quinta-feira, 12 de março de 2020

Água: no eixo central nos cenários de conflito no mundo

Por Sucena Shkrada Resk* – 
 




A água, apesar de ser um direito humano, tem sido menosprezada através dos séculos no planeta. Experiências que exemplificam este extremo são vivenciadas diariamente por meio de conflitos contemporâneos com relação aos recursos hídricos, cada vez mais escassos, em nações principalmente da África, do Oriente Médio e na Ásia. As causas mesclam origens climáticas, geográficas, de intervenções de grandes obras que reduzem a capacidade de vazão nas bacias, poluição hídrica, desperdício e dimensão do crescimento populacional. Seja qual for o motivo, a ação humana desencadeia este avanço de tensões.

A relevância deste problema tem levado a produções de pesquisas, como a que  identifica cenários sobre as possíveis disputas pela água em regiões transfronteiriças criado pelo Centro Comum de Investigação (CCI) da Comissão Europeia (Likelihood of hydro political-interaction), com construções de perspectivas até 2050 e até 2100. Com mais alto risco, foram avaliadas as Bacias Hidrográficas do Ganges / Brahmaputra, Pearl / Bei Jiang, Nilo, Feni (ou Fenney), Indus, Colorado , Tarim, Shatt al-Arab – Tigre / Eufrates, Hari e Irrawaddy.

Seja qual for o local no mundo, o que fica claro é que a crise hídrica não é algo distante da realidade do hoje e é uma prioridade que deve estar constante nos planos de governo federais a municipais e no âmbito das cooperações internacionais, que incluem os orçamentos, com estratégias de ações de precaução e contingenciamento. O princípio para todas as medidas é da conscientização da premissa básica da importância da cultura do consumo racional, que envolve a sociedade, em todos seus extratos.

No documento “Água Doente”/ONU, do ano passado, talvez, o dado atual mais estarrecedor, é de que 1,8 milhão de crianças menores de cinco anos morrem anualmente, por falta de água limpa. E é justamente nos países em desenvolvimento, como o Brasil, que a maior parte do despejo de resíduos acontece, lançando 90% da água de esgoto sem tratamento.

As perspectivas são complexas. Mais de 2,7 bilhões de pessoas deverão ser atingidas no planeta pela falta d`água até 2025, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Para se ter noção, nem os serviços de saúde escapam dessa problemática. Aproximadamente um em cada quatro centros de saúde em todo o mundo têm falta de serviços básicos de água potável e mais da metade dos leitos hospitalares mundialmente são ocupados por pessoas com doenças relacionadas à contaminação da água.

Para combater o stress hídrico, alguns municípios a países têm investido em múltiplas ações, que têm demonstrado eficácia. Entre elas, sistemas robustos de saneamento ambiental, reuso da água e irrigação com o mínimo de probabilidade de desperdício, como também dessanilização, despoluição dos corpos hídricos, combate ao desmatamento e às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) por combustíveis fósseis, com investimento em energia limpa e renovável. O que fica claro é que uma ação isolada da outra não é suficiente e há necessidade de haver a sincronicidade dessas diversas medidas.

Uma das constatações dos pesquisadores do CCI é de que a capacidade institucional e de governança das instituições nacionais e supranacionais deve ser aprimorada para minimizar a vulnerabilidade dos sistemas específicos de bacias biofísicas e socioeconômicas à crescente pressão. Nesta colocação, está implícito um forte sentido da necessidade de gestões com cooperações multilarerais, que dá o sentido da unificação de esforços. Para suas análises, utilizam a aplicação do algoritmo de regressão chamado Random Forest.

O World Resources Institute (WRI) tem alertado quanto ao aumento do risco da intensificação da crise hídrica global, que será mais acentuada em cerca de 20 países, que correspondem a um quarto da população mundial. Uma das situações mais críticas é da Índia, tendo em vista que em seu território vivem 16% da população mundial (mais de 1,36 bilhão de pessoas) e lá só estão 4% das reservas hídricas mundiais. A pressão se estende também ao Catar, a Israel, ao Líbano, Irã, à Jordânia, Líbia, ao Kuait, à Arábia Saudita, Eritreia, aos Emirados Árabes, a San Marino, ao Barein, Paquistão, Turcomenistão, à Omã e Botswana.Mas esta lista é significativamente maior.

