quinta-feira, 20 de julho de 2023

Meteorologista batiza ondas de calor nos EUA com nomes de companhias de petróleo

 Meio Ambiente Mudanças Climáticas  


Meteorologista batiza ondas de calor nos EUA com nomes de companhias de petróleo



Meteorologista batiza ondas de calor nos EUA com nomes de companhias de petróleo

Países do Hemisfério Norte estão enfrentando uma onda de calor extremo. É verão por lá, mas poucas vezes se observou temperaturas tão impressionantes. Na Itália, em várias cidades, os termômetros passaram dos 45oC. Na Grécia, bombeiros tentam combater o fogo. Do outro lado do Oceano Atlântico, o Canadá enfrenta o que já é considerado a pior temporada de incêndios florestais de sua história. E de costa a costa dos Estados Unidos, mais de 100 milhões de pessoas estão sob alerta. Em Phoenix, no Arizona, há três semanas seguidas os moradores acordam diariamente com temperaturas acima dos 43oC.

Especialistas em clima afirmam, sem dúvida nenhuma, de que não há dúvida nenhuma de que essas temperaturas completamente atípicas para os países do Hemisfério Norte são um efeito direto das mudanças climáticas, causadas pelas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre.

E pra deixar bem claro quem são os principais responsáveis por essas emissões, um meteorologista americano começou a batizar as ondas de calor de seu país com nomes de companhias de petróleo. Guy Walton foi apresentador do tempo durante 30 anos no Weather Channel, em Atlanta, e agora possui um blog.

Duas dessas ondas de calor ele já apelidou carinhosamente de Chevron e BP, gigantes multinacionais do setor petrolífero. E segundo o meteorologista, há uma lista com cerca de 20 delas que serão usadas nas próximas.

“Minha intenção é envergonhá-las e e identificar os culpados que estão exacerbando esses sistemas mortais”, diz ele.

Documentos já revelaram que desde a década de 70 empresas petrolíferas sabiam que a exploração dos combustíveis fósseis faria com que a temperatura no planeta aumentasse. Mas decidiram se manter quietas e continuar a obter lucros bilionários com seus negócios, enquanto a concentração de gases no planeta aumentava mais a cada dia.

“Trinta anos atrás, as nações do mundo concordaram em evitar a perigosa interferência humana no sistema climático. Mas o que são “mudanças climáticas perigosas”? Basta ligar a televisão, ler as manchetes do jornal matinal ou visualizar seus feeds de mídia social. Pois estamos assistindo em tempo real neste verão, mais profundamente do que nunca, na forma de inundações, ondas de calor e incêndios florestais sem precedentes. Agora sabemos como são as mudanças climáticas perigosas. Como já foi dito sobre a obscenidade, nós a conhecemos quando a vemos. Estamos vendo isso – e é obsceno”, alertam os especialistas em clima Michael Mann e Susan Joy Hassol em um artigo publicado no jornal The Guardian esta semana.

Na Europa, em vez de usar nomes de companhias de petróleo, a Sociedade Meteorológica Italiana decidiu batizar a atual onde de calor que assola moradores e turistas que visitam o continente de “Cérbero”, em homenagem ao monstro de três cabeças que aparece em Inferno, primeira parte da obra Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Para a Organização Meteorológica Internacional (WMO, na sigla em inglês), as longas e intensas ondas de calor deste ano são alarmantes, mas não surpreendentes porque, infelizmente, as condições observadas estão de acordo com as projeções feitas pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas.

“Os impactos nas pessoas, nas economias e no ambiente natural e construído são graves. Um novo estudo publicado na semana passada calculou que no verão passado apenas na Europa 60 mil pessoas adicionais morreram devido ao calor extremo. Especialistas e governos consideram esta uma estimativa conservadora”, diz a organização.

Segundo a entidade, atualmente ocorre um fenômeno simultâneo de ondas de calor, com temperaturas na América do Norte, partes da Ásia e no norte da África e no Mediterrâneo acima de 40°C por um número prolongado de dias. E esses tipos de eventos aumentaram sua ocorrência em seis vezes desde a década de 1980.

