quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Luva interativa permite "toques" à distância


Luva interativa permite
A equipe pretende integrar uma segunda luva, para permitir que os dois parceiros compartilhem toques ao mesmo tempo. [Imagem: SFU]


Toque virtual quase real
A proposta desta luva robótica é que casais momentaneamente longe um do outro possam se encontrar virtualmente usando algo mais do que um contato visual por uma tela.



"Os usuários podem fazer gestos íntimos, como tocar o rosto, dar as mãos e até dar um abraço. O ato de dobrar ou flexionar o dedo é uma maneira suave e sutil de imitar o toque," afirma Carman Neustaedter, que criou a luva interativa juntamente com sua equipe da Universidade Simon Fraser, no Canadá.



Neustaedter chama a luva de Flex-N-Feel, flexionar e sentir, em tradução livre.
Quando uma das pessoas usando a luva move os dedos, a ação é transmitida para o parceiro remoto, cuja luva recebe os sinais e reproduz o movimento.



Toques compartilhados
Para capturar as ações, os sensores das luvas, que fornecem um valor para cada grau de movimento, são conectados a um microcontrolador, por sua vez ligado a um módulo WiFi.
Há sensores também colocados estrategicamente no lado da palma dos dedos, a fim de permitir uma melhor sensação de toque. Uma chave em ambas as luvas permite que qualquer parceiro inicie o toque.



As luvas de toque virtual ainda estão em estágio de protótipo e os testes continuam. Um conjunto de luvas permite um toque remoto unidirecional entre parceiros. A seguir, a equipe pretende integrar um segundo conjunto, para permitir que os dois parceiros compartilhem toques ao mesmo tempo.

Nova esperança para evitar metástase do câncer




Descoberto novo alvo para evitar metástase do câncer
Foto de um tumor de melanoma, um dos mais agressivos e difíceis de tratar de todos os tipos de câncer.
[Imagem: Aaron Smith/QUT]
Câncer mais agressivo
Pesquisadores identificaram a forma como as células de melanoma se espalham, abrindo um novo caminho para o tratamento deste que é o tipo mais grave de câncer de pele.
Mais do que isso, afirma a equipe liderada pelo Dr. Aaron Smith, da Universidade de Queensland (Austrália), os resultados abrem novos rumos para o tratamento do câncer em geral, já que o processo pode ser comum a outros tipos da doença.




"O câncer é caracterizado pelo crescimento descontrolado das células, mas se o crescimento descontrolado fosse o único problema então as células cancerosas seriam facilmente tratadas com cirurgia na maioria dos casos," explicou o Dr. Smith.




Mas o que torna o câncer mortal é a sua tendência a invadir tecidos e migrar para outras regiões do corpo, um processo chamado metástase. O melanoma metastático é um dos mais agressivos e difíceis de tratar de todos os tipos de câncer.




Alvo para medicamento
No tumor de melanoma, as células são principalmente proliferativas, mas algumas são mais invasivas e migratórias. Complicando um pouco as coisas, algumas células podem alternar entre esses dois comportamentos, o que significa que uma célula pode espalhar o câncer para outras partes do corpo e, em seguida, mudar de personalidade para ajudar um novo tumor a crescer.



"Nosso projeto de pesquisa descobriu o mecanismo pelo qual essas células de melanoma mudam entre esses dois comportamentos. Este é um avanço importante, uma vez que identificamos um alvo tratável com medicamento como parte desse processo. Evitar essa mudança para o comportamento invasivo permitirá prevenirmos a disseminação metastática do melanoma e, potencialmente, também de outros tipos de câncer," acrescentou o pesquisador.



Os dois tipos de comportamentos das células tumorais são marcados pela expressão de dois diferentes fatores reguladores: MITF (células proliferativas) e BRN2 (células invasivas). O BRN2 reduz a expressão MITF para diminuir a proliferação e colocar as células no modo invasivo, e ele faz isso aumentando a expressão de um outro fator regulador, chamado NFIB.



A equipe finalmente descobriu que esse fator NFIB, por sua vez, é controlado por uma enzima chamada EZH2 - é essa enzima que o pesquisador chamou de "alvo tratável com medicamento".