Na região da Bacia Hidrográfica do Rio Nilo, no continente africano, que tem 7 mil km de extensão, existe literalmente uma disputa pelo controle da água, tendo em vista os longos processos de estiagem e seca que atingem a região. Neste embate, as cisões começam a crescer. Por muitas décadas, Egito e Sudão mantiveram domínio, que tem sido questionado nos últimos anos por outros países, como Etiópia, Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi. Estas nações querem ter divisões iguais de acesso a estes recursos.

Quando vamos à região do Oriente Médio, na Bacia dos rios Tigre e Eufrates, a situação de tensão tende a aumentar. Com o predomínio da Turquia sobre as nascentes, Síria e Iraque questionam esta hegemonia, tendo em vista que a construção de hidrelétricas em território turco estaria diminuindo a vazão dos rios, nesta região cada vez mais castigada pelos baixos índices pluviométricos.

A preocupação com o stress hídrico mundial também atinge a América Latina, com destaque para o Chile e México. Especialmente no Brasil, o alerta é para Brasília, Campinas, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. No continente Europeu, a vulnerabilidade maior é na Albânia, Espanha, Grécia e Itália, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A relação de causa e efeito quando se trata de recursos hídricos tem consequências planetárias, com o quadro que se apresenta hoje e nas pesquisas quanto a cenários futuros. Ao se tornar motivos de conflitos, que tendem a crescer, demonstra que os modelos de planejamento de nossas cidades e nações não estão levando isto em conta. A pergunta que resiste: quais são as verdadeiras prioridades?
*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk 

(https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
#Envolverde

O que aconteceria se o mundo reagisse às mudanças climáticas como reage ao coronavírus?

 



por Adele Peters* para o site FastCompany – 
 
Como seria uma resposta rápida, coordenada e coletiva às mudanças climáticas?


O coronavírus transformou a vida cotidiana de maneira tão significativa que os efeitos já são visíveis do espaço. Na China, onde centenas de milhões de pessoas foram colocadas em quarentena para ajudar a impedir a propagação da doença, fotos de satélite antes e depois mostram a poluição desaparecendo à medida que o trabalho parava. Nos EUA, como o número de casos de coronavírus cresceu rapidamente, as empresas estão pedindo aos funcionários que trabalhem em casa e cancelem as conferências.

As escolas estão cancelando as aulas. Na Itália, outra quarentena maciça está em andamento.

As mudanças foram repentinas, impulsionadas pelo amplo reconhecimento de que é uma emergência de saúde pública – e, embora a janela de oportunidade já esteja fechada, a chance de impedir que outra doença mortal como a gripe se torne um problema permanente e permanente.

A escala da resposta levanta outra questão: como seria se o mundo respondesse à crise climática com um senso de urgência semelhante? A resposta do coronavírus pode não ter sido tão rápida quanto deveria; se o governo chinês tivesse agido mais rapidamente, o vírus poderia não ter se espalhado para outros países. E as táticas autoritárias do governo chinês não deveriam – e não podiam – ser imitadas em grandes partes do resto do mundo. Mas em países de todo o mundo, governos e cidadãos foram rápidos em mudar hábitos diários. O mesmo não aconteceu no clima da crise climática.


Vimos que os governos podem agir e as pessoas podem mudar seu comportamento, em um período muito curto”, diz May Boeve, diretor executivo do grupo de defesa do clima 350.org . “E é exatamente isso que o movimento climático pede aos governos e às pessoas que façam há anos diante de um tipo diferente de ameaça – a crise climática – e não vemos uma ação proporcional. Por um lado, mostra que é possível fazer isso, e é possível que esse tipo de mobilização de recursos ocorra em um curto espaço de tempo. Nesse sentido, isso é encorajador. Mas nunca duvidamos desse aspecto. ” Em vez disso, ela diz, era uma questão de saber se havia vontade política para mudanças rápidas.