Há o temor que a chegada do El Niño piore ainda mais esse calor extremo e os impactos na saúde humana e nos meios de subsistência.

“Precisamos que o mundo amplie sua atenção além de apenas a ‘temperatura máxima’. Em muitos locais onde a máxima está chegando a 40°C ou mais, a temperatura ainda pode estar perto de 40°C à meia-noite. Nessas circunstâncias, a temperatura mínima é mais importante para a saúde e para a falha da infraestrutura crítica durante ondas de calor extremas”, ressalta John Nairn, consultor sênior de calor extremo da OWM, John Nairn. “O calor mais intenso e extremo é inevitável – é imperativo se preparar e se adaptar, pois cidades, casas e locais de trabalho não são construídos para suportar altas temperaturas prolongadas – e as pessoas vulneráveis não estão suficientemente conscientes da gravidade do risco que o calor representa para sua saúde e bem-estar”.

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Foto de abertura: Craig Manners on Unsplash

Em artigo internacional, pesquisadoras brasileiras alertam sobre morte de araras-azuis envenenadas com pesticidas

 

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Em artigo internacional, pesquisadoras brasileiras alertam sobre morte de araras-azuis envenenadas com pesticidas

Pesquisadoras brasileiras alertam sobre morte de araras-azuis envenenadas com pesticidas

O caso aconteceu em 2014, mas foi relatado agora, em um artigo científico em um das mais renomadas publicações mundiais, a Scientific Reports, da Nature. Naquele ano, um fazendeiro de uma propriedade no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, se deparou com três araras-azuis; uma delas morta e outras duas bastante debilitadas, que acabaram morrendo logo em seguida. Como o proprietário também era veterinário, decidiu enviar as carcaças das aves para o Instituto Arara-Azul para que fosse realizada uma investigação sobre a causa das mortes.

Durante a necropsia foi verificado um quadro compatível com envenenamento. Diante disso, órgãos viscerais como fígado, baço e estômago foram encaminhados para o Centro de Serviço Toxicológico Ceatox, Unesp Botucatu, um centro de referência em análise de pesticidas e agrotóxicos no Brasil.

O resultado da análise apontou que a morte das araras se deu por envenenamento por componentes químicos presentes em agrotóxicos, principalmente organofosforados.

“Este trabalho é um alerta sobre o uso deste produto nas fazendas do Pantanal”, diz a bióloga Neiva Guedes, fundadora do Instituto Arara Azul e uma das autoras do artigo da Scientific Reports, ao lado da também bióloga, Eliane Vincente.

“A toxicidade dos organofosforados e outros pesticidas indica o quão potencialmente agressivos eles são para o meio ambiente e a vida selvagem. Portanto, recomendamos que o uso de qualquer organofosforado não seja aplicado nas reservas ambientais ou adjacentes, especialmente em ecossistemas aquáticos como o Pantanal”, escrevem as biólogas ao final do artigo.

Espécie ameaçada de extinção

As cientistas acreditam que o ocorrido possa ter sido pontual, por nunca terem encontrado nenhum caso semelhante no Pantanal e pelos componentes responsáveis pela intoxicação serem presentes em agrotóxicos de usos constantes na região. “Provavelmente a aplicação do veneno foi local e de maneira inadequada, resultando nessa terrível perda para a biodiversidade”.

As pesquisadoras ressaltam ainda que a intenção do estudo e de sua publicação não é a de denúncia e sim fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas que envolvem a biodiversidade. “Os perigos estão aí, cabe a nós identificá-los antes que seja tarde demais”, afirmam.

Na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia as condições de sobrevivência de milhares de espécies de animais e plantas no planeta, a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) aparece como “vulnerável” à extinção.

Pesquisadoras brasileiras alertam sobre morte de araras-azuis envenenadas com pesticidas

Araras-azuis se alimentam basicamente das castanhas de acuris e bocaiúvas, dois tipos de palmeiras comuns no Pantanal

Os perigos dos organofosforados

A classe de pesticidas chamada de organofosforado (organophosphate – OP – , em inglês) é proveniente de uma substância química, desenvolvida nas décadas de 1930 e 1940, originalmente como um agente de gás nervoso humano, mas depois adaptada, em doses menores, para ser utilizada como inseticida.