Droga em testes
A melhor notícia de todas é que já existem drogas em desenvolvimento para inibir quimicamente a EZH2, que estão atualmente em testes pré-clínicos e que poderão, se consideradas seguras e eficazes, serem usadas para bloquear a proliferação do câncer.




De fato, as pesquisas mais recentes têm indicado que a metástase pode ser um alvo mais promissor do que o tumor propriamente dito para tentar curar o câncer.
Os resultados foram publicados na revista EBiomedicine.

Bactérias intestinais têm influência decisiva no Mal de Alzheimer




Bactérias intestinais têm influência decisiva no Mal de Alzheimer
"Os resultados significam que agora podemos começar a pesquisar maneiras de prevenir a doença e retardar sua manifestação," disse a Dra. Frida Hallenius.
[Imagem: Universidade de Lund]
 
 
Primeiro Parkinson, agora Alzheimer
Uma pesquisa feita na Universidade de Lund (Suécia) deu suporte à hipótese de que as bactérias intestinais aceleram o desenvolvimento da doença de Alzheimer.



A conexão entre as bactérias intestinais e a doença de Parkinson já está bem estabelecida, o que levou os pesquisadores a estudar também a conexão com o Alzheimer - hoje já se sabe que o intestino parece formar um "segundo cérebro", tamanha é sua conexão com o sistema nervoso.



Como as nossas bactérias comensais têm um grande impacto sobre nossa saúde geral, sobretudo através de interações entre o sistema imunológico, a mucosa intestinal e a nossa dieta, a composição da microbiota intestinal passou a ser de grande interesse para as pesquisas sobre doenças neurológicas e neurodegenerativas.



A composição da nossa microbiota intestinal depende de quais bactérias recebemos no nascimento, dos nossos genes e da nossa dieta.



Bactérias intestinas e Alzheimer
Ao estudar camundongos saudáveis e doentes, os pesquisadores descobriram que os camundongos que sofrem de Alzheimer têm uma composição de bactérias intestinais diferente.



A equipe também estudou a doença de Alzheimer em camundongos completamente livres de bactérias, para testar ainda melhor a relação entre as bactérias intestinais e a doença. Os camundongos sem bactérias apresentaram uma quantidade significativamente menor de placas beta-amiloides no cérebro.



Para esclarecer a conexão entre a flora intestinal e a ocorrência da doença neurológica, os pesquisadores então transferiram bactérias intestinais de camundongos doentes para camundongos sem germes e constataram que estes últimos desenvolveram mais placas beta-amiloides no cérebro em comparação com o grupo que recebeu bactérias de animais saudáveis.



"Nosso estudo é único porque mostra um nexo causal direto entre as bactérias intestinais e a doença de Alzheimer. É marcante que os camundongos completamente livres de bactérias desenvolvam muito menos placas no cérebro," disse a pesquisadora Frida Fak Hallenius.



Dieta e probióticos
Os pesquisadores pretendem agora testar novos tipos de estratégias preventivas e terapêuticas contra o Alzheimer com base na modulação da microbiota intestinal através da dieta e de novos tipos de probióticos.



"Os resultados significam que agora podemos começar a pesquisar maneiras de prevenir a doença e retardar sua manifestação. Consideramos que este é um grande avanço, já que até agora só podemos administrar medicamentos antirretrovirais que aliviam os sintomas," finalizou Hallenius.

Dieta materna influencia altera DNA do bebê




Dieta materna influencia altera DNA do bebê
O estudo documenta uma alteração genética no feto decorrente da alimentação da mãe.
[Imagem: Unesp]



Ácido fólico
Toda gestante deve receber alimentação rica em ácido fólico para prevenir anencefalia e diferentes graus de deficiência mental no futuro bebê.
Mas de que maneira essa vitamina atua sobre o DNA e define o funcionamento dos genes no organismo em gestação?



A busca de respostas para esta questão fez uma equipe da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP) estudar a ação do ácido fólico em genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2.




Os resultados da pesquisa mostraram que mudanças no fornecimento da vitamina a gestantes e lactantes interferem no controle da expressão gênica das proles para essas doenças.



