Segundo os dados do SNIS, o Sistema Nacional de Informações sobre o
Saneamento, de cada 100 litros de esgoto produzido no ano de 2016, menos
de 45 litros foram tratados. O restante, ou seja 55% do total, foi
lançado na natureza sem qualquer tipo de tratamento.
Os números mostram que enquanto o fornecimento de água potável já está
próximo à universalização, a coleta e o tratamento do esgoto ainda são
um desafio.
83% da população recebe água potável em casa. O número ainda está abaixo
do acesso a 100% da população até 2030, mas bem acima do número de
pessoas que tem acesso ao serviço de coleta de esgoto.
Pouco mais da metade da população brasileira, 52%, pode contar com rede
de esgoto. O restante, mais de 100 milhões de pessoas ainda dependem de
fossas ou alternativas mais precárias para descartar o resíduo. 120
milhões não têm acesso ao tratamento dos resíduos.
Os números são de 2016 e foram analisados pelo Instituto Trata Brasil,
que produz o Ranking do Saneamento no Brasil. Para Pedro Scazufca um dos
responsáveis pela análise, o desafio é que para ampliar a rede de
coleta e tratamento é preciso plenajar e investir mais.
Já para Edson Aparecido da Silva, Coordenador do Fórum Alternativo
Mundial da Água, mais do que investimentos diretos é preciso rever o
modelo de tarifas praticado no Brasil. No geral, metade da tarifa que o
consumidor paga para as empresas de saneamento básico é para o
fornecimento de água. A outra metade para a coleta e o tratamento de
esgoto, que é paga, mesmo quando o serviço não é feito.
A análise também mostra que a desigualdade no saneamento básico também é
um problema. Segundo o ranking, nos 20 municípios com melhores índices
de saneamento básico, o atendimento com rede de esgoto fica acima de
90%, bem próximo do que é chamado de universalização do serviço. Já nas
20 cidades com o os piores índices, a cobertura fica abaixo de 30%.
Projeto orla prevê bares e até casas de show em área residencial
Moradores temem o fim da área residencial dos lagos sul e norte
Publicado: 24 de abril de 2018 às 12:10 - Atualizado às 12:17
A proposta prevê concentração de construções onde não existem, para bares, boates, restaurantes, casas de shows.
Além de uma roda gigante (na verdade gigantesca) no quintal das
casas da QL 8 do Lago Sul, o projeto que o governo do Distrito Federal
escolheu para a urbanização do Lago Paranoá, prevê outros elementos que
têm sido recebidos como atitude de hostilidade aos moradores da região:
bares, restaurantes e até casas de show em plena área residencial. Se o
projeto for mesmo executado, segundo moradores da região, poderá
significar o fim das áreas residenciais nos lagos Sul e Norte.
A orla do Lago Paranoá foi desobstruída por determinação da Justiça,
que ordenou o recuo das cercas a 30 metros da água. Essa nova área
pública foi criada em agosto de 2015, mas somente agora, quase três anos
depois, o governo do Distrito Federal definiu o que pretende fazer em
quase cem quilômetros de orla.
A roda gigantesca foi inspirada em equipamento de semelhante, no
centro de Londres, que mete 135 metros de altura, equivalente a um
prédio de 150 andares. Segundo um dos idealizadores desse projeto,
arquiteto Emerson José Vidigal, que vive em Curitiba e certamente ignora
as peculiaridades de Brasília, a ideia da roda gigante é estabelecer um
“símbolo” ou “marco” da “retomada” da área pública.
Se a roda gigante na QL 8 for igual a de Londres,
medirá 135 metros de altura, equivalentes
a um prédio de 150 andares.
Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta,
países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento
da temperatura regional.
A estimativa é de um relatório divulgado neste mês (19) pela ONU Meio
Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à natureza e à produção
agrícola de substâncias como o metano, o carbono negro, os
hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
Até 2050, se adotarem medidas para combater os poluentes de vida curta,
países da América Latina e do Caribe poderão reduzir em 0,9ºC o aumento
da temperatura regional. A estimativa é de um relatório divulgado neste
mês (19) pela ONU Meio Ambiente, que alerta para os riscos à saúde, à
natureza e à produção agrícola de substâncias como o metano, o carbono
negro, os hidrofluorocarbonos (HFC) e o ozônio.
A pesquisa da agência das Nações Unidas aponta que reduções desses
compostos químicos poderiam provocar uma queda de 26% no número de
mortes prematuras causadas pela poluição do ar por partículas finas.
Quando considerados os óbitos associados à contaminação por ozônio, o
índice poderia chegar a 40%.
A ONU Meio Ambiente estima que, em 2010, 64 mil pessoas morreram na
América Latina e no Caribe devido à exposição a esses materiais.
Estratégias para mitigar os poluentes de vida curta também permitiriam
evitar perdas anuais de 3 a 4 milhões de toneladas de cultivos básicos.
De acordo com o levantamento, em 2010, o ozônio foi responsável por um
prejuízo de 7,4 milhões de toneladas em produtos agrícolas, como soja,
milho, trigo e arroz.
