Valor Econômico – Vale alerta sobre risco em mais uma barragem em Minas Gerais
Por Rafael Rosas, Francisco Góes e Raquel Brandão | Do Rio e de São Paulo
Quase quatro meses depois do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, o risco de acidente voltou ontem a se fazer presente nas operações da Vale. Dessa vez o alerta foi dado depois que a própria companhia identificou movimentação no talude Norte, na cava da mina Gongo Soco, na cidade de Barão de Cocais (MG).
Depois de ser comunicado pela empresa, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) expediu recomendação para que a Vale adotasse imediatamente medidas para alertar a população da região dos riscos a que ela está sujeita em eventual ruptura da barragem Sul Superior, da mina de Gongo Soco. Como resultado, a ação da mineradora que iniciou o dia em alta, por conta do preço da tonelada do minério de ferro que caminha para os US$ 100, fechou em queda de 3,23% na B3, cotada a R$ 46,40.
A Vale informou que a mina está paralisada desde 2016 e frisou que foi ela que "informou imediatamente as autoridades competentes e vem tomando uma série de medidas necessárias para informar a população sobre a situação na cava e na barragem Sul Superior, que fica aproximadamente a 1,5 km de distância do talude".
Fontes próximas da companhia explicaram que a Vale vem fazendo um acompanhamento geotécnico, que identificou a movimentação no talude Norte. A hipótese técnica é de que, caso haja um desprendimento do talude, a estrutura caia dentro da cava de Gongo Soco, que está coberta de água. Como consequência, dizem as fontes, poderia ser gerada vibração na barragem Sul Superior da mina, que já se encontra no Nível 3, maior patamar de risco de rompimento.
Essa situação de risco é que leva as autoridades a alertar para um possível rompimento da barragem, a partir dos dados apresentados pelos estudos geotécnicos. O levantamento indica que há a possibilidade de o talude Norte se desprender nos próximos dias. O MPMG divulgou em nota que, permanecendo a velocidade de aceleração de movimentação do talude Norte, o desprendimento poderá ocorrer no período de 19 a 25 de maio.
"Cabe ressaltar que não há elementos técnicos até o momento para se afirmar que o eventual escorregamento do talude Norte da cava da Mina Gongo Soco desencadeará gatilho para a ruptura da barragem Sul Superior. Mesmo assim, a Vale está reforçando o nível de alerta e prontidão para o caso extremo de rompimento", informou a mineradora em nota.
Zona de maior risco na região teve moradores retirados em fevereiro, quando risco subiu pela primeira vez
A Vale ressaltou que a cava e a barragem são monitoradas diariamente durante 24 horas. A Zona de Autossalvamento (ZAS) relativa à barragem foi totalmente esvaziada em fevereiro, depois que, no dia 8 daquele mês, o alerta para o risco na estrutura atingiu o nível 2. Segundo a companhia, no começo de maio estavam contabilizados 458 moradores da ZAS que foram retirados da região. A Zona de Autossalvamento é a primeira a ser atingida em caso de rompimento da barragem, portanto a de maior perigo.
Em 22 de março, o risco subiu, passando ao nível 3, o mais grave na escala. Três dias depois, no dia 25, a Vale realizou uma simulação de evacuação na Zona de Segurança Secundária (ZSS) na região. Na ocasião houve a distribuição de panfletos com informações sobre pontos de encontro, de mapas da cidade com as zonas de inundação, instalação de placas apontando rotas de fuga e pontos de encontro, entre outras medidas.
Agora, na recomendação expedida pelo MPMG, há pedido para novos comunicados, por meio de carros de som, jornais e rádios sobre a atual condição estrutural da barragem, possíveis riscos, potenciais danos e impactos de eventual rompimento.
O texto do MPMG também prevê que a empresa forneça imediatamente aos atingidos total apoio logístico, psicológico, médico, bem como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário, mantendo posto de atendimento 24 horas nas proximidades dos centros das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.