Os filhotes - os experimentos foram feitos em animais de laboratório - gestados com dieta deficiente da vitamina apresentaram maior expressão dos genes envolvidos com essas doenças, enquanto os filhotes de mães que receberam suplemento de ácido fólico, ao contrário, apresentaram pouca expressão desses genes.



Reprogramação epigenética
Os resultados revelam mecanismos moleculares envolvidos na "reprogramação epigenética fetal" dos genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2.



Essa "reprogramação epigenética" corresponde a mudanças observadas nas expressões dos genes que não dependem da hereditariedade. É o próprio ácido fólico, vitamina normalmente retirada de alimentos, que atua no nível genético por meio das reações de metilação do DNA, conta a geneticista Paula Lumy Takeuchi, responsável pelo estudo.




A alteração da quantidade de ácido fólico fornecida pela alimentação das mães modificou o "ciclo da metionina, principal aminoácido doador de grupos metil para as reações de metilação do DNA e de proteínas". Esse é um dos mecanismos pelo qual os genes são "ligados e desligados"; o que vale dizer que eles podem estar ativos ou inativos no organismo.

BNDES aprova financiamento para 8 parques eólicos na Bahia, com capacidade geradora de 223,25 megawatts




Complexo Eólico Serra da Babilônia terá capacidade para atender consumo de 480 mil residências. Investimento de cerca R$ 1,5 bilhão trará desenvolvimento a municípios com IDH abaixo da média nacional
Aerogeradores em parque eólico
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento no valor de R$ 847,9 milhões para implantação de oito parques eólicos que formam o Complexo Eólico Serra da Babilônia, na Bahia.



O empréstimo representa 57% do investimento total do grupo Rio Energy, no valor de R$ 1,48 bilhão, que proporcionará capacidade geradora de energia 223,25 megawatts, o equivalente ao consumo de 480 mil residências. Com o apoio ao projeto, o BNDES contribui para a diversificação da matriz energética brasileira por meio de uma fonte de recursos renovável.



Os oito parques eólicos serão instalados nos municípios de Morro do Chapéu e Várzea Nova, na Bahia, assim como os sistemas de transmissão e, ainda, os investimentos sociais a serem realizados na região. Esse projeto se sagrou vencedor do 2º leilão de energia de reserva, em novembro de 2015 (2º LER/2015), com prazo de fornecimento de 20 anos.




Ao todo, serão instalados 95 aerogeradores, com potência nominal de 2,35 megawatts e rotor de 98 metros de diâmetro. O projeto será conectado ao Sistema Interligado Nacional do Brasil (SIN) subestação de Morro do Chapéu II, de 230 kV (quilovolts), localizada a aproximadamente 75 Km do complexo eólico da Serra da Babilônia, em Morro do Chapéu (BA). A previsão de início de operação dos parques eólicos é em novembro de 2018.



Impacto social – A implantação do projeto do Complexo Eólico Serra da Babilônia promoverá benefícios à região, pois, além da geração de energia por fonte limpa e renovável, o empreendimento deverá atrair investimentos, fomentar o desenvolvimento socioeconômico de sua área de influência, aumentando oferta de empregos e arrecadação de impostos. Os IDHs dos municípios de Morro do Chapéu (0,588) e Várzea Nova (0,555), onde serão instalados os parques eólicos estão muito abaixo do IDH médio brasileiro (0,727) e entre os mais baixos do País.



Fonte: BNDES




in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2017

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Pesquisa da Embrapa Agroenergia encontra microalgas que crescem em resíduos e geram biocombustíveis



Por Vivian Chies, Embrapa Agroenergia



A Embrapa Agroenergia (DF) conseguiu identificar espécies de microalgas que podem ser cultivadas em resíduos líquidos de processos de agroindústrias, os efluentes. Esse cultivo pode gerar matéria-prima renovável para biocombustíveis, rações, cosméticos e vários outros produtos.



A pesquisa, que durou três anos, também teve como resultado a descoberta de espécies até então desconhecidas, na biodiversidade brasileira.




Os efluentes utilizados nos estudos foram a vinhaça, formada na produção de açúcar e etanol de cana, e o Pome (palm oil mill effluent), que é gerado no processamento do dendê. Eles são aproveitados, hoje, para fertirrigação das plantações. Utilizá-los, contudo, como meio para produzir microalgas, pode agregar valor às cadeias produtivas da cana e do dendê, gerando mais biomassa e óleo para obter energia e bioprodutos.




