domingo, 28 de maio de 2023

Conheça a história do curupira, o defensor das árvores e dos animais

 

Conheça a história do curupira, o defensor das árvores e dos animais

Uma estátua do personagem do folclore brasileiro compõe o novo espaço do Parque da Ciência do Instituto Butantan


Publicado em: 17/03/2022

Você já deve ter ouvido falar dele na escola. Do menino de cabelos vermelhos cor de fogo, protetor das florestas, que não dá moleza para caçadores e lenhadores: o curupira. O personagem mítico do folclore brasileiro também está em uma estátua de bronze no Jardim dos Cinco Sentidos, dentro do Horto Florestal, no Parque da Ciência do Butantan, em São Paulo-SP.

Relatos históricos afirmam que o mito do curupira surgiu entre os indígenas brasileiros que tinham verdadeiro pavor de um ser da floresta que punia quem pretendia derrubar árvores ou eliminar animais selvagens. Tanto que seu nome vem da junção de “curu”, uma contração do nome “curumim”, que significa menino, e “pira”, que significa corpo na língua indígena tupi. O padre jesuíta José de Anchieta, que viveu em São Paulo na época da fundação da cidade, foi o primeiro a relatar a história que ele conheceu pelos próprios índios ainda nos anos 1500.

Na década de 1970, o estado de São Paulo decretou uma lei que instituiu o curupira como símbolo estadual do guardião das florestas.

 

A lenda

A lenda caracteriza o curupira como um menino de tamanho pequeno, de cabelos vermelhos, dentes afiados e pés virados para trás. Seu objetivo é desorientar caçadores. Para isso, ele usa assobios ensurdecedores e suas pegadas ao contrário.

Ainda segundo a lenda, relatada no Dicionário do Folclore Brasileiro, escrito pelo célebre historiador e folclorista potiguar Luís de Câmara Cascudo, as características físicas do curupira podem mudar de acordo com a região: ele pode ser maior, careca, peludo, ter olhos verdes e dentes azuis.

De acordo com o folclore, o curupira assusta somente os caçadores que destroem a floresta, não aqueles que caçam ou usam os recursos da mata para se abrigar, matar a fome ou sede. Mesmo assim, os índios temem sua presença e oferecem presentes em forma de oferendas para acalmá-lo. O costume pegou e até hoje é comum seringueiros, entre outros extrativistas, oferecerem comida, bebida ou objetos ao curupira quando adentram na floresta.

 https://butantan.gov.br/bubutantan/conheca-a-historia-do-curupira-o-defensor-das-arvores-e-dos-animais


Teia de aranha: uma superengenhoca da natureza que é multifuncional e resistente como aço

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Teia de aranha: uma superengenhoca da natureza que é multifuncional e resistente como aço

A estrutura pode servir para abrigo, alimentação e até como cafofo do amor. Em alguns casos, duram uma única noite e chegam a formar uma espécie de lençol gigante


Publicado em: 14/04/2023

Responda rápido: o que curativos cirúrgicos, tecidos usados na fabricação de paraquedas e sensores eletrônicos supermodernos têm em comum? Teias de aranha! Isso mesmo: apesar de funções completamente diferentes, todos esses itens buscaram algum tipo de inspiração nas teias – seja por sua arquitetura ou por sua característica elástica, pegajosa e resistente.

“As teias são feitas de uma seda composta por proteínas. Na maioria dos casos, a estrutura é usada para a captura de presas, como os insetos, que servem de alimento para as aranhas. Além disso, são refúgios de proteção e reprodução do animal”, explica o pesquisador científico do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan Antonio Brescovit. 

 Como crocheteiras: as aranhas utilizam as pernas dianteiras e traseiras para tecer suas teias e capturar presas, garantindo a alimentação

 


Isso a Marvel não mostra!

A produção da seda que dá origem às teias acontece nas chamadas “fiandeiras” das aranhas. O órgão possui bolsas internas onde é fabricado um tipo de líquido que “endurece” em contato com o ar. A substância é expelida por microtubinhos conhecidos como fúsulas, capazes de fabricar fios de seda grossos ou finos, ou até mais ou menos pegajosos.

Bem diferente do super-herói dos quadrinhos e das telonas, que solta suas teias pelo pulso, as fiandeiras estão localizadas na região posterior do abdômen da aranha. Ou seja, o órgão está muito mais próximo ao bumbum do animal do que de suas “mãozinhas”. Por outro lado, não chega a ser improvável o fato de o Homem-Aranha usar a teia para se pendurar por entre os prédios, uma vez que um fio de teia é mais forte do que um cabo de aço com as mesmas dimensões. Já a trama frouxa de proteínas que o compõem confere a elasticidade incrível.