Segundo a análise da ONU, até 2050, a mortalidade prematura, associada
às partículas finas e ao ozônio, poderá dobrar. Já as perdas da
agricultura poderão alcançar 9 milhões de toneladas por ano.
Ozônio
O ozônio é um gás que se forma tanto nas altas camadas da atmosfera (a
estratosfera), como nas baixas (a troposfera). Na estratosfera, a
substância protege a vida terrestre da radiação ultravioleta do sol. Mas
na troposfera, ela atua como um poluente perigoso. O ozônio é um dos
principais componentes de névoa urbana e o terceiro maior causador do
aquecimento global, atrás apenas do metano e do gás carbônico. Pesquisas
associaram o contato com a substância a índices mais altos de infartos,
acidentes vasculares cerebrais, doenças cardiovasculares e problemas
reprodutivos e de desenvolvimento. O gás também reduz o rendimento das
safras e a qualidade e produtividade das plantações.
Podendo permanecer na atmosfera desde horas até dias, o ozônio é
considerado um poluente secundário, pois não é emitido diretamente por
uma atividade humana. Na verdade, a substância se forma quando gases
precursores, como o metano, o monóxido de carbono e o óxido de
nitrogênio, reagem na presença da luz solar. Por isso, é tão importante
reduzir as emissões de metano.
A ONU Meio Ambiente lembra que o potencial de aquecimento atmosférico
dos poluentes de vida curta é bem mais alto que o do gás carbônico,
podendo atingir um valor mil vezes maior que a taxa atribuída ao dióxido
de carbono.
A agricultura, o transporte e a refrigeração doméstica e comercial são,
respectivamente, os maiores responsáveis pelas emissões de metano;
carbono negro e partículas tóxicas finas; e hidrofluorocarbonos.
Soluções
O relatório das Nações Unidas apresenta medidas para diminuir as
emissões desses compostos que desregulam o clima e ameaçam a vida no
planeta.
Para combater o metano, são necessárias mudanças em quatro setores-chave
– produção e distribuição de petróleo e gás, gestão de resíduos,
mineração de carvão e agricultura. A pesquisa recomenda práticas de
captura e uso dos gases liberados na produção de petróleo e gás;
separação e tratamento dos resíduos sólidos municipais que sejam
biodegradáveis; e captura do biogás proveniente do esterco do gado.
Até 2050, estratégias poderiam reduzir em 45% as emissões de metano.
Metano
O metano é o segundo gás com maior impacto sobre o aquecimento do
planeta, depois do gás carbônico. A América Latina e o Caribe respondem
por aproximadamente 15% de todas as emissões dessa substância. Quase
todo o metano liberado na atmosfera vem de três setores: agricultura
(cerca de 50%); produção e distribuição de carvão, petróleo e gás (em
torno de 40%); e gestão de resíduos (por volta de 10%). O gás permanece
na atmosfera por aproximadamente 12 anos e é considerado um importante
precursor do ozônio.
O volume de carbono negro liberado nos países latino-americanos e
caribenhos também pode ter queda considerável – de 80% – até 2050. Para
isso, governos devem adotar normas equivalentes ao padrão europeu para
regular os veículos a diesel, além de incorporar filtros para as
partículas liberadas pelo combustível nesses automóveis.
Outras iniciativas exigidas são a eliminação dos veículos de altas
emissões; a modernização de cozinhas e estufas; e a proibição da queima a
céu aberto de resíduos agrícolas.
No caso dos hidrofluorocarbonos, a ONU Meio Ambiente recomenda a
substituição desses compostos por alternativas que não tenham impacto
sobre as variações do clima. Os HFCs são usados principalmente nos
sistemas de refrigeração e ar condicionado, bem como na confecção de
espumas isolantes e mecanismos de disparo aerosol. Até 2020, o consumo
dessas substâncias deverá dobrar. Uma vez no ambiente, elas permanecem
de 15 a 29 anos na atmosfera.
“Muitos países já estão implementando medidas para eliminar as emissões
procedentes dos setores de transporte e energia, mas sua aplicação não é
uniforme na região”, avalia a chefe da Secretaria da Coalizão Clima e
Ar Limpo, Helena Molin Valdés.
“Políticas públicas mais exigentes e um maior controle da contaminação
podem impulsionar os incentivos econômicos e os benefícios para a ação
climática, a saúde, a agricultura e o desenvolvimento sustentável. É
essencial agir rapidamente.”
Carbono negro
O carbono negro é formado a partir da combustão incompleta de
combustíveis fósseis ou biocombustíveis. A substância contribui para a
produção de partículas finas, associadas a doenças pulmonares e
cardiovasculares, derrames, infartos, patologias respiratórias crônicas,
como bronquite, e agravamento da asma.
A América Latina e o Caribe são responsáveis por menos de 10% do total
global de emissões de carbono negro geradas pelo homem, excluindo da
estimativa os incêndios florestais e em regiões de savana. O transporte e
a queima residencial de combustíveis sólidos para o preparo de
alimentos e aquecimento residencial são a causa de 75% das emissões na
região. Mais de 60% delas vêm do Brasil e do México.