As microalgas são organismos unicelulares e microscópicos que vivem em meios aquáticos e têm uma característica curiosa: embora não sejam plantas, são capazes de realizar fotossíntese e se desenvolver utilizando luz do sol e gás carbônico. Elas se reproduzem muito rapidamente, gerando grandes quantidades de óleo e biomassa em pouco tempo. A produtividade pode ser de dez a 100 vezes maior do que os cultivos agrícolas tradicionais. Isso chamou a atenção de setores que necessitam de grandes quantidades de matéria-prima, como o de biocombustíveis.




Ao mesmo tempo, os óleos produzidos por algumas espécies quase sempre contêm compostos muito valiosos como, por exemplo, Ômega 3 e carotenoides. Por isso, elas também encontram espaço em indústrias que atendem nichos de mercado e pagam mais caro por matérias-primas com propriedades raras. É o caso dos cosméticos e dos suplementos alimentares.




Já existem pelo menos quatro empresas no Brasil produzindo microalgas: duas no Nordeste, com foco em nutrição humana e animal, e outras duas no interior de São Paulo, já atendendo indústrias de cosméticos e rações, ou projetos para tratamento de efluentes. Contudo, há ainda muito que avançar no conhecimento e desenvolvimento de tecnologias para impulsionar o setor. A redução do custo de produção é uma das principais preocupações, principalmente quando se quer alcançar mercados que necessitam de grandes volumes e preços baixos, como é o caso dos biocombustíveis.




Explorando a biodiversidade
A pesquisa da Embrapa buscou soluções em uma das maiores riquezas do Brasil: a imensa biodiversidade, que pode abrigar um quarto das espécies de microalgas de água doce, segundo as estimativas. O primeiro trabalho tinha como objetivo encontrar espécies capazes de crescer na vinhaça, em ambientes industriais e biomas brasileiros (Amazônia, Pantanal e Cerrado). Os cientistas identificaram duas espécies que podem ser cultivadas nesse efluente, com bom rendimento − uma delas ainda não está sequer descrita na literatura.



A análise dos componentes da biomassa dessas duas microalgas indica maior concentração de carboidratos e proteínas do que de lipídeos e carotenoides, que as tornam mais adequadas para a produção de etanol do que de biodiesel, quando o assunto é biocombustíveis. Podem ser utilizadas, ainda, em rações.




A vinhaça é rica em nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), nutrientes tão necessários às microalgas quanto às plantas. Utilizá-la como meio de cultivo, contudo, tem seus desafios, explica o pesquisador Bruno Brasil, da Embrapa Agroenergia. Se, por um lado, a concentração de nutrientes favorece o crescimento dos organismos, por outro a coloração escura dificulta a passagem de luz, sem a qual não há fotossíntese.




Para minimizar esse problema, a equipe da Embrapa Agroenergia utilizou métodos de clarificação química de baixo custo ou simplesmente diluiu a vinhaça em água. Outro desafio associado à vinhaça é a elevada carga de material orgânico. Ela favorece a proliferação de bactérias e leveduras, que se tornam contaminantes no meio de cultivo e prejudicam o crescimento das microalgas.




As duas espécies selecionadas pela equipe da Embrapa Agroenergia são mixotróficas. Isso quer dizer que elas realizam fotossíntese, mas também utilizam a matéria orgânica da vinhaça para crescer. Elas não chegam a reduzir significativamente essa carga orgânica e, por isso, não podem ser utilizadas isoladamente para tratamento do efluente. No entanto, isso pode ser bom porque permite que a vinhaça ainda seja usada para fertirrigação dos canaviais após a retirada das microalgas.

Cultivo e uso das microalgas
Cultivos em efluente do processamento do dendê
O Pome tem características poluidoras muito parecidas com as da vinhaça, mas a composição é diferente, já que se origina de um fruto rico em óleo, o dendê, e não de uma gramínea rica em açúcar como é o caso da cana.



