sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Queimadas elevam risco de extinção de 265 espécies na Amazônia



Início
  Planeta  Meio Ambiente  Queimadas elevam risco de extinção de 265 espécies na Amazônia
Queimadas elevam risco de extinção de 265 espécies na Amazônia
A floresta Amazônica abriga cerca de 30.000 espécies de plantas ou 30% de todas as espécies vegetais da América do Sul.
Por
 -
5 de setembro de 2019
101

Share

As queimadas das últimas semanas estão elevando o risco das 265 espécies ameaçadas de extinção que existem hoje na Amazônia, alerta o WWF-Brasil. São 180 espécies da fauna, das quais 124 ocorrem apenas no bioma, e 85 da flora.

O risco é maior para as espécies que estão sendo atingidas pelo fogo e não estão sob nenhum mecanismo de proteção. Este é o caso, por exemplo, da cuíca-de colete (Caluromysiops irrupta) que teve registro em 1964 em Rondônia, um dos estados com maior índice de desmatamento. Além dela, cerca de mais 60 espécies da Amazônia estão nessa situação de vulnerabilidade. Para as espécies em risco que contam com algum mecanismo de proteção, como o tatu-canastra, a queixada e o tamanduá-bandeira, as queimadas são um dos principais fatores de risco a sua sobrevivência. 
Embora Unidades de Conservação (UCs) ou Planos de Ação Nacional (PAN) protejam 76% das espécies em risco do bioma Amazônia, nenhum deles pode proteger a fauna e flora das queimadas. No caso das UCs, o fogo atingiu principalmente aquelas que têm maior índice de desmatamento.
 
Tatu canastra (Priodontes maximus) | foto: flickr/agenciabrasilia
Estima-se que dentro dessas UCs ocorram pelo menos 55 espécies ameaçadas (44 da fauna e 11 da flora), sendo que 24 são endêmicas do Brasil.  Para 5 espécies, a queimada é uma das principais ameaças:



 
Queixada (Tayassu Pecari) | foto: WikimidiaAzulona (Tinamus Tao) | foto: Wikimidia
O papel das florestas

A floresta Amazônica abriga cerca de 30.000 espécies de plantas ou 30% de todas as espécies vegetais da América do Sul. As florestas são vitais para a saúde do planeta, uma vez que abrigam bem mais da metade das espécies terrestres do mundo e são um dos agentes responsáveis pela maior quantidade de captura de carbono, o que mitiga a crise climática.  E a fauna silvestre, por sua vez, é vital para manter as florestas saudáveis ​​e produtivas, cumprindo funções como a polinização e a dispersão de sementes, além de outros papéis essenciais para sua própria regeneração e o armazenamento de carbono. 

Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil, afirma que precisamos defender florestas saudáveis e produtivas. “É preciso haver um sinal claro por parte do governo e da sociedade que o Brasil não aceita mais a destruição de seu principal patrimônio biológico. O governo federal precisa garantir que Unidades de Conservação e Terras Indígenas sejam efetivamente protegidas de ocupações e atividades ilegais. O setor corporativo também tem um importante papel a desempenhar, monitorando suas cadeias de suprimentos para garantir a compra de produtos livres de desmatamento. Todos nós podemos ajudar, e a hora é agora: não há mais tempo a perder”, ressalta Voivodic.
Marcelo Oliveira, biólogo e especialista em conservação do WWF-Brasil, explica que a fauna silvestre é vital para cumprir funções como a polinização e a dispersão de sementes, além de outros papéis essenciais para a regeneração das florestas. “O desmatamento e as queimadas destroem os habitats das espécies causando prejuízos de muitos anos, para muito além do fogo dos meses de agosto até outubro”, afirma Oliveira.

