sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Podcast 6 – Blog Cidadãos do Mundo: Assustador é não ouvir mais os zumbidos das abelhas


Resultado de imagem para abelhas imagensPodcast 6 – Blog Cidadãos do Mundo: Assustador é não ouvir mais os zumbidos das abelhas



23/05/2019 13:15 Por Sucena Shkrada Resk*
Ouvir os zumbidos das abelhas para muitos pode ser algo assustador, mas ao contrário do que você possa pensar, mais assustador é justamente não ouvir esses zumbidos. A resposta é simples: esses agentes da natureza responsáveis pela maior parte da polinização no planeta estão sendo literalmente exterminados. Por consequência, foi colocada em risco a conservação da biodiversidade e da nossa segurança alimentar. Este é o presente para o futuro que queremos? Vale a pena a reflexão, não é? Este é o tema desse sexto podcast do Blog Cidadãos do Mundo - jornalista Sucena Shkrada Resk (ouça aqui), também no formato para leitura.

Segundo alerta global feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), a combinação de pesticidas, mudança no uso do solo e monocultura extensiva são as principais ameaças na atualidade à manutenção das cerca de 30 mil espécies de abelhas polinizadoras no planeta. Mais um dado a ser gravado: 75% dos cultivos para nossa alimentação dependem delas, de acordo com a FAO, braço para alimentação e agricultura da ONU. Não podemos esquecer que esse agente fundamental de serviços ecossistêmicos também produz o mel e é inspiração até para a arquitetura, por sua habilidade na construção das colmeias. Essas informações foram suficientes para te deixar sensibilizado? Se não foram, vamos lá!

Exemplos sucessivos têm sido noticiados, há anos, no Brasil e em diversos países do mundo, como EUA e na União Europeia. Entre os mais recentes por aqui está uma série de casos que foram apurados pela Agência Pública de Notícias e pela Repórter Brasil. De dezembro do ano passado a fevereiro de 2019, foi registrada a morte massiva de mais de 500 milhões de abelhas, sendo 400 milhões só no Rio Grande do Sul e as demais nos estados do Mato Grosso do Sul, de Santa Catarina e de São Paulo.

As fontes primárias sobre estas ocorrências são diversas: associações de apicultores, pesquisadores em universidades e secretarias de agricultura, entre outras. E os casos não param por aí. Também há registros históricos no Ceará, no Distrito Federal, em Goiás, em Mato Grosso, em Minas Gerais, no Paraná e no Rio de Janeiro. E olhe, que aqui no Brasil, temos a predominância somente de seis espécies nativas.

Responsabilidades compartilhadas
Apesar de pequenos avanços isolados por iniciativa da gestão pública no país, por meio de legislações, a pulverização aérea ainda é o principal meio que acelera este extermínio. Por isso, além de ações, como do estado do Ceará e  do Ministério Público em todo país, o ideal seria que a maior parte dos gestores públicos e legisladores tomassem as iniciativas da proibição, por meio da conscientização, consulta e pesquisa a relatos vivenciais e técnicos.

Pesquisas científicas esclarecem que entre os componentes de pesticidas e fungicidas, o mais mortal para as abelhas no mundo, têm sido os neonicotinoides, derivados da nicotina (já proibidos pela União Europeia, em maio de 2018) e há sinalização para o comprometimento provocado pelo Fipronil, também proibido na Europa.

Este colapso acontece ao mesmo tempo em que o Brasil amplia a liberação de agrotóxicos. A autorização é pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em consonância com o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama). Só neste ano, 169 até a terceira semana de maio. No ano passado, o total em 12 meses foi de 450.


Estudos de caso
O vídeo-reportagem “Medo da Primavera – uma hecatombe em andamento”, que trata do caso no município de Mata, no Rio Grande do Sul, tem quase vinte minutos, e é uma amostra que contém relatos que nos fazem compreender um pouco sobre a dinâmica do que está ocorrendo. Uma frase de um personagem ecoa – “A abelha sumindo...nós somos os próximos”. No último dia 22 de maio, movimentos e associações, além de pesquisadores e cientistas do estado entraram com uma representação, no Ministério Público Federal (MPF), pedindo a proibição do uso de agrotóxico relacionado à mortalidade em massa das abelhas nesse município.

Além dos agrotóxicos, as mudanças climáticas também estão pressionando a existência das abelhas. Pesquisa feita por cientistas da Universidade Estadual da Flórida e colaboradores, publicada na Ecology Letters, em 2017, constata que a alteração do clima afeta a disponibilidade de flores e alimentos para as próprias abelhas. Foram estudadas espécies locais. O grupo também reforçou o comprometimento provocado pelos neonicotinoides. Outro estudo recente é da Northwestern University e do Chicago Botanic Garden. Houve a simulação de um clima mais quente, no qual 35% das abelhas morreram no primeiro ano e 70%, no segundo ano. No Brasil, a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas é mais uma fonte interessante para consulta sobre o tema.

