A gente não se cansa de acompanhar o Ousado. Ainda mais quando é pra trazer notícias tão boas dele. Como já contei aqui no Conexão Planeta outras vezes, esse macho de onça-pintada se tornou um dos símbolos da tragédia que aconteceu no Pantanal em 2020, quando quase 30% do bioma foi destruído por incêndios florestais. Em setembro do ano passado, ele foi encontrado no Parque Estadual Encontro das Águas, próximo a Porto Jofre, no Mato Grosso, pela equipe de resgate de fauna da organização Ampara Silvestre.
E na semana passada, o fotógrafo Ailton Lara fez vários registros de Ousado, em que ele aparece forte e saudável. Uma dessas imagens, que reproduzimos aqui na abertura deste post, estão entre as divulgadas pela Ampara Silvestre em suas redes sociais. Já no sábado, 24/07, a organização divulgou o vídeo, mais abaixo, em que o macho aparece junto com uma fêmea, acasalando:
“Imagens que nos trazem esperança. A equipe da Ampara Silvestre avistou na tarde de ontem o macho Ousado e sua parceira em momentos de acasalamento…
Durante esses 9 meses de monitoramento, em parceria com a equipe da Panthera, pudemos observar sua reintrodução e adaptação, acompanhar seu desenvolvimento pós-tragédia, e nos enche de esperança concluir que ele está pronto para sua missão mais importante: perpetuar a espécie.
Esperamos, em breve, ter boas notícias de mais uma mamãe em vida livre para ampliar o número de indivíduos em nosso Pantanal”.
O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) expediu, na última segunda-feira, 19/07, uma recomendação ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e à empresa Voltalia Energia do Brasil a suspensão das atividades de implementação de um parque eólico no município de Canudos. O complexo está localizado próximo ao único habitat da arara-azul-de-lear(Anodorhynchus leari) no Brasil. A espécie é considerada em perigo de extinção, de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Pelo último censo, realizado em 2019, estima-se que sejam apenas 1.500 aves.
Conforme relatamos aqui, nesta outra reportagem no início de junho, além do temor de especialistas de que as 80 turbinas eólicas possam causar risco de colisão para as araras, há ainda um outro problema: a Voltalia, multinacional francesa responsável pelo empreendimento, não precisou apresentar um licenciamento ambiental completo para obter a permissão para a obra.
Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece a exigência de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), além de audiências públicas, para plantas eólicas que estejam situadas em “em áreas de ocorrência de espécies ameaçadas de extinção e endemismo restrito”.
Apesar disso, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) aprovou o projeto somente com a apresentação do licenciamento simplificado.
Segundo o MP da Bahia, “a instalação do empreendimento pode causar impactos irreversíveis para a fauna da região e para as comunidades tradicionais”. No caso do Inema, o Ministério Público recomendou que ele suspenda ou mesmo, anule, a atual licença ambiental do parque, e após a apresentação do EIA/Rima pela Voltalia, seja realizada ainda “audiência ou reunião técnica com ampla participação da população e comunidades afetadas”.
Na área de implantação do complexo eólico de Canudos, que tem seu custo estimado em R$ 500 milhões, vivem onze comunidades, com aproximadamente 600 famílias, que de acordo com apuração do Ministério Público da Bahia “não foram ouvidas sobre a instalação do empreendimento em uma região que utilizam para desenvolver atividades produtivas, culturais e sociais”.
Graças a projetos de conservação na Caatinga baiana, a população de araras-azuis-de-lear passou de 228 para 1.500 indivíduos em 20 anos
Silêncio dos órgãos envolvidos
A denúncia sobre a obra polêmica partiu da Fundação Biodiversitas, organização sem fins lucrativos, que há 30 anos mantem uma área particular de 1.500 hectares na região, a Estação Biológica de Canudos, onde é realizado, em parceria com outras entidades nacionais e internacionais, um programa de conservação que inclui o monitoramento da arara-azul-de-lear, a proteção das áreas de alimentação e dormitórios, além de pesquisas sobre comportamento e projetos de educação ambiental.
