Mais
de 80% do desflorestamento ocorrido no Brasil entre 1990 a 2005 foi
associado à conversão de terras em terrenos de pastoreio, mostrou
relatório da FAO, denominado “O estado das florestas no mundo"
Da ONU Brasil
A participação do pastoreio no desflorestamento é maior no Brasil do
que em outros seis países da região analisados no mesmo período:
Argentina, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Colômbia e Peru, de acordo com a
FAO.
Segundo a agência da ONU, além do pastoreio, o cultivo
comercial foi responsável por cerca de 10% do desflorestamento no Brasil
no período analisado, enquanto outras formas de exploração da terra,
cultivo em pequena escala, agricultura mista, infraestrutura responderam
juntos pelos demais 10%.
Na análise dos sete países
consolidados, o estudo apontou que 71% do desflorestamento ocorreu
devido ao aumento da demanda de pastos; 14% devido aos cultivos
comerciais e menos de 2% devido à infraestrutura e à expansão urbana.
A expansão dos pastos causou a perda de ao menos um terço das florestas
em seis dos países analisados. A exceção foi o Peru, onde o aumento das
terras cultiváveis em pequena escala foi o fator dominante para 41% do
desflorestamento.
Na Argentina, a expansão dos pastos foi
responsável por 45% do desflorestamento, enquanto a expansão de terras
cultiváveis comerciais respondeu por mais de 43%.
Agricultura comercial
O estudo concluiu que a agricultura comercial é a principal causadora do desflorestamento na América Latina.
Particularmente na Amazônia, a produção do agronegócio para os mercados
internacionais foi o principal fator de desflorestamento, fruto de
práticas como o pastoreio extensivo, o cultivo de soja e as plantações
de coqueiro-de-dendê.
“A agricultura comercial não pode
continuar crescendo à custa das florestas e dos recursos naturais da
região”, disse Jorge Mexa, oficial florestal da FAO.
Mexa
destacou que políticas como a vinculação de incentivos agrícolas a
critérios ambientais, a adoção de práticas silvipastoris — combinação
intencional de árvores, pastagem e gado numa mesma área e manejados de
forma integrada —, o pagamento por serviços ambientais e a recuperação
dos pastos degradados podem evitar a ampliação da fronteira agrícola em
detrimento das florestas.
Apesar de o desflorestamento
continuar em alta na região, em 2015 sua taxa se reduziu em quase 50%
quando comparada a 1990. Esta redução também foi significativa na
Amazônia, fruto de políticas de desenvolvimento sustentável
impulsionadas pelos países que dividem a bacia amazônica.
Segundo o documento da FAO, desde 1990 mais de 20 países melhoraram sua
segurança alimentar e mantiveram ou aumentaram sua cobertura florestal,
demonstrando que não é necessário cortar árvores para produzir mais
alimentos.
Vincular os subsídios agrícolas às normas ambientais
Em vários países, as subvenções agrícolas em grande escala fomentaram o
desflorestamento, já que aumentam a rentabilidade da produção
agropecuária e geram pressão para ampliar a fronteira agrícola. Exemplos
disso na região são o pastoreio extensivo e a produção de soja em
escala industrial.
Uma opção de política para evitar esses
danos, segundo a FAO, é vincular os incentivos e mecanismos de fomento
público recebidos pela agricultura comercial ao cumprimento de normas
ambientais.
O relatório destacou que uma reforma desse tipo
ocorreu no Brasil, que passou a vincular os subsídios ao crédito rural
com critérios ambientais, evitando a perda de 270 mil hectares de
florestas que haviam sido destruídas para aumentar a produção de carne
bovina.
A iniciativa brasileira “Bolsa Verde” foi outro
exemplo citado pela FAO: um programa de transferência condicionada que
entrega recursos a milhares de famílias pobres em troca de manter a
cobertura vegetal e gerir seus recursos naturais de forma sustentável.
O ZEE, conforme foi elaborado, tem apenas uma finalidade:agradar às empreiteiras. Construir mais, impermeabilizar mais, matar mais animais endemicos do cerado. A menção ao ecologico é apenas um green washing para o projeto ficar mais palatavel para uma população que não consegue se encontrar num catalogo completo de codigos e de siglas.Propositalmente complicado para os moradores do DF não perceberem o ecocidio que estã sendo prerado.