Liberações de agrotóxicos
Existe mais um lado da análise, com relação à saúde humana, que é tão importante quanto ao tocante às abelhas. De acordo com o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos 2018, do Ministério da Saúde, a maior incidência de notificação de intoxicações por agrotóxicos no Brasil foi registrada em 2014, no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan): 6,26 casos para cada 100 mil habitantes. Entre 2007 e 2015, foram notificados (oficialmente) 84.206 casos. Imagine quantos também estão subnotificados.


Meio copo cheio
Ao mesmo tempo que há este alerta, bons exemplos também existem no planeta, que servem de inspiração para reverter este colapso da relação humana com o meio ambiente. Uma delas tem a participação direta da própria sociedade e vem da Grã-Bretanha. O Conselho Municipal de Brent, em Londres, decidiu plantar 11 km de flores silvestres em espaços verdes para atrair as abelhas.  Que tal seria seguir esses passos por aqui?


*Sucena Shkrada Resk - jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk:

21/01/2019 – Narrativa de agricultura familiar nos leva à valorização ecossistêmica e humanística
11/07/2018 – Entrevista da semana: Defensor público fala sobre o desafio do combate do uso dos agrotóxicos em São Paulo e em todo o Brasil
03/04/2018 – Pulverização aérea: sabemos realmente as externalidades negativas do ciclo do que comemos?
24/11/2017 – Médica sanitarista fala sobre o universo da saúde ambiental, com destaque sobre os impactos dos agrotóxicos
24/04/2016 – Agrotóxicos – parte 2: mais um projeto polêmico na Câmara
Agrotóxicos-transgênicos: um rolo compressor está sendo passado sobre o direito do consumidor
19/08/2015 - Sim, nós precisamos das abelhas
16/06/2013 – Hortas urbanas, um exercício de desprendimento
12/12/2012 – Até quando vamos silenciar as primaveras?
08/11/2011 - Os eixos da economia sustentável sob o olhar de Ladislau Dowbor
28/10/2011 - Reflexões sobre segurança alimentar & meio ambiente
14/07/2010 - Uma realidade sem agrotóxicos é possível
29/06/2010 - O que comemos?
01/02/2010 - Esp.FSM 2010 - Qual é a nossa conjuntura ambiental?

Casos de sucesso na conservação de onça-pintada em Mata Atlântica

Casos de sucesso na conservação de onça-pintada em Mata Atlântica

Escrito por Neo Mondo 5 de agosto de 2019
Casos de sucesso na conservação de onça-pintada em Mata Atlântica
Foto – © Staffan Widstrand / WWF

POR – DOUGLAS SANTOS (WWF) / NEO MONDO


Estimativas recentes apontam para um aumento da população de onças-pintadas em Mata Atlântica, mais ainda há muito o que fazer para reduzir a ameaça de extinção. Restam apenas 300 indivíduos na Mata Atlântica e o equilíbrio dessa população é extremamente sensível
Os relatos de avistamento de onças-pintadas cresceram como reflexo dos trabalhos de conservação e conscientização que são desenvolvidos em todo o Brasil por diversas instituições. Tivemos casos amplamente divulgados, que repercutiram nas redes sociais como, por exemplo, a onça-pintada na beira da Rodovia Ferra de Camargo Penteado (SP-250), em Apiaí (SP). Também houve o registro da onça em Juiz de Fora, que foi capturada e solta em uma área de proteção ambiental.

Segundo Felipe Feliciani, analista de conservação do WWF Brasil, precisamos aprofundar os estudos de como o animal se desloca entre os fragmentos de Mata Atlântica e analisar processos de restauração naquelas regiões para ajudar na construção de corredores ecológicos. “Dificilmente você vai ver um pasto com uma nascente de água de qualidade e com quantidade de água, as principais nascentes estão em áreas florestais. Onde tem onça, tem floresta, tem água boa, ar puro, tem ecoturismo, tem oportunidades de negócios. A floresta tem um valor imenso e é um mecanismo financeiro para as comunidades que vivem ali. Temos que ver a floresta como um aliado ao nosso desenvolvimento sustentável”, diz Feliciani.
De acordo com o coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), Ronaldo Morato, existem diversos resultados expressivos de conservação de onça-pintada no Brasil como, por exemplo, o resultado de conservação no Parque Nacional do Iguaçu e o acordo de cooperação trinacional entre Argentina, Brasil e Paraguai. “Vale lembrar que a espécie habita outros biomas brasileiros e há muitos casos no Cerrado com o Instituto Onça Pintada, no Pantanal com o turismo de avistamento desenvolvido com o Onçafari e na Amazônia com o instituto Mamirauá”, afirma Morato. Infelizmente, a onça-pintada já foi extinta do Pampa.
 