Espécies aquáticas
Apesar do impacto das queimadas ser mais evidente para as espécies terrestres, as espécies aquáticas também sofrem enormes consequências. Isso porque a qualidade da água em que elas vivem é diretamente dependente das matas ciliares presentes nas margens dos rios e de outros corpos d’água, que podem ser completa ou parcialmente destruídas nos incêndios, além do impacto da poluição causada pelas próprias cinzas. A longo prazo, a remoção da mata ciliar causa problemas ainda maiores como a erosão do solo e o assoreamento do rio.

Com a maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônia possui uma enorme diversidade de peixes, que são a base alimentar e fonte de renda para inúmeras comunidades ribeirinhas. “O impacto nos ecossistemas aquáticos da região afeta não só o equilíbrio do bioma como um todo, mas pode ter grandes consequências para a economia local”, afirma Oliveira.

As queimadas acontecem em um cenário de declínio nas populações de animais nas florestas, como comprovou recente estudo da rede WWF (Fundo Mundial para a Natureza) com a primeira avaliação global da biodiversidade florestal de 1970 até 2014. Ela mostrou que as populações monitoradas de aves, mamíferos, anfíbios e répteis que vivem em florestas diminuíram, em média, 53% no período estudado. A perda e a degradação de habitats causada principalmente pela atividade humana, como o desmatamento, é a causa de 60% das ameaças a florestas e espécies florestais. Os declínios foram maiores em florestas tropicais, como a floresta amazônica

Por isso, o WWF tem pedido aos líderes mundiais que declarem emergência planetária e assegurem um “Novo Acordo para a Natureza e para as Pessoas” até 2020, que barre a emergência climática, proteja a natureza remanescente e torne o nosso modelo de consumo e produção mais sustentável. Proteger e restaurar florestas deve estar no centro deste acordo.


Propriedades privadas registram maior número de focos de fogo na Amazônia


Propriedades privadas registram maior número de focos de fogo na Amazônia
daisy photographed from below



04.09.2019 • Notícias
As propriedades privadas responderam por 33% dos focos de calor registrados na Amazônia até agora. Em segundo lugar, vieram as áreas sem destinação fundiária específica, que somam 30% dos focos de calor – 20% apenas em florestas públicas não destinadas, um forte indicativo de grilagem de terras.

Os números fazem parte de uma nova análise sobre a atual temporada de fogo na Amazônia, separada agora por categoria fundiária, feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, de 1º de janeiro a 29 de agosto de 2019.


Terras indígenas e unidades de conservação são as categorias com menor incidência no ano, registrando 6% e 7% dos focos, respectivamente. Essa análise de áreas protegidas exclui as áreas de proteção ambiental, ou APAs: apesar de serem categorizadas como unidades de conservação, elas apresentam um comportamento similar ao de propriedades privadas, e sozinhas responderam por 6% dos focos no período.

Os assentamentos de reforma agrária responderam por 18% dos casos; contudo, análises preliminares indicaram grande concentração de casos em poucos projetos.

O estudo reforça outra nota técnica sobre o tema lançado em agosto pelo IPAM, estabelecendo a relação entre derrubada da floresta e queimadas. “O principal gatilho desta temporada de fogo na Amazônia não é a seca, mas o pico de desmatamento”, explica a diretora de Ciência do instituto, Ane Alencar, que estuda o tema há mais de duas décadas. “Este ano não é especialmente mais seco do que anteriores.”

Ao comparar 2019 com a média de focos de calor registrada entre 2011 e 2018, todas as categorias fundiárias apresentaram crescimento nos casos, com destaque para as APAs (aumento de 141% em relação à média dos oito anos anteriores) e as florestas públicas não destinadas (126% de aumento).
“Existem 67 milhões de hectares de florestas públicas sem destinação na Amazônia que são patrimônio dos brasileiros, mas que por falta de governança estão hoje à mercê de grileiros e especuladores irregulares de terra. O desmatamento e o fogo que acontece nessas regiões é totalmente ilegal, e devem ser alvo de investigação e ações de comando e controle”, diz o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho.