sábado, 10 de dezembro de 2016

A natureza traz mais felicidade do que o dinheiro

Para fugir do estresse causado pelos centros urbanos, muita gente busca abrigo ao ar livre, em meio a áreas verdes. A percepção de que a natureza nos faz bem talvez seja óbvia, mas dois estudos buscaram desvendar cientificamente as sensações que o verde nos causa e as razões para isso.
Não é novidade que a natureza oferece abrigo ao estresse da rotina urbana, mas estudos buscaram uma resposta científica para isso. (Foto: Michigan Municipal League/Flickr)


Um estudo da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, constatou que quanto mais área verde no bairro onde moram, mais felizes as pessoas dizem ser. Esta pesquisa, publicada recentemente no International Journal of Environmental Research and Public Health (Ijerph), utilizou duas bases de dados para chegar à conclusão.


A primeira delas é um questionário sobre saúde que ouviu 2500 moradores de 229 bairros da cidade, que responderam sobre níveis de depressão, ansiedade e estresse. As respostas foram comparadas com o índice de vegetação presente em cada quarteirão onde essas pessoas moravam.



A descoberta mais impressionante do artigo talvez seja o fato de que felicidade está mais atrelada à natureza do que à situação social, pois os entrevistados que viviam em quadras com 10% menos áreas verdes eram mais propensos a relatar estresse e depressão. Assim, por exemplo, uma pessoa “pobre” em cuja rua tem mais árvores é mais feliz do que uma rica vivendo numa sem árvores.



Outra pesquisa, feita pela Universide de Exeter, no Reino Unido, que ouviu 10 mil pessoas, considerou o lugar onde elas moravam e o nível de satisfação pessoal e saúde mental. Eles descobriram que as sensações de viver perto de áreas verdes traz sensações semelhantes à de conseguir um novo emprego ou casar-se, por exemplo. Essas pessoas também têm dez vezes mais saúde mental e física, aponta o estudo. (Saiba mais)



Todos já sabem, mas não custa reforçar: criar espaços verdes nos centros urbanos é essencial para estimular hábitos de vida mais saudáveis, criar cidades mais humanas, habitáveis e seguras. E pessoas mais felizes.
(Foto: Philippe Santerre/Flickr)

Além do ar puro: os benefícios econômicos da arborização urbana

Se você só puder plantar uma árvore, plante-a em uma cidade.


A frase de David Nowak, PhD em Arborização Urbana pela Universidade da Califórnia, é categórica. Pesquisador-líder do US Forest Service, Nowak tem trabalhado em pesquisas que buscam avaliar os benefícios econômicos da arborização nas cidades. Ele criou o iTree, software que oferece às cidades as ferramentas necessárias para produzir inventários detalhados das árvores urbanas e calcular seu valor em dinheiro. O trabalho comprovou o que antes era apenas uma hipótese: as árvores não só purificam o ar que respiramos e amenizam as temperaturas, mas podem gerar uma economia financeira significativa aos centros urbanos.



Uma pesquisa conduzida em Austin, capital do Texas, utilizando o iTree, estimou que as árvores geram uma economia anual de quase US$ 19 milhões somente a partir da redução dos custos decorrentes do uso de energia. As 33,8 milhões de árvores que cobrem em torno de 31% do território da cidade armazenam em torno de 7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), quantidade equivalente a um custo de US$ 242 milhões.



Além da armazenagem, as árvores também são responsáveis pela remoção de 336 mil toneladas de CO2 por ano da atmosfera, o equivalente a US$ 11 milhões anuais, e reduzem a poluição do ar, em um valor estimado em US$ 3 milhões. Consideradas todas as variáveis, o valor compensatório das árvores de Austin é estimado em US$ 16 bilhões.



Austin, Texas: o valor compensatório das árvores na cidade é estimado em 16 bilhões
de dólares (Foto: Sergey Galyonkin/Flickr)



Os números impressionam. Para calculá-los, o iTree usa algoritmos que medem o impacto financeiro da arborização e, ao mesmo tempo, permitem avaliar futuras estratégias de plantio. Desde o lançamento, o programa desenvolvido por Nowak passou por modificações a fim de abranger novas possibilidades de cálculos e, consequentemente, diferentes maneiras de mensurar os benefícios das árvores. Atualmente, o pesquisador trabalha para calcular o valor econômico de outros três impactos da arborização urbana: a redução na temperatura, a absorção dos raios ultravioletas e – talvez o mais desafiador – a redução do estresse.