Para o diretor da ONU Meio Ambiente para a América Latina e o Caribe,
Leo Heileman, nações devem se inspirar nas soluções apresentadas pelo
levantamento.
“Se os países da região as adotarem, contribuirão para manter o aumento
da temperatura do planeta abaixo do limiar de 2ºC estabelecido no Acordo
Climático de Paris”, afirmou o representante do organismo
internacional.
O relatório Avaliação Integrada dos Poluentes Climáticos de Vida Curta é
o primeiro do tipo elaborado pela agência das Nações Unidas e reúne
trabalhos de 90 autores, coordenados por um grupo de especialistas. A
publicação foi lançada pela ONU em parceria com a Coalizão Clima e Ar
Limpo.
Companhias devem declarar no site do INEA a quantidade e os tipos de
resíduos gerados, bem como identificar o transporte e o destinador dos
materiais
O governo estadual do Rio de Janeiro tornou obrigatória a declaração de
geração, transporte e destinação de resíduos para as empresas
fluminenses e para as companhias que pretendem levar seus resíduos para
dentro do estado.
Trata-se da Resolução 79 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Conema),
que aprova a Norma Operacional 35 do Instituto Estadual do Meio
Ambiente (INEA-RJ), que prevê a obrigatoriedade do sistema declaratório
de resíduos industriais e comerciais.
Desde março deste ano, todas as empresas geradoras são obrigadas a
declarar no site do INEA a movimentação e o destino final de seus
resíduos. O sistema de controle online já funciona em caráter voluntário
desde setembro do ano passado e conta até o momento com a adesão de
mais 20 mil empresas, entre geradores, transportadores e destinadores de
resíduos.
O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de
Resíduos e Efluentes (Abetre), Carlos Fernandes, lembra que a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), bem como diversas leis estaduais,
estabelece que o sistema declaratório é uma obrigação legal do poder
público.
“O sistema declaratório permite o monitoramento em tempo real todas as
etapas da cadeia de resíduos sólidos no estado fluminense, incluindo a
geração, o armazenamento, o transporte, o tratamento e a disposição
final, mesmo quando a origem ou o destino dos rejeitos for fora do
território estadual. Isso representa um importante avanço no cumprimento
da PNRS”, comenta Fernandes.
A ferramenta de controle foi implantada pelo INEA e cedida pela Fundação
do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma), com o apoio Abetre.
“Trata-se, na verdade, de um ferramenta imprescindível para o poder
público, no sentido que facilita a fiscalização e, sobretudo, contribui
para a elaboração de políticas e programas na área de limpeza pública e
gestão de resíduos”, conclui Fernandes.
Cientistas americanos disseram nesta quinta-feira (26) que fizeram
avanços em direção a um tipo de plástico que pode ser reciclado
“infinitamente” e que este parece ser durável o suficiente para competir
com os plásticos comuns.
Diferentemente dos plásticos feitos a partir de derivados de petróleo, o
novo tipo pode ser transformado de volta ao seu estado original de
pequenas moléculas e transformado em novos plásticos repetidas vezes,
disse o relatório na revista “Science”.
“Os polímeros podem ser quimicamente reciclados e reutilizados, em
princípio, infinitamente”, disse o autor principal, Eugene Chen,
professor do Departamento de Química da Universidade Estadual do
Colorado.
Chen advertiu que a pesquisa foi feita apenas em laboratório e que é necessário mais trabalho para desenvolvê-la.
No entanto, a equipe ampliou um avanço que anunciou em 2015, que
resultou em um plástico totalmente reciclável que era mais macio do que o
ideal.
Fazer a versão antiga exigia condições extremamente frias e o produto final tinha baixa resistência ao calor.
O novo produto corrige todos esses problemas, disseram os pesquisadores.
Um comentário que acompanhou o artigo na “Science” disse que o trabalho é
“um passo importante” na abordagem do problema do plástico no planeta.
Sob o novo processo, “os resíduos de plástico são despolimerizados de
volta ao material inicial e depois repolimerizados para produzir
plásticos do tipo virgem”, disse o comentário.
Esse tipo de avanço “pode levar a um mundo em que os plásticos no final
de sua vida não são considerados resíduos, mas matéria-prima para gerar
produtos de alto valor”.
Atualmente, apenas cerca de 5% do plástico no mundo é reciclado.
A produção global de plástico deverá ultrapassar 500 milhões de toneladas métricas até 2050.
Especialistas preveem que em meados do século haverá mais plástico do que peixes nos oceanos.
O projeto “Considerando o nexo entre segurança hídrica, energética e
alimentar e as comunidades tradicionais: uma abordagem integrada para o
Cerrado” começou em janeiro de 2018 e vai até 2020. Para desenvolver os
estudos os pesquisadores utilizarão dados de sensoriamento remoto,
cenários de desenvolvimento de políticas e infraestrutura.