Existem semelhanças entre as situações – em ambos os casos, a comunidade científica está oferecendo avisos claros sobre o que fazer. Ambos envolvem saúde pública. A mudança climática já está matando pessoas em ondas de calor extremas e outros desastres; também está piorando a escassez de comida e água e deslocará centenas de milhões de pessoas. Os mesmos poluentes que contribuem fortemente para a mudança climática também causam poluição do ar que mata milhões de pessoas a cada ano. Doenças como a malária e a dengue podem se espalhar à medida que os mosquitos se deslocam para novas regiões. E, como no caso do coronavírus, as pessoas que vivem em áreas com menos recursos são as mais afetadas pelas mudanças climáticas. “As mudanças climáticas também afetam os mais vulneráveis ​​primeiro e pior”, diz Boeve. “Então vemos que esse padrão também se desenrola,

Se o mundo estivesse respondendo às mudanças climáticas como o coronavírus – o nível de urgência que a ciência diz ser necessário – as coisas pareceriam dramaticamente diferentes. “Veríamos muitas coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo”, diz Boeve.

Os governos inventariam os fundos para construir a infraestrutura necessária para implantar totalmente a energia renovável. “É barato o suficiente e está disponível, mas os sistemas regulatórios que permitiriam às pessoas de todos os lugares obter energia limpa exigiriam investimentos maciços do governo”, diz ela. “Veríamos esses tipos de pacotes de emergência que levariam as pessoas para fora da grade de combustíveis fósseis e para uma grade limpa imediatamente”.

Após incêndios florestais e inundações extremas, os pacotes de ajuda reconheceriam o papel do clima. Nas cidades, as regras de desenvolvimento mudariam para exigir construção de baixo carbono. As fazendas mudariam para a agricultura regenerativa. Assim como o setor aéreo está lutando por causa do coronavírus, alguns setores terão impactos reais. “Provavelmente ainda não teríamos uma indústria de petróleo, carvão e gás que prosperasse em nossa economia”, diz Boeve. Teríamos que encontrar maneiras de apoiar os trabalhadores dessas indústrias também.


“É um monte de coisas diferentes, que podem acontecer muito rapidamente, porque realmente sabemos o que precisa acontecer”, diz ela. “E isso é incrível. Mas a mudança na qual, e é isso que é tão interessante sobre o que está acontecendo com uma emergência de saúde pública, é que acho que há uma confiança na comunidade de saúde pública em dizer, essas são as medidas que precisamos que você coloque em prática agora. Eles estão prontos para ir e os formuladores de políticas estão agindo. E o mesmo acontece com as mudanças climáticas. Temos essas políticas, elas foram elaboradas. Eles estavam esperando para serem promulgados.


Um número crescente de cidades e países declarou formalmente uma emergência climática. Alguns estão agindo mais rapidamente do que outros. Mas a mobilização geral não se parece em nada com a resposta ao coronavírus. Em parte, isso ocorre porque a mudança climática ainda parece um problema um tanto distante, apesar do número crescente de desastres relacionados ao clima que acontecem todos os anos. Outro desafio óbvio: na crise climática, empresas poderosas têm muito a perder se o mundo agir de maneira decisiva e, com o vírus, embora muitas pessoas estejam perdendo dinheiro, não há oposição igualmente maciça para tentar resolver o problema.


“O poder entrincheirado e a permanência no status quo é o que diferencia a mudança climática dessa crise em particular”, diz Boeve. “Isso é algo no qual muitas pessoas estão trabalhando e isso está mudando. Está se tornando cada vez mais difícil politicamente justificar receber doações de empresas de combustíveis fósseis, por exemplo. Isso está começando a mudar.
*Adele Peters é escritora da Fast Company que se concentra em soluções para alguns dos maiores problemas do mundo, das mudanças climáticas aos desabrigados. Anteriormente, ela trabalhou com o GOOD, BioLite e o programa Produtos e Soluções Sustentáveis ​​da UC Berkeley, e contribuiu para a segunda edição do livro best-seller “Worldchanging: Um Guia do Usuário para o século XXI”.

