terça-feira, 1 de maio de 2018

Mais da metade do esgoto produzido no Brasil vai para a natureza sem qualquer tipo de tratamento

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Mais da metade do esgoto produzido no Brasil vai para a natureza sem qualquer tipo de tratamento

Segundo os dados do SNIS, o Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, de cada 100 litros de esgoto produzido no ano de 2016, menos de 45 litros foram tratados. O restante, ou seja 55% do total, foi lançado na natureza sem qualquer tipo de tratamento.

Os números mostram que enquanto o fornecimento de água potável já está próximo à universalização, a coleta e o tratamento do esgoto ainda são um desafio.
83% da população recebe água potável em casa. O número ainda está abaixo do acesso a 100% da população até 2030, mas bem acima do número de pessoas que tem acesso ao serviço de coleta de esgoto.
Pouco mais da metade da população brasileira, 52%, pode contar com rede de esgoto. O restante, mais de 100 milhões de pessoas ainda dependem de fossas ou alternativas mais precárias para descartar o resíduo. 120 milhões não têm acesso ao tratamento dos resíduos.
Os números são de 2016 e foram analisados pelo Instituto Trata Brasil, que produz o Ranking do Saneamento no Brasil. Para Pedro Scazufca um dos responsáveis pela análise, o desafio é que para ampliar a rede de coleta e tratamento é preciso plenajar e investir mais.
Já para Edson Aparecido da Silva, Coordenador do Fórum Alternativo Mundial da Água, mais do que investimentos diretos é preciso rever o modelo de tarifas praticado no Brasil. No geral, metade da tarifa que o consumidor paga para as empresas de saneamento básico é para o fornecimento de água. A outra metade para a coleta e o tratamento de esgoto, que é paga, mesmo quando o serviço não é feito.
A análise também mostra que a desigualdade no saneamento básico também é um problema. Segundo o ranking, nos 20 municípios com melhores índices de saneamento básico, o atendimento com rede de esgoto fica acima de 90%, bem próximo do que é chamado de universalização do serviço. Já nas 20 cidades com o os piores índices, a cobertura fica abaixo de 30%.
Fonte: EcoDebate

Para onde irão as capivaras? Projeto orla prevê bares e até casas de show em área residencial

Violência
Projeto orla prevê bares e até casas de show em área residencial
Moradores temem o fim da área residencial dos lagos sul e norte
Publicado: 24 de abril de 2018 às 12:10 - Atualizado às 12:17

Poluentes de vida curta ameaçam clima, saúde e produção agrícola na América Latina, diz relatório da ONU Meio Ambiente

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Poluentes de vida curta ameaçam clima, saúde e produção agrícola na América Latina, diz relatório da ONU Meio Ambiente

Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta, países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento da temperatura regional.