“O projeto aborda questões cruciais não somente para o Cerrado, mas
também para os desafios globais de sustentabilidade ao tratar das
interações entre as seguranças hídrica, alimentar e energética”, diz
Mercedes Bustamante, coordenadora do projeto e professora da UnB. “Há
ainda ações que visam a estabelecer quais as áreas prioritárias para
restauração contribuindo para conservação da biodiversidade”, afirma.
“As informações geradas neste projeto, se colocadas em prática por
tomadores de decisão, poderão gerar ações que promovam o desenvolvimento
sustentável das regiões de fronteira agrícola do Cerrado, contribuindo
para o aumento da produção agrícola e o bem estar das populações”,
afirma o pesquisador do IPAM Divino Silvério.
Relatório da Unesco sobre água propõe soluções baseadas na natureza
Relatório ressalta que abordagens tradicionais não permitem que a
Publicado em 19/03/2018 - 06:50
Por
Heloisa Cristaldo - Repórter da Agência Brasil Brasília
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lança nesta segunda-feira (19) o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018,
durante a abertura oficial do Fórum Mundial da Água, em Brasília. A
edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza (SbN), que
usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento
da gestão da água no mundo.
O documento mostra que apesar da
disseminação das tecnologias que envolvem a conservação ou a
reabilitação de ecossistemas naturais, esses processos correspondem a
menos de 1% do investimento total em infraestrutura para a gestão dos
recursos hídricos. Segundo a oficial do Programa Mundial de Avaliação de
Recursos Hídricos da Unesco, Angela Ortigara, o objetivo da publicação é
incentivar a adoção de soluções baseadas na natureza para que sejam
efetivamente consideradas na gestão da água.
“O que acontece,
muitas vezes, é que, por facilidade, praticidade ou falta de
conhecimento, ninguém pensa que se pode utilizar a natureza para
gerenciar, por exemplo, enchentes ou prevenir um caso de seca. E, no
entanto, o que a gente quer nesse relatório é mostrar que não é preciso
necessariamente construir grandes obras de infraestrutura para melhorar a
gestão da água”, afirmou Angela, em entrevista exclusiva aos veículos
da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
O
relatório da Unesco ressalta que abordagens tradicionais não permitem
que a segurança hídrica sustentável seja alcançada. Já as soluções
baseadas na natureza trabalham diretamente com a natureza, não contra
ela e por isso oferecem meios essenciais para ir além das abordagens
tradicionais, de modo a aumentar os ganhos em eficiência social,
econômica e hidrológica no que diz respeito à gestão da água.
“As SbN
são especialmente promissoras na obtenção de progressos em direção à
produção alimentar sustentável, à melhora dos assentamentos humanos, ao
acesso ao fornecimento de água potável e aos serviços de saneamento, e à
redução de riscos de desastres relacionados à água. Elas também podem
ajudar na resposta aos impactos causados pela mudança climática sobre os
recursos hídricos”, diz a publicação.
“O relatório quer que as
pessoas abram os olhos para soluções que talvez não estejam tão claras
do ponto de vista de engenharia, não sejam tão conhecidas, mas que podem
trazer soluções que não são banais. Se decidir reflorestar uma área, a
primeira coisa que vai pensar é: essa área estará coberta, terá animais,
mas também ajudará a recarregar a água subterrânea, os aquíferos”,
disse a oficial da Unesco. “Há uma série de benefícios que são difíceis
de ser quantificados economicamente e talvez essa seja uma das razões
pelas quais essas soluções não venham sendo utilizadas. No entanto, são
benefícios que têm que ser considerados se pensarmos em longo prazo”,
completou Angela.
Entre os exemplos dados pela publicação está a
ampliação de banheiros secos, aqueles que evitam o lançamento de dejetos
em tubulações ligadas a centros de tratamento de água ou em rios. Esse
tipo de banheiro também permite a produção de composto orgânico ao final
do processo. Em uma proposta de solução mais ampla, o relatório
apresenta a experiência das cidades-esponjas, na China, em que
construções absorvem água da chuva de forma rápida e segura. Economia
De
acordo com o relatório, as soluções baseadas na natureza apoiam a
“economia circular”, aquela considerada restauradora e regenerativa, que
busca reduzir os desperdícios e evitar a poluição, inclusive por meio
do reúso e da reciclagem. Além disso, a tecnologia apoia os conceitos de
crescimento verde e de economia verde, que promovem o uso sustentável
dos recursos naturais e aproveitam os processos naturais como fundamento
das economias. “Essa utilização das SbN no setor hídrico também gera
benefícios no campo social, econômico e ambiental, incluindo a melhoria
da saúde humana e dos meios de subsistência, o crescimento econômico
sustentável, empregos dignos, a reabilitação e a manutenção de
ecossistemas, e a proteção/desenvolvimento da biodiversidade”, ressalta a
publicação.