Ecocidio que trará conseqencias nefastas não apenas para Brasilia mas para toda região do entorno.
João Fellet - @joaofelletDa BBC Brasil em Brasília
O rio São
Francisco está secando, haverá cada vez menos água em Brasília e a
cidade de São Paulo terá de aprender a conviver com racionamentos.
O
alerta é do arqueólogo e antropólogo baiano Altair Sales Barbosa, que
há quase 50 anos estuda o papel do Cerrado na regulação de grandes rios
da América do Sul.
Ele diz à BBC Brasil que a rápida destruição do
bioma está golpeando um dos pilares do sistema: a gigantesca rede de
raízes que atua como uma esponja, ajudando a recarregar os aquíferos que
levam água a torneiras de todas as regiões do Brasil.
Formado em
antropologia pela Universidade Católica do Chile, doutor em arqueologia
pré-histórica pelo Museu de História Natural de Washington e professor
aposentado da PUC-Goiás, Barbosa conta que a água que alimenta o São
Francisco e as represas de São Paulo e Brasília vem de três grandes
depósitos subterrâneos no Cerrado: os aquíferos Guarani, Urucuia e
Bambuí.
Os aquíferos são reabastecidos pela chuva, mas dependem da vegetação para que a água chegue lá embaixo.
Barbosa afirma que muitas plantas do Cerrado têm só um terço de
sua estrutura acima da superfície e, para sobreviver num ambiente com
solo oligotrófico (pobre em nutrientes), desenvolveram raízes profundas e
bastante ramificadas.
"Se você arrancar uma dessas plantas, vai
cortar milhares ou até milhões de raízes, e quando cortar uma raiz e
levá-la ao microscópio, verá inúmeras outras minirraízes que se
entrelaçam com as de outras plantas, formando uma espécie de esponja."
Esse
complexo sistema radicular retém água e alimenta as plantas na estação
seca. Graças a ele, as árvores do Cerrado não perdem as folhas mesmo nem
mesmo no auge da estiagem - diferentemente do que ocorre entre as
espécies do Semiárido, por exemplo.
Barbosa conta que, quando há
excesso de água, as raízes agem como esponjas encharcadas, vertendo o
líquido não absorvido para lençóis freáticos no fundo. Dos lençóis
freáticos a água passa para os aquíferos.
O
professor diz que essa dinâmica começou a ser afetada radicalmente nos
anos 1970, com a expansão da pecuária e de grandes plantações de grãos e
algodão pelo Cerrado.
A nova vegetação tem raízes curtas e não consegue transportar a água para o fundo.
Pior:
entre a colheita e o replantio, as terras ficam nuas, fazendo com que a
água da chuva evapore antes de penetrar o solo. Em alguns pontos do
Cerrado, como no entorno de Brasília, o uso de água subterrânea para a
irrigação prejudica ainda mais a recarga dos aquíferos.
Em fevereiro, Brasília começou a racionar água pela primeira vez na história - e meses antes do início da temporada seca.
Migração de nascentes
Conforme
os aquíferos deixaram de ser plenamente recarregados, Barbosa diz que
se acelerou na região um fenômeno conhecido como migração de nascentes.
Para
explicar o processo, ele recorre à imagem de uma caixa d'água com
vários furos. Quando diminui o nível da caixa d'água, o líquido deixa de
jorrar dos furos superiores.
Com os aquíferos ocorre o mesmo: se o nível de água cai, nascentes em áreas mais elevadas secam.
Ele diz ter presenciado o fenômeno num dos
principais afluentes do São Francisco, o rio Grande, cuja nascente teria
migrado quase 100 quilômetros a jusante desde 1970.
O mesmo se
deu, segundo Barbosa, nos chapadões no oeste da Bahia e de Minas Gerais:
com a retirada da cobertura vegetal, vários rios que vertiam água para o
São Francisco e o Tocantins sumiram.
O professor diz que a perda
de afluentes reduziu o fluxo dos rios e baixou o nível de reservatórios
que abastecem cidades do Nordeste, Centro-Oeste e Norte.
Em
2017, segundo a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec),
o número de municípios brasileiros em situação de emergência causada
por longa estiagem chegou a 872, a maioria no Nordeste.
Já em São
Paulo as chuvas de verão aumentaram os níveis das represas e afastaram
no curto prazo o risco de racionamento. Mas Barbosa afirma que a maioria
dos rios que cruza o Estado é alimentada pelo aquífero Guarani, cujo
nível também vem baixando.