A estimativa é de um relatório divulgado neste mês (19) pela ONU Meio Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à natureza e à produção agrícola de substâncias como o metano, o carbono negro, os hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta, países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento da temperatura regional. A estimativa é de um relatório divulgado neste mês (19) pela ONU Meio Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à natureza e à produção agrícola de substâncias como o metano, o carbono negro, os hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
A pesquisa da agência das Nações Unidas aponta que reduções desses compostos químicos poderiam provocar uma queda de 26% no número de mortes prematuras causadas pela poluição do ar por partículas finas. Quando considerados os óbitos associados à contaminação por ozônio, o índice poderia chegar a 40%.
A ONU Meio Ambiente estima que, em 2010, 64 mil pessoas morreram na América Latina e no Caribe devido à exposição a esses materiais.
Estratégias para mitigar os poluentes de vida curta também permitiriam evitar perdas anuais de 3 a 4 milhões de toneladas de cultivos básicos.
De acordo com o levantamento, em 2010, o ozônio foi responsável por um prejuízo de 7,4 milhões de toneladas em produtos agrícolas, como soja, milho, trigo e arroz.
Segundo a análise da ONU, até 2050, a mortalidade prematura, associada às partículas finas e ao ozônio, poderá dobrar. Já as perdas da agricultura poderão alcançar 9 milhões de toneladas por ano.
Ozônio
O ozônio é um gás que se forma tanto nas altas camadas da atmosfera (a estratosfera), como nas baixas (a troposfera). Na estratosfera, a substância protege a vida terrestre da radiação ultravioleta do sol. Mas na troposfera, ela atua como um poluente perigoso. O ozônio é um dos principais componentes de névoa urbana e o terceiro maior causador do aquecimento global, atrás apenas do metano e do gás carbônico. Pesquisas associaram o contato com a substância a índices mais altos de infartos, acidentes vasculares cerebrais, doenças cardiovasculares e problemas reprodutivos e de desenvolvimento. O gás também reduz o rendimento das safras e a qualidade e produtividade das plantações.
Podendo permanecer na atmosfera desde horas até dias, o ozônio é considerado um poluente secundário, pois não é emitido diretamente por uma atividade humana. Na verdade, a substância se forma quando gases precursores, como o metano, o monóxido de carbono e o óxido de nitrogênio, reagem na presença da luz solar. Por isso, é tão importante reduzir as emissões de metano.
A ONU Meio Ambiente lembra que o potencial de aquecimento atmosférico dos poluentes de vida curta é bem mais alto que o do gás carbônico, podendo atingir um valor mil vezes maior que a taxa atribuída ao dióxido de carbono.
A agricultura, o transporte e a refrigeração doméstica e comercial são, respectivamente, os maiores responsáveis pelas emissões de metano; carbono negro e partículas tóxicas finas; e hidrofluorocarbonos.
Soluções
O relatório das Nações Unidas apresenta medidas para diminuir as emissões desses compostos que desregulam o clima e ameaçam a vida no planeta.
Para combater o metano, são necessárias mudanças em quatro setores-chave – produção e distribuição de petróleo e gás, gestão de resíduos, mineração de carvão e agricultura. A pesquisa recomenda práticas de captura e uso dos gases liberados na produção de petróleo e gás; separação e tratamento dos resíduos sólidos municipais que sejam biodegradáveis; e captura do biogás proveniente do esterco do gado.
Até 2050, estratégias poderiam reduzir em 45% as emissões de metano.
Metano
O metano é o segundo gás com maior impacto sobre o aquecimento do planeta, depois do gás carbônico. A América Latina e o Caribe respondem por aproximadamente 15% de todas as emissões dessa substância. Quase todo o metano liberado na atmosfera vem de três setores: agricultura (cerca de 50%); produção e distribuição de carvão, petróleo e gás (em torno de 40%); e gestão de resíduos (por volta de 10%). O gás permanece na atmosfera por aproximadamente 12 anos e é considerado um importante precursor do ozônio.
O volume de carbono negro liberado nos países latino-americanos e caribenhos também pode ter queda considerável – de 80% – até 2050. Para isso, governos devem adotar normas equivalentes ao padrão europeu para regular os veículos a diesel, além de incorporar filtros para as partículas liberadas pelo combustível nesses automóveis.
Outras iniciativas exigidas são a eliminação dos veículos de altas emissões; a modernização de cozinhas e estufas; e a proibição da queima a céu aberto de resíduos agrícolas.
No caso dos hidrofluorocarbonos, a ONU Meio Ambiente recomenda a substituição desses compostos por alternativas que não tenham impacto sobre as variações do clima. Os HFCs são usados principalmente nos sistemas de refrigeração e ar condicionado, bem como na confecção de espumas isolantes e mecanismos de disparo aerosol. Até 2020, o consumo dessas substâncias deverá dobrar. Uma vez no ambiente, elas permanecem de 15 a 29 anos na atmosfera.
“Muitos países já estão implementando medidas para eliminar as emissões procedentes dos setores de transporte e energia, mas sua aplicação não é uniforme na região”, avalia a chefe da Secretaria da Coalizão Clima e Ar Limpo, Helena Molin Valdés.
“Políticas públicas mais exigentes e um maior controle da contaminação podem impulsionar os incentivos econômicos e os benefícios para a ação climática, a saúde, a agricultura e o desenvolvimento sustentável. É essencial agir rapidamente.”
Carbono negro
O carbono negro é formado a partir da combustão incompleta de combustíveis fósseis ou biocombustíveis. A substância contribui para a produção de partículas finas, associadas a doenças pulmonares e cardiovasculares, derrames, infartos, patologias respiratórias crônicas, como bronquite, e agravamento da asma.
A América Latina e o Caribe são responsáveis por menos de 10% do total global de emissões de carbono negro geradas pelo homem, excluindo da estimativa os incêndios florestais e em regiões de savana. O transporte e a queima residencial de combustíveis sólidos para o preparo de alimentos e aquecimento residencial são a causa de 75% das emissões na região. Mais de 60% delas vêm do Brasil e do México.
Para o diretor da ONU Meio Ambiente para a América Latina e o Caribe, Leo Heileman, nações devem se inspirar nas soluções apresentadas pelo levantamento.
“Se os países da região as adotarem, contribuirão para manter o aumento da temperatura do planeta abaixo do limiar de 2ºC estabelecido no Acordo Climático de Paris”, afirmou o representante do organismo internacional.
O relatório Avaliação Integrada dos Poluentes Climáticos de Vida Curta é o primeiro do tipo elaborado pela agência das Nações Unidas e reúne trabalhos de 90 autores, coordenados por um grupo de especialistas. A publicação foi lançada pela ONU em parceria com a Coalizão Clima e Ar Limpo.
Acesse o documento na íntegra clicando aqui.
Fonte: EcoDebate

Declaração de resíduos gerados torna-se obrigatória para empresas no estado do Rio de Janeiro

Declaração de resíduos gerados torna-se obrigatória para empresas no estado do Rio de Janeiro

Companhias devem declarar no site do INEA a quantidade e os tipos de resíduos gerados, bem como identificar o transporte e o destinador dos materiais

