segunda-feira, 20 de maio de 2019

Valor Econômico – Vale alerta sobre risco em mais uma barragem em Minas Gerais

Valor Econômico – Vale alerta sobre risco em mais uma barragem em Minas Gerais


Por Rafael Rosas, Francisco Góes e Raquel Brandão | Do Rio e de São Paulo

Quase quatro meses depois do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, o risco de acidente voltou ontem a se fazer presente nas operações da Vale. Dessa vez o alerta foi dado depois que a própria companhia identificou movimentação no talude Norte, na cava da mina Gongo Soco, na cidade de Barão de Cocais (MG).

Depois de ser comunicado pela empresa, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) expediu recomendação para que a Vale adotasse imediatamente medidas para alertar a população da região dos riscos a que ela está sujeita em eventual ruptura da barragem Sul Superior, da mina de Gongo Soco. Como resultado, a ação da mineradora que iniciou o dia em alta, por conta do preço da tonelada do minério de ferro que caminha para os US$ 100, fechou em queda de 3,23% na B3, cotada a R$ 46,40.

A Vale informou que a mina está paralisada desde 2016 e frisou que foi ela que "informou imediatamente as autoridades competentes e vem tomando uma série de medidas necessárias para informar a população sobre a situação na cava e na barragem Sul Superior, que fica aproximadamente a 1,5 km de distância do talude".

Fontes próximas da companhia explicaram que a Vale vem fazendo um acompanhamento geotécnico, que identificou a movimentação no talude Norte. A hipótese técnica é de que, caso haja um desprendimento do talude, a estrutura caia dentro da cava de Gongo Soco, que está coberta de água. Como consequência, dizem as fontes, poderia ser gerada vibração na barragem Sul Superior da mina, que já se encontra no Nível 3, maior patamar de risco de rompimento.

Essa situação de risco é que leva as autoridades a alertar para um possível rompimento da barragem, a partir dos dados apresentados pelos estudos geotécnicos. O levantamento indica que há a possibilidade de o talude Norte se desprender nos próximos dias. O MPMG divulgou em nota que, permanecendo a velocidade de aceleração de movimentação do talude Norte, o desprendimento poderá ocorrer no período de 19 a 25 de maio.

"Cabe ressaltar que não há elementos técnicos até o momento para se afirmar que o eventual escorregamento do talude Norte da cava da Mina Gongo Soco desencadeará gatilho para a ruptura da barragem Sul Superior. Mesmo assim, a Vale está reforçando o nível de alerta e prontidão para o caso extremo de rompimento", informou a mineradora em nota.

Zona de maior risco na região teve moradores retirados em fevereiro, quando risco subiu pela primeira vez

A Vale ressaltou que a cava e a barragem são monitoradas diariamente durante 24 horas. A Zona de Autossalvamento (ZAS) relativa à barragem foi totalmente esvaziada em fevereiro, depois que, no dia 8 daquele mês, o alerta para o risco na estrutura atingiu o nível 2. Segundo a companhia, no começo de maio estavam contabilizados 458 moradores da ZAS que foram retirados da região. A Zona de Autossalvamento é a primeira a ser atingida em caso de rompimento da barragem, portanto a de maior perigo.

Em 22 de março, o risco subiu, passando ao nível 3, o mais grave na escala. Três dias depois, no dia 25, a Vale realizou uma simulação de evacuação na Zona de Segurança Secundária (ZSS) na região. Na ocasião houve a distribuição de panfletos com informações sobre pontos de encontro, de mapas da cidade com as zonas de inundação, instalação de placas apontando rotas de fuga e pontos de encontro, entre outras medidas.

Agora, na recomendação expedida pelo MPMG, há pedido para novos comunicados, por meio de carros de som, jornais e rádios sobre a atual condição estrutural da barragem, possíveis riscos, potenciais danos e impactos de eventual rompimento.

