Vi com satisfação que vários blogs, colunistas e políticos de oposição tem começado a dar a devida prioridade para a questão da censura de mídia. Este é o ponto mais importante da guerra política atualmente.
Por outro lado, muitos ainda estão dedicando seu tempo à denunciar as propostas de censura de mídia pela implementação de uma “Ley de Medios”. Todavia, a disputa pela liberdade de imprensa deveria ocorrer em todos os níveis, não apenas nos projetos de lei.
Por exemplo, segundo o Portal Metrópole (mais um órgão petista), o governo anunciou oficialmente o corte de verbas tanto para a Rede Globo como para a Editora Abril.
Dilma teria dito: “Não compactuamos com mentirosos”. O que é um eufemismo para dizer que estão proibidas notícias contra o governo, mas liberadas todas aquelas a favor.
Alguns puristas ainda vão repetir a conversa: “ah, melhor ficar sem dinheiro estatal mesmo”, mas como já mostrei aqui esse comportamento não passa de uma mistura de erro cognitivo com ingenuidade política mórbida.
Como ilustração, imagine uma hipotética notícia dizendo que pessoas manifestando opiniões de direita não podem mais participar de concursos públicos. Um iludido diria: “tudo bem, eu não quero cargo público mesmo”.
Mas a questão não é nem de longe essa, mas o uso do aparelho estatal para benefício dos donos do governo, privilegiando quem os apoie, em detrimento dos que se opõem.
Para que você tenha uma ideia da monstruosidade desse corte de verbas, o artigo do Portal Metrópole diz:
[…] cortes dessa magnitude (nessas revistas que estão sendo usadas como marionetes da direita) podem ser um tiro certeiro naquilo que chamamos hoje em dia de “mídia golpista.Não é possível haver uma confissão mais clara de uso do estado de maneira desonesta para coagir a opinião divergente.
Claro que não poderia faltar a desculpa esfarrapada, como vemos abaixo:
A editora Abril e a Globo vão começar a se preocupar com outros meios de comunicação do grupo, que podem ser atingidos com essa restrição de anúncios. O Partido dos Trabalhadores já deixou bem claro que a revolta não é pelas denuncias, mas sim por divulgá-las sem aval da Policia Federal e sem provas concretas.Isso é de um cinismo sem igual. Ainda que existisse uma “acusação sem provas”, a questão deveria ser resolvida pelas vias judiciais, e não a partir do corte de verbas estatais.
Além do fato de que órgãos a favor do governo continuam recebendo as verbas estatais e praticando verdadeiros assassinatos de reputação, quase sempre sem qualquer tipo de prova.
Se qualquer adepto da democracia não perceber o quanto isso é terrível e afrontoso às instituições, então significa que estamos diante de um caso perdido.
A afronta não poderia parar. Veja este outro trecho do mesmo artigo:
Três grandes estatais colocaram mais de 250 milhões de reais inserções na Globosat no ano de 2013. Se o governo federal cortar “por ai” , a oposição midiática vai perceber que essa historia de malhar a Dilma Rousseff é um horrendo e amargo negócio. Ops, ainda falta os Correios…esse vai fazer falta no caixa da Platinada…De novo: se alguém não entendeu isso como a confissão do uso criminoso do aparelho estatal, então essa pessoa, mesmo que pense estar do nosso lado, é parte do problema.
De forma ainda mais didática, vamos ao que esta acontecendo:
- Se um órgão de mídia jogar cobras e lagartos, mesmo sem qualquer prova, contra um opositor, tudo bem. No caso da BLOSTA, isso significa receber anúncios superfaturados, ou seja, a visualização deles vale 10 vezes mais que os dos outros sites.
- Se o mesmo ocorre em caso de notícias contra o governo, você corre o risco de ter suas verbas de anúncios cortadas.
- Até uma ostra percebe que isso é o uso de dinheiro estatal para financiar elogios ao governo, e chantagear financeiramente quem publique críticas ao poder.
O caso das verbas superfaturadas para a BLOSTA e o corte de verbas para a Abril a Globo já configuram motivos para CPI. Por muito menos, Richard Nixon renunciou. Mas, enquanto não transformamos esses eventos nos escândalos que realmente são, o governo vai contabilizando poderosas vitórias simbólicas ao seu lado.
Motivo: atos tão torpes quanto a chantagem com dinheiro estatal e o superfaturamento de verbas para a BLOSTA, juntos com a falta de protestos por nossa parte, transmitem a mensagem: “Censura sutil é algo que pode passar”.
Como disse no post anterior, nossa capacidade de nos indignar com essa aberração vai definir o jogo da censura de mídia. Se nos indignarmos pouco, eles vencem. Se nos indignarmos de fato, eles perdem.