terça-feira, 7 de março de 2023

Pesquisadores brasileiros criam sensor de papel que detecta presença de pesticida em frutas e verduras

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Pesquisadores brasileiros criam sensor de papel que detecta presença de pesticida em frutas e verduras

Pesquisadores brasileiros criam sensor de papel que detecta presença de pesticidas em frutas e verduras

*Por Maria Fernanda Ziegler

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sensor eletroquímico de papel kraft capaz de detectar em tempo real a presença de pesticida em frutas e verduras. Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mensura a quantidade do fungicida carbendazim – amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido.

O trabalho, apoiado pela FAPESP, envolveu grupos dos institutos de Física (IFSC-USP) e de Química (IQSC-USP) do campus de São Carlos. Os resultados foram divulgados na revista Food Chemistry.

“Para verificar a presença de pesticidas em alimentos por meio de abordagens convencionais é preciso triturar uma amostra, submetê-la a processos químicos demorados para só então detectar a substância. Os sensores vestíveis, como o que desenvolvemos para o monitoramento contínuo da concentração de pesticidas na agricultura e na indústria de alimentos, eliminam a necessidade desses procedimentos complexos. Fica muito mais fácil, barato, além de ser muito mais confiável para um supermercado, restaurante ou importador fazer a verificação”, afirma Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor do IFSC-USP.

O novo dispositivo tem grande sensibilidade e se assemelha aos medidores de glicose [glicosímetro] utilizados por diabéticos. Para medir a quantidade de agrotóxico em alimentos, o sensor eletroquímico capta a presença do fungicida e o resultado pode ser acessado, em questão de minutos, por meio de um aplicativo de celular.

“Nos testes que realizamos, o dispositivo teve sensibilidade semelhante à do método convencional. Tudo de uma forma mais rápida e barata”, conta José Luiz Bott Neto, pós-doutorando e autor correspondente do artigo que descreve o desenvolvimento da ferramenta.

Como funciona o sensor

Como explica Bott Neto, o dispositivo é basicamente um substrato de papel modificado com tinta de carbono e submetido a um tratamento eletroquímico em meio ácido para a ativação de grupos carboxílicos – o que permite fazer a detecção.

“Utilizamos o mesmo sistema empregado na serigrafia [estamparia de roupas] para fazer a transferência da tinta condutora de carbono para a tira de papel kraft, criando assim um dispositivo baseado em eletroquímica. O dispositivo é confeccionado com três eletrodos de carbono e mergulhado em uma solução ácida para a ativação dos grupos carboxílicos. Em outras palavras, átomos de oxigênio são adicionados na estrutura do eletrodo de carbono. Ao entrar em contato com uma amostra contaminada com carbendazim, o sensor induz uma reação de oxidação eletroquímica que permite a detecção do fungicida. Assim, a quantidade de carbendazim é medida via corrente elétrica”, explica Bott Neto à Agência FAPESP.

Para desenvolver o dispositivo, os pesquisadores avaliaram a estabilidade e o impacto da estrutura do papel na construção dos sensores. “Além do desenvolvimento do dispositivo, o trabalho teve uma parte voltada para entender a questão das propriedades do papel na fabricação do dispositivo”, conta o pós-doutorando Thiago Serafim Martins.

Melhor opção para a detecção de pesticidas

Os pesquisadores analisaram dois tipos de papel: o kraft e o pergaminho. Ambos se mostraram estáveis o suficiente para a construção dos sensores. Porém, segundo Martins, a natureza porosa do papel kraft conferiu maior sensibilidade ao sensor e aos grupos carboxílicos formados durante a ativação eletroquímica.

Ele explica que a fabricação dos eletrodos em papel abre a possibilidade para diversas aplicações. “Existem eletrodos comerciais feitos com plástico ou cerâmica. No nosso trabalho, conseguimos desenvolver sensores eletroquímicos com papel, um material muito mais maleável, o que amplia o seu uso em vários campos, não apenas na agricultura ou no setor alimentício, mas em outras áreas como a da saúde, por exemplo”, diz.

O artigo Optimized paper-based electrochemical sensors treated in acidic media to detect carbendazim on the skin of apple and cabbage pode ser lido neste link.

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*Texto publicado originalmente em 06/03/23 no site da Agência Fapesp de Notícias

Foto: acervo dos pesquisadores

Entenda a importância do acordo da ONU para proteger a vida marinha

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Entenda a importância do acordo da ONU para proteger a vida marinha

Com a definição, as áreas de proteção contra a pesca, a mineração e o tráfego marítimo vão passar de 1% para 30% até 2030.

Por g1

05/03/2023 18h52  Atualizado há um dia

Países assinam acordo histórico para proteger oceanos

Um acordo de proteção dos oceanos assinado na sede da Nações Unidas, em Nova York (EUA), neste sábado (4) é celebrado por especialistas como uma grande vitória para a proteção de todas as espécies de vida no fundo do mar.

Foram duas semanas de negociações até o acordo, que encerrou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. O acordo entrou em discussão na organização multilateral em 1994, antes que a biodiversidade marinha fosse um conceito bem estabelecido.

Laura Meller, do Greenpeace, declarou que "este é um dia histórico para a conservação e um sinal de que, em um mundo dividido, proteger a natureza e as pessoas supera a geopolítica”.

Entenda, em tópicos, a importância do acordo e por que ele é celebrado:

O que é o acordo?

É um tratado unificado entre os membros das Nações Unidas para proteger a biodiversidade em alto-mar. As negociações envolveram mais de 100 países.