O texto do MPMG também prevê que a empresa forneça imediatamente aos atingidos total apoio logístico, psicológico, médico, bem como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário, mantendo posto de atendimento 24 horas nas proximidades dos centros das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Correio Braziliense – O delírio atômico / Coluna / Nas entrelinhas

Correio Braziliense – O delírio atômico / Coluna / Nas entrelinhas


Luiz Carlos Azedo

O ex-deputado federal Benito Gama é uma raposa política baiana daquelas que já viram de tudo no Congresso, desde quando presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o ex-presidente Collor de Mello e resultou na sua renúncia à Presidência da República para evitar o próprio impeachment. Governista, defende o presidente Jair Bolsonaro com bom humor e fina ironia. Um de seus argumentos favoritos, quando alguém cita declarações polêmicas do presidente e seus ministros, é comparar o começo do atual governo com o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Foi muito pior, a confusão era tanta que tinha até ministro defendendo a fabricação de uma bomba atômica!”

É uma alusão ao então ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, que defendeu a retomada do projeto nuclear com objetivos militares, que teve péssima repercussão internacional. Esse argumento já não pode ser utilizado por Benito, porque o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e filho do presidente da República, defendeu que o Brasil tenha armas nucleares, para ser levado “mais a sério”. Eminência parda da política externa brasileira, Eduardo Bolsonaro acompanhou o pai no encontro com o presidente norte-americano, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington.

Eduardo soltou o disparate durante palestra para alunos do curso superior de defesa da Escola Superior de Guerra, em reunião da comissão que preside na Câmara. Ele defendeu o rompimento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, assinado pelo Brasil em 1998: “A gente sabe que se o Brasil quiser atropelar essa convenção, tem uma série de sanções. É um tema muito complicado, mas eu acredito que um dia possa voltar ao debate aqui”. A Constituição brasileira, no seu artigo 21, determina que toda atividade nuclear em território brasileiro seja realizada apenas para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional.

Eleito por São Paulo com 1,8 milhão de votos, Eduardo Bolsonaro é o parlamentar com mais influência na política externa brasileira, foi um dos padrinhos na nomeação do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A visão do filho não é desconectada das ideias do presidente Bolsonaro, que se declara um “armamentista”. A expressão não se refere apenas à liberação da posse de armas, expressa uma concepção de projeção de poder, que ainda pode dar muitas dores de cabeça para o Brasil na sua política externa.

Na visão de Eduardo, bombas nucleares garantem a paz, como se não fosse possível, no caso brasileiro, defendê-la como se fez até agora, desmilitarizando o Atlântico Sul e evitando a nuclearização da América Latina. É simples e direto o seu raciocínio: “Tem um colega do Paquistão aqui, não tem? Como é que é a relação do Paquistão com a Índia se só um dos lados tivesse uma bomba nuclear? Será que seria da mesma maneira que é hoje? Óbvio que não. Quando um desenvolveu a bomba nuclear, o outro desenvolveu no dia seguinte. E ali está selada ao menos minimamente uma espécie de paz. Eu sou entusiasta dessa visão”, explicou aos alunos da ESG.

Programa nuclear
O Brasil sonhou com a bomba atômica durante o regime militar. As consequências foram mais negativas do que positivas para o país. O presidente Costa e Silva chegou a defender a condução de pesquisa, mineração e construção de artefatos nucleares numa reunião do Conselho de Segurança Nacional: “Não vamos chamar de bomba, vamos chamar de artefatos que possam explodir”, disse. A ambição do governo era adquirir todas as fases do ciclo nuclear por meio de cooperação internacional.

Chefiada por Paulo Nogueira Batista, um diplomata de carreira, a recém-criada Nuclebras, na década de 1970, foi encarregada de implementar o programa nuclear. Após a Índia testar uma bomba nuclear em 1974, no entanto, os EUA suspenderam a cooperação nuclear com o Brasil, que passou a privilegiar as negociações com a França e com a Alemanha Ocidental para transferência de tecnologia. A partir daí, passou a sofrer fortes pressões de EUA, Reino Unido, Canadá, França e da antiga União Soviética, que somente cessaram quando o Brasil e a Alemanha Ocidental assinaram um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica que assegura a natureza pacífica do programa nuclear brasileiro.