O relatório diz que a demanda mundial por água tem
aumentado a uma taxa de aproximadamente 1% ao ano, devido ao crescimento
populacional, ao desenvolvimento econômico e às mudanças nos padrões de
consumo, entre outros fatores, e continuará a aumentar de forma
significativa durante as próximas duas décadas. No entanto, ao mesmo
tempo, o ciclo hídrico mundial está se intensificando devido à mudança
climática, com a tendência de regiões já úmidas ou secas apresentarem
situações cada vez mais extremas.
Atualmente, estima-se que 3,6
bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) vivem em áreas
que apresentam potencial escassez de água de, pelo menos, um mês por
ano. A expectativa, segundo a publicação, é de que essa população poderá
aumentar para algo entre 4,8 bilhões e 5,7 bilhões até 2050.
Desafios
De
acordo com o relatório da Unesco, a degradação dos ecossistemas é uma
das principais causas dos desafios relativos à gestão da água. A
publicação estima que, desde 1900, entre 64% e 71% das zonas úmidas de
todo o mundo foram perdidas devido às atividades humanas. Todas essas
mudanças têm gerado impactos negativos na hidrologia, desde a escala
local até a escala regional e mundial.
Outro desafio mostrado
pela publicação é a qualidade da água. Desde a década de 1990, a
poluição hídrica piorou em quase todos os rios da América Latina, da
África e da Ásia. O documento prevê que a deterioração da qualidade da
água se ampliará ainda mais durante as próximas décadas, o que aumentará
as ameaças à saúde humana, ao meio ambiente e ao desenvolvimento
sustentável.
O relatório prevê ainda que o aumento de exposição a
substâncias poluentes será maior em países de renda baixa e
média-baixa, principalmente devido ao crescimento populacional e
econômico e à ausência de sistemas de gestão das águas residuais.
A
publicação também estima que o número de pessoas que se encontram em
situação de risco de inundações aumentará do atual 1,2 bilhão, para
cerca de 1,6 bilhão, em 2050 – o correspondente a aproximadamente 20% da
população mundial. A população atualmente afetada pela degradação e/ou
pela desertificação e pelas secas é estimada em 1,8 bilhão de pessoas, o
que torna essa categoria de “desastres naturais” a mais significativa,
com base na mortalidade e no impacto socioeconômico relativo ao Produto
Interno Bruto (PIB) per capita. Uso do solo
De
acordo com o documento, os ecossistemas exercem importante influência
no ciclo das chuvas, em escala local e continental. Em vez de ser
considerada uma “consumidora” de água, a publicação ressalta que a
vegetação deve ser vista como uma “recicladora” de água. Em âmbito
mundial, até 40% da precipitação terrestre são gerados pela transpiração
vegetal e pela evaporação do solo, também responsáveis pela maior parte
das precipitações em algumas regiões.
“Portanto, as decisões
relativas ao uso do solo em um determinado lugar podem ter consequências
significativas para os recursos hídricos, as pessoas, a economia e o
meio ambiente em lugares distantes – o que indica as limitações das
bacias de drenagem (em oposição às “bacias de precipitação”) em servir
como bases para o gerenciamento da água”, diz o texto.
Como
alternativa, o relatório indica a parceria entre a tecnologia
tradicional com o uso de infraestrutura verde, voltada para os recursos
hídricos, que usa sistemas naturais ou seminaturais para oferecer opções
de gestão da água, com benefícios equivalentes ou similares à
tradicional infraestrutura hídrica cinza (construída/física).
“Em
algumas situações, as abordagens baseadas na natureza podem oferecer a
principal ou a única solução viável (por exemplo, a recuperação de
paisagens para combater a degradação do solo e a desertificação), ao
passo que para outras finalidades apenas uma infraestrutura cinza
funcionaria (por exemplo, o fornecimento de água para uma casa por meio
de canos e torneiras). Contudo, na maioria dos casos, as infraestruturas
verdes e as infraestruturas cinzas podem e devem trabalhar em
conjunto”, acrescenta a publicação.
Riscos relacionados à água
Atualmente,
o mundo todo tem presenciado os riscos de desastres relacionados à
água, como inundações e secas associadas a uma crescente mudança
temporária de recursos hídricos em virtude de alterações climáticas.
Segundo o relatório, cerca de 30% da população mundial vive em áreas e
regiões afetadas rotineiramente por inundações e secas. A degradação dos
ecossistemas é a principal causa dos crescentes riscos e eventos
extremos relacionados à água e, além disso, ela reduz a capacidade de
aproveitar plenamente o potencial das soluções baseadas na natureza.
“Vemos
que cada vez mais estão se intensificando os eventos extremos,
desastres naturais, justamente nas áreas que já estão sujeitas a esses
desastres. Onde há seca, em zonas extremamente áridas, haverá cada vez
mais secas, com cada vez mais impactos. Onde há inundações, vai ter cada
vez mais inundações. O que vai acontecer é que áreas que nunca
vivenciaram desastres naturais também poderão viver esses fenômenos.
Isso é o principal desafio, que em parte pode ser controlado, mas grande
parte, não”, afirmou o oficial de projetos de Meio Ambiente da Unesco,
Massimiliano Lombardo.