O governo estadual do Rio de Janeiro tornou obrigatória a declaração de geração, transporte e destinação de resíduos para as empresas fluminenses e para as companhias que pretendem levar seus resíduos para dentro do estado.
Trata-se da Resolução 79 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Conema), que aprova a Norma Operacional 35 do Instituto Estadual do Meio Ambiente (INEA-RJ), que prevê a obrigatoriedade do sistema declaratório de resíduos industriais e comerciais.
Desde março deste ano, todas as empresas geradoras são obrigadas a declarar no site do INEA a movimentação e o destino final de seus resíduos. O sistema de controle online já funciona em caráter voluntário desde setembro do ano passado e conta até o momento com a adesão de mais 20 mil empresas, entre geradores, transportadores e destinadores de resíduos.
O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), Carlos Fernandes, lembra que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), bem como diversas leis estaduais, estabelece que o sistema declaratório é uma obrigação legal do poder público.
“O sistema declaratório permite o monitoramento em tempo real todas as etapas da cadeia de resíduos sólidos no estado fluminense, incluindo a geração, o armazenamento, o transporte, o tratamento e a disposição final, mesmo quando a origem ou o destino dos rejeitos for fora do território estadual. Isso representa um importante avanço no cumprimento da PNRS”, comenta Fernandes.
A ferramenta de controle foi implantada pelo INEA e cedida pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), com o apoio Abetre. “Trata-se, na verdade, de um ferramenta imprescindível para o poder público, no sentido que facilita a fiscalização e, sobretudo, contribui para a elaboração de políticas e programas na área de limpeza pública e gestão de resíduos”, conclui Fernandes.
Fonte: EcoDebate

Cientistas anunciam avanço em direção ao plástico ‘infinitamente reciclável’


segunda-feira, 30 de abril de 2018

Cientistas anunciam avanço em direção ao plástico ‘infinitamente reciclável’

Cientistas americanos disseram nesta quinta-feira (26) que fizeram avanços em direção a um tipo de plástico que pode ser reciclado “infinitamente” e que este parece ser durável o suficiente para competir com os plásticos comuns.

Diferentemente dos plásticos feitos a partir de derivados de petróleo, o novo tipo pode ser transformado de volta ao seu estado original de pequenas moléculas e transformado em novos plásticos repetidas vezes, disse o relatório na revista “Science”.
“Os polímeros podem ser quimicamente reciclados e reutilizados, em princípio, infinitamente”, disse o autor principal, Eugene Chen, professor do Departamento de Química da Universidade Estadual do Colorado.
Chen advertiu que a pesquisa foi feita apenas em laboratório e que é necessário mais trabalho para desenvolvê-la.
No entanto, a equipe ampliou um avanço que anunciou em 2015, que resultou em um plástico totalmente reciclável que era mais macio do que o ideal.
Fazer a versão antiga exigia condições extremamente frias e o produto final tinha baixa resistência ao calor.
O novo produto corrige todos esses problemas, disseram os pesquisadores.
Um comentário que acompanhou o artigo na “Science” disse que o trabalho é “um passo importante” na abordagem do problema do plástico no planeta.
Sob o novo processo, “os resíduos de plástico são despolimerizados de volta ao material inicial e depois repolimerizados para produzir plásticos do tipo virgem”, disse o comentário.
Esse tipo de avanço “pode levar a um mundo em que os plásticos no final de sua vida não são considerados resíduos, mas matéria-prima para gerar produtos de alto valor”.
Atualmente, apenas cerca de 5% do plástico no mundo é reciclado.
A produção global de plástico deverá ultrapassar 500 milhões de toneladas métricas até 2050.
Especialistas preveem que em meados do século haverá mais plástico do que peixes nos oceanos.
Fonte: AFP

Pesquisadores analisam a conexão entre produção de alimentos, energia e água

Pesquisadores analisam a conexão entre produção de alimentos, energia e água

19.04.2018Notícias
daisy photographed from below
Os esforços para o aumento na produção de alimentos têm focado na intensificação e adoções de novas técnicas de manejo para mitigar os efeitos dos extremos climáticos. Estas medidas, no entanto, podem aumentar as demandas de uso da água e de energia, o grau de ameaça da biodiversidade, e a vulnerabilidade dos pequenos agricultores e comunidades tradicionais que sofrem com as rápidas mudanças na paisagem. Analisar os impactos, riscos e oportunidades dessas interações são os objetivos de um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG/UFG), Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) e Woods Hole Research Center (WHRC) com o apoio do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O projeto “Considerando o nexo entre segurança hídrica, energética e alimentar e as comunidades tradicionais: uma abordagem integrada para o Cerrado” começou em janeiro de 2018 e vai até 2020. Para desenvolver os estudos os pesquisadores utilizarão dados de sensoriamento remoto, cenários de desenvolvimento de políticas e infraestrutura.

“O projeto aborda questões cruciais não somente para o Cerrado, mas também para os desafios globais de sustentabilidade ao tratar das interações entre as seguranças hídrica, alimentar e energética”, diz Mercedes Bustamante, coordenadora do projeto e professora da UnB.  “Há ainda ações que visam a estabelecer quais as áreas prioritárias para restauração contribuindo para conservação da biodiversidade”, afirma.