“Estamos muito felizes pelo MPBA ter se envolvido neste processo e exigido do Inema que ele cumpra as determinações legais do licenciamento ambiental estadual. O Inema cometeu uma falha grave ao conceder a licença à empresa sem exigir estudos específicos sobre o impacto do complexo eólico sobre as araras-azuis-de-lear, uma espécie globalmente ameaçada de extinção. A empresa, por sua vez, aproveitou dessa falha e preferiu ignorar o problema, insistindo em dizer que possui as licenças adequadas ao projeto. O ideal seria que o projeto eólico em Canudos, na rota das araras, fosse cancelado. Os estudos vão mostrar isso e a Voltalia vai chegar a conclusão que terá que rever seus planos no Raso da Catarina”, afirma Glaucia Drummond, superintendente da Biodiversitas.
Desde que o caso veio a público há mais de um mês, tanto o Inema, como o Cemave – centro nacional voltado para a conservação das aves silvestres ligado ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) – não responderam aos e-mails enviados para suas assessorias de imprensa ou fizeram qualquer tipo de declaração sobre o assunto.
O Conexão Planeta entrou em contato também com a assessoria de imprensa da Voltalia do Brasil. A empresa informou que recebeu o documento do Ministério Público da Bahia no começo da semana e que o está “avaliando com a devida atenção que lhe cabe, pelo Departamento Jurídico da companhia, e será respondido dentro do prazo estabelecido”. Como já disse anteriormente, a multinacional alega que possui todas as licenças necessárias para a fase atual do projeto e que segue rigorosamente a legislação brasileira.
“A empresa ratifica que está à disposição de todos os segmentos da sociedade e informa que a implementação deste projeto ocorre de forma transparente e em cooperação com as comunidades locais, além do respeito à biodiversidade e ao Brasil, país onde está presente há mais de 15 anos”, destacou em nota.
A localização do Complexo Eólico de Canudos está indicada com a seta vermelha, onde aparecem as linhas finas laranjas. A mancha clara, em verde, apresenta a área de uso da arara-azul-de-lear na região do Raso da Catarina
Petição contra a obra: pela proteção da arara-azul-de-lear
Há cerca de um mês, indignada com a construção do complexo eólico em Canudos, uma jovem ativista ambiental, de 18 anos, criou uma petição online no site Change.org pedindo a suspensão da obra. Náthaly Marcon é auxiliar de veterinária, apaixonada por araras-azuis, e decidiu tomar a iniciativa de chamar a atenção sobre a questão.
Inicialmente, como mostramos neste outro post, a petição endereçada ao presidente executivo da Voltalia, Sebastian Clerc, ao presidente da empresa no Brasil, Robert Klein, e ao governador da Bahia, Rui Costa possuia uma versão apenas em português. Agora ela pode ser encontrada em inglês e francês porque o caso teve repercussão internacional.
Atualmente a petição já tem mais de 60 mil assinaturas. Se você também é contra a obra e gostaria que as autoridades locais se pronunciassem a respeito, assine e compartilhe este link.
A araras-azul-de-lear faz longos voos durante o dia, deixando seu dormitório bem cedo, no período da manhã, e voltando ao final do dia
*Texto atualizado às 21h30 para incluir a resposta da Voltalia à reportagem
A ilha italiana da Sardenha está queimando há mais de 60 horas. Autoridades locais já decretaram estado de emergência. Estima-se que as chamas tenham destruído cerca de 20 mil hectares de florestas, mas a área pode ser ainda maior. 1.500 pessoasforam obrigadas a abandonar suas casas. E muitos animais que não conseguiram fugir do fogo morreram carbonizados. Uma cena desoladora. As imagens de aves, ovelhas e cavalos queimados vivos ou mortos sufocados pela fumaça são chocantes.
O incêndio começou no sábado (24/07) na província de Oristano e logo se espalhou para mais de dez localidades. Milhares de árvores centenárias e até, milenares, foram queimadas. De acordo com informações de sites italianos, mesmo com toda ajuda vinda de outros países, como Grécia e França, para tentar controlar o fogo, esse parece ser um desastre ambiental irreparável.