Os animais que conseguem escapar vivos após serem devorados

Os animais que conseguem escapar vivos após serem devorados

  • 15 julho 2017

Em 2012, biólogos que participavam de uma expedição ao Timor Leste, no sudeste da Ásia, flagraram uma cobra-cega-de-Brahminy rastejando de um lugar bastante inesperado: o traseiro de um sapo asiático comum. 

A dupla de animais foi encontrada embaixo de uma pedra.

O ineditismo do acontecimento se deu por dois motivos. Foi a primeira vez que uma presa foi observada saindo viva após a digestão por um sapo.

Também porque, até então, nunca se vira um animal tão grande quanto uma cobra-cega escapar com vida após passar por um canal digestivo.

"É muito surpreendente que um vertebrado, que tem pulmões, seja capaz de sobreviver", diz Mark O'Shea, da Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido.


Probabilidades

Larvas e pequenos invertebrados marinhos podem passar ilesos por alguns predadores.
Mas presas maiores estão sujeitas a serem mastigadas até a morte. Mesmo que consigam se esquivar, viajar pela garganta inteira do predador pode ser muito complicado.

E, se conseguirem, encontrarão um desafio maior ainda.


Pássaro japonês do olho-branco

 Há certos tipos de caracóis que podem sair vivos de um pássaro japonês do olho-branco


A maioria das presas não conseguiria sobreviver à exposição aos ácidos gástricos que decompõem tecidos no estômago de um predador. Enfrentar a falta de oxigênio na profundidade do sistema digestivo é outro problema.

No entanto, para as presas engolidas por um sapo ou uma ave, as possibilidades de sobrevivência podem ser um pouco mais altas.





Mexilhões 
 Mexilhões conseguem passar através das anêmonas marinhas
Esses animais costumam empurrar os alimentos para o fundo da garganta antes de os engolir, o que pode aumentar a probabilidade de que a presa entre no sistema digestivo sem grandes danos.
Isso ajuda a explicar como um anfíbio extremamente tóxico - a Taricha granulosa, um tipo de salamandra - consegue sobreviver após ser engolida por uma rã.

Ao entrar no estômago da rã, as toxinas liberadas pela salamandra matam o predador antes que seu suco digestivo comece a funcionar.

A partir daí, o anfíbio só precisa sair pela boca da rã morta.


Porta dos fundos

Mas a cobra-cega-de-Brahminy não matou seu anfitrião e ainda seguiu um caminho muito mais longo, através do intestino, para sair do sapo.

A cobra pode estar melhor equipada do que a maioria das espécies por ter um corpo comprido e esguio de poucos milímetros de comprimento.
    O'Shea diz acreditar que a cobra tenha se arrastado pelo intestino do sapo em vez de simplesmente ter sido carregada pelas contrações musculares que empurram os alimentos.

    Um fator que poderia ter facilitado esse trajeto são os hábitos alimentares do sapo.

    Pode ser que ele não tenha comido muito nas horas antes de abocanhar a cobra, o que significa que o caminho pelo seu intestino poderia estar vazio e ser feito mais rapidamente, reduzindo a exposição da cobra-cega aos ácidos digestivos.

    Mas sua pele provavelmente foi sua melhor proteção.

    As escamas unidas estreitamente e em sobreposição que ajudam as cobras-cegas a se movimentar na terra provavelmente bloquearam os sucos gástricos, impedindo que chegassem a seus tecidos e órgãos delicados.

    É provável que o maior problema que a cobra-cega tenha enfrentado tenha sido a longa falta de oxigênio.


    Os pesquisadores não sabem quanto tempo a cobra levou em sua viagem pelo intestino do sapo. Mas, ainda que a tenham visto sair de lá com vida, ela morreu cerca de cinco horas depois.