“As informações geradas neste projeto, se colocadas em prática por tomadores de decisão, poderão gerar ações que promovam o desenvolvimento sustentável das regiões de fronteira agrícola do Cerrado, contribuindo para o aumento da produção agrícola e o bem estar das populações”, afirma o pesquisador do IPAM Divino Silvério.

Para saber mais sobre o projeto, acesse: http://bit.ly/nexusunb

Relatório da Unesco sobre água propõe soluções baseadas na natureza

Relatório da Unesco sobre água propõe soluções baseadas na natureza

Relatório ressalta que abordagens tradicionais não permitem que a

Publicado em 19/03/2018 - 06:50
Por Heloisa Cristaldo - Repórter da Agência Brasil Brasília
Mairiporã (SP) - A barragem Sete Quedas faz parte do Sistema Cantareira de abastecimento de água para a capital (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Relatório da Unesco incentiva a busca por soluções baseadas na natureza, que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo Rovena Rosa/Arquivo/Agência Brasil

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lança nesta segunda-feira (19) o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, durante a abertura oficial do Fórum Mundial da Água, em Brasília. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza (SbN), que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo.

O documento mostra que apesar da disseminação das tecnologias que envolvem a conservação ou a reabilitação de ecossistemas naturais, esses processos correspondem a menos de 1% do investimento total em infraestrutura para a gestão dos recursos hídricos. Segundo a oficial do Programa Mundial de Avaliação de Recursos Hídricos da Unesco, Angela Ortigara, o objetivo da publicação é incentivar a adoção de soluções baseadas na natureza para que sejam efetivamente consideradas na gestão da água.

“O que acontece,  muitas vezes, é que, por facilidade, praticidade ou falta de conhecimento, ninguém pensa que se pode utilizar a natureza para gerenciar, por exemplo, enchentes ou prevenir um caso de seca. E, no entanto, o que a gente quer nesse relatório é mostrar que não é preciso necessariamente construir grandes obras de infraestrutura para melhorar a gestão da água”, afirmou Angela, em entrevista exclusiva aos veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

O relatório da Unesco ressalta que abordagens tradicionais não permitem que a segurança hídrica sustentável seja alcançada. Já as soluções baseadas na natureza trabalham diretamente com a natureza, não contra ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens tradicionais, de modo a aumentar os ganhos em eficiência social, econômica e hidrológica no que diz respeito à gestão da água.

“As SbN são especialmente promissoras na obtenção de progressos em direção à produção alimentar sustentável, à melhora dos assentamentos humanos, ao acesso ao fornecimento de água potável e aos serviços de saneamento, e à redução de riscos de desastres relacionados à água. Elas também podem ajudar na resposta aos impactos causados pela mudança climática sobre os recursos hídricos”, diz a publicação.

“O relatório quer que as pessoas abram os olhos para soluções que talvez não estejam tão claras do ponto de vista de engenharia, não sejam tão conhecidas, mas que podem trazer soluções que não são banais. Se decidir reflorestar uma área, a primeira coisa que vai pensar é: essa área estará coberta, terá animais, mas também ajudará a recarregar a água subterrânea, os aquíferos”, disse a oficial da Unesco. “Há uma série de benefícios que são difíceis de ser quantificados economicamente e talvez essa seja uma das razões pelas quais essas soluções não venham sendo utilizadas. No entanto, são benefícios que têm que ser considerados se pensarmos em longo prazo”, completou Angela.


Entre os exemplos dados pela publicação está a ampliação de banheiros secos, aqueles que evitam o lançamento de dejetos em tubulações ligadas a centros de tratamento de água ou em rios. Esse tipo de banheiro também permite a produção de composto orgânico ao final do processo. Em uma proposta de solução mais ampla, o relatório apresenta a experiência das cidades-esponjas, na China, em que construções absorvem água da chuva de forma rápida e segura.
A oficial do Programa Mundial de Avaliação de Recursos Hídricos da Unesco, Angela Ortigara - Antonio Cruz-Arquivo/Agência Brasil
A oficial do Programa Mundial de Avaliação de Recursos Hídricos da Unesco, Angela Ortigara, diz que não é preciso necessariamente construir grandes obras de infraestrutura para melhorar a gestão da água  Antonio Cruz/Arquivo/Agência Brasil
Economia
De acordo com o relatório, as soluções baseadas na natureza apoiam a “economia circular”, aquela considerada restauradora e regenerativa, que busca reduzir os desperdícios e evitar a poluição, inclusive por meio do reúso e da reciclagem. Além disso, a tecnologia apoia os conceitos de crescimento verde e de economia verde, que  promovem o uso sustentável dos recursos naturais e aproveitam os processos naturais como fundamento das economias. “Essa utilização das SbN no setor hídrico também gera benefícios no campo social, econômico e ambiental, incluindo a melhoria da saúde humana e dos meios de subsistência, o crescimento econômico sustentável, empregos dignos, a reabilitação e a manutenção de ecossistemas, e a proteção/desenvolvimento da biodiversidade”, ressalta a publicação.


