização do Ministério Público Federal e do Ibama para a produção em larga escala de soja, milho e feijão. A ministra, ex-presidente da frente parlamentar conhecida como “bancada ruralista”, defendeu também que a matéria seja levada ao Congresso Nacional, pois atualmente a Constituição garante o uso tradicional da terra pelos indígenas e proíbe, portanto, o arrendamento e a plantação de sementes transgênicas nessas áreas. Teresa Cristina estava acompanhada do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes; e do secretário de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia. Saiba mais aqui.


Com a dificuldade de concessões de frequência no Brasil, fundadores da Rádio indígena Yandê obtêm sucesso com a rádio na internet

 

 

Com conteúdo que vai de noticiários a programas culturais e educativos sobre as culturas indígenas, atualmente a Rádio Yandê alcança ouvintes e internautas em 80 países e tem correspondentes em todo o continente americano, além de colaboradores espalhados por todo o Brasil. No ar desde 2013, a rádio é transmitida pela internet, dada a dificuldade de conquistar uma frequência pelos canais formais de acesso e distribuição de mídia no país. A intenção dos fundadores com a iniciativa foi a de dar voz aos povos indígenas, de maneira a construir uma visão menos estereotipada sobre essas populações. Saiba mais aqui. Leia, também, a entrevista que Renata Tupinambá, uma das fundadoras da Rádio Yandê deu ao ISA.


CONAQ na audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos na Bolívia

 

 

Representante da CONAQ e advogados do Coletivo Jurídico “Joãozinho do Mangal” participam de audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos na Bolívia. As principais pautas e denúncias apresentadas para a Comissão são a preocupação atual dos quilombolas frente ao novo cenário político do Brasil, a morosidade e baixa titulação dos territórios quilombolas e o crescente número de crimes de violência e assassinato contra lideranças do movimento. Saiba mais aqui.


VIII Encontrão debate sobre o planejamento estratégico do MIQCB

 

 

No segundo dia de atividades do VIII Encontrão das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins, foi discutido o planejamento estratégico do MIQCB para os próximos cinco anos e apresentação do novo Estatuto do Movimento. A atividade, que reuniu cerca de 300 mulheres, aconteceu em São Domingos do Araguaia, no Pará. Ao longo dos seis Encontrinhos realizados pelas quebradeiras, o planejamento estratégico foi debatido tendo como foco três eixos de atuação: (1) terra e território, (2) educação contextualizada e (3) acesso aos mercados e economia solidária. Leia.


Saiu nos Diários Oficiais

 

 

Comenda Mulher do Campo
Sob o Decreto de número 26.552, do último dia 11, ficou estabelecida em Roraima a Comenda Mulher do Campo, da Cidade e da Floresta. O benefício é concedido a mulheres que se destacarem no estado em ações de educação, artes, ciência, medicina, produção, meio jurídico ou esporte, no campo, na floresta, no meio ambiente, na formação histórica e no patrimônio cultural do Estado. Saiba mais em DOE RR 11/02/2019.



Food Truck no Parque de Brasília
Sob a portaria número 38, de 29 de janeiro, foram definidos critérios para o credenciamento e a autorização de uso de área do Parque Nacional de Brasília (PNB) para exploração da atividade de comercialização de alimentos diretamente ao consumidor, de modo constante, em veículo automotor ou rebocável adaptado, ora denominado food truck, ou em veículos sobre roda não motorizado, ora denominado food bike. Saiba mais.



Acordo de Gestão na Resex do Arraial do Cabo
Aprovado o Acordo de Gestão da Reserva Extrativista Marinha do Arraial do Cabo, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro (DOU 13/02/2019). Saiba mais.



Zoneamento Agrícola de Cacau em Roraima
Sob portaria, de número 1, do último dia 1° de fevereiro de 2019, fica aprovado o Zoneamento na implantação da cultura do cacau em Roraima. Esse zoneamento tem como objetivo identificar as áreas aptas e de menor risco para o ciclo anual de produção da lavoura cacaueira, bem como as datas mais favoráveis para a implantação do pomar. Saiba mais aqui (12/02/2019 DOU).