Saiba mais no Barulho da Onça, o podcast do WWF-Brasil;

Escute no Spotify: http://bit.ly/barulhodaonça

Escute os episódios anteriores: www.wwf.org.br/barulho
 
0

Poluição do ar: Qual é o valor de cinco segundos?

Poluição do ar: Qual é o valor de cinco segundos?

Escrito por Neo Mondo 7 de junho de 2019
Poluição do ar: Qual é o valor de cinco segundos?

POR – SUCENA SHKRADA RESK*, ESPECIAL PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, CENÁRIO AGRO e NEO MONDO)



A maioria de nós provavelmente nunca pensou quanto valem cinco segundos nos dias de hoje, não é? Valem literalmente uma vida, pois neste curto espaço de tempo morre uma pessoa no mundo em decorrência de doenças associadas à poluição do ar, correspondendo anualmente a 7 milhões de pessoas
Para compreender melhor a gravidade do problema, faça a conta: nove em dez pessoas respiram ar poluído e contaminado no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Portanto, fazemos parte desta estatística. Viver principalmente nas regiões metropolitanas apresenta externalidades sobre as quais nem temos noção. Os efeitos do comprometimento do bem-estar chegam à economia: ultrapassam os US $ 5 trilhões (dados 2013). Cerca de 3 bilhões de pessoas, ou seja, 40% da população no planeta,  ainda não têm acesso a combustíveis limpos e tecnologias em suas casas, principal fonte de poluição do ar interior do domicílio.


Poluição é tema transversal
Uma afirmação em documentos da OMS é taxativa: a poluição não tem fronteiras. Mesmo assim, estes alertas fazem parte de um tema ainda depreciado na agenda da política pública, que é a saúde ambiental. Um conteúdo transversal a outras agendas, como transportes, agricultura, indústria e mineração, tratamento de resíduos, ciência e tecnologia e educação, além de meio ambiente e saúde. A ausência de planos e políticas concatenadas entre todas estas áreas resultam nesta ineficácia ainda presente no combate à poluição do ar.


Estes dados reforçam a escolha do tema “Poluição do Ar”, nesta Semana do Meio Ambiente de 2019, feita pela Organização das Nações Unidas (ONU). O alerta é recorrente: este inimigo aparentemente oculto faz parte dos reflexos da nossa própria ação humana em um modelo de desenvolvimento no qual a produção de gases tóxicos à saúde ainda permeia, e muito, as nossas cadeias produtivas e modais de transporte com combustíveis poluentes e/ou catalisadores ineficientes na mobilidade urbana. Reflete consequentemente o nosso modelo de produção e consumo. Respiramos ainda quantidades excessivas de gases tóxicos, como dióxido de nitrogênio (NO2), ozônio troposférico (O3), monóxido de carbono (CO), material particulado (MP), hidrocarbonetos e dióxido de enxofre (SO2), entre outros gases. As suas concentrações são relacionadas a condições metereológicas. Ventos fracos e inversões térmicas (camada de ar quente que se forma sobre a cidade, “aprisionando” o ar e impedindo a dispersão dos poluentes) em baixa altitude exigem alerta.

Principais públicos afetados


As crianças pagam uma conta muito alta, pois são um dos públicos que mais sofrem com efeitos fatais. Em outubro de 2018, o relatório “Air Pollution and Child health”  alerta a respeito, registrando mais de 600 mil mortes anuais. Como esclarece o patologista Paulo Saldiva, um dos maiores especialistas brasileiros nesta área, há efeitos adversos da poluição do ar sobre a saúde humana. Alguns deles se manifestam de forma aguda, ou seja, horas ou dias após a exposição, enquanto outros são evidenciados somente após longos períodos de exposição. São os chamados efeitos crônicos. Trocando em miúdos, uma perfeita bomba-relógio.


As vítimas em potencial, segundo Saldiva, têm abaixo dos 5 e acima dos 65 anos de idade. Já as morbidades são associadas à asma, bronquite crônica, doença aterosclerótica, diabetes mellitus, miocardiopatias e arritmias cardíacas.


No Brasil, no Sistema Único de Saúde (SUS), a demanda de pacientes com problemas associados à poluição atmosférica só cresce. Chegam às unidades básicas de saúde e aos hospitais, pessoas com irritações das mucosas, dos olhos, processos de asmas, doenças pulmonares, cardiovasculares e cânceres. A partir de 2001, foi instituída a Vigilância em Saúde de Populações Expostas à Poluição Atmosférica (Vigiar), pelo Ministério da Saúde, com foco principalmente em prevenção e de atenção integral. Um dos objetivos desta medida é a criação de um instrumento de identificação de municípios de risco. Os levantamentos, entretanto, ainda são ínfimos diante da espacialidade, concentração de pessoas e fontes emissoras.