Coube ao então presidente Collor de Mello pôr uma pá de cal no projeto, ao lacrar os poços localizados na base aérea da Serra do Cachimbo, no Pará, em setembro de 1990. As atividades nucleares foram reduzidas ao programa de desenvolvimento de um submarino nuclear e à construção de duas usinas nucleares adicionais em Angra dos Reis (RJ). O Livro Branco de Defesa Nacional, divulgado em 2012 e publicado pelo Ministério da Defesa, reafirma que a América Latina é uma Zona Livre de Armas Nucleares e que o Brasil defende o desarmamento nuclear. Também afirma que o submarino de propulsão nuclear contribuiria para a proteção de rotas comerciais, a manutenção da livre navegação, a proteção de recursos naturais e a promoção do desenvolvimento tecnológico no país.

Ex-ministros de Meio Ambiente divulgam comunicado sobre a política para a área do atual do governo

Em entrevista coletiva à imprensa após reunião no IEA, oito ex-ministros do Meio Ambiente divulgaram comunicado sobre as ações na área do atual governo federal. (Assista à transmissão ao vivo da coletiva.)
Leia abaixo a íntegra do documento:

COMUNICADO DOS EX-MINISTROS DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE

São Paulo, 8 de maio de 2019

Em outubro do ano passado, nós, os ex-ministros de Estado do Meio Ambiente, alertamos sobre a importância de o governo eleito não extinguir o Ministério do Meio Ambiente e manter o Brasil no Acordo de Paris. A consolidação e o fortalecimento da governança ambiental e climática, ponderamos, é condição essencial para a inserção internacional do Brasil e para impulsionar o desenvolvimento do país no século 21.

Passados mais de cem dias do novo governo, as iniciativas em curso vão na direção oposta à de nosso alerta, comprometendo a imagem e a credibilidade internacional do país.

Não podemos silenciar diante disso. Muito pelo contrário. Insistimos na necessidade de um diálogo permanente e construtivo.

A governança socioambiental no Brasil está sendo desmontada, em afronta à Constituição.
Estamos assistindo a uma série de ações, sem precedentes, que esvaziam a sua capacidade de formulação e implementação de políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente: entre elas, a perda da Agência Nacional de Águas, a transferência do Serviço Florestal Brasileiro para o Ministério da Agricultura, a extinção da secretaria de mudanças climáticas e, agora, a ameaça de descriação de áreas protegidas, apequenamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente e de extinção do Instituto Chico Mendes. Nas últimas três décadas, a sociedade brasileira foi capaz, através de sucessivos governos, de desenhar um conjunto de leis e instituições aptas a enfrentar os desafios da agenda ambiental brasileira nos vários níveis da Federação.

A decisão de manter a participação brasileira no Acordo de Paris tem a sua credibilidade questionada nacional e internacionalmente pelas manifestações políticas, institucionais e legais adotadas ou apoiadas pelo governo, que reforçam a negação das mudanças climáticas partilhada por figuras-chave da atual administração.

A ausência de diretrizes objetivas sobre o tema não somente tolhe o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, comprometendo seu papel protagônico exercido globalmente, mas também sinaliza com retrocessos nos esforços praticados de redução de emissões de gases de efeito estufa, nas necessárias ações de adaptação e no não cumprimento da Política Nacional de Mudança do Clima.
Estamos diante de um risco real de aumento descontrolado do desmatamento na Amazônia. Os frequentes sinais contraditórios no combate ao crime ambiental podem transmitir a ideia de que o desmatamento é essencial para o sucesso da agropecuária no Brasil. A ciência e a própria história política recente do país demonstram cabalmente que isso é uma falácia e um erro que custará muito caro a todos nós.

É urgente a continuidade do combate ao crime organizado e à corrupção presentes nas ações do desmatamento ilegal e da ocupação de áreas protegidas e dos mananciais, especialmente nos grandes centros urbanos.

O discurso contra os órgãos de controle ambiental, em especial o Ibama e o ICMBio, e o questionamento aos dados de monitoramento do INPE, cujo sucesso é auto-evidente, soma-se a uma crítica situação orçamentária e de pessoal  dos órgãos. Tudo isso reforça na ponta a sensação de impunidade, que é a senha para mais desmatamento e mais violência.