Estudos já demonstraram que o uso indiscrimado deste tipo de agrotóxico compromete a saúde mental de crianças do mundo inteiro, sobretudo, em países em desenvolvimento e que a exposição, mesmo em doses baixas, acarreta em redução de QI e de memória, assim como aumenta os riscos do déficit de atenção.

Só na Europa, estima-se que mais de 10 mil toneladas de organofosforados sejam empregados na lavoura por ano e um volume ainda maior nos Estados Unidos. Todavia, muitos desses produtos já foram banidos nesses lugares, entre eles, o terbufó, o qual foi associado com o aparecimento de leucemia, câncer de pulmão e linfoma de non-Hodgkin. No continente europeu, os principais fabricantes de organofosforados são Bayer-Monsanto, Syngenta e DuPont.

Em seu site, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pelo controle e liberação de agrotóxicos no Brasil, afirma que apenas os organofosforados com ingredientes ativos F15 – Forato, M10 – Metamidofós e T21 – Triclorfom não têm seu uso permitido no país.

Uma pesquisa realizada na Bélgica, em 2019, encontrou 36 tipos diferentes de pesticidas em ninhos com filhotes de aves mortas.

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Fotos: Carlos Cézar Corrêa (abertura) e Neiva Guedes

Pulverização aérea de agrotóxico foi responsável pela morte de 100 milhões de abelhas no Mato Grosso

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Pulverização aérea de agrotóxico foi responsável pela morte de 100 milhões de abelhas no Mato Grosso

Pulverização aérea de agrotóxico foi responsável pela morte de 100 milhões de abelhas no Mato Grosso

Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso (Indea) confirmou esta semana que a morte de cerca de 100 milhões de abelhas em junho na região das cidades de Sorriso, Ipiranga do Norte e Sinop foi provocada pela pulverização aérea de pesticidas. As denúncias foram feitas por produtores de mel, que tiveram pelo menos 600 colmeias contaminadas.

A investigação realizada pelos servidores do Indea através da coleta de amostras dos apiários apontou o uso irregular de defensivo agrícola com princípio ativo fipronil como a causa. Segundo a averiguação, a morte das abelhas foi súbita e atingiu uma extensa área, de aproximadamente 30 km, o que descarta a possibilidade de algum tipo de doença.

Apesar do uso desse agrotóxico ser permitido no Brasil, sua utilização através de pulverização aérea é proibida. O fipronil é extremamente tóxico para as abelhas. Todavia, é empregado no controle de pragas em diversas culturas como algodão, soja, arroz e batata.  

Descobriu-se que uma fazenda onde é feito o cultivo de algodão foi a responsável pelo crime ambiental. Ainda de acordo com o Indea, a receita para a aplicação foi pedida para soja e para naquele local.

“Devido à irregularidade constatada, o proprietário foi autuado em cerca de R$ 225 mil e o relatório elaborado pela equipe do Indea de Sorriso foi enviado aos gestores, que realizarão encaminhamento à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), ao Ministério Público do Estado (MPE-MT) e ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT), possibilitando a averiguação das responsabilidades cíveis e criminais cabíveis, e de ocorrência de danos ambientais”, informou o órgão.

Produtores de mel daquela região contam enormes prejuízos. Serão necessários anos para conseguir ter de novo o volume de abelhas obtido através de árduo trabalho. Segundo os apicultores, entre as milhões de abelhas mortas, estão quatro espécies ameaçadas de extinção no Brasil.

Em 2021, pesquisadores brasileiros denunciaram a morte de araras-azuis envenenadas com pesticidas no Pantanal.

Pulverização aérea de agrotóxico foi responsável pela morte de 100 milhões de abelhas no Mato Grosso

Abelhas encontradas mortas nas propriedades do Mato Grosso
(Foto: divulgação Indea/Sorriso)

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Foto de abertura: rostichep por Pixabay