Frota veicular

Os indícios de que é preciso rever nosso modelo de desenvolvimento começam, por exemplo, quando nos confrontamos com dados a respeito da frota veicular no país. De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), até fevereiro de 2019, o Brasil registrava 54.995.950 só de automóveis e 22.471.809 motocicletas, extra os demais modelos automotivos (caminhões, ônibus etc), e disparadamente o estado de São Paulo se destaca nestas estatísticas, respectivamente com 18.317.839 e 4.662.471. A necessidade de aumentar a frota de transporte coletivo não poluente em todas as cidades do país é algo urgente diante desta realidade.


Como explica o engenheiro químico David Tsai, coordenador de área de emissões do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), uma das principais questões que devem ser avaliadas quanto às emissões de poluentes, são os catalisadores dos automóveis (adotados no país desde 1992), além dos investimentos em energia limpa e renovável. A qualidade e eficiência destes equipamentos devem ser permanentemente fiscalizadas. Ele ainda explica a importância de haver a manutenção e ampliação do monitoramento da qualidade do ar no país como instrumento de políticas públicas mais eficazes.


Monitoramento da qualidade do ar
Atualmente há 284 estações sob gestão pública somente em nove estados (Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Distrito Federal), como destaca a Plataforma Qualidade do Ar, sistematizada pelo IEMA. Nela, é possível observar o déficit de investimento dos estados neste segmento. Somente os de São Paulo e do Rio de Janeiro mantêm aproximadamente 75% das estações de monitoramento no país e 50% delas estão nas regiões metropolitanas. O Norte do país é desassistido e na região Centro-Oeste e no Nordeste há um número irrisório de cobertura. “Há maior dificuldade de controle de concentrações sobre o material particulado fino (MP2,5) e o ozônio”, diz.


Mais um aspecto estratégico discutido hoje em dia é quanto à manutenção e melhoria da atuação do Programa de Controle de Poluição de Ar por Veículos Automotores (Proconve), criado por resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).


Em 2016, houve uma avaliação dos Impactos e Econômicos dos Benefícios Socioambientais do Proconve, lançado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No relatório, há um dado que chama a atenção. Um estudo realizado pelo Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP e a consultoria Environmentality, entre 1996 e 2005, o número de mortes evitadas pelo Proconve em seis capitais brasileiras foi estimado em 50.000. Isso representaria a economia aproximada de US$ 4,5 bilhões de gastos com saúde pública.

No levantamento, foi apurado que na região metropolitana de São Paulo, o programa teria evitado 3,41% das mortes de adultos acima de 25 anos por doenças cardiovasculares, 3,39% por problemas respiratórios e 5,41% por câncer de pulmão. Ao mesmo tempo, é avaliado que ainda muito a melhorar, pois se calcula que nove pessoas morrem por dia devido à poluição em São Paulo. As concentrações de material particulado ainda são duas vezes mais altas do que o recomendado pela OMS. Vale lembrar que o mesmo tem como principais fontes: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa e ressuspensão de poeira do solo.



Partículas finas


Segundo a OMS, as partículas inaláveis finas (MP2,5), em concentrações excessivas, que podem atingir os alvéolos pulmonares, afetam 91% das pessoas que  vivem em cidades no mundo.
A poluição do ar doméstica é mais um problema desprezado nas políticas públicas e chega a representar o quarto risco global para a saúde, responsável por 4,3 milhões de mortes anualmente. A pesquisadora Adriana Gioda, em seu artigo “Comparação dos Níveis de Poluentes Emitidos pelos Diferentes Combustíveis Utilizados para Cocção e sua Influência no Aquecimento Global”, publicado na Química Nova 41, traz mais uma informação relevante. No Brasil, cerca de 10 milhões de domicílios ainda fazem uso de lenha, de acordo com o levantamento. Em 2010, na América Latina e Caribe, foi estimada a ocorrência de 70.000 mortes prematuras relacionadas à exposição interna ao MP2,5 devido ao uso de combustíveis sólidos na cocção. Ela alerta: as partículas finas são as mais diretamente associadas a mortes e doenças.


Quem não viu algum dia aquela imagem emblemática de pessoas com máscaras, em Pequim, para se proteger da poluição atmosférica na China? Um cenário triste e que revela os extremos. O problema em questão, no Brasil e no mundo, é ainda maior, porque milhares de pessoas sequer têm a chance de usá-las, visto que muitas vidas já estão sendo abreviadas por causa da falta da impulsão, de fato, à energia limpa e renovável; a hábitos mais saudáveis e não poluentes de mobilidade urbana, como andar de bicicleta, exercitar a carona solidária, usar transporte público não poluente. Tudo isso associado ao combate à pobreza, que pesa de forma incontestável sobre a maior parte das vítimas, e investimento em Pesquisa & Ciência.