Pela mesma moeda, há que se fortalecer as regras que compõem o ordenamento jurídico ambiental brasileiro, estruturadas em perspectiva sistêmica, a partir da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente de 1981. O Sistema Nacional de Meio Ambiente precisa ser fortalecido especialmente pelo financiamento dos órgãos que o integram.

É grave a perspectiva de afrouxamento do licenciamento ambiental, travestido de “eficiência de gestão”, num país que acaba de passar pelo trauma de Brumadinho. Os setores empresarial e financeiro exigem regras claras, que confiram segurança às suas atividades.

Não é possível, quase sete anos após a mudança do Código Florestal, que seus dispositivos, pactuados pelo Congresso e consolidados pelo Supremo Tribunal Federal, estejam sob ataque quando deveriam estar sendo simplesmente implementados. Sob alegação de “segurança jurídica” apenas para um lado, o do poder econômico, põe-se um país inteiro sob risco de judicialização.

Tampouco podemos deixar de assinalar a nossa preocupação com as políticas relativas às populações indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais, iniciada com a retirada da competência da Funai para demarcar terras indígenas. Há que se cumprir os preceitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, reforçados pelos compromissos assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional, há muitas décadas..

O Brasil percorreu um longo caminho para consolidar sua governança ambiental. Tornamo-nos uma liderança global no combate às mudanças climáticas, o maior desafio da humanidade neste século. Também somos um dos países megabiodiversos do planeta, o que nos traz enorme responsabilidade em relação à conservação de todos os nossos biomas. Esta semana a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), considerada o “IPCC da biodiversidade”, divulgou o seu primeiro sumário aos tomadores de decisão, alertando sobre as graves ameaças que pesam sobre a biodiversidade: um milhão de espécies de animais e plantas no mundo estão ameaçadas de extinção.

É urgente que o Brasil reafirme a sua responsabilidade quanto à proteção do meio ambiente e defina rumos concretos que levem à promoção do desenvolvimento sustentável e ao avanço da agenda socioambiental, a partir de ação firme e comprometida dos seus governantes.

Não há desenvolvimento sem a proteção do meio ambiente. E isso se faz com quadros regulatórios robustos e eficientes, com gestão pública de excelência, com a participação da sociedade e com inserção internacional.

Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século 21. Mais do que isso, é preciso evitar que o país desembarque de si próprio.

Rubens Ricupero
Gustavo Krause
José Sarney Filho
José Carlos Carvalho
Marina Silva
Carlos Minc
Izabella Teixeira
Edson Duarte

Comunicado dos ex-ministros do Meio Ambiente sobre a política ambiental brasileira

São Paulo, 8 de maio de 2019

Em outubro do ano passado, nós, os ex-ministros de Estado do Meio Ambiente, alertamos sobre a importância de o governo eleito não extinguir o Ministério do Meio Ambiente e manter o Brasil no Acordo de Paris. A consolidação e o fortalecimento da governança ambiental e climática, ponderamos, é condição essencial para a inserção internacional do Brasil e para impulsionar o desenvolvimento do país no século 21.

Passados mais de cem dias do novo governo, as iniciativas em curso vão na direção oposta à de nosso alerta, comprometendo a imagem e a credibilidade internacional do país.

Não podemos silenciar diante disso. Muito pelo contrário. Insistimos na necessidade de um diálogo permanente e construtivo.

A governança socioambiental no Brasil está sendo desmontada, em afronta à Constituição.
Estamos assistindo a uma série de ações, sem precedentes, que esvaziam a capacidade de formulação e implementação de políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente. Entre elas, a perda da Agência Nacional de Águas, a transferência do Serviço Florestal Brasileiro para o Ministério da Agricultura, a extinção da secretaria de mudanças climáticas e, agora, as ameaças de descriação de áreas protegidas, de apequenamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente e de extinção do Instituto Chico Mendes. Nas últimas três décadas, a sociedade brasileira foi capaz, através de sucessivos governos, de desenhar um conjunto de leis e instituições aptas a enfrentar os desafios da agenda ambiental brasileira nos vários níveis da Federação.