Apesar de todas as espécies de aranha produzirem seda, apenas a minoria tece teias. Até hoje, diferentes formas da estrutura já foram descobertas, como triangulares, emaranhadas (que lembram algodão-doce), tubulares e orbiculares (circulares), sendo que cada espécie de aranha “monta” um determinado tipo de teia. Os cientistas acreditam que ainda há muitos outros padrões a serem encontrados.

 A chamada aranha-de-teia-dourada recebeu esse nome uma vez que a sua teia ganha tons amarelados por conta dos raios solares

 


As superteias orbiculares

Com uma trama circular, a chamada teia orbicular é uma das mais comuns. Você não só viu muitas delas por aí, como provavelmente pensa nesse tipo quando o assunto surge. Apesar da arquitetura complexa, muitas das aranhas que tecem teias orbiculares montam a estrutura ao anoitecer e a desmontam antes do amanhecer, em um processo que se repete diariamente. “Elas comem a própria teia, uma vez que a construção demanda um grande gasto de energia por parte do animal”, revela Antonio Brescovit. 

É o caso da aranha-do-cerrado (Parawixia bistriata), que curiosamente produz teias orbiculares enormes. Como elas vivem em sociedade até atingirem a maturidade, durante a noite elas saem todas juntas para tecer suas armadilhas. Por ficarem bem próximas umas das outras, as estruturas acabam se unindo e lembram um enorme lençol - mesmo assim, a teia é “engolida” pelas pequenas aranhas antes do amanhecer. Na região amazônica também são encontradas versões gigantescas, onde vivem milhares de indivíduos de oito pernas. “São teias construídas por aranhas do gênero Anelosimus e que alcançam o tamanho de casas! Dá até para passear lá dentro”, brinca o pesquisador.

 



Fácil de identificar: nas teias, as aranhas maiores costumam ser as fêmeas; as menores são os machos

 

Morando sozinha

Há, também, aquelas espécies que deixam o seu cafofinho já montado, ampliando e fazendo pequenos reparos quando algum estrago acontece, como a aranha-de-teia-dourada (Trichonephila clavipes). Sazonais, costumam chamar a atenção por suas grandes teias, que aparecem no início do ano e desaparecem até julho. Há inúmeras delas entre os galhos, arbustos, plantas e até postes de luz do Parque da Ciência Butantan. Mas fique tranquilo, a maioria das aranhas de teia não são peçonhentas, sendo inofensivas aos seres humanos.

À primeira vista, a teia parece ser morada de apenas uma aranha fêmea antissocial. Mas com atenção, é possível observar a presença de um outro indivíduo bem menor: é o macho, que aguarda pacientemente o momento ideal para copular com a dona do espaço. Para eles, um movimento precipitado pode ser letal, pois quando não estão prontas para reprodução, as fêmeas matam os machos cheios de amor para dar. Quem olhar bem, também vai se surpreender com a presença das aranhas cleptoparasitas, uma espécie de invasora de teias alheias, que rouba os alimentos da verdadeira dona do pedaço. “Elas levam uma vida mansa, aproveitando a estrutura já construída e se alimentando de sobras.”




  Reportagem: Natasha Pinelli

Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

Arte: Daniel das Neves/Comunicação Butantan  

A arte da conquista: três animais que dominam os corações de suas parceiras

 


A arte da conquista: três animais que dominam os corações de suas parceiras

Spoiler: a segunda espécie que mais causa acidentes ofídicos no Brasil está na lista dos namorados do mundo animal

Publicado em: 11/06/2022

Como você impressiona a pessoa amada? Diferente do que muitos pensam, na fauna não são apenas os valentões que obtêm a estima das fêmeas. Aliás, em muitas espécies este método nem cola. Dependendo do animal, apenas os que utilizam técnicas mais poéticas alcançam tal façanha.
 
CASCAVEL

Se engana quem pensa que entre os peçonhentos somente há disputas violentas. Os machos da espécie Crotalus durissus, popularmente conhecida como cascavel, são adeptos da técnica de conquista com mais gingado e destreza.
Durante o período de reprodução, as fêmeas sexualmente prontas liberam feromônios para atrair os machos. O primeiro que chega fica ao lado dela. No entanto, outros machos também são atraídos. Quando o segundo se aproxima, os dois começam uma disputa pela fêmea.
Este conflito é um ritual de pré-acasalamento, intitulado “dança combate”. Nesta dança, os passos são diferentes e um macho tenta derrubar o outro. O campeão da competição torna-se o alfa e conquista o direito de copular com a fêmea. No entanto, a disputa pode acontecer várias vezes e durante alguns dias, até que o perdedor desista. Caso apareça um novo “competidor”, a dança recomeça até o alfa firmar a sua posição. Tal empenho, resulta em, aproximadamente, 15 filhotes por ninhada – a quantia varia de acordo com o tamanho da mãe.