O aquífero abastece toda a Bacia do
Paraná, que se estende do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, englobando
ainda partes da Argentina, Paraguai e Uruguai.
Fotografia do passado
Bastaria então replantar o Cerrado para garantir a recarga dos aquíferos?
A
solução não é tão simples, diz o professor. Ele conta que o Cerrado é o
mais antigo dos biomas atuais do planeta, tendo se originado há pelo
menos 40 milhões de anos.
Segundo ele, olhar para o Cerrado é como olhar para uma fotografia do passado.
"O Cerrado já atingiu seu clímax evolutivo e
precisa, para o seu desenvolvimento, de uma série de fatores que já não
existem mais."
Ele exemplifica: há plantas do Cerrado que só são
polinizadas por um ou outro tipo de abelhas ou vespas nativas, várias
das quais foram extintas pelo uso de agrotóxicos nas lavouras. Essas
plantas poderão sobreviver, mas não serão mais capazes de se reproduzir.
O
Cerrado também é uma espécie de museu porque muitas de suas plantas
levam séculos para se desenvolver e desempenhar plenamente suas funções
ecológicas. É o caso dos buritis, uma das árvores mais famosas do bioma,
que costuma brotar em brejos e cursos d'água.
Barbosa costuma dizer que, quando Cabral chegou ao Brasil, os buritis que vemos hoje estavam nascendo.
Mesmo
plantas de pequeno porte costumam crescer bem lentamente. O capim
barba-de-bode, por exemplo, leva mais de mil anos para atingir sua
maturidade. Barbosa diz ter medido as idades das espécies com processos
de datação em laboratório.
Parceria com animais
Sabe-se
hoje da existência de cerca de 13 mil tipos de plantas no Cerrado,
número que o torna um dos biomas mais ricos do mundo. Dessas espécies,
segundo o professor, não mais que 200 podem ser produzidas em viveiros.
Ele
conta que a ciência ainda não consegue reproduzir em laboratório as
complexas interações entre os elementos do bioma, moldadas desde a era
Cenozoica.
Barbosa diz, por exemplo, que muitas plantas do Cerrado
têm sementes que são ativadas apenas em situações bem específicas.
Algumas delas só têm a dormência quebrada quando engolidas por certos
mamíferos e expostas a substâncias presentes em seus intestinos.
Há
ainda sementes que precisam do fogo para germinar. Contrariando o senso
comum, Barbosa diz que incêndios naturais são essenciais para a
sobrevivência do Cerrado e podem ocorrer de duas formas.
Uma delas se dá quando blocos de quartzo hialino, um
tipo de cristal, agem como lentes que concentram a luz do sol,
superaquecendo a vegetação.
A outra ocorre pela interação entre
algumas plantas e animais do Cerrado, entre os quais a raposa, o
lobo-guará, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato-vinagre.
Segundo
Barbosa, esses mamíferos carregam no pelo uma carga eletromagnética
que, em contato com gramíneas secas, provoca faíscas.
O
professor diz que o fogo é necessário não só para ativar sementes, mas
para permitir que gramíneas secas, que não têm qualquer função
ecológica, sejam substituídas por plantas novas.
"Se a gramínea seca fica ali, não tem como rebrotar, então é preciso dessa lambida de fogo natural pra limpar aquele tufo."
Os
incêndios também são importantes, segundo ele, para que o solo do
Cerrado continue pobre - afinal, foi nesse solo que o bioma se
desenvolveu.
"O fogo é paradigma para quem pensa na preservação.
Se você pensa como agrônomo, o fogo é nocivo, porque acentua o
oligotrofismo do solo."
Estancar os danos
Quando
deixa de haver incêndios naturais, os animais e insetos nativos
desaparecem e as plantas do Cerrado são derrubadas, é quase impossível
reverter o estrago, diz Barbosa.
Mesmo assim, ele defende preservar toda a vegetação remanescente para estancar os danos.
Barbosa diz torcer para que, um dia, a ciência encontre formas de recuperar o bioma.
"Claro que você não vai reocupar toda a área que
está produzindo [alimentos], mas você pode pelo menos tentar amenizar a
situação nas áreas de recarga de aquíferos."