A decisão de manter a participação brasileira no Acordo de Paris tem a sua credibilidade questionada nacional e internacionalmente pelas manifestações políticas, institucionais e legais adotadas ou apoiadas pelo governo, que reforçam a negação das mudanças climáticas partilhada por figuras-chave da atual administração.

A ausência de diretrizes objetivas sobre o tema não somente tolhe o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, comprometendo seu papel protagônico exercido globalmente, mas também sinaliza com retrocessos nos esforços praticados de redução de emissões de gases de efeito estufa, nas necessárias ações de adaptação e no não cumprimento da Política Nacional de Mudança do Clima.
Estamos diante de um risco real de aumento descontrolado do desmatamento na Amazônia. Os frequentes sinais contraditórios no combate ao crime ambiental podem transmitir a ideia de que o desmatamento é essencial para o sucesso da agropecuária no Brasil. A ciência e a própria história política recente do país demonstram cabalmente que isso é uma falácia e um erro que custará muito caro a todos nós.

É urgente a continuidade do combate ao crime organizado e à corrupção presentes no desmatamento ilegal e na ocupação de áreas protegidas e dos mananciais, especialmente nos grandes centros urbanos.

O discurso contra os órgãos de controle ambiental, em especial o Ibama e o ICMBio, e o questionamento aos dados de monitoramento do INPE, cujo sucesso é auto-evidente, soma-se a uma crítica situação orçamentária e de pessoal  dos órgãos. Tudo isso reforça na ponta a sensação de impunidade, que é a senha para mais desmatamento e mais violência.

Pela mesma moeda, há que se fortalecer as regras que compõem o ordenamento jurídico ambiental brasileiro, estruturadas em perspectiva sistêmica a partir da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente de 1981. O Sistema Nacional de Meio Ambiente precisa ser fortalecido, especialmente pelo financiamento dos órgãos que o integram.

É grave a perspectiva de afrouxamento do licenciamento ambiental, travestido de “eficiência de gestão”, num país que acaba de passar pelo trauma de Brumadinho. Os setores empresarial e financeiro exigem regras claras, que confiram segurança às suas atividades.

Não é possível, quase sete anos após a mudança do Código Florestal, que seus dispositivos, pactuados pelo Congresso e consolidados pelo Supremo Tribunal Federal, estejam sob ataque quando deveriam estar sendo simplesmente implementados. Sob alegação de “segurança jurídica” apenas para um lado, o do poder econômico, põe-se um país inteiro sob risco de judicialização.

Tampouco podemos deixar de assinalar a nossa preocupação com as políticas relativas às populações indígenas, aos quilombolas e a outros povos tradicionais, iniciada com a retirada da competência da Funai para demarcar terras indígenas. Há que se cumprir os preceitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, reforçados pelos compromissos assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional há muitas décadas.

O Brasil percorreu um longo caminho para consolidar sua governança ambiental. Tornamo-nos uma liderança global no combate às mudanças climáticas, o maior desafio da humanidade neste século. Também somos um dos países megabiodiversos do planeta, o que nos traz enorme responsabilidade em relação à conservação de todos os nossos biomas. Nesta semana a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), considerada o “IPCC da biodiversidade”, divulgou o seu primeiro sumário para tomadores de decisão, alertando sobre as graves ameaças que pesam sobre a biodiversidade: um milhão de espécies de animais e plantas no mundo estão ameaçadas de extinção.

É urgente que o Brasil reafirme a sua responsabilidade quanto à proteção do meio ambiente e defina rumos concretos que levem à promoção do desenvolvimento sustentável e ao avanço da agenda socioambiental, a partir de ação firme e comprometida dos seus governantes.

Não há desenvolvimento sem a proteção do meio ambiente. E isso se faz com quadros regulatórios robustos e eficientes, com gestão pública de excelência, com a participação da sociedade e com inserção internacional.

Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século 21. Mais do que isso, é preciso evitar que o país desembarque de si próprio.