Museu Biológico, que é uma das atrações do Parque da Ciência, possui a espécie em exposição. Inclusive, o recinto das cascavéis foi projetado para que os visitantes, durante o mês de abril, possam  possam assistir a este embate.


Características físicas: medem entre 1,5 e 2 metros; sua coloração é marrom escuro, o que favorece a camuflagem; a marca registrada é o chocalho, cientificamente chamado de guizo, na ponta da cauda.

Alimentação: basicamente roedores.

Curiosidades: o guizo é formado pela pele de troca seca – diferente do que muitos pensam, a quantidade de “anéis” não tem a ver com a idade do animal e, sim, com as trocas de pele. É a segunda espécie que mais causa acidentes ofídicos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
 
ARAPONGA-DA-AMAZÔNIA

No caraoquê das florestas úmidas, a ave Procnias Albus, que leva o nome popular de araponga-da-amazônia, é a campeã! Um artigo publicado na revista científica Current Biology aponta que o canto deste pássaro tem o alcance de 125 decibéis (dB). Ou seja, é mais alto do que uma britadeira (110 dB) ou o som de uma turbina de avião (120 dB). Este vocal potente também é usado para impressionar uma possível parceira. De acordo com o estudo, a vocalização extremamente alta da araponga-da-amazônia, que almeja cativar o coração da fêmea, pode ter efeito contrário ao desejado. Elas, na verdade, acabam por recuar durante ou um pouco antes do canto – possivelmente para evitar danos auditivos.
Além do canto, outra característica marcante do pássaro é a presença de um apêndice, ligado ao seu bico. Esta “extensão” pode ser chamada de carúncula ou barbela. Sua função biológica e ecológica ainda não foi compreendida, mas especula-se que também está ligada ao charme de conquista. Isso porque quando a fêmea está próxima, geralmente no mesmo galho, a carúncula fica totalmente esticada, e, em outros momentos, fica retraída. Outro argumento é o de que os machos jovens possuem a barbela menos desenvolvida, um indício de imaturidade sexual.

Espécie: Procnias albus, ave da ordem Passeriformes, da família Cotingidae e do gênero Procnias.

Onde habita: florestas úmidas, em regiões serranas; no Brasil, a ave é encontrada no Pará e em Roraima. Também é nativa de outros países da América do Sul, como Guiana, Guiana Francesa e Venezuela.

Características físicas: mede entre 27 e 29 centímetros; as fêmeas têm o dorso verde oliva e ventre amarelo com listras; os machos têm aparência inconfundível, por ser uma das poucas aves terrestres com plumagem totalmente branca e possuir um “apêndice” no bico.
Alimentação: frutas.
 
ARANHA-PAVÃO

A aranha-pavão (Maratus volans) é mais uma que faz parte do time de pé de valsas. Enquanto as fêmeas são de coloração marrom escuro, os machos exibem desenhos e cores exuberantes na parte superior de seus corpos, justamente como forma de atrativo. Durante o acasalamento, ele eleva seu abdômen e o expande, como um pavão – daí a origem do nome da espécie. Assim, demonstra tonalidade e forma. Além disso, ergue um terceiro par de pernas para captar a atenção da fêmea com mais facilidade.

Em posição, começa o ritual. As pernas são abanadas no ar, enquanto o restante do corpo vibra em uma dança lateral. Os “passinhos” podem durar de quatro até 50 minutos. Neste rito, a fêmea emite movimentos que indicam se ela está interessada. Um possível desinteresse pode ser fatal para o macho, porque esta é uma das espécies de aracnídeos que pratica o canibalismo sexual. Não é à toa o empenho do macho para conquistar sua garota.

Espécie: Maratus Volans, aranha da ordem Araneae, da família Salticidae e do gênero Maratus.

Onde habita: em regiões da Austrália, geralmente em vegetações rasteiras.

Características físicas: medem entre 4 a 5 milímetros; a fêmea possui coloração marrom escuro, enquanto o macho é detentor de cores vibrantes e extremamente atrativas.
Alimentação: pequenos insetos e moscas.

Curiosidades: são excelentes caçadores; inclusive, a cor mais escura das fêmeas facilita a camuflagem durante a busca por alimento. A fêmea pode predar o macho caso não queira acasalar.
 
 
*Este texto foi produzido com o apoio do diretor do Museu Biológico do Butantan, Giuseppe Puorto; do diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, Antonio Brescovit; e do ornitólogo e pesquisador associado ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Ramiro Dário Melinski.
*O créditos das fotos da cascavel é de Giuseppe Puorto e o das fotos da araponga-da-amazônia é de Ramiro Dário Melinski

Espécie: Crotalus Durissus, serpente peçonhenta da família Viperidae e da subfamília CrotalinaeI.
Onde habita: áreas abertas, quentes e secas; no Brasil, habita nos biomas cerrado e caatinga.