O relatório diz que a demanda mundial por água tem aumentado a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento populacional, ao desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de consumo, entre outros fatores, e continuará a aumentar de forma significativa durante as próximas duas décadas. No entanto, ao mesmo tempo, o ciclo hídrico mundial está se intensificando devido à mudança climática, com a tendência de regiões já úmidas ou secas apresentarem situações cada vez mais extremas.

Atualmente, estima-se que 3,6 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) vivem em áreas que apresentam potencial escassez de água de, pelo menos, um mês por ano. A expectativa, segundo a publicação, é de que essa população poderá aumentar para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050.


Desafios
De acordo com o relatório da Unesco, a degradação dos ecossistemas é uma das principais causas dos desafios relativos à gestão da água. A publicação estima que, desde 1900, entre 64% e 71% das zonas úmidas de todo o mundo foram perdidas devido às atividades humanas. Todas essas mudanças têm gerado impactos negativos na hidrologia, desde a escala local até a escala regional e mundial.


Outro desafio mostrado pela publicação é a qualidade da água. Desde a década de 1990, a poluição hídrica piorou em quase todos os rios da América Latina, da África e da Ásia. O documento prevê que a deterioração da qualidade da água se ampliará ainda mais durante as próximas décadas, o que aumentará as ameaças à saúde humana, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável.


O relatório prevê ainda que o aumento de exposição a substâncias poluentes será maior em países de renda baixa e média-baixa, principalmente devido ao crescimento populacional e econômico e à ausência de sistemas de gestão das águas residuais.


A publicação também estima que o número de pessoas que se encontram em situação de risco de inundações aumentará do atual 1,2 bilhão, para cerca de 1,6 bilhão, em 2050 – o correspondente a aproximadamente 20% da população mundial. A população atualmente afetada pela degradação e/ou pela desertificação e pelas secas é estimada em 1,8 bilhão de pessoas, o que torna essa categoria de “desastres naturais” a mais significativa, com base na mortalidade e no impacto socioeconômico relativo ao Produto Interno Bruto (PIB) per capita.
Segundo a FAO, a qualidade biológica dos solos é fundamental para o equilíbrio ecológico e uma agricultura sustentável
A vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água, diz o relatório da Unesco ONU/Logan Abassi
Uso do solo
De acordo com o documento, os ecossistemas exercem importante influência no ciclo das chuvas, em escala local e continental. Em vez de ser considerada uma “consumidora” de água, a publicação ressalta que a vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água. Em âmbito mundial, até 40% da precipitação terrestre são gerados pela transpiração vegetal e pela evaporação do solo, também responsáveis pela maior parte das precipitações em algumas regiões.

“Portanto, as decisões relativas ao uso do solo em um determinado lugar podem ter consequências significativas para os recursos hídricos, as pessoas, a economia e o meio ambiente em lugares distantes – o que indica as limitações das bacias de drenagem (em oposição às “bacias de precipitação”) em servir como bases para o gerenciamento da água”, diz o texto.

Como alternativa, o relatório indica a parceria entre a tecnologia tradicional com o uso de infraestrutura verde, voltada para os recursos hídricos, que usa sistemas naturais ou seminaturais para oferecer opções de gestão da água, com benefícios equivalentes ou similares à tradicional infraestrutura hídrica cinza (construída/física).

“Em algumas situações, as abordagens baseadas na natureza podem oferecer a principal ou a única solução viável (por exemplo, a recuperação de paisagens para combater a degradação do solo e a desertificação), ao passo que para outras finalidades apenas uma infraestrutura cinza funcionaria (por exemplo, o fornecimento de água para uma casa por meio de canos e torneiras). Contudo, na maioria dos casos, as infraestruturas verdes e as infraestruturas cinzas podem e devem trabalhar em conjunto”, acrescenta a publicação.

Riscos relacionados à água
Atualmente, o mundo todo tem presenciado os riscos de desastres relacionados à água, como inundações e secas associadas a uma crescente mudança temporária de recursos hídricos em virtude de alterações climáticas. Segundo o relatório, cerca de 30% da população mundial vive em áreas e regiões afetadas rotineiramente por inundações e secas. A degradação dos ecossistemas é a principal causa dos crescentes riscos e eventos extremos relacionados à água e, além disso, ela reduz a capacidade de aproveitar plenamente o potencial das soluções baseadas na natureza.

“Vemos que cada vez mais estão se intensificando os eventos extremos, desastres naturais, justamente nas áreas que já estão sujeitas a esses desastres. Onde há seca, em zonas extremamente áridas, haverá cada vez mais secas, com cada vez mais impactos. Onde há inundações, vai ter cada vez mais inundações. O que vai acontecer é que áreas que nunca vivenciaram desastres naturais também poderão viver esses fenômenos. Isso é o principal desafio, que em parte pode ser controlado, mas grande parte, não”, afirmou o oficial de projetos de Meio Ambiente da Unesco, Massimiliano Lombardo.