Rubens Ricupero
Gustavo Krause
José Sarney Filho
José Carlos Carvalho
Marina Silva
Carlos Minc
Izabella Teixeira
Edson Duarte
(#Envolverde)

Podcast 5 – Blog Cidadãos do Mundo: Um dia de second life nas teias socioambientais

Por Sucena Shkrada Resk*
 
Será possível viver sem utopias? Na concepção de grande parte da humanidade, consciente ou inconscientemente, talvez não. Por quê? Uma das respostas possíveis é um sentimento que nos move e que se chama esperança. O que faríamos sem ela?

Neste artigo também na versão do quintopodcast (ouça aqui) ,que compartilho com vocês no meu blog jornalístico Cidadãos do Mundo, peço licença para ousar um pouco e criar um ambiente de “second life”, no qual vou prestigiar algumas  personagens que fazem parte da história do socioambientalismo mundial. Convido vocês a embarcarem comigo!

Neste cenário, o diálogo entre estes ícones de diferentes fases (alguns em situação póstuma) é plenamente possível. Isso está intrinsecamente ligado ao legado desses proativos pensadores, estrategistas, políticos públicos, profissionais das mais diferentes áreas, que construíram e constroem um legado que não se dissipa. Muitas vezes, podem ficar encobertos por névoas temporárias em momentos conturbados de nossa trajetória planetária. Vivemos ciclos e o desafio é saber fazer dos feedbacks algo construtivo para próximas etapas.

Compondo esta grande roda de diálogo, estão presentes o biólogo Ernst Haeckel, que disseca o que está por trás do termo Ecologia, enquanto o sociólogo francês Michel Maffesoli trata da “Ecosofia”. Por sua vez, a diplomata norueguesa Gro Harlem Brundtland vai explicando o “Nosso Futuro Comum” conversando com James Lovelock, explicando a “Teoria de Gaia”.

Uma efervescência de trocas. Maurice Strong e o economista Ignacy Sachs tratam do entendimento sobre “Ecodesenvolvimento”.  A bióloga Rachel Carson traz seus alertas preciosos quanto aos efeitos dos agrotóxicos em sua “Primavera Silenciosa”. A física Vandana Shiva expõe a importância das sementes crioulas e da agroecologia, enquanto a ambientalista queniana Wangari Maathai fala sobre o Movimento do Cinturão Verde.

Todos trocam ideias com a contemporânea jovem ativista sueca Greta Thunberg sobre mudanças climáticas e com a ativista que estremeceu a ECO 92 – Severn Cullis Suzuki. Neste time instigante, estão os cientistas brasileiros Paulo Artaxo, José Marengo e Carlos e Antonio Nobre e Chou Sin Chan.

É uma forma de entender com mais profundidade o que significa a importância da mitigação (redução de danos) e adaptação às mudanças climáticas, que estão cada vez mais aceleradas, no Antropoceno. Como também, as causas e efeitos deletérios da poluição. Para debater estes conceitos, entram nesta roda, os economistas José Eli da Veiga e o cientista ambiental Pedro Jacobi, com o patologista Paulo Saldiva.

Para incrementar esta conversa e trazer a concepção da Felicidade Interna Bruta (FIB), chega o rei butanês Jigme Singye Wangchuck e um representante inca e dos povos originários andinos sobre a Pachamama (Mãe Terra). Neste processo reflexivo, o sociólogo norte-americano Robert Bullard e o economista Henri Acserald trazem o componente da justiça ambiental e chamam Paulo Freire para explicar os bastidores democráticos da educação ambiental.

Nossos batimentos cardíacos até aceleram, não é? É preciso ter muito fôlego para absorver tamanho conhecimento em que existe o componente da sabedoria do bem-viver. Nesta troca de saberes, é possível observar sorrisos nas entrelinhas, pois todas estas personagens reconhecem que o ser humano faz parte do meio ambiente e ainda há esperança se houver proatividade. A mensagem que traduzem é que não somos meros espectadores e vivemos perante a lei de ação e reação.

Esta “second life” e também “first life”, não é? poderia prosseguir e incluir centenas de milhares de personagens anônimos que existem no planeta que fazem parte da engrenagem da construção do conhecimento e prática da transversalidade que compõe o socioambientalismo e que são boas fontes de pesquisa para você que ficou curioso para saber mais a respeito. Este foi o objetivo! Até um próximo artigo/podcast, que possa aguçar as nossas utopias por um mundo melhor, incluindo os meandros da comunicação socioambiental, que deixo para um outro capítulo.