Grupo de Trabalho de Regularização Fundiária de Interesse Coletivo
Portaria, de número 048/2019, cria o Grupo de Trabalho de Regularização Fundiária de Interesse Coletivo, vinculado à Assessoria da Presidência do ITERPA, para promover a instrução técnico-jurídica dos processos administrativos de regularização fundiária de comunidades remanescentes de quilombos e de assentamentos rurais do estado do Pará. Leia mais (DOE PA 07/02/2019).
Imagens: 

ONGs internacionais pedem à ONU que exclua Vale do Pacto Global

Em carta enviada à ONU, entidades denunciam que rompimento da barragem em Brumadinho é uma “séria violação de direitos humanos” com “graves danos ambientais”



Entidades consideram rompimento da barragem em Brumadinho um “caso sem precedentes de
 má conduta corporativa” © Fernanda Ligabue / Greenpeace

Organizações globais de direitos humanos e meio ambiente, incluindo o Greenpeace Brasil, pediram nesta terça-feira (dia 12) à ONU (Organização das Nações Unidas) que a Vale seja excluída do Pacto Global, maior rede de responsabilidade social corporativa do mundo, com mais de 9 mil empresas. Em carta enviada à ONU, entidades denunciam que no rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão identifica-se “séria violação de direitos humanos” e “graves danos ambientais” pela mineradora, o que fere os princípios do Pacto Global.

De acordo com as organizações a Vale falhou ao não avaliar adequadamente os riscos e ao deixar de tomar medidas preventivas e de mitigação. No documento, a Vale também é apontada como violadora persistente, citando o caso do rompimento da barragem da Samarco, uma joint venture da Vale e da australiana BHP Billiton, em Mariana em 2015. Para as entidades, se trata de um “caso sem precedentes de má conduta corporativa” e o pior acidente trabalhista da história do Brasil.


“A única maneira de a Vale responder adequadamente a um modo de produção sustentável é por meio de exclusões e perdas econômicas. Há mais de três anos a empresa causou o mesmo tipo de desastre no Rio Doce, e muito pouco foi feito para recuperar o rio e ressarcir os atingidos”, avalia Fabiana Alves, do Greenpeace Brasil.

“O rompimento da barragem de Brumadinho apenas três anos após o desastre de Mariana demonstra que houve uma falha sistêmica das políticas e procedimentos da Vale na prevenção de catástrofes socioambientais”, afirmou Caio Borges, da Conectas Direitos Humanos, Caio Borges.


As entidades pedem, para o caso de a Vale não ser excluída, que o conselho do pacto suspenda a empresa por pelo menos 12 meses e que seja exigido neste período que a mineradora apresente relatórios periódicos sobre o progresso das medidas de remediação e que adote garantias de que não haverá outro desastre semelhante.


O Pacto Global é uma iniciativa de caráter voluntário, em que a empresa se compromete a implementar princípios de sustentabilidade e em consonância com as metas da ONU para ser incluída na lista de empresas participantes.

Organizações que assinam a carta à ONU:

Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale
Asociacion Ambiente y Sociedad (AyS)
Business & Human Rights Resource Centre (BHRRC)
Clínica de Direitos Humanos – UFMG
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
Conectas Direitos Humanos
Derechos, Ambiente y Recursos Naturales (DAR)
Due Process of Law Foundation (DPLF)
Fundación para el desarrollo de Políticas sustentables (FUNDEPS)
Fundación Ambiente y Recursos Naturales (FARN)
Global Justice Clinic – NYU School of Law
Greenpeace Brasil
International Federation for Human Rights (FIDH)
Justiça Global
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Observatorio Regional de Derechos Humanos, Transparencia e Inversiones
Project on Organizing, Development, Education, and Research (PODER)
SOMO – The Centre for Research on Multinational Corporations




Recordar é viver: Por que os Corais da Amazônia são um milagre da natureza?




Adaptados para viver em condições adversas e cheios de características únicas, os recifes conhecidos como Corais da Amazônia merecem ser protegidos da indústria do petróleo

Dias atrás, celebramos o Dia Mundial dos Corais da Amazônia para marcar a data em que o mundo viu pela primeira vez as imagens desse ecossistema. Desde então, muita coisa aconteceu para os recifes dos Corais da Amazônia e a melhor delas foi que o Ibama não permitiu que a Total explorasse petróleo ali perto dele.