    Menos oxigênio

    Os caracóis podem ser viajantes gástricos melhores que as cobras-cegas, já que conseguem viver com menos oxigênio.

    Em estudo publicado em 2011, Shinichiro Wada e seus colegas da Universidade de Tohoku, no Japão, alimentaram pássaros japoneses do olho-branco com caracóis terrestres (Tornatellides boeningi) para ver se eles conseguiriam passar ilesos pelo sistema digestivo.

    Cerca de 15% deles sobreviveram à viagem, que levou entre 20 e 120 minutos, revelando pela primeira vez que caracóis terrestres podem sobreviver à digestão por outros animais.
    A resistência dos caracóis provavelmente se deve às suas conchas, que funcionam como uma armadura natural.

    As conchas das espécies examinadas, de aproximadamente 2,5 milímetros de comprimento, foram recuperadas intactas nas fezes das aves, enquanto as das espécies maiores foram despedaçadas.
    Os pesquisadores acreditam que os caracóis também possam produzir uma secreção que fornece proteção adicional ao ambiente ácido, mas essa ideia ainda precisa ser comprovada.

    Sobreviventes

    Outro inesperado viajante intestinal é uma espécie de verme nematóide chamado Caenorhabditis elegans.

    Hinrich Schulenburg e sua equipe da Universidade de Kiel, na Alemanha, encontraram nematóides nos intestinos de lesmas no norte do país.

    Minutos depois, eles foram surpreendidos ao encontrar os vermes vivos nas fezes das lesmas.

    "Parece que eles são ingeridos por via oral, o que é estranho (que eles sobrevivam), porque as lesmas têm um órgão moedor que poderia destruí-los", diz Schulenburg. "Também não sabemos como eles sobrevivem ao ambiente ácido."

    As viagens intestinais são raras em animais terrestres, mas parecem ser mais comuns em ambientes aquáticos.

    Casper Van Leeuwen e colegas da Universidade de Utrecht, na Holanda, descobriram que alguns caracóis aquáticos adultos continuam vivos depois de passar pelos patos-reais (Anas platyrhynchos).


    As fêmeas de uma espécie de ostrácodos (um crustáceo invertebrado) também conseguiram sobreviver no intestino do peixe-ventosa (Gobiesox barbatulus). Os mexilhões também conseguem passar por anêmonas marinhas comuns e evitar a digestão se suas conchas estiverem hermeticamente fechadas.

    Propagação da espécie

     

    Considerando que parecem ser razoavelmente comuns, as viagens pelos sistemas digestivos poderiam ser uma maneira importante de transporte para espécies de menor mobilidade, permitindo que elas colonizem lugares mais distantes.

    Esse parece ser o caso dos caracóis que Wada e sua equipe observaram. Eles foram recolhidos de Hahajima, uma das ilhas Ogasawara no Japão. Seu padrão de distribuição nas ilhas no entorno parecia fazer sentido apenas para um animal com asas.

    E a transferência genética entre populações de caracóis geograficamente distantes também poderia ser explicada pelo transporte intestinal.

    A equipe que Wada percebeu que as áreas com alta densidade de pássaros japoneses do olho-branco - espécies nas quais os caracóis eram capazes de sobreviver - também tinham caracóis geneticamente mais diversos.

    O Caenorhabditis elegans sobrevive ao ataque intestinal das lesmas



    Caenorhabditis elegans sobrevive ao ataque intestinal das lesmas
    "Esses resultados indicam fortemente que os caracóis terrestres podem ser espalhados por aves predadoras", diz Wada.

    Um dos primeiros casos de um inseto usando esse tipo de transporte interno para se espalhar foi documentado em 2014 por Jan-Jakob Laux e sua equipe na Universidade de Hamburgo, na Alemanha.

    Os especialistas suspeitam que os ovos de um besouro aquático, Macroplea mutica, sejam dispersos pelos patos-reais, já que eles conseguem sair intactos de seu sistema digestivo.