SAIBA MAIS – LISTA DOS PRINCIPAIS POLUENTES ATMOSFÉRICOS:

Aldeídos (RCHO)
Dióxido de Enxofre (SO2)
Dióxido de Nitrogênio (NO2)
Hidrocarbonetos (HC)
Material Particulado (MP)
Monóxido de Carbono (CO)
Ozônio (O3)
Poluentes Climáticos de Vida Curta (PCVC)
Fonte: Ministério do Meio Ambiente


Veja também no Blog Cidadãos do Mundo (desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade) artigos referentes a esse e outros temas, ao longo dos últimos anos. É só consultar na busca.


*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo. 
3

Crise climática não pode ser combatida sem nos distanciarmos do uso nocivo da terra, alerta relatório do IPCC

Crise climática não pode ser combatida sem nos distanciarmos do uso nocivo da terra, alerta relatório do IPCC

Escrito por Neo Mondo 8 de agosto de 2019
Crise climática não pode ser combatida sem nos distanciarmos do uso nocivo da terra, alerta relatório do IPCC

POR – AVIV COMUNICAÇÃO / NEO MONDO


Documento foi divulgado neste dia 8 e ressalta a importância de metas mais ambiciosas e ações urgentes
A forma como utilizamos o solo é um dos principais fatores para as mudanças do clima, colocando demandas insustentáveis ​​nos sistemas terrestres de que os seres humanos e a natureza dependem. Esta é a principal conclusão do Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Terra, apresentado hoje em Genebra.

O novo documento do IPCC explora a relação entre clima, pessoas e terra em um mundo cada vez mais quente. Ele adverte que as mudanças climáticas estão colocando mais estresse sobre a terra, aumentando a degradação, a perda de biodiversidade e a insegurança alimentar.

O uso da terra contribui com cerca de 23% do total de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) via ação humana – as causas principais são desmatamento, conversão de habitat para a agricultura e emissões de gases por parte das criações de gado. Em todo o mundo, o setor de alimentos é responsável por 75% do desmatamento, sendo que a pressão é maior nos trópicos. A remoção de florestas e a conversão de ecossistemas naturais libera carbono e contribui para uma perda de biodiversidade e degradação da terra sem precedentes.

No Brasil, o setor de uso da terra é a principal causa de emissões de GEE. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), Agropecuária e Mudança de Uso da Terra e Florestas corresponderam, respectivamente, a 23,9% e a 46,12% das emissões brasileiras em 2017, data do dado mais recente disponível.


Aumento do desmatamento
O cenário torna-se ainda mais preocupante com as notícias de aumento de desmatamento divulgadas recentemente pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com o Deter, sistema utilizado pelo Inpe e tido como referência em todo o mundo, o desmatamento em julho de 2019 foi 278% maior do que no mesmo mês do ano passado – foram apontadas perdas de 2.254,9 km² contra 596,6 km², apenas na Amazônia.

“A divulgação aberta dos dados de desmatamento, como tradicionalmente tem sido feita pelo Inpe e pelo Imazon, busca conscientizar sobre a progressão destes números e ajudar a traçar estratégias de combate a esta prática, que traz prejuízos ao meio ambiente e à população. Enquanto o mundo trabalha pela ampliação de metas do Acordo do Paris, o nosso país precisa, pelo menos, atuar de forma imediata para eliminar o desmatamento ilegal e fazer a restauração e o reflorestamento com que se comprometeu”, diz o diretor de Conservação e Restauração de Ecossistemas do WWF-Brasil, Edegar Rosa.

De acordo com a sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), o Brasil se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal; restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, além de alcançar participação estimada de 45% de energias renováveis até 2030.

O Brasil ratificou o documento no Congresso em 2016. No entanto, as movimentações do Ministério do Meio Ambiente e do governo Bolsonaro têm agido em outra direção: houve queda nas fiscalizações e autuações para desmatamento ilegal, mudanças estruturais no corpo técnico do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), além de declarações que apontam para maior permissividade. Como consequência, os ânimos estão acirrados, como em invasões de garimpeiros ilegais em terras indígenas.

Resultados presentes no nosso dia-a-dia

O relatório do IPCC ressalta que a mudança climática já está afetando os quatro pilares da segurança alimentar – disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade – por meio do aumento das temperaturas, mudanças nos padrões de precipitação e maior frequência de alguns eventos extremos, como secas e inundações.