As razões para defender os Corais da Amazônia das petrolíferas são muitas. A começar pelas características únicas do ecossistema e pelo fato de a ciência ainda não ter tido tempo de entender e estudá-lo. A Total perdeu sua batalha, mas ainda existem empresas de olho no petróleo da região próxima aos recifes, então, a gente aqui no Greenpeace continua falando porque é importante defender os Corais da Amazônia.

1) Os Corais da Amazônia são verdadeiros vencedores, que sobrevivem em condições adversas

Como está na bacia da foz do Rio Amazonas, os recifes sobrevivem onde não se acreditava ser possível: em grandes profundidades e em locais onde quase não chega luz. A água da região é turva porque o rio Amazonas carrega com ele pedaços de floresta: restos decompostos de árvores, folhas, terra, animais e tudo o que tiver caído em suas correntezas. Há pontos em que a luminosidade não passa de 2%. Sem luz para fazer fotossíntese, o recife conta com a ajuda de bactérias que produzem matéria orgânica.

Algumas áreas dos recifes são de água muito barrenta e escura devido à grande concentração de 
sedimentos do rio Amazonas. Esta foto mostra água límpida porque foi tirada na porção sul, 
que há menos pluma. © Greenpeace

2) Sua descoberta deixou o mundo científico boquiaberto

A existência dos Corais da Amazônia foi revelada na maior revista científica do mundo, a Science Advances, em um estudo assinado por 39 pesquisadores de 12 instituições, tanto brasileiras quanto internacionais. A descoberta foi considerada uma das mais importantes da biologia marinha da última década. Cientistas do mundo todo ficaram de queixo caído – e felizes, muito felizes – por ver que a natureza encontra saídas para a vida em regiões que parecem inóspitas.


3) Ninguém tinha visto os recifes debaixo d’água até 2017

Apesar do estudo confirmando a existência dos Corais da Amazônia ter sido publicado em 2016, os cientistas já haviam feito três expedições pela costa norte do Brasil para estudá-los entre 2010 e 2014. Eles tiveram apoio da Marinha brasileira e puderam coletar amostras de corais, esponjas e rodolitos. Foi só em janeiro de 2017, no entanto, que pudemos ver como os recifes são debaixo d’água. Isso foi na expedição que o Greenpeace fez com cientistas. Levamos um submarino para registrar tudo. No ano seguinte, foi a vez de irmos com uma câmera submersa (chamada de ROV) fazer mais imagens.

Esta é uma das primeiras imagens feitas dos Corais da Amazônia e foi tirada de um submarino
tripulado. As fotos foram publicadas em 28 de janeiro e ganharam o mundo. © Greenpeace

4) Espécies novas podem habitar os recifes
Os cientistas que estudam os Corais da Amazônia têm uma grande expectativa quando o assunto é novas espécies: é muito provável que ali vivam peixes que nunca foram catalogados pela ciência. E também bactérias. Fabiano Thompson, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que os recifes têm tudo para ser uma “farmácia submarina”, com bactérias que podem ser usadas no estudo e desenvolvimento de novos medicamentos. A biodiversidade dos recifes é uma de suas qualidades.

5) Formam um corredor ecológico do Caribe até o Atlântico
Os Corais da Amazônia estão localizados na bacia da Foz do Amazonas, mas se estendem até a Guiana Francesa. Fomos até lá em 2018 e avistamos uma área que ainda não estava mapeada. Os cientistas acreditam que os recifes, juntos, formem um corredor ecológico de biodiversidade entre o Caribe e o Atlântico Sul. Uma das evidências é que já foram encontrados ali tanto espécies de peixes que são originários do sul do oceano Atlântico quanto do Caribe.

Estruturas recifais encontradas entre 95 e 120 metros de profundidade, a menos de 150 quilômetros 
da costa da Guiana Francesa. A imagem foi feita durante uma expedição científica do Greenpeace 
junto a pesquisadores. © Greenpeace

sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em São Paulo. Embarcou nos navios da ONG para buscar os Corais da Amazônia e protestar contra petróleo. Não enjoou nenhuma vez e está pronta pra próxima aventura.