Sua preocupação
maior é com a fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que engloba os
últimos trechos de Cerrado no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos
últimos anos, a região tem experimentado uma forte expansão na produção
de grãos e fibras.
"Se esse projeto continuar avançando, será o
fim: aí podemos desacreditar qualquer possibilidade, porque não teremos
nem matriz para experiências em laboratório."
Nesse cenário, diz Barbosa, os aquíferos do Cerrado rapidamente se esgotarão.
"Os
rios vão desaparecer e, consequentemente, vai desaparecer toda a
atividade humana da região, a começar das atividades agropastoris."
"Teremos uma convulsão social", ele prevê.
SOBRE O DESMATAMENTO DO CERRADO EM PÉ PROMOVIDO PELO ZEE ABRAM OS LINKS ABAIXO:
[EcoDebate]
É crescente o número de pesquisadores que se dedicam ao estudo da
contaminação química urbana. Uma consequência benéfica da divulgação de
trabalhos científicos é o gradativo aumento da conscientização da
população e também de legisladores e gestores municipais que estão
percebendo da necessidade de se avaliar e monitorar o ambiente urbano.
Solos e poeiras urbanas são importantes indicadores de exposição
humana aos metais traços no ambiente terrestre urbano. Ao contrário das
áreas rurais e suburbanas, os solos, no ambiente urbano, ocupam áreas
relativamente restritas. Eles são comumente encontrados ao longo das
estradas e em áreas de lazer, tais como praças, parques infantis e
jardins. As instalações públicas de lazer, como os parques, são um
componente de integração da vida urbana, frequentemente visitados por
crianças e idosos.
A ingestão de solo e poeira é uma via de exposição comum para
crianças de produtos químicos presentes no ambiente. A criança pode, por
exemplo, provocar esse contato com o solo através do movimento da mão
para a boca ou ao comer alimentos que caíram no chão (Reis et al.,
2014).
Produtos químicos tóxicos no ambiente pode causar deficiência do
desenvolvimento neurológico, e o cérebro em desenvolvimento pode ser
particularmente sensível a contaminantes ambientais (US EPA, 2009, in
Reis et al. 2014). Por exemplo, elevados níveis de chumbo no sangue e
exposição pré-natal a níveis relativamente baixos de Pb podem resultar
em distúrbios comportamentais e reduções de função intelectual em
crianças (Lanphear et al, 2005;. Landrigan et al., 2005). Em diversos
estudos de casos, a ingestão de solo é considerada como uma provável
fonte de exposição ao Pb em crianças que apresentam níveis elevados de
Pb arterial (Johnson and Bretsch, 2002; Laidlaw and Filippelli, 2008;
Morrison et al., 2012).
A dispersão e a distribuição de metais dependem do tamanho das
partículas e das propriedades do material superficial. A suspensão para o
ar de partículas finas representa uma grande preocupação da saúde, uma
vez que elas podem ser facilmente inaladas e incorporadas ao pulmão
humano (Luo et al., 2012). Contaminação de metais são especialmente
pronunciadas próximo a rodovias que recebem contaminantes de descargas
de veículos (Pb, Mn), desgastes de pneus (Zn, Cd), corrosão de chapas de
metais soldadas (V, Ce, Ni, Cr) e a combustão de óleos lubrificantes (
Cd, Cu, V, Zn, Mo). Acrescenta-se a presença de elementos do grupo da
platina, como Pd, Pt e Rh, associados com conversores catalíticos
(Chambers et al., 2016).
Wong e Tam (1978) identificaram contaminações de Pb em solos e
vegetais ao lado de estradas em Hong Kong. Li et al. (2001) conduziram
uma extensiva pesquisa sobre qualidade de solo em Hong Kong, coletando
600 amostras de solo em profundidade entre 0 a 15 cm. Uma comparação das
concentrações de Cu, Pb, Zn em solos nos parques urbanos e rurais
indicou que os solos no ambiente urbano foram geralmente mais
enriquecido do que aqueles que estão fora do perímetro urbano.
Li et al. (2004) desenvolveu uma sistemática amostragem de solo
urbano na área fortemente urbanizada e povoada de Kowloon, com uma
densidade populacional de 17.200 pessoas/km2. Esse estudo revelou uma
forte associação entre o enriquecimento metais traços e os locais de
cruzamentos de rodovias, estradas principais e edifícios industriais.