    A ampla distribuição desses insetos em toda a região Paleártica (que abrange África, Europa, o norte dos países árabes, a Ásia ao norte do Himalaia, o Japão e a Islândia) é um mistério, já que eles não têm tanta capacidade de locomoção.

    Efeito adverso?

    Mas se os predadores estão digerindo animais vivos sem saber, isso pode ter algum impacto para sua saúde?

    Os parasitas intestinais, por exemplo, frequentemente chegam até um animal pela água e pela comida e se instalam em seus intestinos.

    Mas além da relação parasitária que eles estabelecem com os animais, estes "viajantes gástricos" também podem trazer benefícios a seus hospedeiros.

    Segundo Hinrich Schulenburg, alguns deles, por se alimentarem de bactérias, podem ajudar a diversificar o microbioma dos intestinos por onde viajam.

    A cobra-cega-de-Brahminy, porém, provavelmente causou pouco impacto no sapo que a comeu, para além da estranha sensação de ter um animal se movendo dentro de seu estômago e intestinos.

    "O sapo só pareceu estar um pouco envergonhado", brica O'Shea. Afinal de contas, ele tinha uma cobra saindo de seu traseiro.

    Como as araras voltaram aos céus de uma ilha da América Central

    Como as araras voltaram aos céus de uma ilha da América Central


    Se você disser a palavra arara, muitas pessoas pensarão na imagem de um pássaro tricolor com um grande bico cinzento.

    Mas, apesar de serem facilmente reconhecíveis, essas aves se tornaram extremamente raras na vida selvagem.

    Um deles é a arara vermelha, que se divide em duas principais populações. Uma está confinada à América do Sul. A outra está na América Central e é conhecida como Ara macao cyanoptera. A subespécie encontrada em México, Guatemala e Belize está ameaçada de extinção, e estima-se que apenas 300 ou 400 araras ainda restem em seu ambiente nativo.
    Os pássaros são vítimas de um coquetel letal de perda de habitat e comércio ilegal de animais. Um homem, porém, pode estar prestes a mudar tudo isso. Fernando Martinez é veterinário e diretor da ONG Arcas, que mantém um centro de proteção e resgate de animais silvestres.
    Martinez é também o coordenador de um programa pioneiro de reprodução da arara vermelha que teve início em 1994, com filhotes recuperados do comércio ilegal. Dez anos depois, o primeiro filhote nasceu em cativeiro.

    Seu objetivo maior, obviamente, é aumentar a população de araras com os pássaros nascidos em cativeiro. Em outubro de 2015, esse projeto finalmente se tornou realidade, quando nove “formandos”, com idades entre 5 e 10 anos, foram soltos no Parque Nacional de Sierra Lacandón, na Guatemala.


    Foi a primeira vez que as aves foram reintroduzidas na Guatemala e apenas isso já fez com que a população das araras crescesse em 5%. Falando à BBC Earth, Martinez explicou a significância do momento. “Ao vê-las voltar para o lugar a que pertenceram, voando livremente por causa do nosso trabalho, senti-me como se tivéssemos cumprido uma missão. Eu poderia ter me aposentado porque meu sonho se tornou realidade. Mas o sonho cresceu e quero vê-lo realizado mais uma vez”.
    Cinco pássaros receberam transmissores para monitorar sua adaptação à vida selvagem e, sete meses mais tarde, as notícias são boas. Dados de suas tornozeleiras mostram que as araras tiveram uma taxa de sobrevivência de 60%.

    As que resistiram aos primeiros meses agora são vistas viajando regularmente distâncias de mais de 7 km, cruzando a fronteira da Guatemala com o México. E as aves nascidas em cativeiro se integraram perfeitamente às colegas vivendo em liberdade.

    Entusiasmada pelo sucesso da primeira “libertação”, a equipe de Martinez agora planeja uma segunda etapa. Se obtiver financiamento para cinco novos transmissores, dez novos pássaros serão libertados em setembro, para ajudar a trazer de volta suas cores aos céus da América Central.