No domingo (25/07), a União Europeia enviou dois aviões para combater às chamas. Eles se unem a outros onze que já estão na Sardenha. Os mais de 7 mil bombeiros e voluntários enfrentam dificuldades porque ventos muitos fortes e quentes servem de combustível para novos focos de incêndios.
Imagem impressionante do helicóptero em meio às labaredas
A clínica veterinária Duemari, em Oristano, está tratando vários animais queimados pelo fogo na região.
Um dos primeiros hospitalizados é um cão que agora se tornou um símbolo da Sardenha que queima. Ele foi batizado de Ângelo. Como é um cão pastor, para proteger seu rebanho de ovelhas, ficou parado enquanto as chamas o envolviam. Apesar das feridas profundas, os veterinários estão esperançosos que ele irá sobreviver.
Ângelo virou um símbolo da tragédia em Oristano
Ainda não se sabe exatamente quais foram as causas do incêndio. A ilha foi atingida recentemente por uma onda de calor extremo oriunda da África. Assim como outras regiões do planeta, a crise climática também pode ser uma das responsáveis pela catástrofe.
No último domingo, a cidade de Dubai, capital dos Emirados Árabes Unidos foi atingida por chuvas torrenciais. Mas isso nem é tão impressionante. O que chama a atenção nesse caso é que o governo do país afirma que as chuvas foram criadas por drones especialmente elaborados para “semear” nuvens.
A iniciativa serviu para diminuir os efeitos de uma forte onda de calor que tem atingido a cidade, que é uma das mais tecnológicas do mundo. Esse aumento repentino na temperatura é o mesmo que tem atingido países mais frios também localizados no hemisfério norte, como Canadá e Estados Unidos, que têm experimentado as temperaturas mais quentes dos últimos tempos.
Em Dubai, a temperatura média chegou a alcançar 48 graus nas últimas semanas. Com isso e sem previsão de chuvas, o governo resolveu inovar e colocou drones para “fazer chover”. Felizmente, a ideia deu certo e melhorou um pouco a situação do calor no país.
Os drones foram desenvolvidos em parceria com pesquisadores da Inglaterra. O funcionamento é relativamente simples: enquanto voam, eles reunem dados meteorológicos e emitem uma descarga elétrica nas nuvens.
A ideia é que esse pequeno pulso elétrico ajude no agrupamento de gotículas de água e outras partículas, que formam novas nuvens, essas maiores, que realmente têm chances de criar chuvas. Por estar localizado em uma zona desértica, Dubai normalmente vê apenas cerca de dez centímetros de chuva por ano.
Porém, apesar de representar uma esperança para locais como Dubai, o desenvolvimento de tecnologias capazes de alterar o clima em algumas áreas pode ser motivo de preocupação em outros locais. Segundo especialistas, equipamentos do tipo poderiam ser transformados em armas que “roubam” chuvas de um local e as levam para outro, provocando estiagens em países inimigos.
Mas ainda bem que por enquanto pelo menos, os drones só estão sendo usados para o bem.
Peixes antigos fossilizados encontrados no Egito que sobreviveram em águas quentes
Peixes fossilizados que datam de 56 milhões de anos foram descobertos no deserto oriental do Egito, lançando luz sobre um período em que a Terra estava passando por um aquecimento massivo.
Restos de uma baleia primitiva de 40 milhões de anos atrás estão no pavimento do deserto de Wadi El-Hutan, 100 quilômetros ao sul do Cairo. Cerca de 400 esqueletos da antiga vida aquática: mamíferos e répteis foram identificados no que costumava ser uma antiga linha costeira.CRIS BOURONCLE/AFP via Getty Images
Restos de uma baleia primitiva de 40 milhões de anos atrás estão no pavimento do deserto de Wadi El-Hutan, 100 quilômetros ao sul do Cairo. Cerca de 400 esqueletos de vida aquática ancestral, como mamíferos e répteis, foram identificados no que costumava ser uma antiga linha costeira. -
CRIS BOURONCLE / AFP via Getty Images
16 de junho de 2021
CAIRO - Uma equipe de pesquisa egípcia que inclui as universidades egípcias Mansoura e Tanta, a Universidade Americana do Cairo e a Universidade de Michigan descobriu recentemente os restos de fósseis de vertebrados de sedimentos que datam de 56 milhões de anos em um local no deserto oriental do Egito.