Estudos já analisaram a influência positiva exercida pelas árvores no que diz respeito aos níveis de estresse das pessoas – morar próximo a áreas verdes deixa as pessoas mais felizes e pode impactar também os índices de agressão e violência. De posse de informações como essa e utilizando imagens de satélite e os dados gerados pelo iTree, Nowak quer classificar essa inter-ralação:



 “Os níveis de cortisol, hormônio diretamente ligado ao estresse, são mais baixos quando as pessoas veem áreas verdes. A partir disso, queremos desenvolver um índice de quanto verde você pode ver a partir de qualquer ponto de uma cidade, como seu corpo reage a essas áreas verdes e qual o valor econômico dessa relação”.



Com o processo de urbanização ainda em curso, mesmo em cidades de países desenvolvidos, é possível perceber o declínio da cobertura verde nos centros urbanos. Os Estados Unidos, por exemplo, registram uma queda de em média quatro milhões de árvores por ano.



 Nesse contexto, a possibilidade de calcular os ganhos econômicos da arborização pode contribuir para reverter uma tendência potencialmente catastrófica para a vida nas cidades, além de ajudá-las a pensar em suas árvores de forma estratégica.

Plantando ar saudável: uma solução natural para solucionar a poluição e o calor nas cidades

Este post foi originalmente escrito por  e publicado no TheCityFix.
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A natureza é capaz de ajudar as cidades a enfrentar problemas como o ar muito sujo ou muito quente? Com base em um novo relatório divulgado pela The Nature Conservancy – em colaboração com C40 Cities Climate Leadership Group – a resposta parece ser um qualificado “sim”.


O relatório “Planting Healthy Air” (Plantando Ar Saudável, em tradução livre) identifica o potencial retorno do investimento do plantio de árvores em 245 cidades globais, que atualmente abrigam cerca de um quarto da população urbana do mundo.


Através da coleta e análise de informações geoespaciais sobre a cobertura florestal, de material particulado e densidade populacional, e alavancando os estudos existentes, o estudo estima o escopo de árvores de rua atuais e futuras para tornar o ar urbano mais saudável. Os benefícios que as árvores poderiam dar às cidades serão ainda mais cruciais no futuro, conclui o estudo, já que um quarto de milhão de pessoas pode morrer a cada ano devido ao aquecimento urbano até 2050, a menos que as cidades tomem medidas proativas para se adaptarem ao aquecimento global
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(Árvores urbanas, cidades resfriadas: O cimento e o concreto das cidades absorve a energia do sol e a irradia de volta para o ambiente, esquentando o ar nas cidades. As árvores fornecem sombras e previnem que o concreto esquente, além de resfriar o ar pela transpiração de água. As árvores podem resfriar bairros em cerca de 4º Fahrenheit)



Enquanto as árvores já existentes da cidade limpam e resfriam o ar para mais de 50 milhões de pessoas, um investimento global de U$ 100 milhões por ano em plantio de árvores e manutenção poderia favorecer até 77 milhões de pessoas com cidades mais frias e oferecer para 68 milhões de pessoas reduções consideráveis de partículas de poluição do ar.


Novas árvores nas cidades oferecem impacto potencial grande,  mas manter árvores existentes da cidade é muito importante, pois muitas cidades globais estão perdendo suas árvores, devido ao desenvolvimento, às pragas, agentes infecciosos, e a falta de orçamento para manutenção.


O relatório “plantando ar saudável” e o website com um mapa interativo fornecem, por meio dos estudos de caso das cidades que o relatório utiliza, recursos para aqueles interessados em utilizar a natureza para melhorar o ar. Esses estudos podem auxiliar líderes urbanos e oficiais de saúde pública a endereçar tópicos importantes sobre arborização e qualidade do ar, tais como quais cidades e quais bairros podem ser mais auxiliados, a fração do problema de qualidade do ar que pode ser resolvida pelas árvores, quanto investimento é necessário, e onde as árvores equivalem ao custo-benefício. Em muitas cidades, um bairro individual pode oferecer um retorno muito maior sobre o investimento do que a média da cidade, e os mapas do relatório são uma ferramenta útil para os líderes da cidade decidirem onde fazer um investimento em árvores na cidade.
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Árvores urbanas, melhor qualidade do ar: árvores nas cidades podem remover partículas de poluição na vizinhança imediata. E quando plantadas entre uma fonte de poluição e a construção de um apartamento, escola ou hospital, as árvores podem ajudar a proteger a saúde das pessoas.