Para a Unesco, a infraestrutura verde é
capaz de desempenhar importantes funções relacionadas à redução de
riscos. A combinação de abordagens de infraestrutura verde e cinza pode
levar à redução de custos e a uma redução geral dos riscos. “As SbN
podem melhorar a segurança hídrica geral, aumentando a disponibilidade e
a qualidade da água e, ao mesmo tempo, reduzindo os riscos de desastres
relacionados à água e gerando cobenefícios sociais, econômicos e
ambientais. Elas permitem a identificação de resultados positivos para
todos os setores”, diz o texto.
Inércia política
De
acordo com o relatório, ainda existe uma inércia histórica contra as
soluções baseadas na natureza, devido ao predomínio contínuo de soluções
de infraestrutura cinza nos atuais instrumentos dos países em relação
às políticas públicas, aos códigos e normas de construção. A
consequência disso, em conjunto com outros fatores, é a frequente
percepção de que as soluções baseadas na natureza são percebidas como
menos eficientes, ou mais arriscadas do que os sistemas construídos (com
infraestrutura cinza).
“Muitas vezes, as SbN exigem cooperação
entre as várias partes e instituições interessadas, o que pode ser
difícil de alcançar. Os arranjos institucionais atuais não evoluíram,
levando em consideração a cooperação no que diz respeito às SbN. Faltam
conscientização, comunicação e conhecimento em todos os âmbitos, das
comunidades aos planejadores regionais aos formuladores de políticas
nacionais, sobre o que as SbN realmente podem oferecer”.
“Continuam
a existir mitos e/ ou incertezas sobre o funcionamento da
infraestrutura natural ou verde, assim como sobre o que significam os
serviços ecossistêmicos, em termos práticos. Também não é totalmente
claro, às vezes, o que constitui uma SbN. Faltam orientação técnica,
ferramentas e abordagens para determinar a combinação correta de opções
de SbN e infraestrutura cinza”, adverte o documento.
Limites
O
relatório alerta que é necessário reconhecer os limites da capacidade
de suporte dos ecossistemas e determinar os valores a partir dos quais
pressões adicionais causarão danos irreversíveis aos próprios
ecossistemas. “Há limites ao que os ecossistemas são capazes de
alcançar, e esses limites devem ser identificados com maior precisão.
Por exemplo, os “pontos críticos”, além dos quais as mudanças negativas
nos ecossistemas se tornam irreversíveis, são bem estudados na teoria,
mas raramente são quantificados”, indica a publicação.
Segundo o
documento as soluções baseadas na natureza não necessariamente exigem
recursos financeiros adicionais, mas normalmente envolvem o seu
redirecionamento, ou o uso mais efetivo dos financiamentos já
existentes. “Investimentos em infraestrutura verde estão sendo
mobilizados graças ao crescente reconhecimento do potencial dos serviços
ecossistêmicos em oferecer soluções que tornam os investimentos mais
sustentáveis e mais custo-efetivo no longo prazo”.
“O
investimento nas soluções verdes é ainda muito baixo. Se você tiver que
tomar uma decisão para o gerenciamento da água, eu diria: por favor,
considere coisas que são diferentes das usuais. Pense em soluções mais
verdes, que possam trazer benefícios não só para levar água do ponto A
para o ponto B, mas para que nesse caminho possa gerar benefícios para o
meio ambiente”, avaliou Angela Ortigara. “É necessário, principalmente
para um país grande como o Brasil, em que a gente sempre pensa que tem
muita água, suficiente para tudo, e acontece como em 2015, a seca em São
Paulo, e a gente não sabe por quê”, completou.
O documento apoia
ainda a incorporação de conhecimentos e práticas tradicionais às já
consolidadas por comunidades locais sobre o funcionamento dos
ecossistemas e a interação natureza-sociedade. Nesse sentido, a
publicação sugere que devem ser feitas melhorias quanto à incorporação
desses conhecimentos nas avaliações e no processo decisório.
“O
relatório demonstra que o ser humano pode fazer uma parceria com a
natureza, em vez de lutar e querer que ela se conforme com as nossas
necessidades, é [importante] tentar acomodar a necessidade da natureza,
no caso da água, de se espalhar, inundar uma planície, porque isso é
importante para preservar a qualidade e a quantidade da água que,
depois, o ser humano vai utilizar”, concluiu o oficial de projetos
Massimiliano Lombardo.
Publicação
O
Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos
Hídricos (World Water Development Report – WWDR) é publicado
anualmente, com foco em questões estratégicas sobre a água. O documento
oferece um quadro geral do estado dos recursos de água potável no mundo e
visa a proporcionar as ferramentas sustentáveis a serem utilizadas
pelos tomadores de decisões.
Em 20 anos, teremos água? Veja perspectivas de especialistas
Publicado em 27/04/2018 - 15:49
Por
Edgard Matsuki e Luiz Cláudio Ferreira - Repórteres da EBC Brasília
Entre prognósticos alarmantes e olhares otimistas, a
reportagem ouviu cinco especialistas, de diferentes regiões do Brasil.