Por isso, o trabalho de busca de microalgas capazes de crescer nesse material envolveu tanto experimentos com cepas já testadas para a vinhaça quanto novas coletas de amostras, em ambientes diferentes. Neste caso, também, duas espécies mostraram-se eficientes. Uma delas tem capacidade de crescimento tão elevada que faz desaparecer a coloração quase preta do Pome e coloca no lugar um verde intenso. Além disso, foi demonstrado que a retenção do Pome em uma lagoa anaeróbica seguida de cultivo utilizando estas microalgas promove tratamento eficiente do efluente, processo conhecido como biorremediação.




A ideia de buscar espécies capazes de crescer em efluentes industriais explora justamente uma das vantagens das microalgas, a robustez. Diferentemente das plantas, elas não exigem água doce e limpa; podem ser cultivadas em água salgada, salobra ou mesmo residual. Esse é um fator bastante positivo para a sustentabilidade do cultivo. Soma-se a isso a característica de elas não precisarem ocupar terras férteis e a alta produtividade para se chegar à conclusão de que microalgas podem compor o rol de soluções sustentáveis para fornecer alimentos, energia e bens de consumo a uma população mundial crescente.




Engenharia genética
A equipe de cientistas da Embrapa e instituições parceiras está, agora, empenhando-se em construir ferramentas que permitam a modificação genética das espécies selecionadas para crescimento na vinhaça e no Pome, com o objetivo de potencializar o rendimento.




O investimento na engenharia genética tem motivo: toda a produção de commodities agrícolas atual está baseada em espécies que passaram por décadas ou séculos de domesticação e melhoramento genético. Além disso, um grande estudo sobre microalgas financiado pelo governo dos Estados Unidos mostrou que o uso de linhagens modificadas geneticamente chega a reduzir em 85% o custo de produção – uma das grandes metas estabelecidas pelos cientistas.




O desafio para chegar a essas novas linhagens, contudo, é grande. Qualquer programa de engenharia genética precisa primeiramente de conhecimento sobre a espécie com a qual se pretende trabalhar. No caso das microalgas, essa base ainda está em construção. Basta comparar: o primeiro genoma completo de bactéria foi apresentado em 1995, o humano foi concluído em 2003, mas só em 2012 foi sequenciado o DNA de uma microalga com potencial para produção de biocombustíveis.




Quando se trata de espécies originárias do Brasil, a carência de dados é ainda maior. “Nós sabíamos que, trabalhando com espécies nativas, tínhamos a chance de encontrar coisas novas e mais produtivas do que materiais de outras partes do mundo, mas, ao mesmo tempo, por ser novo, sabíamos que iríamos ter que desenvolver esse pacote tecnológico”, conta o pesquisador Bruno Brasil.




Na Embrapa e na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), além das microalgas, os cientistas estão explorando a genética das cianobactérias, conhecidas como algas azuis. São organismos também unicelulares, microscópicos e capazes de realizar fotossíntese, porém mais simples. Luis Fernando Marins, professor da FURG, compara os genomas delas. Enquanto o de uma das cianobactérias com que ele está trabalhando tem 2,6 milhões de pares de bases, o de uma microalga chega a 120 milhões, ou seja, é 60 vezes maior. Além disso, os meios de cultivo para as cianobactérias são geralmente mais baratos e elas têm capacidade de secretar substâncias, o que facilita os processos de obtenção dos produtos de interesse.




Além dos estudos do genoma e da engenharia genética, o pesquisador da Embrapa Agroenergia antecipa os próximos passos do centro de pesquisa: “Do ponto de vista de processos industriais, o que falta? Escalonamento de sistemas de cultivo, métodos eficientes para colheita das microalgas e processos de conversão da biomassa em produtos. Os próximos projetos vão focar esses três pontos”.