Para aqueles que buscam maneiras de encaminhar os desafios da qualidade e calor do ar, a arborização urbana é a única solução que resolve os dois problemas simultaneamente. Além disso, as árvores fornecem benefícios como habitat da vida selvagem, controle de inundações, redução dos níveis de carbono e locais para lazer, que podem ter valor significativo para a cidade.


Apesar de a arborização urbana sozinha não resolver os desafios do calor e da poluição, é uma solução que pode ser posta em prática hoje e é comparável em custo e eficácia em soluções como limitar o tráfego de automóvel, pintar telhados de branco ou instalar purificadores em chaminés.


No lugar certo, árvores podem ajudar a deixar nosso ar mais saudável e nossas cidades mais verdes e habitáveis.



Visite nature.org/healthyair para explorar o mapa interativo.

A importância da arborização urbana e o que (não) sabemos sobre o verde

 
 
As sombras dos edifícios se alongam pelas calçadas. Os prédios se apresentam em diversas cores, quase nenhuma verde. As árvores, conhecidas por sua patente desta cor, são poucas nos centros urbanos. Por isso nos servimos das sombras das construções verticais, frutos concretos de nossa urbanização, para aliviar o calor potencializado pelo asfalto. No entanto, a arborização urbana ultrapassa o papel estético de suprir a carência de nossas retinas (já um tanto acostumadas) pelo verde e o papel de resfriamento ao sombrear nossas acaloradas avenidas e calçadas. As árvores são plurais em suas funções urbanas, mas já não sabemos tanto sobre elas.


Sabemos que as áreas verdes das cidades ficam restritas aos parques, jardins botânicos e algumas ruas distintas – em Porto Alegre, uma dessas ruas até recebeu a honraria de “mais bonita do mundo” (foto). Visitas aos espaços verdes das cidades, como praças e parques, são imediatamente associadas ao relaxamento, à fuga da rotina da qual precisamos para manter nossa espiritualidade em nível razoável. Hoje mais da metade da população mundial mora nas cidades. Até 2050 estima-se que este total chegará aos 70% da população mundial.
(Foto: Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho/WikiCommons)


Em publicação sobre a importância de manter as árvores em centros urbanos, a zootecnista Maria Luiza Nicodemo e o engenheiro agrônomo Odo Primavesi destacam que entre os papéis desempenhados pela arborização urbana estão: “a redução da poluição do ar, interceptação da água de chuva, sombreamento e estabilização da temperatura, redução do ruído e promoção de melhorias no bem-estar psicológico e físico”.


No que tange a melhoria do bem-estar, o estudo abrange teses e hipóteses sobre o poder da vegetação urbana no controle de estresse. Apresenta, inclusive, estudos realizados em conjuntos habitacionais de áreas mais pobres. Esses locais, quando “situados próximos a áreas verdes apresentaram menor índice de agressão e de violência do que moradores de conjuntos habitacionais situados em áreas menos vegetadas”.



Além desse fator, os impactos mais latentes são os que falam sobre a temperatura, sensação térmica e a umidade relativa do ar. O microclima do ambiente urbano é naturalmente elevado. Dessa forma, o calor se torna insuportável, pois “é refletido pelo material usado nas construções urbanas e produzido pelas atividades humanas associadas ao uso de combustíveis. A menor troca de ar causada pela restrição dos ventos contribui para manter o calor”, aponta o documento de Nicodemo e Primavesi.


As árvores, argumentam os autores, tornam o ambiente mais agradável ao proteger as pessoas da radiação solar direta e da radiação de ondas longas emitidas pelos prédios. Da radiação solar captada pela copa das árvores, “de 10% a 25% é refletida de volta para o espaço, grande parte é usada para transpiração das plantas e uma pequena parte aquece o ar ou aquece partes das árvores”.



Temos exemplos latentes de como nossas cidades não foram planejadas de maneira a beneficiar o bem-estar das pessoas. Contudo, estamos, cada vez mais, em busca da harmonia entre crescimento urbano e meio ambiente. Assim como qualquer setor urbano, a arborização das ruas e avenidas está condicionada à qualidade e dedicação ao planejamento. Encaixar as árvores dentro da disposição atual de cidades é uma tarefa complicada, mas é preciso estuda-la. De acordo com o Manual Técnico de Arborização Urbana, feito pela Prefeitura de São Paulo, “locais arborizados economizam recursos públicos, por exemplo, na manutenção de áreas pavimentadas.