Para avaliar o impacto de elementos potencialmente nocivos no solo /
poeira sobre a saúde das crianças, Reis et al. (2014) realizaram um
levantamento urbano de Lisboa, amostrando solos e poeiras de jardins
públicos, parques e pátios escolares. Os resultados mostram que frações
significativas de Pb ocorrem em formas bioacessíveis, em solos e em
poeiras e o risco associado é maior para a ingestão de poeira do que
para a ingestão de solo em áreas recreativas da cidade de Lisboa.
Os exemplos citados acima e muitas outras pesquisas têm demonstrado
que os solos urbanos podem influenciar diretamente a saúde da população,
especialmente das crianças, através de poeira em suspensão ou ingestão
direta do solo. Os estudos geoquímicos sobre os solos urbanos são
importantes, portanto, para os urbanistas e gestores municipais criarem
um racional uso da terra e um adequado planejamento urbano que valorizem
a saúde e bem estar dos seus habitantes.
Referências Bibliográficas
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Science and Engineering. Toxic and Hazardous Substances Control 13, 13 – 22.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na
faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais
de 30 anos em Pesquisa Mineral.
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O ser humano é uma criatura dotada de dignidade. Uma vez que ele se
torna consciente dela, faz de tudo para que esta se mantenha intacta. É
por isso que na última sexta-feira (17/03) houve uma comoção tão grande
de desconforto e revolta envolvendo a megaoperação da Polícia Federal,
nomeada como Carne Fraca.
O trabalho da polícia revelou e desmontou um esquema envolvendo
propina e funcionários do Ministério da Agricultura, que teriam liberado
carnes para venda sem passar pela devida fiscalização. O esquema também
envolveria funcionários de alguns frigoríficos, que possuiriam
irregularidades ligadas ao uso de produtos químicos para mascarar carnes
vencidas e de água para aumentar o peso dos produtos comercializados.
A possibilidade de que produtos adulterados, e acima de tudo
impróprios para consumo, terem ido parar na mesa da população deixou o
país em revolta e alerta, mesmo que ainda não haja explicações
detalhadas de todo o ocorrido. Ainda não houve pronunciamento oficial
envolvendo marcas que devem ser evitadas, porém, vários países pararam
as exportações temporariamente, indicando o mesmo medo dos brasileiros, o
de ter sua dignidade ferida através do consumo de um alimento que pode
ser prejudicial à saúde.
Independente das investigações, dadas às irregularidades como
possíveis fraudes, propinas e corrupção, denunciadas pela operação, o
que precisamos colocar em debate é a falta de ética praticada pelas
empresas e órgãos denunciados. Quando há irresponsabilidade ética nas
corporações, nasce uma conduta institucional irregular cujo resultado é a
perda da confiança, credibilidade, respeito, ou até mesmo comprometendo
a saúde e dignidade do cliente.
O modelo mental deste tipo de corporativo envolvido está ligado ao
que chamamos na filosofia de Maquiavélico Negativo. Nesse modelo o fim
último, ou seja, o propósito da organização, é o lucro e somente o lucro
– e não o bem estar de seus clientes. Isso era algo aparentemente
aceitável no século XX, mas vem mudando junto com diversas posturas e
novos paradigmas do século XXI.
Nem sempre a ferida na dignidade é notada, porém, quando a mídia
esclarece a população através da divulgação dos fatos, é possível notar
que não apenas leis foram quebradas, mas acima delas, a conduta moral
foi ignorada. Mesmo que haja grande competitividade no meio corporativo,
o ideal para as empresas seriam um pensamento a médio e a longo prazo
envolvendo as melhores práticas, isto é, a ética.
Não é o bastante que a lei seja atendida. O problema é moral, e não
apenas legal. Um exemplo disso é a escravidão. Na época em que ela foi
vigente, era legalizada. Entretanto, a moral continuava a ser quebrada,
considerando-se o ser humano sempre como fim último, pois é detentor de
dignidade. A lei só se modificou depois que o princípio moral atingiu um
nível de esclarecimento dentro da população de o quanto tais condutas
eram erradas.
Todos os envolvidos na “Carne Fraca” sabiam do ocorrido e tinham
consciência de que quebravam a lei, no entanto, isso prova que apenas
saber das leis não será impecílio para que a barbárie predomine no
comportamento humano. É preciso que haja investimento profissional no
nível de esclarecimento das questões éticas para a humanidade, é o que
chamamos de Inner Compliance.