Cadê a floresta que estava aqui? A lama da Vale engoliu


#Mobilização

#ParemAVale

Recuperação da natureza de Brumadinho e arredores pode levar centenas de anos, afirma pesquisadora

Além das muitas vidas humanas que a lama tóxica da Vale tirou em Brumadinho, a fauna e a flora da região também sofreram impactos, ainda difíceis de mensurar. A área atingida pelos rejeitos de mineração conta, ou contava, com uma biodiversidade riquíssima, ainda não totalmente catalogada.
Brumadinho se localiza ao sul da Reserva da Biosfera da Unesco da Serra do Espinhaço, uma região considerada refúgio de vida selvagem em Minas Gerais. Por ser uma área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, a importância ecológica deste lugar é enorme, porque abriga espécies animais e vegetais de ambos os biomas — muitas, inclusive, ameaçadas de extinção.
A lama tóxica da Vale inundou com quase 13 milhões de m³ o distrito de Córrego do Feijão, em Brumadinho, matando a vegetação próxima
A lama tóxica da Vale inundou com quase 13 milhões de m³ o distrito de Córrego do Feijão, causando estragos em toda a vegetação © Nilmar Lage/ Greenpeace


A vegetação próxima ao Córrego do Feijão e onde ele encontra o Rio Paraopeba, chamada de mata ciliar, está destruída pelos rejeitos. Essa mata era parte do corredor ecológico de muitos animais, possibilitando seu deslocamento entre áreas de floresta. Jaguatirica, lobo-guará, onça-parda, primatas como macaco-prego e sauá, veados e pequenos roedores estão entre os mamíferos que não mais poderão atravessar os córregos e rios. Entre as aves que habitam a região, podia-se avistar, por exemplo, a águia-cinzenta, o beija-flor-de-gravata-verde, a campainha-azul e o choca-da-mata. A perda de animais domésticos e de criação, como cachorros, gatos e vacas, também é incalculável.


Uma análise preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estimou que uma área de 270 hectares, o equivalente a 300 campos de futebol, foi coberta pela lama, sendo que quase metade (138 hectares) era de vegetação natural.
O restabelecimento total da paisagem, com todas as suas funções ecológicas, não será simples. “Não conseguimos saber quando esse ecossistema voltará ao normal. É uma recuperação muito lenta. Sendo otimista, diria centenas de anos”, alerta a ecóloga e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) Yasmine Antonini, que desde 2015 analisa os impactos do rompimento da barragem da Vale em Mariana


Yasmine prevê que a morte da natureza em Brumadinho, um dos municípios da região com maior área preservada, se dará de forma semelhante ao que aconteceu em Mariana. Segundo ela, a lama tóxica mata a floresta de duas formas: ou as árvores são arrancadas pela violência da lama no momento do rompimento da barragem ou, caso resistam, são alagadas. Nesse caso, os rejeitos soterram e matam as raízes das árvores ao endurecer. “Em Mariana, as árvores morreram porque as raízes não conseguiam respirar, mas continuaram de pé, só o palito. Vai acontecer o mesmo em Brumadinho”, diz Yasmine.
A lama tóxica da Vale destruiu a rica biodiversidade da região, que conta com espécies do Cerrado
 e da Mata Atlântica por ser uma área de transição entre biomas

Contaminação generalizada
Os rejeitos carregados de elementos químicos contaminam e desequilibram toda a cadeia alimentar de Córrego do Feijão, e seguem descendo o Rio Paraopeba, dizimando a vida aquática. Conforme a lama vai secando, a poeira se deposita nas folhas, flores e solo.   

Entre as espécies vegetais encontradas na região, estão o jacarandá, braúna e  jequitibá, árvores frondosas da Mata Atlântica, e plantas do Cerrado, como a canela-de-ema, a maioria correndo risco de extinção. Junto com a vegetação, perdem-se insetos que dependem dela. É o caso da Melipona rufiventris, a abelha uruçu-amarela, e da Parides burchellanus, a borboleta ribeirinha, presente somente em outros dois lugares no Brasil. 

“Um desastre como esse causa o pior tipo de destruição para a Parides burchellanus, que só existe nas margens de rios e córregos”, explica Onildo Marini Filho, especialista em borboletas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Antes de serem sufocadas pelos rejeitos, as áreas próximas da barragem da Vale atuavam como berçário para muitas espécies, por conta das muitas nascentes e riachos de água limpa. Agora, essa pequena bacia hidrográfica está praticamente morta. 