“Além de diminuir as emissões, precisamos nos preparar para os problemas já existentes das mudanças climáticas”, afirma Rosa, “É essencial não só para a saúde do planeta, mas, principalmente, das pessoas. Sem um ambiente saudável será impossível prover alimentos, habitação e segurança climática para todos”, diz Rosa.

Assessor chefe em mudanças climáticas e líder do IPCC no WWF Internacional, Dr. Stephen Cornelius, ressalta a importância de termos ações urgentes contra a crise climática: “Este relatório envia uma mensagem clara de que a forma como usamos atualmente a terra está contribuindo para as mudanças climáticas, prejudicando sua capacidade de apoiar pessoas e a natureza. As prioridades incluem a proteção e a restauração de ecossistemas naturais e a mudança para a produção e consumo sustentável de alimentos.”

Ele acrescenta ainda que uma mudança para o manejo sustentável da terra deve ser acompanhada pelos necessários cortes rápidos e profundos nas emissões de combustíveis fósseis, “se quisermos cumprir a meta de 1,5 °C do Acordo de Paris”.

O relatório destaca ainda as sinergias e transições relacionadas às nossas escolhas. Para isso, o WWF defende um conjunto integrado de ferramentas de gestão sustentável da terra necessárias para garantir um futuro seguro para o clima, que apoie a segurança alimentar e a natureza, com destaque para as soluções climáticas baseadas na natureza. Por exemplo, os manguezais ajudam a aumentar a resiliência climática, ao mesmo tempo em que fornecem uma gama de serviços ecossistêmicos para as comunidades locais e dão suporte a viveiros de peixes.

Calendário
A partir da semana que vem, o Brasil e o mundo promovem uma série de eventos com o objetivo de engajar mais empresas, governos subnacionais e a sociedade em metas mais audaciosas relacionadas ao Acordo de Paris. O primeiro desses grandes eventos acontece de 19 a 23 de setembro em Salvador, com a Semana do Clima regional América Latina, na cidade de Salvador.

No mês seguinte, junto com uma grande greve climática organizada por jovens de todo o mundo, haverá a Cúpula do Clima em Nova York. De acordo com Rosa, esta será a primeira oportunidade para os governos anunciarem planos audaciosos.

“O planeta, a biodiversidade e a segurança alimentar das pessoas que vivem na Terra dependem de metas e ações mais fortes”, diz o diretor Rosa.

Outros eventos importantes até o final do ano incluem a Conferência Brasileira do Clima, em outubro, na cidade de Recife, e a Conferência de Partes da ONU no Chile (COP25).

Caça de animais silvestres aumenta no inverno

Caça de animais silvestres aumenta no inverno

Escrito por Neo Mondo 28 de junho de 2019
Caça de animais silvestres aumenta no inverno

POR – PG1 COMUNICAÇÃO / NEO MONDO


Dados da Polícia Ambiental do Paraná comprovam aumento de 60% no período em 2018 em comparação com o ano anterior
Apesar da caça de animais silvestres ser proibida em território brasileiro desde 1967 por meio da Lei de Proteção à Fauna (Lei 5.197/67), a prática ainda é muito comum pelo Brasil e, cada bioma e cada espécie, revela ter um nível de ameaça diferente. As motivações para realização desta atividade variam desde o consumo para alimentação, em geral quando se tratam de mamíferos ou aves, até capturas para manutenção como animais domésticos.

Em regiões onde o clima é mais frio, a caça de animais silvestres aumenta no inverno. Segundo dados do Batalhão de Polícia Ambiental do Paraná – Força Verde (BP Amb FV), da Polícia Militar do Paraná, o número de apreensões de armadilhas para a fauna em todo o Estado cresceu de 761 entre junho e setembro de 2017 para 1.220 apreendidas no mesmo período de 2018. O aumento representa um crescimento de 60%. Outro indício que comprova que a caça é mais intensa durante os meses mais frios do ano é o número de armas de fogo apreendidas pelo Batalhão. Apenas durante o inverno de 2018, foram mais de 130 armas e 2.344 munições apreendidas.

Alguns fatores contribuem para esse aumento. De acordo com o capitão BP Amb FV, Álvaro Gruntowski, o inverno é uma época em que o alimento é mais escasso na floresta, por isso o animal acaba se expondo mais para conseguir se alimentar e é facilmente atraído pelas “cevas”, alimentos deixados em local estratégico para atrair o animal. A estação também coincide com o período reprodutivo de muitas espécies, deixando-as ainda mais vulneráveis. “Mas o principal fator é a temperatura mais amena e diminuição das chuvas, o que torna o deslocamento do caçador mais fácil e confortável dentro da floresta”, ressalta Gruntowski.