Veja também no Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk mais artigos a respeito dessas agendas, desde o ano de 2007.

*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 27 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
(#Envolverde)

Da era do conhecimento saltamos para a idade das crenças





Por Dal Marcondes, da Envolverde –

Nesta quarta-feira 5 de maio fui dormir com uma desagradável sensação de impotência. Assisti atônito a coletiva dos 7 ex-ministros do meio ambiente transmitida pela internet, pude ver as expressões de pessoas públicas que dedicam a vida à formulação de políticas de gestão ambiental local, nacional e global. Gente que conheço pessoalmente por dever de ofício e que reputo honrada.

Assisti na tela do computador as expressões sérias dos colega jornalistas que ainda tentavam formular perguntas diante de um cenário sem respostas fáceis. Por fim um comunicado de desalento que em diagnóstico aponta para o desmanche de mais de 30 anos de políticas ambientais construídas por governos dos mais diversos matizes ideológicos, mas que tinham como foco o papel do Brasil como país megadiverso e protagonista de políticas globais de preservação.

Pouco depois, desse espetáculo de cidadania, encerrado com lucidez pela ex-ministra Izabella Teixeira, assisti pela TV a cena de homens brancos felizes fazendo sinal de armas com os dedos enquanto o presidente da República anunciava um decreto liberando o porte de armas para diversas categorias de profissionais, entre elas políticos e caminhoneiros.  De imediato fiquei imaginando como serão os debates nas Câmaras municipais dos mais de 5,6 mil municípios brasileiros. E se no próximo aumento do diesel não teremos piquetes de motoristas legalmente armados.

Mas o que realmente derrubou meu proverbial otimismo foi imaginar que agora, ao andar pela rua, a pé ou de carro, posso encontrar pela frente pessoas que por um motivo ou outro estejam de mal com a vida e podem sacar de uma arma por um esbarrão no ombro ou no para-lamas do carro. Isso já seria suficiente. Mas não foi, havia ainda mais: programas de mestrado e doutorado em todo o país perderam suas bolsas de estudos da CAPES, isso depois de cortes lineares na manutenção de escolas e universidades. Sobrou até para o Exército, que segundo uma facção do governo não estaria submisso ao desmonte do país.

Pouco antes de dormir leio em um post na internet, publicado por pessoa conhecida em 6 de maio, uma notícia velha. Que uma desembargadora acusava Marielle de ligações com bandidos do comando vermelho.  Dei-me ao trabalho de responder, inclusive mostrando uma notícia de fonte confiável, onde a juíza se desmentia dizendo que não tinha provas, apenas irresponsavelmente replicara uma mensagem de uma amiga. Achei que seria suficiente quando veio a contraofensiva: “Não importa, é no que eu acredito”.

Por fim, em um despudorado contra-ataque o atual ministro do que sobrou no meio ambiente se defendeu chamando todos os seus antecessores de incompetentes. Estou quase torcendo para que a terra seja de fato plana para que eu possa caminhar até a borda e saltar no vazio existencial que assola os eleitores brasileiros!


(#Envolverde)


De quem são os dinheiros do meio ambiente, a quem pertencem os recursos?

por Samyra Crespo – 
 
Nos anos 90 o primeiro dinheiro significativo para investir na ‘ambientalização’ da sociedade brasileira – criando um curso para ativistas chamado Teoria e Práxis do Meio Ambiente – foi da União Européia.

Não havia o euro e consegui na época, à frente do ISER, ONG carioca, 400 mil ECUS – uma unidade de dinheiro que equivaleria hoje a 700 mil dólares. Com este dinheiro fizemos 3 turmas em três anos. E conseguimos, pelo pioneirismo, fazer história na formação de uma geração de ativistas. Depois, quando o dinheiro, a fundo perdido acabou, fomos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, o primeiro mecanismo financeiro criado no Brasil para apoiar pequenos projetos.