Para a Unesco, a infraestrutura verde é capaz de desempenhar importantes funções relacionadas à redução de riscos. A combinação de abordagens de infraestrutura verde e cinza pode levar à redução de custos e a uma redução geral dos riscos. “As SbN podem melhorar a segurança hídrica geral, aumentando a disponibilidade e a qualidade da água e, ao mesmo tempo, reduzindo os riscos de desastres relacionados à água e gerando cobenefícios sociais, econômicos e ambientais. Elas permitem a identificação de resultados positivos para todos os setores”, diz o texto.

Inércia política
De acordo com o relatório, ainda existe uma inércia histórica contra as soluções baseadas na natureza, devido ao predomínio contínuo de soluções de infraestrutura cinza nos atuais instrumentos dos países em relação às políticas públicas, aos códigos e normas de construção. A consequência disso, em conjunto com outros fatores, é a frequente percepção de que as soluções baseadas na natureza são percebidas como menos eficientes, ou mais arriscadas do que os sistemas construídos (com infraestrutura cinza).

“Muitas vezes, as SbN exigem cooperação entre as várias partes e instituições interessadas, o que pode ser difícil de alcançar. Os arranjos institucionais atuais não evoluíram, levando em consideração a cooperação no que diz respeito às SbN. Faltam conscientização, comunicação e conhecimento em todos os âmbitos, das comunidades aos planejadores regionais aos formuladores de políticas nacionais, sobre o que as SbN realmente podem oferecer”.

“Continuam a existir mitos e/ ou incertezas sobre o funcionamento da infraestrutura natural ou verde, assim como sobre o que significam os serviços ecossistêmicos, em termos práticos. Também não é totalmente claro, às vezes, o que constitui uma SbN. Faltam orientação técnica, ferramentas e abordagens para determinar a combinação correta de opções de SbN e infraestrutura cinza”, adverte o documento.

Limites
O relatório alerta que é necessário reconhecer os limites da capacidade de suporte dos ecossistemas e determinar os valores a partir dos quais pressões adicionais causarão danos irreversíveis aos próprios ecossistemas. “Há limites ao que os ecossistemas são capazes de alcançar, e esses limites devem ser identificados com maior precisão. Por exemplo, os “pontos críticos”, além dos quais as mudanças negativas nos ecossistemas se tornam irreversíveis, são bem estudados na teoria, mas raramente são quantificados”, indica a publicação.
Segundo o documento as soluções baseadas na natureza não necessariamente exigem recursos financeiros adicionais, mas normalmente envolvem o seu redirecionamento, ou o uso mais efetivo dos financiamentos já existentes. “Investimentos em infraestrutura verde estão sendo mobilizados graças ao crescente reconhecimento do potencial dos serviços ecossistêmicos em oferecer soluções que tornam os investimentos mais sustentáveis e mais custo-efetivo no longo prazo”.

“O investimento nas soluções verdes é ainda muito baixo. Se você tiver que tomar uma decisão para o gerenciamento da água, eu diria: por favor, considere coisas que são diferentes das usuais. Pense em soluções mais verdes, que possam trazer benefícios não só para levar água do ponto A para o ponto B, mas para que nesse caminho possa gerar benefícios para o meio ambiente”, avaliou Angela Ortigara. “É necessário, principalmente para um país grande como o Brasil, em que a gente sempre pensa que tem muita água, suficiente para tudo, e acontece como em 2015, a seca em São Paulo, e a gente não sabe por quê”, completou.

O documento apoia ainda a incorporação de conhecimentos e práticas tradicionais às já consolidadas por comunidades locais sobre o funcionamento dos ecossistemas e a interação natureza-sociedade. Nesse sentido, a publicação sugere que devem ser feitas melhorias quanto à incorporação desses conhecimentos nas avaliações e no processo decisório.

“O relatório demonstra que o ser humano pode fazer uma parceria com a natureza, em vez de lutar e querer que ela se conforme com as nossas necessidades, é [importante] tentar acomodar a necessidade da natureza, no caso da água, de se espalhar, inundar uma planície, porque isso é importante para preservar a qualidade e a quantidade da água que, depois, o ser humano vai utilizar”, concluiu o oficial de projetos Massimiliano Lombardo.

Publicação
O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos (World Water Development Report – WWDR) é publicado anualmente, com foco em questões estratégicas sobre a água. O documento oferece um quadro geral do estado dos recursos de água potável no mundo e visa a proporcionar as ferramentas sustentáveis a serem utilizadas pelos tomadores de decisões.