    Duas girafas brancas e raríssimas, mãe e filhote, são mortas por caçadores no Quênia

    Duas girafas brancas e raríssimas, mãe e filhote, são mortas por caçadores no Quênia

    Duas girafas brancas e raríssimas, mãe e filhote, são mortas por caçadores no Quênia
    Em 2017, milhares de pessoas no mundo inteiro se surpreenderam com a descoberta de uma girafa branca, com dois filhotes, em um parque do Quênia, na África. Um vídeo postado no YouTube, naquela época, pela Hirola Conservation Program, teve quase 1,3 milhão de visualizações. Turistas fizeram de tudo para poder ver as girafas brancas de perto.

    O branco das girafas é causado por uma peculiaridade genética, chamada de leucismo, devido a um gene recessivo. Diferentemente do albinismo, quando há a ausência completa de melanina, animais com essa condição não possuem olhos vermelhos ou extremamente claros.

    Mas ontem (10/03) uma notícia devastadora chegou do Quênia. Em um comunicado oficial, a Ishaqbini Hirola Community Conservation informou que depois de muito tempo desaparecidas, a girafa branca e um dos seus filhotes, uma fêmea, foram encontradas mortas.

    De acordo com os guardas florestais da região, ambas foram assassinadas por caçadores. A morte deve ter acontecido já há algumas semanas ou meses porque só foram achadas as carcaças dos animais.

    “Este é um dia muito triste para a comunidade de Ijara e para o Quênia. Nós somos a única comunidade do mundo que temos em nossa guarda girafas brancas. Sua morte é um golpe para os tremendos passos dados pela comunidade para conservar espécies raras e únicas e um alerta para o apoio contínuo aos esforços de conservação”, afirmou Mohammed Ahmednoor, diretor da entidade.
    Ainda segundo o representante da associação, a morte das duas girafas traz uma grande perda para os investimentos em pesquisa genética que estavam sendo feitos e ao turismo no parque.

    O Kenia Wildlife Service, órgão federal que cuida da vida selvagem no país, informou que já abriu uma investigação para tentar encontrar os criminosos.
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    Fotos: divulgação Hirola Conservation Program
    Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em

    WWF-Brasil seleciona consultor para realizar pesquisa sobre combate ao tráfico de animais silvestres


    WWF-Brasil seleciona consultor para realizar pesquisa sobre combate ao tráfico de animais silvestres



    05 Março 2020    
    Convidamos você a participar de seleção para desenvolvimento de pesquisa sobre o marco regulatório e a capacidade das instituições brasileiras para combater o tráfico de animais silvestres, identificando pontos negativos e positivos e, ao final, apresentando propostas concretas para o aperfeiçoamento institucional e normativo.

    Esse estudo faz parte do projeto Combate ao Tráfico de Espécies Silvestres no Brasil, uma parceria entre o WWF-Brasil e a Freeland-Brasil que tem por objetivo reduzir o comércio ilegal da fauna e da flora. O projeto é constituído por três eixos estratégicos: aprimoramento de políticas e leis de proteção da vida silvestre; treinamentos e ferramentas para agentes públicos; e colaboração transfronteiriça para impedir o tráfico internacional.

    A pesquisa sobre o marco regulatório e institucional – cuja metodologia deve obrigatoriamente incorporar a realização de entrevistas com especialistas e autoridades públicas, além da realização de uma oficina e de uma consulta pública para a discussão de resultados intermediários – compõe o primeiro eixo estratégico do projeto e tem por finalidade a apresentação de propostas consistentes e empiricamente fundamentas para o aprimoramento de políticas públicas.

    Os candidatos devem enviar a proposta considerando os itens e condições descritos na carta convite até às 23h59 do dia 26/03/2020, para o email: compras@wwf.org.br - com cópia para: politicaspúblicas@wwf.org.br. Para mais informações, acesse a carta convite.

    Dúvidas podem ser esclarecidas até o dia 13/03/2020 pelo email: politicaspúblicas@wwf.org.br

    O período estimado da consultoria será de 1 ano (período estimado de abril de 2020 a junho de 2021).