Mercado das microalgas
Uma das empresas que se tornou referência no tema microalgas é a TerraVia, que até março de 2016 chamava-se Solazyme. Com origem na região do Vale do Silício, nos Estados Unidos, a companhia estabeleceu sua unidade de produção no Brasil, numa joint venture com a Bunge. A biofábrica está associada a uma usina sucroalcooleira, em Orindiúva (SP), porque a espécie de microalga com que trabalha não realiza fotossíntese, mas alimenta-se de açúcar.  O diesel e o combustível de aviação obtidos a partir do óleo dessa microalga, o Soladiesel e o Solajet, eram destaque entre os produtos oferecidos pela tecnologia da empresa, mas isso mudou junto com o nome, justamente por causa de valor de mercado. “Esses mercados podem se tornar maiores e rentáveis no futuro e ainda são ativos valiosos para nós. Porém, com os níveis de preços atuais do barril de petróleo, biocombustíveis nesse momento não são o principal driver econômico para nós”, revela o presidente da joint venture TerraVia / Bunge, Walfredo Linhares. O executivo afirma que a empresa está voltada, agora, exclusivamente para alimentos, nutrição animal e ingredientes especiais para o mercado de cuidados pessoais. Empresas como Natura, Nestlé e Unilever já utilizam ou vão utilizar, em seus produtos, óleos e compostos originários das microalgas cultivadas em Orindiúva.

Menos vultosa, porém consistente, é a iniciativa da Fazenda Tamanduá, no sertão da Paraíba. Ali foi estabelecido um cultivo orgânico de cianobactérias do tipo spirulina, que já são bastante conhecidas pelos benefícios à saúde humana. “Eu tomo spirulina e acho um produto maravilhoso: há oito anos não sei o que é uma gripe. Não é um milagre, mas se você toma todos os dias vai sentir uma melhora na sua saúde, pele, cabelo”, testemunha o biotecnólogo José Franciraldo de Lima, responsável-técnico pela produção. A Fazenda Tamanduá foi a primeira a obter registro do produto como alimento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ele é comercializado em cápsulas ou em pó.

Um pouco mais ao norte do País, no Ceará, a professora Francisca Pinheiro aplicou o conhecimento adquirido durante anos na Universidade Federal do estado para estabelecer em uma chácara, no Município de Cascavel, um cultivo de spirulina. Nesse caso, o foco é o mercado de rações para aquicultura, especialmente camarões, tilápias e peixes ornamentais, graças ao elevado teor de proteína do produto. Ela acredita no futuro do cultivo de microalgas e cianobactérias. “É um mercado consumidor crescente, autossustentável, com potencial no mercado interno e externo”, analisa. A empresária pretende consolidar seus métodos de cultivo e, a partir daí, iniciar um projeto de transferência de tecnologia para comunidades do Nordeste.

Em Piracicaba (SP), o parque tecnológico local abriga a Algae Biotecnologia, uma start up voltada para o desenvolvimento de projetos baseados em microalgas, com o foco em biorremedição e captura de carbono. O que está mais avançado é a iniciativa com a fabricante de cimentos Intercement, que consiste em utilizar as microalgas para biofixar o grande volume de CO2 gerado nesse segmento industrial. Já foram selecionadas espécies eficientes nesse trabalho e o projeto está entrando em fase pré-comercial.


Fonte: Embrapa Agroenergia
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2017

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Colapsos ambiental e financeiro ameaçam o mundo, artigo de Clóvis Cavalcanti



crise ambiental

Não se trata de exagero ou pessimismo afirmar que existe apreensão nos círculos das ciências exatas e da natureza, um pouco menos no campo das sociais, quanto a colapsos que nossa sociedade planetária pode experimentar em período não distante. 




O assunto figura nas preocupações do Papa Francisco, cuja encíclica Laudato Si’, de maio de 2015, o aborda. Lê-se nela, por exemplo, que “Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades”. Isso, porque “parece notar-se sintomas dum ponto de ruptura, por causa da alta velocidade das mudanças e da degradação, que se manifestam tanto em catástrofes naturais regionais como em crises sociais ou mesmo financeiras …





Há regiões que já se encontram particularmente em risco e, prescindindo de qualquer previsão catastrófica, o certo é que o atual sistema mundial é insustentável a partir de vários pontos de vista, porque deixamos de pensar nas finalidades da ação humana”. Vale sublinhar que o documento papal não saiu da cabeça de Sua Santidade sem antes buscar sólida base científica.





De fato, em maio de 2014, as Academias Pontifícias de Ciências (APC) e de Ciências Sociais (APCS) promoveram um seminário conjunto em que os temas da encíclica foram examinados e oferecidos ao Papa para sua consideração. Do evento participaram renomados cientistas, alguns deles laureados com o Prêmio Nobel. Não por acaso, a encíclica, na ótica da ciência, é considerada um documento irretocável.