Em 20 anos, teremos água? Veja perspectivas de especialistas

Em 20 anos, teremos água? Veja perspectivas de especialistas

Publicado em 27/04/2018 - 15:49
Por Edgard Matsuki e Luiz Cláudio Ferreira - Repórteres da EBC Brasília
Entre prognósticos alarmantes e olhares otimistas, a reportagem ouviu cinco especialistas, de diferentes regiões do Brasil. Para eles, o futuro que nos espera está sendo plantado literalmente agora. 2038 pode ser de desertos ou de campos verdes, de chão rachado ou de nascentes permanentes.
>>>> Veja aqui o especial completo 

>>>> Confira a série de especiais Vidas Secas no país das Águas 
Brasil, 2038. As imagens de torneiras e bocas secas, desertos imensos, conflitos por água povoam o imaginário de um futuro distópico, bem assustador para quem o considera como cenário possível. Como em filmes e seriados de TV em que grupos disputam à bala o poder de um poço profundo, 2038, também, marcará o centenário de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos que se inspirou na seca dos anos 1930 para contar uma história de ficção. Trata-se de uma família vagando pela caatinga em busca de sobrevivência. As lembranças daquele desastre (e de tantos outros, como o da seca de 1877) podem ficar no passado se, em um país que concentra nada menos do que 13% da água doce do mundo, a gestão de recursos hídricos se der de maneira adequada.
Sobradinho - A Usina Hidrelétrica de Sobradinho tem capacidade total de 1050 megawatts, mas com a falta de água só tem sido possível gerar cerca de 160 megawatts (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Usina Hidrelétrica de Sobradinho (Arquivo/Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Neste sentido, entre as preocupações, figuram o crescimento desordenado das áreas urbanas, a falta de planejamento, a poluição e as alterações climáticas cada vez mais recorrentes. Porém, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, há também muitas razões de otimismo diante das lições aprendidas, dos avanços sociais e da evolução das tecnologias.

O coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Marcos Freitas, lembra que no início do século 21, fez um prognóstico da crise hídrica pela qual passariam grandes centros urbanos nesta década. Ele, que é professor da pós-graduação e já foi diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), costuma propor uma reflexão para os alunos na disciplina de Vulnerabilidade Hidrológica: “A primeira coisa que eu faço com eles é mostrar que a água é um bem finito, embora seja renovável. Mas a população cresce”.

Com base nisso, entende que o cenário do semiárido tende a ser, curiosamente, de menor preocupação no futuro. “Do ponto de vista climático, as mudanças foram muito pequenas nesta região se recordarmos o que era o semiárido na década de 1930. São quatro meses de chuvas para oito meses de seca. Há de se considerar, ainda, o crescimento populacional no semiárido e mais pressão por recursos hídricos”, pondera. No entanto, alguns passos importantes foram dados. “No semiárido, só dois rios são perenes: São Francisco e o Parnaíba. Nesse passado, grande parte desse território não tinha água o suficiente, o que provocou o esforço migratório, que foi a solução da época”, lembra.

A situação começou a mudar, de acordo com o especialista, na década de 1960 com investimentos em infraestrutura, e a construção de barragens para guardar água, inclusive para construção de hidrelétricas. “Em 1938, seria muito difícil imaginar um avião levando frutas de altíssima qualidade de Petrolina (PE), em meio ao sertão, por exemplo, para o exterior. Hoje, trata-se de um sucesso consagrado nessa agricultura que aproveitou o clima mediterrâneo, com solos de boa qualidade e restrição hídrica”, aponta o professor. “A tecnologia foi melhorando e o desenvolvimento é bastante interessante. E isso era impossível para Graciliano Ramos prever”, complementa.

Marcos Freitas acrescenta que a região conhecida como “Matopiba” (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) já produz mais grãos do que o Sudeste. “A minha perspectiva para o Nordeste é mais positiva do que no Sudeste. O que não está sendo resolvida na velocidade adequada é a poluição das bacias da região”, alerta.

*Colaborou Priscila Ferreira

Tribunal mantém anulação de acordo da Eletrobrás com empreiteiras para estudos de Belo Monte


Tribunal mantém anulação de acordo da Eletrobrás com empreiteiras para estudos de Belo Monte



Acordo foi feito sem licitação e publicidade, e proporcionou vantagem ilegal a empresas contratadas

Foto: Roberto Stuckert
Foto: Roberto Stuckert

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília (DF), decidiu nesta quarta-feira (25) manter válida decisão de 2016 que anulou acordo de cooperação técnica entre a Eletrobrás e as empresas Andrade Gutierrez, Odebrecht e Camargo Corrêa para realização dos estudos de viabilidade das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.


Em 2017 as empresas haviam recorrido da decisão – chamada de acórdão –, alegando, em resumo, que o texto não abrangia todos os itens discutidos no processo. Em decisão unânime da Quinta Turma relatada pela desembargadora federal Daniele Maranhão, o tribunal considerou que não houve incongruência no texto do acórdão.


“O julgador não está obrigado a analisar pormenorizadamente todos os argumentos apresentados pelas partes, tendo por obrigação apresentar os fundamentos que motivaram a sua conclusão, entre os quais se incluem aqueles aptos a infirmar (invalidar) as conclusões externadas na decisão proferida”, diz trecho da ementa da nova decisão do tribunal.


“As embargantes não lograram êxito em demonstrar vício (erro) no acórdão, mas tão somente inconformismo”, registram os procuradores regionais da República Eliana Torelly e Felício Pontes Jr., que representam o MPF no caso.


Anulação confirmada – A ação do MPF pedindo a nulidade do acordo de cooperação técnica e de todos os atos dele decorrentes foi ajuizada em 2007.