A revista científica Geology publicou no mês passado os detalhes da descoberta de criaturas que resistiram a altas temperaturas globais em um local que hoje fica no deserto egípcio.
Vários tipos diferentes de peixes ósseos foram encontrados, incluindo o moonfish, o hatchetfish de profundidade e uma espécie predatória conhecida como boneytongues, que ainda têm parentes vivos de seu gênero.
De acordo com o estudo, esses peixes vivem atualmente em partes dos oceanos Índico e Pacífico, e os peixes descobertos viviam em um ambiente hostil e resistiram ao Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno (PETM), durante o qual o planeta testemunhou um aquecimento global sem precedentes.
Sana al-Sayed, vice-diretora do Centro Universitário de Fósseis de Vertebrados de Mansoura e principal autora do estudo, disse a Al-Monitor que esta descoberta é um evento científico único e esta é a primeira vez que diferentes tipos de peixes daquele importante período no a história geológica foi documentada nos continentes do sul (África, Ásia, América do Sul, Austrália e Antártica).
Os peixes são sensíveis a qualquer mudança climática, acrescentou ela, e esta é a primeira vez que a descoberta de um fóssil de peixe lunar foi registrada na África.
Hesham Sallam, professor de escavações de vertebrados da American University of Cairo e da Mansoura University, disse ao Al-Monitor: “Lemos o passado para sermos capazes de compreender o presente e prever o futuro. Um dos tópicos importantes de interesse para os humanos contemporâneos é a identificação do aquecimento global. Existem vários episódios de aquecimento global na história geológica que atingiu a Terra há milhões de anos, nomeadamente 10 milhões de anos após a extinção dos dinossauros. O aquecimento global está servindo como um modelo que ajuda a entender o comportamento dos animais vivos para ser capaz de imaginar o que acontecerá com eles no futuro com base no que aconteceu anteriormente com esses peixes. ”
Salam acrescentou: “Estamos tentando encontrar [mais detalhes] sobre o período de tempo que remonta a 56 milhões de anos atrás. A Terra foi atingida por um aquecimento global que durou 200.000 anos, a temperatura do mar era de 40 graus Celsius e não havia pólo norte e pólo sul. Toda a neve derreteu e a Terra foi dominada por florestas tropicais; essas florestas foram encontradas no Ártico e na Antártica ”.
Ele disse que todas as espécies do período PETM que foram descobertas no passado foram encontradas nos continentes do norte da América do Norte e Europa, enquanto nenhum fóssil foi descoberto na África, Ásia, América do Sul e Austrália até recentemente. Dada a importância de tais descobertas, a equipe de pesquisa egípcia, chefiada por Salam, começou a pesquisar a área no Deserto Oriental do Egito em 2015.
Um dos peixes mais importantes encontrados, disse ele, foi o peixe-lua, que é o mais antigo a ser descoberto até agora. Além disso, disse ele, foram encontrados vestígios de vida em peixes que viviam em águas de alta temperatura nas profundezas do mar para atingir as correntes frias.
Salah Moselhy, chefe da Autoridade Geral para Desenvolvimento de Recursos Pesqueiros e membro do Conselho de Pesquisa Animal e Pesqueira da Academia de Pesquisa Científica e Tecnologia, disse a Al-Monitor: “Pode ser verdade que esses peixes foram encontrados no Deserto Oriental por duas razões. A primeira é que eles se adaptaram como outras espécies ao ambiente em que vivem, e a segunda é que a temperatura dos peixes, em geral, se adapta à temperatura da água em que vivem ”.