Quanto vale a natureza de Brumadinho? Quanto vale cada vida que a Vale tirou? As vidas das pessoas, árvores e animais jamais retornarão, mas é preciso que a Vale se responsabilize por cada vida tirada, para que tragédias como essa não voltem a acontecer. Você pode ajudar a pressioná-la, participando do abaixo-assinado aqui: https://act.gp/2SU3Eip #ParemAVale

sobre o(a) autor(a)

Jornalista do Greenpeace Brasil em Brasília. Colabora na campanha contra agrotóxicos, é vegana e gosta de andar descalça na floresta. Começou a abraçar árvores ainda criança e não parou mais.

Um governo com mais fome de veneno


Em poucas semanas, as decisões políticas sobre o que chega no nosso prato já deixam claro: vamos comer ainda mais veneno, além de perder direitos no que diz respeito à qualidade e acesso à alimentação

Este ano, 57 registros de agrotóxicos já foram liberados no país

Uma lei natural que acompanha a humanidade é que sem alimento não há vida. Mesmo assim, aqui no Brasil, isso só se traduziu em direito em 2010. Fruto de uma campanha encabeçada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em fevereiro daquele ano, a alimentação foi incluída como um direito social no artigo 6º da nossa Constituição.

O Conselho, estabelecido como um órgão de assessoramento e diálogo entre a sociedade civil e a Presidência da República, teve grande relevância na promoção dos debates que tornaram possível que o país saísse do Mapa da Fome. Mas, no Brasil de 2019, o Consea não existe mais. A notícia da sua extinção no primeiro dia do governo Jair Bolsonaro é bastante preocupante, especialmente porque a fome já voltou a crescer por aqui.

O que se seguiu desse descuido inaugural é igualmente alarmante. Em pouco mais de um mês e com sede de veneno, o Ministério da Agricultura (Mapa) pisou fundo no acelerador para demonstrar que a liberação de agrotóxicos deve ganhar destaque na nova gestão. Em três atos publicados no Diário Oficial (nº 01, 04 e 07), o Mapa concedeu registro a 57 agrotóxicos, o que significa, em média, mais de um novo agrotóxico por dia. O Ministério ainda acatou o pedido de registro de mais 210 novos produtos (atos 02 e 05), que agora devem seguir para análise. Na prática, estamos vendo parte do Pacote do Veneno sendo empurrado goela abaixo dos brasileiros dia após dia.

Entre as novas aprovações está um ingrediente ativo que é novo no país: o Sulfoxaflor, que já teve seu registro caçado nos Estados Unidos por ser potencialmente danoso às abelhas. De resto, são produtos já utilizados por aqui, que passam a ser mais amplamente empregados por novas empresas e em outros tipos de alimento. Não é só a quantidade de agrotóxicos liberados que assusta, mas a capacidade destrutiva dos ativos: 42% das novas aprovações são de ingredientes considerados altamente ou extremamente tóxicos.

Dois exemplos disso são o Mancozebe, utilizado em culturas de arroz, feijão, banana, milho e tomate, e o Piriproxifem, empregado em lavouras de café, melancia, melão e soja. Os dois ingredientes são considerados extremamente tóxicos e seu uso segue autorizado em alimentos que fazem parte do nosso cotidiano. Novamente, a ganância dos ruralistas e da indústria de veneno se sobrepõe à saúde. Para além do Congresso, a onda de retrocessos na área de segurança alimentar vai ganhando força também no poder executivo.

Ao invés de seguir carimbando tanta aprovação de novos agrotóxicos, precisamos urgentemente de medidas e políticas que assegurem à população o acesso a alimentos saudáveis. É isso que a sociedade deixou claro que quer e espera. Vale lembrar que, para isso, o país não precisaria reinventar a roda, já que existe uma proposta na mesa que pode nos ajudar a trilhar esse caminho: a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA), já aprovada em Comissão Especial na Câmara e que visa diminuir a quantidade de veneno no campo de forma gradual e responsável.


Ela é fundamental para garantir que no futuro todos os brasileiros tenham acesso não só a alimentos, mas a alimentos mais saudáveis. Concentrar esforços e injetar vontade política nesse sentido é que seria uma demonstração de respeito e cuidado com a população brasileira.