Para eles, o futuro que nos espera está sendo plantado literalmente
agora. 2038 pode ser de desertos ou de campos verdes, de chão rachado ou
de nascentes permanentes. >>>> Veja aqui o especial completo
>>>> Confira a série de especiais Vidas Secas no país das Águas
Brasil, 2038. As imagens de torneiras e bocas secas, desertos
imensos, conflitos por água povoam o imaginário de um futuro distópico,
bem assustador para quem o considera como cenário possível. Como em
filmes e seriados de TV em que grupos disputam à bala o poder de um poço
profundo, 2038, também, marcará o centenário de Vidas Secas,
obra de Graciliano Ramos que se inspirou na seca dos anos 1930 para
contar uma história de ficção. Trata-se de uma família vagando pela
caatinga em busca de sobrevivência. As lembranças daquele desastre (e de
tantos outros, como o da seca de 1877) podem ficar no passado se, em um
país que concentra nada menos do que 13% da água doce do mundo, a
gestão de recursos hídricos se der de maneira adequada.
Usina Hidrelétrica de Sobradinho (Arquivo/Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Neste sentido, entre as preocupações, figuram o crescimento
desordenado das áreas urbanas, a falta de planejamento, a poluição e as
alterações climáticas cada vez mais recorrentes. Porém, segundo
especialistas ouvidos pela reportagem, há também muitas razões de
otimismo diante das lições aprendidas, dos avanços sociais e da evolução
das tecnologias.
O coordenador do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais
(Ivig), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Marcos
Freitas, lembra que no início do século 21, fez um prognóstico da crise
hídrica pela qual passariam grandes centros urbanos nesta década. Ele,
que é professor da pós-graduação e já foi diretor da Agência Nacional de
Águas (ANA), costuma propor uma reflexão para os alunos na disciplina
de Vulnerabilidade Hidrológica: “A primeira coisa que eu faço com eles é
mostrar que a água é um bem finito, embora seja renovável. Mas a
população cresce”.
Com base nisso, entende que o cenário do semiárido tende a ser,
curiosamente, de menor preocupação no futuro. “Do ponto de vista
climático, as mudanças foram muito pequenas nesta região se recordarmos o
que era o semiárido na década de 1930. São quatro meses de chuvas para
oito meses de seca. Há de se considerar, ainda, o crescimento
populacional no semiárido e mais pressão por recursos hídricos”,
pondera. No entanto, alguns passos importantes foram dados. “No
semiárido, só dois rios são perenes: São Francisco e o Parnaíba. Nesse
passado, grande parte desse território não tinha água o suficiente, o
que provocou o esforço migratório, que foi a solução da época”, lembra.
A situação começou a mudar, de acordo com o especialista, na década de
1960 com investimentos em infraestrutura, e a construção de barragens
para guardar água, inclusive para construção de hidrelétricas. “Em 1938,
seria muito difícil imaginar um avião levando frutas de altíssima
qualidade de Petrolina (PE), em meio ao sertão, por exemplo, para o
exterior. Hoje, trata-se de um sucesso consagrado nessa agricultura que
aproveitou o clima mediterrâneo, com solos de boa qualidade e restrição
hídrica”, aponta o professor. “A tecnologia foi melhorando e o
desenvolvimento é bastante interessante. E isso era impossível para
Graciliano Ramos prever”, complementa.
Marcos Freitas acrescenta que a região conhecida como “Matopiba”
(Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) já produz mais grãos do que o
Sudeste. “A minha perspectiva para o Nordeste é mais positiva do que no
Sudeste. O que não está sendo resolvida na velocidade adequada é a
poluição das bacias da região”, alerta.
Acordo foi feito sem licitação e publicidade, e proporcionou vantagem ilegal a empresas contratadas
Foto: Roberto Stuckert
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília (DF),
decidiu nesta quarta-feira (25) manter válida decisão de 2016 que anulou
acordo de cooperação técnica entre a Eletrobrás e as empresas Andrade
Gutierrez, Odebrecht e Camargo Corrêa para realização dos estudos de
viabilidade das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Em 2017 as empresas haviam recorrido da decisão – chamada de acórdão
–, alegando, em resumo, que o texto não abrangia todos os itens
discutidos no processo. Em decisão unânime da Quinta Turma relatada pela
desembargadora federal Daniele Maranhão, o tribunal considerou que não
houve incongruência no texto do acórdão.
“O julgador não está obrigado a analisar pormenorizadamente todos os
argumentos apresentados pelas partes, tendo por obrigação apresentar os
fundamentos que motivaram a sua conclusão, entre os quais se incluem
aqueles aptos a infirmar (invalidar) as conclusões externadas na decisão
proferida”, diz trecho da ementa da nova decisão do tribunal.
“As embargantes não lograram êxito em demonstrar vício (erro) no
acórdão, mas tão somente inconformismo”, registram os procuradores
regionais da República Eliana Torelly e Felício Pontes Jr., que
representam o MPF no caso.
Anulação confirmada – A ação do MPF pedindo a nulidade do acordo de cooperação técnica e de todos os atos dele decorrentes foi ajuizada em 2007.