Áreas arborizadas quando comparadas àquelas expostas diretamente ao sol sofrem menos com os fenômenos de contração e dilatação, diminuindo seu desgaste”. O Comitê de Trabalho Interinstitucional para Análise dos Planos Municipais de Arborização Urbana no Estado do Paraná também tem um manual para elaboração de um Plano Municipal de Arborização Urbana.  Vale a leitura.



Em entrevista para o Instituto Humanitas Unisinos, a bióloga e mestre em Botânica Sistemática, Maria do Carmo Sanchotene, assevera que planos de arborização são relativamente recentes nas cidades brasileiras. “São poucas as capitais e cidades brasileiras que têm um plano bem estruturado. A elaboração desses planos é uma necessidade premente, porque eles reúnem todas as diretrizes e métodos que devem ser adotados para a preservação e expansão das árvores no meio urbano de acordo com as características físicas e geográficas do município que está sendo estudado”. Acesse a entrevista na íntegra.



O benefício da arborização urbana aliado ao crescimento da população nas cidades é implícito. A pontualidade do tema gira em torno de tópicos atuais como o aquecimento global e os objetivos do desenvolvimento sustentável. No entanto, apesar de fácil acesso a informações dessa ordem (acredite, uma rápida pesquisa por arborização urbana fornece material de pesquisa suficiente) a leitura do verde é rara.



Em um ensaio publicado no Medium, a página “Inoperante – Ensaios” destaca, entre reflexões, um estudo do professor e pesquisador John Warren sobre a nossa capacidade de enxergar a cor verde. A autora ressalta: “isso acontece, segundo Warren, porque vivemos em um planeta dominado pela cor verde, e portanto, faz sentido que as forças naturais de seleção tenham nos equipado com olhos que são particularmente sensíveis à luz verde do espectro”.



O texto, então, ironiza como, mesmo com essa evolução cognitiva, muitos de nós não conseguem distinguir a salsa do coentro na feira. Estaríamos, portanto, em um momento de analfabetismo verde. As árvores e as cidades não se misturam e, com a distância, se vai o interesse.



“Ficamos meio analfabetos. Não sabemos ler o ambiente no nosso entorno e por isso jogamos uma habilidade espetacular fora. Também é verdade que parece que precisamos cada vez menos saber distinguir entre espinafres e rúculas. O mundo no qual você nasceu é dominado de cinza, e dominado por pessoas que produzem os alimentos, os cosméticos, os remédios, as fibras do vestuário e uma infinidade de outros produtos vegetais para nós. É bem fácil mesmo nunca termos tido a chance desse aprendizado. Somos os meninos bobos da cidade grande.”



Combatendo desconhecimento das árvores, recentemente foi criado um mapa interativo de onde estão as árvores no Estado de São Paulo. As colaborações podem ser feitas por qualquer pessoa por meio da plataforma do Google Maps. O projeto se chama Inventário das Árvores. Vale a pesquisa. Encontra-se de abacateiros e jabuticabeiras até jacarandás. E muitas árvores que nem conhecia.




O Desenvolvimento Sustentável se apresenta como um modelo de reversão da atual sistemática de produção e consumo. Alterar o modo de exploração do meio ambiente e como (e com quais ferramentas) respondemos por nossos problemas é um dos objetivos de nosso tempo. Não digo que precisamos de um letramento técnico no que tange árvores e vegetações, mas é importante estar atento ao papel do verde em nossas vidas. Saber, ainda, como o desconhecimento técnico não nos limita como fomentadores do debate sobre a importância das árvores no ambiente urbano que a maioria de nós busca. Não precisamos saber as espécies arbóreas para saber que elas fariam bem para nós e para as ruas em que transitamos.


Cidade suíça utiliza árvores para amenizar o efeito das ilhas de calor

O ambiente urbano é notavelmente mais quente. A diferença de temperatura entre as áreas urbanas e as zonas rurais pode chegar a 4-5ºC. Esse contraste térmico, associado às ilhas de calor urbanas, pode provocar alterações na umidade do ar, nas chuvas e vento. As cidades têm estrutura que favorecem seu aquecimento: edifícios, indústrias e área asfaltada. O que, aliado aos recordes consecutivos do aquecimento global,  faz com que se busque novas estratégias para restringir o avanço dos termômetros nas cidades. Na Suíça, a estratégia é plantar árvores.


É disso que trata um projeto piloto realizado no município mais quente da Suíça: Sion.