Na arena da alimentação teremos muita luta em 2019 – dentro e fora do Congresso e do governo. Estaremos atentos para exigir o direito de todos de ter acesso a uma alimentação de qualidade e sem veneno. Fique de olho e junte-se a nós nessa batalha.

Livro Vermelho da Fauna Brasileira avalia status de 12.254 espécies

Livro Vermelho da Fauna Brasileira avalia status de 12.254 espécies



18 Fevereiro 2019   |   0 Comments
Por Mariana G. Menezes

O Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018), divulgado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é uma referência sobre o status de conservação de 12.254 espécies. A versão atualizada do estudo mostra que houve um aumento de 546 espécies ameaçadas em relação à versão anterior (2003). Por outro lado, foram retiradas 170 espécies que constavam como ameaçadas.

O estudo foi realizado por 1.270 cientistas sob a coordenação do ICMBio e compilado em sete volumes, dos quais o primeiro volume apresenta um resumo do processo e resultados e os demais trazem informações sobre as espécies ameaçadas de mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados.
As espécies estão distribuídas em dez categorias e quatro delas são consideradas ameaçadas: Extinta na Natureza (EW), Criticamente em perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU).

Na avaliação das espécies foram compiladas informações sobre taxonomia, distribuição geográfica, história natural, população, ameaças, ações de conservação, presença em unidades de conservação e pesquisas existentes e necessárias. Além disso, apresenta também uma justificativa para sua categoria de risco de extinção.

As 1.173 espécies de fauna ameaçadas de extinção incluídas no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018) se encontram oficializadas na Portarias MMA nº 444 e 445, 2014.

Algumas espécies citadas no estudo que foram retiradas da categoria de ameaçadas são a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), albatroz-de-sobrancelha (Thalassarche melanophris), peixe grama (Gramma brasiliensis), aranha-de-teia-de-solo (Anapistula guyri). Porém, é necessária a manutenção das medidas de conservação para que se evite um novo risco de extinção.

De acordo com estudo a saída das espécies da lista não significa necessariamente que tenha-se obtido uma melhoria na conservação dessas espécies. Pode-se considerar diversos motivos como, a atualização das informações de forma mais depurada e precisa, ajustes na aplicação de métodos, novos registros, entre outros.


Listas de Espécies

O Brasil iniciou a elaboração da Lista de Espécies de Extinção a partir de 1968.  Nesta época foram contemplados mamíferos, aves, répteis e flora pelo órgão ambiental Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF).  No total, constavam 57 espécies ameaçadas de fauna (44) e flora (13), sendo que uma metodologia específica não havia sido usada e as informações eram baseadas nas observações e indicações de especialistas, contudo, um monitoramento contínuo já se mostrava necessário.

Com o passar do tempo realizaram-se mais avaliações pelo órgão Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em 1989, 1998 e em 2003 passou-se a utilizar a metodologia de avaliação da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Foram acrescentadas outras espécies nas listas como anfíbios, invertebrados, peixes continentais e marinhos.

A Lista de Espécies Ameaçadas de Extinção de 2003 culminou na publicação das Instruções Normativas MMA, n°3, de 26 de maio de 2003 e MMA, n°4, de 24 de março de 2005. E também consolidou-se a elaboração do Livro Vermelho da Fauna Brasileira de Espécies Ameaçadas, pela Fundação Biodiversitas (2003) e pelo ICMBIO (2018), e o Livro Vermelho da Flora do Brasil pelo Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cuja última publicação foi disponibilizada em 2013.


Estratégias e Planos de Ação Nacional 

Para obter resultados mais eficazes na conservação de espécies são utilizados Planos de Ação Nacional, que servem como orientações de ações e estratégias.

Conforme os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica de 1994 e complementando os compromissos já efetuados com o marco legal nacional, se desenvolveram duas Estratégias e Planos de Ação Nacional de Biodiversidade (EPANBs): o primeiro desenvolvido e implementado entre 1994 e 2010 e o segundo entre 2011 a 2020.