O coordenador das reservas da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Reginaldo Ferreira, instituição que é proprietária de três Reservas Naturais no litoral do Paraná – das Águas, Guaricica e Papagaio-de-cara-roxa –, conta que algumas  armadilhas utilizadas pelos caçadores também podem representar risco para quem transita por estas áreas naturais e para os policiais do BP Amb FV, como é o caso do “trabuco” ou armadilha de carreiro, que consiste em uma arma de fogo instalada com um dispositivo que é acionado quando o animal passa pela trilha. “Nossas atividades incluem o monitoramento dessas áreas, em parceria com o Batalhão, para prevenir ilícitos ambientais como desmatamentos, a caça ou captura de animais silvestres, corte de palmito nativo ou qualquer outra atividade ilegal dentro dessas áreas. Infelizmente, ainda sofremos muito com a caça predatória na região, o que representa uma ameaça não apenas para os animais, mas para quem anda pela mata também”, explica Reginaldo.
Foto: Lucas Pontes

Tietê permanece adoecido na região metropolitana devido ao mau planejamento urbano

Tietê permanece adoecido na região metropolitana devido ao mau planejamento urbano

Escrito por Neo Mondo 21 de fevereiro de 2019
Tietê permanece adoecido na região metropolitana devido ao mau planejamento urbano
O Alto Tietê é o berço da água da Região Metropolitana de São Paulo, uma das mais importantes do País – Foto:Divulgação

POR – SUCENA SHKRADA RESK*, ESPECIAL PARA COALIZÃO VERDE (1 PAPO RETO, CENÁRIO AGRO e NEO MONDO)



A sensação de déjà-vu é contínua. Entra ano, sai ano, esta é a realidade perversa que vivemos diariamente nas regiões metropolitanas. De um lado, algumas nascentes que resistem, sabe-se lá até quando à pressão humana e, por outro, rios que são engolidos, em diversos trechos de seus percursos, por plásticos e por todos os tipos de resíduos que são recicláveis, além da imensa descarga clandestina de esgotos domésticos e industriais. No estado de São Paulo, o exemplo clássico é do Tietê. Um dos efeitos colaterais do mau planejamento urbano por décadas.

Mas muitos rios em diferentes localidades do país poderiam ser objeto desta reflexão. Só em relação à poluição orgânica, o Atlas Esgotos – Despoluição de Bacias Hidrográficas, da Agência Nacional de Águas (ANA), publicado em 2017, expôs que a maioria dos municípios brasileiros despeja pelo menos 50% do esgoto que produz diretamente em cursos d’água próximos, sem submetê-los a qualquer trabalho de limpeza.
Nascente conservada
No caso do Tietê, o exercício de observação se torna interessante ao ver sua nascente ainda preservada em Salesópolis, a 96 quilômetros da capital. Praticamente escondida sob as rochas e mata, se encontra em uma unidade de conservação – Parque Estadual das Nascentes do Rio Tietê, criado por decreto estadual, em 1988, e inaugurado oficialmente em 1996. Antes havia sido um terreno particular, com atividades pecuárias e carvoeiras. Mas a descoberta da nascente foi feita bem antes, em 1954, pela Sociedade Geográfica Brasileira.

Depois de 20 anos, estive lá novamente, no dia 02 de fevereiro. Foi um momento de significativa contemplação e reflexão sobre estes contrates que se arrastam indefinidamente, principalmente desde as primeiras décadas do século XX. O contraponto no curso das águas do Tietê, em situação de “poluição”, foi destaque recentemente na mídia e flagrada na região do município de Salto, depois das chuvas que aumentaram o nível do rio e carrearam os resíduos despejados irregularmente nas vias .
Nascente do rio Tietê em Salesópolis, na Serra do Mar – Foto: Youtube | Pinterest
Responsabilidade compartilhada
Todas essas situações certamente não derivam de geração espontânea. Estamos em 2018 e ainda parece um bicho-de-sete-cabeças falar de responsabilidades compartilhadas, neste contexto, não é? Sim, gestão pública (municipal, estadual e federal), empresas e sociedade civil. O Projeto Tietê foi proposto para sua despoluição na Região Metropolitana do Estado de São Paulo, desde 1992, com financiamento vultoso do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e está sendo coordenado pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A sua concepção foi decorrente de mobilização social, que contou também com um abaixo-assinado com mais de 1 milhão e 200 mil assinaturas, ocorrida na capital, com a iniciativa da rádio Eldorado, do Jornal da Tarde e da SOS Mata Atlântica.

Ao longo do processo, é possível observar que avançou em alguns pontos, com coleta e estações de tratamento de esgotos, mas ainda precisa avançar muito no saneamento, pois depende também das ações municipais. Hoje se encontra na terceira etapa, que deve seguir até 2020 e depois iniciar a quarta etapa.