Segundo o Serviço de Urbanismo e Cidadania da prefeitura, a temperatura média de Sion subiu 1°C nos últimos 20 anos. A iniciativa é parte de uma estratégia federal chamada Acclimatasion que parte dos pressupostos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e leva em conta que o efeito das ilhas de calor nas cidades será potencializado. O que representa um impacto negativo na qualidade de vida e na saúde dos moradores. Além de afetar a biodiversidade da região e tornar a cidade mais vulnerável à inundações e tempestades.

Caso precisasse ser designado por uma imagem, o projeto seria ilustrado por extensas áreas verdes, repletas de árvores.
(Foto: Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho/WikiCommons)
(Foto: Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho/WikiCommons)

Plantar árvores como estratégia

Segundo informações do Escritório Federal para o Ambiente da Suíça, a relação entre as alterações climáticas e a vegetação arbórea nas cidades é mal compreendida. Entre os principais benefícios da vegetação urbana, Sion lista:
  • Árvores podem fornecer a mesma frescura que cinco condicionadores de ar.
  • Em um dia ensolarado, um telhado regular pode chegar a 80ºC enquanto um telhado verde atingiria 30ºC.
O centro da cidade já recebeu algumas medidas de adaptação. Onde antes existia um estacionamento na avenida Roger Bonvin, agora existe uma área que recebeu 700 plátanos e 5.000m² de superfície verde. Além disso, o solo se tornou permeável, o que auxilia no umedecimento do ar e proporciona um microclima agradável. As árvores ainda estão com poucas folhas, mas a expectativa é que o clima se torne ainda mais ameno com o crescimento delas. Algumas fotos do local:
(Divulgação: sion.ch)
(Divulgação: sion.ch)

(Divulgação: sion.ch)
(Divulgação: sion.ch)


O projeto, no entanto, não se limita às áreas públicas. O governo mobilizou também proprietários de terrenos privados para que a cidade ganhasse ainda mais áreas verdes. Apesar de ser uma das estratégias de combate ao aquecimento global, o reflorestamento precisa ser feito em vasta escala. Ainda assim, as emissões de gases que intensificam o efeito estufa precisam ser reduzidas diretamente na origem, pois as árvores servem para amenizar o microclima urbano, mas não têm força suficiente para vencer as emissões geradas. A relação entre esses elementos é esclarecida nessa reportagem do Uol.


Em entrevista para a mesma reportagem, Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês), destaca como “um parque inteiro não sequestra nem o emitido por dez ônibus”, tomando a cidade de São Paulo como exemplo.


O projeto suíço serve, portanto, como um conjunto de bons exemplos que auxiliam os tomadores de decisão e a população a perceber instrumentos que, apesar do aquecimento global, podem favorecer a qualidade de vida e a preservação da cidade como um todo. Nesse sentido, o planejamento urbano pode e deve ser um forte aliado ao processo de adaptação das cidades contra o avanço do clima.


Grupos se unem para defender as 'ilhas verdes' de SP


Moradores fazem projetos de preservação e organizam mutirões de limpeza em seus bairros para proteger árvores, praças e parque
Felipe Resk e Paula Félix,
O Estado de S.Paulo
21 Agosto 2016 | 05h00

Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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 Quintino José Viana sonha com parque na Brasilândia
SÃO PAULO - Conhecida por suas paisagens tomadas por concreto e pelo cenário tipicamente urbano, a cidade de São Paulo também tem suas ilhas de verde. Elas são defendidas por moradores que se interessam por projetos de preservação e organizam mutirões de limpeza, cursos e atividades de aproximação com a comunidade. Os espaços estão distribuídos em diferentes pontos da capital e mobilizam dezenas de pessoas, cada um.


No Sumarezinho, zona oeste, a Praça das Corujas recebe atenção especial dos defensores do verde. O local, que é público, tem uma horta cuidada pelos moradores da região. “A gente promove ações de plantio, cursos de capacitação para a comunidade e para equipes da Prefeitura. Também ficamos atentos às políticas públicas sobre arborização e agricultura urbana”, diz a ambientalista Claudia Visoni, de 50 anos, que também é conselheira do Meio Ambiente da região de Pinheiros. “Os defensores do verde estão se articulando em coletivos independentes e estamos conseguindo somar forças.” 


Para o artista plástico Daniel Caballero, de 44 anos, o fascínio por plantas nasceu da vontade de conhecer a paisagem original de São Paulo. Com os estudos, ele redescobriu um tipo de vegetação que antes era comum na região, mas que foi sendo destruída. “No meio da Mata Atlântica, havia um grande campo de Cerrado”, afirma. “Era a paisagem de quando os portugueses chegaram e foi quase totalmente dizimada. As pessoas daqui perderam a conexão. Elas associam o Cerrado a outras áreas, como o Centro-Oeste.”  


