Brasil 24/7
Fernando Henrique Cardoso, Oscar Arias Sánchez
(Costa Rica), Ricardo Lagos (Chile) e Alejandro Toledo (Peru) divulgam
declaração conjunta pela qual ressaltam que há "criminalização", por
parte do governo de Nicolás Maduro, ao "protesto cívico e da oposição
democrática" na Venezuela; "na condição de amigos da democracia
venezuelana", os quatro ex-chefes de governo fazem apelo e clamam à
comunidade internacional para que haja investigação contra as denúncias
de tortura, o fim das "restrições à imprensa", "fim imediato das
perseguições contra os estudantes" e debate promovido pelo governo
venezuelano; em artigo no fim de semana, FHC já havia criticado a
"timidez de nosso governo" diante da crise
6 de Março de 2014 às 16:07
247 – Os ex-presidentes Fernando Henrique
Cardoso, Oscar Arias Sánchez (Costa Rica), Ricardo Lagos (Chile) e
Alejandro Toledo (Peru) divulgaram uma declaração conjunta sobre a
situação na Venezuela, pela qual criticam o fato de "manifestações
estudantis" contra o governo de Nicolás Maduro tenham sofrido "repressão
desmedida" de grupos que, de acordo com a imprensa, são vinculados com
partidos políticos no governo.
O comunicado menciona que jovens declararam terem sido torturados, a
imprensa independente tem sido perseguida e há dificuldade para a
divulgação dos fatos ocorridos no país, "incluindo a retirada do ar de
um canal internacional de televisão e ameaças de fazer o mesmo com
outro", além de "agressões físicas a jornalistas e limitações à
aquisição de papel para a imprensa escrita".
"Na condição de amigos da democracia venezuelana", como escrevem no
comunicado, os quatro ex-chefes de governo pedem o estabelecimento de um
"debate construtivo", investigação "transparente" sobre as denúncias de
tortura e outras violações aos direitos humanos e ainda o fim das
restrições à imprensa. "Confiamos que esse país será capaz de superar a
extrema polarização e a intolerância que dominaram a cena política nos
últimos anos", afirmam.
Em artigo no fim de semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
já havia criticado a "timidez de nosso governo" em "fazer o que deve"
diante da crise na Venezuela. "Não digo apoiar este ou aquele lado em
que o país rachou, mas pelo menos agir como pacificador, restabelecendo o
diálogo entre as partes, salvaguardando os direitos humanos e a
cidadania", escreveu (leia mais aqui). Abaixo, a íntegra da declaração conjunta:
Declaração conjunta sobre a Venezuela
Nós,
abaixo assinados, Oscar Arias Sánchez, Fernando Henrique Cardoso,
Ricardo Lagos e Alejandro Toledo, concordamos em formular a seguinte
declaração conjunta:
Temos observado com preocupação e alarma os acontecimentos que vêm
ocorrendo na Venezuela durante as últimas semanas.
Manifestações
estudantis de protesto pacífico contra as políticas do governo, fato
normal em qualquer sociedade democrática, têm sido objeto de uma
repressão desmedida por parte das forças de segurança e de ataques por
parte de grupos armados ilegais que alguns meios de comunicações
vinculam com partidos políticos no governo.
Estes fatos estão na origem de uma alarmante escalada de violência e
de uma rápida deterioração da situação dos direitos humanos no país.
A violência já custou a vida de várias pessoas atingidas por balas;
estudantes presos declararam publicamente terem sido submetidos a
torturas e tratamento desumanos e degradantes por parte das autoridades;
a imprensa independente tem sido perseguida e dificuldades foram
criadas para impedir que os meios de comunicação informem sobre os
acontecimentos, incluindo a retirada do ar de um canal internacional de
televisão e ameaças de fazer o mesmo com outro, agressões físicas a
jornalistas e limitações à aquisição de papel para a imprensa escrita.
Além disso, o protesto cívico e da oposição democrática tem sido
criminalizado. Numerosos estudantes presos estão sob a ameaça de
processos penais; o senhor Leopoldo López, líder de um partido de
oposição, foi sumariamente privado de liberdade e acusado, por motivos
políticos, de diversos delitos. Outros líderes democráticos também têm
sido submetidos a perseguições judiciais por razões políticas.
Condenamos estes fatos e instamos o Governo venezuelano e todos os
partidos e atores políticos a estabelecer um debate construtivo no marco
de referência dos princípios democráticos universalmente reconhecidos,
tal como definidos na Carta Democrática Interamericana.
Fazemos um apelo especial ao governo para que contribua para a
criação, sem demora, das condições propícias para esse debate, com uma
agenda compartilhada e sem exclusões.
Para tanto é imperativo que se
ponha fim de imediato à perseguição contra os estudantes e os líderes da
oposição, colocando em liberdade o senhor Leopoldo López e todos os
demais detidos ou perseguidos por razões políticas.
Faz-se também
necessária a condução de uma investigação independente e transparente
sobre as denúncias de torturas e outras violações de direitos humanos.
Devem cessar as restrições e hostilidades impostas à imprensa
independente, o que inclui o restabelecimento do sinal do canal
internacional de televisão bloqueado pelo governo.
É igualmente necessário que as manifestações de protesto dos partidos
de oposição e de outras organizações sejam conduzidas de forma
pacífica, como ocorre nas sociedades democráticas e com o respeito
devido ao mandato das diferentes autoridades do país, nos termos
definidos pela Constituição venezuelana.
Na condição de amigos da democracia venezuelana, confiamos que esse
país será capaz de superar a extrema polarização e a intolerância que
dominaram a cena política nos últimos anos – males que minaram a
eficácia dos mecanismos internos de debate democrático e a confiança na
independência e imparcialidade de numerosas e relevantes instituições.
Ao mesmo tempo, fazemos um chamamento à comunidade internacional para
que se junte a um esforço concertado em prol do fortalecimento da
democracia e da preservação da paz na Venezuela.
OSCAR ARIAS SÁNCHEZ
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
RICARDO LAGOS
ALEJANDRO TOLEDO