Certamente, uma questão grave é a da mudança climática, objeto do campo de inquietações de Francisco. Considerando o clima “um bem comum”, a encíclica sublinha que mudanças nele “são um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas, distributivas e políticas, constituindo atualmente um dos principais desafios para a humanidade”. No Nordeste do Brasil, é visível que algo preocupante está acontecendo.




O desaparecimento da água potável, a escassez de chuvas, a sensação de desertificação que se experimenta com a vegetação esturricada à nossa volta não são episódios erráticos. Quem abre a torneira em casa, como um habitante do Recife, por exemplo, e vê a água saindo, não imagina o drama que a população de áreas sertanejas vivencia. Meu cunhado Valderedo, criador de gado leiteiro em Garanhuns, não tem mais como impedir que suas vacas morram.





Teme-se que, do ponto de vista do aquecimento global e do degelo do Ártico, da Groenlândia e, especialmente da Antártica, o ponto de não retorno do problema já tenha sido atingido. Receios de catástrofes iminentes se manifestam. Artigo de Douglas Fox, na National Geographic, de 12/4/2016, avisa que os cientistas veem com horror o colapso do gelo na Antártida.




Nicola Jones, na revista Yale Environment, de 26/1/2017, por sua vez, registra o fato assustador de que o ano passado marcou a primeira vez em muitos milhões de anos que as concentrações de CO2 na atmosfera passaram de 400 partes por milhão.





A isso tudo se acrescenta uma crise do sistema financeiro mundial por conta da dívida crescente e impagável de governos, empresas e pessoas que forçam a economia mundial a crescer a todo custo. Ou seja, para que se mantenha a crença de que a dívida será paga, não existe outra saída senão aumentar o PIB indefinidamente. Mas é isso exatamente que causa os problemas que tanto preocupam. Vale lembrar aqui o conselho de Albert Eistein (1879-1955) de que “Não podemos resolver nossos problemas com o mesmo pensamento que foi usado quando os criamos”.





Está na hora de aceitar o ensinamento da encíclica Laudato Si’ acerca da necessidade de “mudanças profundas” no nosso estilo de sociedade.




Clóvis Cavalcanti






 

Presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica (ISEE); cloviscavalcanti.tao@gmail.com



** Nota: Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no Diario de Pernambuco

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2017




"Colapsos ambiental e financeiro ameaçam o mundo, artigo de Clóvis Cavalcanti," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/02/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/02/22/colapsos-ambiental-e-financeiro-ameacam-o-mundo-artigo-de-clovis-cavalcanti/.
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Pesca sustentável e manejo florestal, artigo de Roberto Naime


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


Tomaz Silva da Agência Brasil, desenvolve matéria sobre pesca sustentável, que é um dos grandes desafios das comunidades ribeirinhas.

 
 
 
Ressalta que um dos grandes desafios pelos quais passam diversas comunidades ribeirinhas da Amazônia tem sido o de pescar de forma sustentável. E evitar que a fartura de um ano resulte em escassez de pescado no ano seguinte.
 
 
 
O princípio pode ser aplicado a várias outras atividades típicas desenvolvidas pelos ribeirinhos da Amazônia. Incluindo, o manejo florestal que é a utilização racional e ambientalmente adequada dos recursos da floresta.
 
 
 
 
“Para que qualquer atividade seja considerada sustentável, ela precisa ser ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa”, resume o técnico florestal do Instituto Mamirauá, Ronaldo Carneiro.
 
 
 
É seguindo esse princípio que o instituto tem ajudado comunidades amazonenses da Reserva Mamirauá, localizada a 600 km a oeste de Manaus, região do curso médio do Rio Solimões. Com 1,124 milhão de hectares, essa é a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do país.
 
 
 
O Instituto Mamirauá é uma organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que atua também, como unidade de pesquisa.
Uma das principais fontes de renda das comunidades da reserva é a pesca sustentável do pirarucu. A cada ano, são dois meses de atividade e dez meses de vigilância contra a pesca irregular na região.
 
 
 
Para evitar problemas, algumas regras têm de ser seguidas. Uma delas é a contagem de peixes adultos, quando boiam na superfície que é feita por contadores capacitados e certificados pelo instituto, antes do início da temporada de pesca.
 