A finalidade do acordo era a conclusão dos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental, que compreendia a elaboração de um novo estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental, revisão do inventário do potencial hidroenergético da bacia do rio Xingu, estudo de natureza antropológica, avaliação ambiental integrada da bacia e respectivo Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável, além das adequações necessárias aos estudos de engenharia com base nos novos estudos realizados com a celebração do acordo.

Segundo o MPF, o acordo de cooperação técnica é nulo por dispensa indevida de licitação, injustificável restrição à publicidade de instrumento público, e criação ilícita de vantagem competitiva em favor das empresas privadas que participaram do acordo, depois contratadas para realizar as obras de Belo Monte, que tiveram um custo total de R$ 28 bilhões.


As empresas e o governo ainda têm direito a recurso, mas, ao fim do processo, elas podem ser obrigadas a devolver o dinheiro repassado para os estudos e ainda se retirar da obra da usina. O valor total dos estudos de Belo Monte nunca foi divulgado, mas pode passar de R$ 10 milhões.
“Vamos procurar recuperar para os cofres públicos o dinheiro pago pela Eletrobrás a essas empreiteiras”, disse em 2016 o procurador regional da República Felício Pontes Jr.

Leilão comprometido – A aliança entre a Eletrobrás e as empreiteiras pode ter influenciado de maneira determinante o resultado do leilão de Belo Monte, ocorrido cinco anos depois da assinatura do acordo, em 2010. As empreiteiras se retiraram da concorrência e ficaram apenas com a fatia segura do projeto da usina, as obras de construção civil, deixando possíveis riscos para os sócios da Norte Energia S.A.

“O ajuste (acordo de cooperação técnica) permitiu que a administração concorresse indevidamente para o favorecimento das três empreiteiras, que obtiveram informações privilegiadas, de modo a interferirem e condicionarem, de forma irregular, o comportamento de possíveis competidores”, disse a procuradora regional da República Eliana Torelly.

Processo nº 003843-98.2007.4.01.3900 – 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região – Brasília/DF

Do MPF-PA, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2018

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Diversitywashing: quando as empresas adotam o discurso da diversidade para promover produtos ou para parecer inclusiva


Diversitywashing: quando as empresas adotam o discurso da diversidade para promover produtos ou para parecer inclusiva



diversidade religiosa

A gestão e valorização da diversidade têm sido um grande diferencial para as empresas que querem obter sucesso em seus mercados de atuação. E por conta disso, muitas têm adotado o discurso da diversidade, mas sem incluírem em seus quadros funcionais mulheres, negros, LGBT+, pessoas com deficiência e idosos. E por vezes, quanto incluem não retém e não contemplam essa parcela da população no plano de carreira.

Para explicar esse tipo de atitude, Liliane Rocha*, consultora especializada em Sustentabilidade e Diversidade e fundadora da Gestão Kairós, criou o termo Diverstywashing que é inspirado em outro também bastante usado na área de sustentabilidade: o “Greenwashing” para se referir às empresas que usam o discurso da sustentabilidade apenas para autopromoção.

Exemplos de Diversitywashing é quando as empresas criam campanhas de comunicação e lançam produtos com foco em atender os públicos de diversidade, mas não têm uma gestão ou políticas com foco na diversidade estabelecidas. “Sempre trabalhei essa questão e vi que, por um lado, as empresas começaram a ter mais diversidade nas propagandas e nos seus posicionamentos. Por outro, os casos discriminatórios relacionados a essas empresas continuaram sendo relatados, infelizmente. Além disso, os percentuais de diversos nos cargos de liderança caiu de 2010 para 2016.”, conta Liliane Rocha, especialista que tem 14 anos de experiência na área.

No que se refere à Diversidade apesar de várias pesquisas revelarem que empresas com políticas de diversidade são mais lucrativas, ainda há muito o que melhorar. “Infelizmente temos visto muitas empresas fazendo Diversitywashing e metendo os pés pelas mãos. São diversos exemplos, do que não fazer. A campanha da marca sueca H&M que usou um menino negro usando um moleton com mensagem que o comparava a um macaco é só uma delas. Para adotar a valorização da diversidade como deve ser é necessário gestão do tema. Transparência com stakeholders. Esforço coordenado, entre outros”, explica Liliane Rocha.

Em 2018, a McKinsey publicou o estudo “A diversidade como alavanca de performance” realizado com mais de 1.000 empresas em 12 países, onde demonstra que empresas que tem mais equidade de gênero na liderança tem uma probabilidade 21% maior de ter margem de lucratividade superior à de seus pares. E aquelas que têm equidade racial na liderança uma probabilidade 33% maior de ter margem de lucratividade superior à de seus pares.

Portanto, de nada adianta as empresas fazerem Diversitywashing para vender mais ou se autopromover, o que dá realmente valor para as empresas é sair do discurso e adotar a valorização da diversidade de forma completa. “O investimento em desenvolvimento é essencial para auxiliar os profissionais diversos a chegar aos cargos de gestão. E só quando existe diversidade na liderança que a coisas podem começar a realmente mudar”, finaliza Liliane Rocha.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2018

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]