Interessado pelo tema, Caballero resolveu começar em 2015 o “Cerrado Infinito”, iniciativa para criar um “mini-Cerrado” na Praça da Nascente, na Pompeia, zona oeste da capital. Hoje, ele produz mudas em casa e também faz incursões em terrenos baldios atrás de plantas para compor uma trilha que aumenta a cada sábado, dia dos mutirões. Cerca de 50 pessoas já participaram dos encontros, entre elas botânicos e biólogos. No Facebook, o projeto tem 1.120 curtidas. Segundo estima, já foram plantadas ao menos 40 espécies diferentes no projeto. São lantanas (“aquela florzinha multicolorida, que tem nos jardins das vovós”), araçás (“uma goiabinha, que dá nome ao cemitério”), lobeiras (“parecem com a berinjela, alimentam o lobo-guará”). Também tentou plantar pequi, “que não tem mais em São Paulo”, mas não deu certo. 


E se engana quem acredita ser fácil. “As pessoas não sabem o que é Cerrado, acham que é mato e mandam cortar. Só com a Prefeitura a gente já correu risco cinco vezes. Parece matinho, mas tem uma diversidade absurda”, afirma o artística plástico, que também tenta intervir nas vezes em que vê alguma vegetação sendo destruída. “Já vi pessoas cortando árvores lindas por motivo nenhum.”
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
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Advogado Danilo Bifone formou grupo para plantio de árvores na Mooca 


Na década de 1990, o advogado Danilo Bifone, hoje com 40 anos, vestia roupa preta, cobria o rosto e saía pelas ruas de São Paulo de madrugada. O aparato servia para não ser reconhecido enquanto plantava árvores a esmo. “Eu pensava que estava cometendo um crime”, conta, aos risos. “Não há nada que te impeça na legislação de plantar. Até hoje, me perguntam se eu tenho autorização, mas, desde que cumpra o Manual Técnico de Arborização Urbana, não tem problema nenhum.”


Bifone resolveu iniciar a empreitada, nas palavras dele, “subversiva”, após a morte de um pau-ferro, espécie de tronco esbranquiçado e folhas miudinhas, que havia na frente da casa dele, na Mooca. “Cuidei da árvore quando estava infestada de cupim, mas o vizinhos começaram a reclamar. A Prefeitura foi lá, fez uma poda drástica e matou minha árvore”, diz. 


Com o tempo, o advogado formou um grupo de pessoas interessadas e coletou informações sobre a forma correta de plantar e as espécies apropriadas para o meio urbano. Formou-se o “Muda Mooca”, que promove um evento por mês: plantios coletivos, salvamento de árvores, palestras e cursos. “Já deve estar beirando umas 20 mil árvores plantadas”, afirma Bifone. Para o advogado, ver alguém cortando árvore é “frustrante”. Só no Serviço de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura, ele já fez mais de 30 reclamações.



Parque. O sonho do presidente e fundador do Movimento Ousadia Popular, Quintino José Viana, de 71 anos, é ver a inauguração do Parque Municipal da Brasilândia, na zona norte da capital. Por enquanto, a área de mais de 300 mil metros quadrados está ocupada por cerca de 1.500 famílias que vivem de forma irregular no local. “Começamos essa luta no ano 2000. Essa área verde tem 21 minas d’água e queremos salvá-las. A região precisa de um parque e São Paulo não tem muitas áreas assim.”


A Prefeitura informou que “a ocupação irregular da área impede a imissão na posse do terreno”, mas que um plano de atendimento para remoção das famílias já foi estruturado. Viana conta que sua relação com a preservação da natureza teve início quando ele tinha 7 anos. “Eu morava na roça, perdi meu pai muito cedo e comecei a trabalhar. Senti que precisava cuidar das florestas e das águas. Eu não desisto do verde.”


Augusta. Entre as principais disputas “verdes” hoje está a transformação em Parque Augusta da área que fica entre as Ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá. A Justiça convocou reunião de conciliação nesta segunda-feira, 22, entre ativistas, Prefeitura e construtoras.  


A presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores de Cerqueira César, Célia Marcondes, relata que foi a primeira a fazer um abaixo-assinado sobre o local, em 2001. “Sempre vi aquela área como um parque. Falta só ser doada. É o último respiro de uma região onde impera o cimento.