 
 
“Já tivemos baixas significativas da população de peixes em decorrência de o contador ter falseado dados. No ano seguinte, com a queda no número de pescado, a comunidade sentiu na pele o problema”, disse à Agência Brasil, Francilvânia Martins de Oliveira. Segundo a ribeirinha, que tem vários pescadores na família, a venda de peixes é o que mais movimenta a economia da comunidade Boca do Mamirauá.
 
 
 
Para ter sucesso nessa e em outras empreitadas, o instituto já promoveu mais de 120 cursos de capacitação nas comunidades da região, bem como ações nas áreas de agricultura, abastecimento de água, gestão comunitária, turismo, manejo florestal e pesca.
 
 
 
Responsável por estudos de mercado que identificam a viabilidade no manejo florestal, o economista Leonardo Apel, integrante do Grupo de Pesquisa e Organização Social, diz que a técnica aplicada “é eficiente e promove a regeneração de espécies no local”.
 
 
 
O manejo é uma atividade econômica oposta ao desmatamento, pois não há remoção total da floresta e mesmo após o uso, o local manterá sua estrutura florestal.
 
 
 
Se explica que a técnica de manejo desenvolvida pelo instituto e aplicada nas comunidades tem mais de 40 anos. “Ela era adotada em empresas e agora está sendo direcionada ao manejo comunitário. A diferença entre as aplicações está ligada à capacidade de planejamento.
 
 
 
No caso da extração feita pela comunidade, ela não é tão voltada para o mercado. É de pequena escala, visando à subsistência e, só em alguns casos, à venda.”
 
 
 
Segundo Apel, a madeira extraída de forma legal atinge preços de mercado “muito mais interessantes” do que a obtida ilegalmente. “A ilegal não tem viabilidade econômica porque o risco de apreensão faz seu preço de mercado cair vertiginosamente.
 
 
 
Quem faz isso acaba tendo de pagar para trabalhar”, disse. “Por isso, acredito que o manejo de madeira seja a melhor alternativa não só para a Amazônia, mas para o mundo todo”, acrescentou.
 
 
 
O princípio do manejo é simples, não se pode derrubar em quantidade maior do que a capacidade de recuperação da floresta. Em geral, até três espécies por hectare na região.
 
 
 
Responsável por capacitar as comunidades para o manejo, o técnico florestal Elinei Castro responde, atualmente, pelo levantamento de estoques e pelo inventário da Comunidade São Francisco.
 
 
 
Segundo o líder eleito pela comunidade de São Francisco, Raimundo Ribeiro da Silva, com o manejo é possível chegar a uma renda mais elevada para cada família.
 
 
 
“Mas o dinheiro só vai para quem trabalha”, acrescentou Elinei, enquanto acompanhava o corte de uma assacu, árvore de grande resistência e durabilidade na água, muito usada na estrutura de casas flutuantes, com três metros de diâmetro na base.
 
 
 
Sócio da comunidade nas atividades de manejo desde 2001, Erinaldo Chagas, diz ter um “sentimento controverso” ao derrubar árvores. “A gente sente tristeza. Mas também sente alegria, porque a madeira beneficia a gente e dá o que comer para nossas famílias. Além disso, quando se tira uma árvore de grande porte, nós damos condições para que outras árvores surjam, com a entrada da luz que até então estava bloqueada”, destacou.
 
 
 
 
Referência: Ribeirinhos da Amazônia apostam na pesca sustentável e no manejo florestal
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate

PGR abre inquérito para investigar Eliseu Padilha por crime ambiental


Por Sabrina Rodrigues
Ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Foto: Agência Brasil/Flickr.
Ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Foto: Agência Brasil/Flickr.


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para abrir inquérito para apurar se o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, cometeu crime ambiental. A investigação é sobre um canal de drenagem no Balneário Dunas Altas, em Palmares do Sul, no litoral gaúcho.


A apuração teve início no Ministério Público do Rio Grande do Sul e foi enviada para o Ministério Público Federal depois de descobrir que a área atingida pertence à União. O ministro Eliseu Padilha disse que não vai se pronunciar até ser comunicado oficialmente sobre a manifestação da PGR.