Durante todos estes anos, o cenário que se vê é de que muitos municípios ainda continuam a despejar esgoto clandestinamente no rio. Ao mesmo tempo, há a falta de educação quanto ao consumo consciente e o despejo em grande volume de resíduos que deveriam ser reciclados. Um ciclo vicioso das lacunas do saneamento ambiental, que envolve diretamente a sociedade.
Quase uma tonelada de peixes mortos já foram retirados do rio Tietê em Salto (Foto: Arquivo Pessoal/Paulo Conti)
Existe um antagônico retrato do desenvolvimento principalmente na região metropolitana de São Paulo, com mais de 20 milhões de pessoas, que segue na contramão do que seria esperado de um comportamento civilizado nas cidades. Seja sob temporais ou em períodos de estiagem, esse contexto resulta em um Tietê “sufocado”, que está bem longe de seus áureos tempos em que ainda era totalmente sinuoso (não retificado em seu curso), onde antepassados nadavam, pescavam, andavam de barco, participavam de provas aquáticas e no qual, o ecossistema fluía livre.

Até quando será possível vislumbrar nascentes com água insípida, inodora e incolor,  como vi em Salesópolis? A sensação é quase de êxtase e com licença poética para recobrar a inspirada letra da música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, não é? Sem pecar pelo excesso de romantismo. Mas vale repetir o questionamento – até quando? Uma série de pressões vem de todos os lados, acrescentando às fontes poluidoras, os agrotóxicos utilizados em cultivos próximos das águas, em alguns municípios.

O rio carece, em muitos trechos, da falta de matas ciliares, e de florestas nativas. O próprio parque é resultado de regeneração após exploração carvoeira que havia na área anteriormente e se transformou em UC por pressão da sociedade e decisão de uma política pública. Mas não é suficiente. O município também apresenta simultaneamente áreas de reflorestamento com espécies exóticas, devido ao mercado de papel e celulose regional, e carece de mais áreas nativas.
Rio Tietê – Foto:Pixabay
Facetas da poluição
As diferentes facetas da poluição hídrica resultam na “morte” de partes do Tietê. Exagero? Não. Em julho passado, o que se via, era a carga de espuma, retrato da poluição, por exemplo, na mesma Salto e na região de Cabreúva. Em outubro, uma “lama negra”, provavelmente decorrente da abertura de comportas de usinas, como foi destacado em noticiário à época. Mais recentemente o “mar de plásticos”. Os resultados dos comprometimentos físico, químico e biológico são comprovados por análises técnicas.
Onde o rio está morto
Parece redundância, mas falar a respeito dessas situações se repete em relação aos anos e décadas anteriores. Em 2018, o relatório Observando o Tietê, da Fundação SOS Mata Atlântica, expôs que a mancha de poluição era de 122 quilômetros, em sua extensão, entre Itaquaquecetuba e Cabreúva. Isso quer dizer 10,6% dos seus 1.150 quilômetros.
O monitoramento foi feito nas bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê e sub-bacias dos rios Sorocaba, Piracicaba, Capivari e Jundiaí, no período de setembro de 2017 a agosto de 2018. O Tietê deságua no rio Paraná, no município de Itapura (divisa entre São Paulo e Mato Grosso do Sul). Em 2010, esta mancha era de 243 quilômetros. Houve um decréscimo, mas ainda falta muito para melhorar, não é?
Mancha de poluição do rio Tietê – Foto: Cadu Rolim/Fotoarena/Folhapress
Mais um dado a refletir: toda poluição gerada nos 39 municípios da bacia hidrográfica do Alto Tietê, chega a 612 toneladas de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)/ dia (dos 62 que compreendem toda extensão do rio). Daí é possível entender por que não é possível ver peixes ou outros tipos de vida nestes trechos. Como resistir a tanto esgoto? Em 63,4% dos 112 pontos de coleta, a condição de água estava regular, segundo o estudo.

Segundo o relatório, a qualidade de água boa foi mantida em 4 pontos de coleta: dois localizados no rio Tietê, nos municípios de Salesópolis e Biritiba-Mirim, em área de manancial e os outros 2 em afluente do rio Caulim e em nascente afluente da represa Billings, no parque Shangrilá, ambas na Capital paulista.

Esse conjunto de dados demonstra que o rio não sairá desta condição, se continuarmos a perpetuar este mesmo modelo de desenvolvimento às avessas nas regiões metropolitanas. Quem ganha com um Tietê morto?

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo (desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade) artigos referentes a esse e outros temas, ao longo dos últimos anos. É só consultar na busca.

*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo. 
O rio Tietê cruzando o estado de São Paulo, mesmo nascendo próximo do mar