Para evitar que as organizações mais poderosas se aproveitassem do Fundo, havia um conselho paritário – governo e ambientalistas ali.

O Fundo durou 20 anos como um matchfund (dinheiro casado brasileiro e internacional). Um milhão de dólares por ano. Depois problemas de accountability e gestão o foram deixando como um mecanismo sem grande importância.

Os dinheiros para o meio ambiente não eram nacionais, portanto. Eram poucos e estavam naquela zona cinza da cooperação. Acesso limitado. Os círculos eram de confiança, era preciso falar inglês e viajar.

Os dinheiros vinham das agências multilaterais como BID e BIRD e das doações internacionais com a Alemanha à frente, durante muitos anos. Antes do Fundo Amazônia e outros que se seguiram. Antes do FUNBIO vingar. Antes do GEF e do Petrobrás Ambiental.

O Brasil esteve até o ano 2000 na rota da “cooperação internacional ” e veio muito dinheiro para financiar o nosso “desenvolvimento”. Bem como a ‘redemocratização ‘. Da Alemanha, da Holanda e dos Estados Unidos – o país das fundações poderosas tipo Rockfeller, Ford Foundation e Adubon Society para o meio ambiente matriz verde.

Os Estados Unidos, Ricardo Falcão que anda aqui pelo FB que o confirme, investia em ‘capacitação ‘. Vou contar depois porque esse fluxo de conhecimento e profissionalização fez muita diferença.
O Ministério do Meio Ambiente, recém criado – não tinha grana. Quem tinha algum era o Ibama, que cá para nós era o verdadeiro Ministério. Ser presidente do Ibama era mais importante que ser ministro. Foi assim por anos, o Eduardo Martins que o conte.

Éramos pobrinhos. Nós e o povo da Cultura. Os menores orçamentos. Talvez não seja coincidência que ocupamos o mesmo prédio na Esplanada.

Bastava ver os barbudos e fumantes inveterados na portaria e sabíamos ser o povo da Cultura.
Relações cordiais de primos pobres.

A relação das ONGS com o dinheiro público sempre foi crivada por contradições e conflitos ideológicos.

Se você se tornava parceiro do governo em algum projeto eles, os técnicos – achavam que se tornavam seu patrão. E a cooptação era um terreno pantanoso.

Eu participei da formatação do Programa Nacional da Agenda 21 e obtive muitas vezes o apoio financeiro do MMA e do IBAMA para minhas pesquisas.

Acho engraçado, beirando ao ridículo este atual MINISTRO???? – o Salles falar ‘querem discutir mudança climática? O façam na academia e não venham pedir dinheiro ao Ministério’.

Como se o Governo tivesse algum dinheiro e nós os pedintes precisássemos disputa-lo.
O dinheiro é da sociedade. É dos nossos impostos diretos e indiretos.

Só uma distorção Federal, desculpe o trocadilho, concentrou o dinheiro na União transformando Estados e municípios em mendigos e “clientes”.

Nosso pacto federativo está em frangalhos. Desde 1988, com a nova constituição – que está em curso um processo brutal de descentralização das responsabilidades sem as devidas contrapartidas financeiras. É um desastre.

Na área ambiental essa situação é crítica. A maioria das secretarias de Meio Ambiente vive à míngua.
Os dnheiros da área ambiental, em qualquer lugar do mundo – são recursos da sociedade, para serem aplicados em políticas públicas do interesse dela. Mas quem fala em nome da sociedade?
As ruas?

O Parlamento?

As ONGs?

A burocracia governamental?

Follow the money… dizem os que entendem de poder e de outras coisas como corrupção, desvios etc.

Este tema – o do financiamento da conservação no Brasil é tão importante, e tão apaixonante, que voltarei a ele.

Aguardem!!!

Dizem que se não se vive a história impunemente.

No próximo post vou contar como o Greenpeace chegou ao Brasil e começou a tentar o caminho das doações individuais.

Vou contar um episódio muito divertido, do qual participei pessoalmente.
Este texto faz parte da série sobre o ambientalismo brasileiro que venho publicando, desde abril, no site Envolverde/Carta Capital

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.