O tema, tratado pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, teve as conversas paralisadas diversas vezes ao longo dos anos.

Por que o acordo é tão importante?

O último grande acordo global deste tipo foi assinado há 40 anos. Na época, o documento determinava quais eram as áreas de alto-mar. Nessas regiões, os países têm o direito de pescar, navegar e fazer pesquisas, mas apenas 1,2% dessas áreas são protegidas.

Agora, o novo acordo aumenta as áreas protegidas e cria um controle rígido para proteção da vida marinha (leia mais abaixo).

O que o acordo prevê?

  • O acordo determina que pelo menos 30% dos oceanos serão áreas protegidas até 2030 (atualmente, são apenas 1,2%). Nessas áreas, a pesca, a passagem de navios e a mineração em águas profundas vão ter um controle rígido;
  • Também define a criação de um novo órgão para gerenciar a conservação da vida nos oceanos;
  • Por fim, estabelece regras básicas para avaliar o impacto ambiental de atividades comerciais nos oceanos, como a pesca e o turismo.

O objetivo é que as práticas comerciais não prejudiquem as longas migrações anuais de golfinhos, baleias, tartarugas marinhas e peixes.

Atualmente, as leis vigentes são como uma colcha de retalhos, que confundem e prejudicam tanto os animais quanto as comunidades que dependem dessas atividades.

Quais áreas ele abrange?

O foco do acordo são as regiões de alto-mar, que estão fora das águas nacionais de cada país. E não é pouco: o alto-mar corresponde a quase metade da superfície do planeta.

Alto-mar são as áreas situadas a mais de 200 milhas náuticas da costa (370 km).

Quais são as ameaças atuais?

A vida marinha fora das áreas de proteção (1,2% do acordo anterior) está em risco com as mudanças climáticas, a pesca em excesso e o tráfego de navios.

Segundo a União Internacional para Conservação da Natureza, 10% das espécies marinhas estão em risco de extinção.

Além disso, a mineração tem preocupado grupos de defesa ambiental, porque podem intoxicar a vida marinha e criar poluição sonora.

O que dizem os especialistas

Para a bióloga marinha de Georgetown, Rebecca Helm, “proteger esta metade da superfície da Terra é absolutamente crítico para a saúde do nosso planeta”.

Nichola Clark, especialista em oceanos do Pew Charitable Trusts, disse que “esta é uma oportunidade única em uma geração para proteger os oceanos - uma grande vitória para biodiversidade”.

Já Laura Meller, do Greenpeace, declarou que "este é um dia histórico para a conservação e um sinal de que, em um mundo dividido, proteger a natureza e as pessoas supera a geopolítica”.

O acordo já está valendo?

Ainda não. Para ser formalmente adotado, o acordo precisa ser examinado por juristas e traduzido nos seis idiomas oficiais das Nações Unidas. 

Quase 200 países assinam acordo histórico para proteger as águas internacionais, que representam mais de 60% dos oceanos

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Quase 200 países assinam acordo histórico para proteger as águas internacionais, que representam mais de 60% dos oceanos


Quase 200 países assinam acordo histórico para proteger as águas internacionais, que representam mais de 60% dos oceanos

O que costumamos chamar de alto-mar ou águas internacionais são áreas do oceano que não pertencem a nenhuma zona econômica exclusiva, mar territorial ou águas internas de um Estado ou de um arquipélago, ou seja, nenhum governo tem jurisdição sobre elas. De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, aprovada em 1982, países só podem reivindicar soberania sobre 200 milhas marítimas (370 km) a partir de sua costa.

Com isso, mais de 60% dos oceanos do planeta não possuem uma autoridade para legislar sobre eles, ou melhor, e o que mais importa, para protegê-los e sua imensa biodiversidade. Para mudar essa situação, após anos de discussões e negociações, no último final de semana, na sede das Nações Unidas, em Nova York, quase 200 países concordaram em assinar um tratado histórico pelas conservação da vida marinha em águas internacionais.

Atualmente apenas 1,2% das águas internacionais têm algum tipo de proteção e somente 0,8% são categorizadas como “altamente protegidas”. Com o novo acordo global, 30% do alto-mar deverá ser preservado até 2030. Nessas áreas, a pesca, o tráfego de navios e a mineração em águas profundas vão ter um controle rígido.

Além disso, o tratado estabelece a criação de um órgão internacional para gerenciar os interesses dessas regiões de alto-mar e definir estratégias de conservação para os seres e ecossistemas marinhos.

“O tratado cria uma estrutura para proteger essa parte vital de nossos oceanos; conservando a vida marinha e restringindo as práticas nessas águas que prejudicam nosso planeta azul”, celebrou a organização internacional WWF em suas redes sociais.

“Este é um dia histórico para a conservação e um sinal de que, em um mundo dividido, proteger a natureza e as pessoas pode triunfar sobre a geopolítica”, disse Laura Meller, do Greenpeace Nordic, em comunicado. “Agradecemos aos países pelo compromisso, deixando de lado as diferenças e entregando um tratado que nos permitirá proteger os oceanos, construir nossa resiliência às mudanças climáticas e salvaguardar a vida e os meios de subsistência de bilhões de pessoas”.

O acordo entrará em vigor assim que juristas internacionais derem o aval final e o documento for traduzido nas seis línguas oficiais das Nações Unidas. Após essa fase, os países devem ratificar o tratado e começar a implementar ações.

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Foto de abertura: rawpixel/domínio público