A finalidade do acordo era a conclusão dos estudos de viabilidade
técnica, econômica e ambiental, que compreendia a elaboração de um novo
estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental, revisão do
inventário do potencial hidroenergético da bacia do rio Xingu, estudo
de natureza antropológica, avaliação ambiental integrada da bacia e
respectivo Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável, além das
adequações necessárias aos estudos de engenharia com base nos novos
estudos realizados com a celebração do acordo.
Segundo o MPF, o acordo de cooperação técnica é nulo por dispensa
indevida de licitação, injustificável restrição à publicidade de
instrumento público, e criação ilícita de vantagem competitiva em favor
das empresas privadas que participaram do acordo, depois contratadas
para realizar as obras de Belo Monte, que tiveram um custo total de R$
28 bilhões.
As empresas e o governo ainda têm direito a recurso, mas, ao fim do
processo, elas podem ser obrigadas a devolver o dinheiro repassado para
os estudos e ainda se retirar da obra da usina. O valor total dos
estudos de Belo Monte nunca foi divulgado, mas pode passar de R$ 10
milhões.
“Vamos procurar recuperar para os cofres públicos o dinheiro pago
pela Eletrobrás a essas empreiteiras”, disse em 2016 o procurador
regional da República Felício Pontes Jr.
Leilão comprometido – A aliança entre a Eletrobrás e
as empreiteiras pode ter influenciado de maneira determinante o
resultado do leilão de Belo Monte, ocorrido cinco anos depois da
assinatura do acordo, em 2010. As empreiteiras se retiraram da
concorrência e ficaram apenas com a fatia segura do projeto da usina, as
obras de construção civil, deixando possíveis riscos para os sócios da
Norte Energia S.A.
“O ajuste (acordo de cooperação técnica) permitiu que a administração
concorresse indevidamente para o favorecimento das três empreiteiras,
que obtiveram informações privilegiadas, de modo a interferirem e
condicionarem, de forma irregular, o comportamento de possíveis
competidores”, disse a procuradora regional da República Eliana Torelly.
Do MPF-PA, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/04/2018
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A gestão e valorização da diversidade têm sido um grande diferencial
para as empresas que querem obter sucesso em seus mercados de atuação. E
por conta disso, muitas têm adotado o discurso da diversidade, mas sem
incluírem em seus quadros funcionais mulheres, negros, LGBT+, pessoas
com deficiência e idosos. E por vezes, quanto incluem não retém e não
contemplam essa parcela da população no plano de carreira.
Para explicar esse tipo de atitude, Liliane Rocha*, consultora
especializada em Sustentabilidade e Diversidade e fundadora da Gestão
Kairós, criou o termo Diverstywashing que é inspirado
em outro também bastante usado na área de sustentabilidade: o
“Greenwashing” para se referir às empresas que usam o discurso da
sustentabilidade apenas para autopromoção.
Exemplos de Diversitywashing é quando as empresas criam campanhas de
comunicação e lançam produtos com foco em atender os públicos de
diversidade, mas não têm uma gestão ou políticas com foco na diversidade
estabelecidas. “Sempre trabalhei essa questão e vi que, por um lado, as
empresas começaram a ter mais diversidade nas propagandas e nos seus
posicionamentos. Por outro, os casos discriminatórios relacionados a
essas empresas continuaram sendo relatados, infelizmente. Além disso, os
percentuais de diversos nos cargos de liderança caiu de 2010 para
2016.”, conta Liliane Rocha, especialista que tem 14 anos de experiência
na área.
No que se refere à Diversidade apesar de várias pesquisas revelarem
que empresas com políticas de diversidade são mais lucrativas, ainda há
muito o que melhorar. “Infelizmente temos visto muitas empresas fazendo
Diversitywashing e metendo os pés pelas mãos. São diversos exemplos, do
que não fazer. A campanha da marca sueca H&M que usou um menino
negro usando um moleton com mensagem que o comparava a um macaco é só
uma delas. Para adotar a valorização da diversidade como deve ser é
necessário gestão do tema. Transparência com stakeholders. Esforço
coordenado, entre outros”, explica Liliane Rocha.
Em 2018, a McKinsey publicou o estudo “A diversidade como alavanca de
performance” realizado com mais de 1.000 empresas em 12 países, onde
demonstra que empresas que tem mais equidade de gênero na liderança tem
uma probabilidade 21% maior de ter margem de lucratividade superior à de
seus pares. E aquelas que têm equidade racial na liderança uma
probabilidade 33% maior de ter margem de lucratividade superior à de
seus pares.
Portanto, de nada adianta as empresas fazerem Diversitywashing para
vender mais ou se autopromover, o que dá realmente valor para as
empresas é sair do discurso e adotar a valorização da diversidade de
forma completa. “O investimento em desenvolvimento é essencial para
auxiliar os profissionais diversos a chegar aos cargos de gestão. E só
quando existe diversidade na liderança que a coisas podem começar a
realmente mudar”, finaliza Liliane Rocha.
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