Em 2014 foi instituído o Programa Nacional de Conservação para Espécies Ameaçadas de Extinção – Pró-Espécies, pela Portaria do MMA, n°43, de 31 de janeiro de 2014, com o objetivo de adotar ações de prevenção, conservação, manejo e gestão para minimizar as ameaças e o risco de extinção de espécies. A implementação desse Programa é viabilizada pelo Projeto Estratégia Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção - Pró-Espécies: Todos contra extinção.

O “Projeto Pró-Espécies dará sem dúvida um grande impulso às ações voltadas à conservação das espécies ameaçadas no Brasil, baseadas nos dados apresentados neste novo Livro Vermelho da Fauna Brasileira e nas recomendações dos PANs existentes e nos novos PANs que serão desenvolvidos com o apoio deste novo projeto GEF”, apontou o ex-Secretário Executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, Braulio Ferreira de Souza Dias.


Utilidade pública

Este tipo de análise é indispensável para a realização de planos de conservação, implementação de políticas públicas, educação ambiental e para a sensibilização e conscientização da vulnerabilidade da biodiversidade.

A falta de conhecimento sobre as espécies ameaçadas brasileiras pode dificultar o entendimento a cerca de sua existência e importância.

Confira todos os volumes do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
 

Nós, os imprevidentes.(A dor recorrente das perdas será capaz de nos modificar?)


Nós, os imprevidentes

[EcoDebate] Culpar 2019 não vale, porque todas vidas perdidas nesse início de ano tem algo em comum: a imprevidência. Não são fatalidades, são tragédias anunciadas, que deveriam ter sido prevenidas. Temos algo a mudar, com todas essas perdas, temos de reconhecer e rever nossos hábitos, nossa cultura, o espírito do “não vai dar nada”.

Ao contrário do que dizemos de nós mesmos, os brasileiros tem muitas qualidades, não é o caso de carimbar a auto-desvalia nacional. Mas nosso maior defeito, sem dúvida nenhuma, é a imprevidência, a desorganização, a falta de planejamento. Não gostamos de ler nem manual do automóvel (quem aí lê?).

Quem busca a felicidade individual deve começar pelo autoconhecimento, para o qual uma terapia pode ajudar muito. Nossa felicidade coletiva, como sociedade, também requer começar pelo reconhecimento de nossas características básicas, virtudes e defeitos, pontos fortes e fracos.
Somos criativos, plurais, flexíveis, adaptáveis, fazemos muito com pouco, somos misturados, somos comunicativos e emotivos, somos sobreviventes que aproveitamos cada dia, somos “resilientes” como está na moda dizer. Não somos organizados, disciplinados, não somos previdentes, não planejamos o futuro.

Muitos já se dedicaram a estudar o brasileiro, a história da formação do nosso povo, de Gilberto Freyre a Darcy Ribeiro, que escreveram alguns clássicos da sociologia pátria. Nenhum foi tão preciso como Sérgio Buarque de Hollanda, que apontou claramente nossa herança cultural da península ibérica, de povos que preferem a aventura e o risco ao progresso metódico e disciplinado.

Em toda a história da nação lusa, ela nunca fez tanto sucesso quanto na era épica das navegações e descobrimentos, uma atividade basicamente aventureira, de grandes emoções. Nunca o trabalho metódico tal como os ingleses, ou os germânicos, de progresso através do trabalho paciente, de acumulação progressiva de patrimônio através do esforço cotidiano e disciplinado. Isso não é com a gente, nos identificamos com o estilo de vida do filme “Fique rico ou morra tentando” (Get rich or die trying), da história de vida do rapper “50 Cent”.

Os donos da Vale querem enriquecer cada vez mais, os governadores do Rio de Janeiro também, os dirigentes dos clubes, os donos de aeronaves comerciais, todos querem o caminho mais fácil, mais rápido, sem grandes cautelas. Nossa cultura aceita isso, só nos chocamos quando dá errado.

Somos reativos às perdas, apesar de não as prevenirmos, unidos na dor, somos sensíveis e solidários, depois do ocorrido. Poderia ser com a gente. Enquanto isso vamos vivendo no improviso, como se nunca fosse acontecer conosco.

A dor recorrente das perdas será capaz de nos modificar?

Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/02/2019
"Nós, os imprevidentes, artigo de Montserrat Martins," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/18/nos-os-imprevidentes-artigo-de-montserrat-martins/.

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