Somente através da luz da ética sobre as práticas corporativas é que
será possível evitar situações como essa. A esfera da moral, que é
anterior à lei, é a que verdadeiramente precisa ser mudada. Apenas com a
real interiorização de valores éticos positivos que alcançaremos
mudanças em nossa cultura corporativa. O verdadeiro problema não está no
sintoma, a “Carne Podre”, está na moral distorcida de quem atua no dia a
dia das empresas que se deixam corromper em busca de benefícios em
curto prazo.
Samuel Sabino é professor na Escola de Gestão da Anhembi Morumbi,
filósofo e mestre em bioética. Ele é fundador da Éticas Consultoria e
ministra o curso de Inner Compliance, com foco em ética no meio
corporativo.
Colaboração de Welton Ramos, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/03/2017
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Adotar o princípio de precaução é determinante para preservar o Pantanal. Entrevista especial com Pierre Girard IHU
Apesar de o cultivo de soja não ter se expandido pelo Pantanal no
mesmo ritmo em que esse tipo de cultura se desenvolveu em outros
ecossistemas, nos dois biomas que contornam as áreas alagadas do Pantanal, o Cerrado e a Amazônia, crescem os cultivos de soja e o uso de fertilizantes, diz o geólogo Pierre Girard à IHU On-Line.
Segundo ele, embora a plantação de soja não seja “um sucesso” nas áreas
alagadas por conta da dinâmica ecológica da região, ainda assim há
interesse pelo plantio dessa cultura em virtude da “terra plana” e da
“rentabilidade da soja ser bastante grande”.
Na entrevista a seguir, concedida pessoalmente à IHU On-Line, Girard
explica que é possível drenar as terras pantaneiras para viabilizar o
cultivo de grãos. Contudo, antes de adotar essa prática, pontua, a
questão “é saber por quanto tempo a soja será rentável, porque a
história nos mostra que o Brasil já passou por vários ciclos, e agora estamos no ciclo da soja,
mas ninguém sabe se esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25
anos, ou se de repente, por uma razão qualquer, os chineses decidirem
não mais comer carne e, com isso, não precisarão mais da nossa soja para
alimentar suas galinhas e porcos”.
O pesquisador também comenta e critica o desenvolvimento e a
construção das Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs no Pantanal e
adverte que o “princípio de precaução, que é uma postura ética frente ao
impacto sobre o meio ambiente, deve ser levado em conta. Se nada for
feito, essas pequenas centrais hidrelétricas vão gerar muitos impactos”.
Pierre Girard é professor da graduação e da pós-graduação do
Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. É
graduado em Geologia pela McGill University, no Canadá, mestre em
Geologia Dinâmica, com enfoque em hidrologia, pela Université Pierre et
Marie Curie, Paris VI e Écoles des Mines de Paris, e doutor em
Hidrologia Isotópica pela Université du Québec à Montréal – UQAM.
Na noite de ontem, 20-03-2017, ele proferiu a conferência Pantanal brasileiro: características, biodiversidade e delimitações para a sua proteção, dentro da programação do evento Os biomas brasileiros e a teia da vida, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Veja a programação.
Confira a entrevista. IHU On-Line – Ao comentar os fatores que ameaçam o Pantanal
hoje, o senhor mencionou o aumento do desmatamento e o uso de pesticidas
e fertilizantes. A que se deve isso? A agricultura, especialmente a
soja, tem sido introduzida no Pantanal? Pierre Girard – Na planície pantaneira não existe
ainda muita plantação de soja nem agricultura mecanizada, porque a
inundação anual não facilita esse tipo de agricultura, embora esse tipo
de plantação esteja se estabelecendo aos poucos na borda do Pantanal. A pecuária extensiva foi se desenvolvendo ali justamente porque é possível remover o gado quando há inundações.
Para estabelecer a agricultura no Pantanal, é preciso desenvolver um trabalho de drenagem. Algumas pessoas começaram a fazer isso na região de Cáceres
(MT), em uma área relativamente grande, de nove mil hectares, de uma
forma não muito bem regularizada, e com todas as dificuldades técnicas
que o desenvolvimento dessa atividade implica. Então, para produzir soja
na região, é preciso fazer investimentos e uma manutenção constante no
sistema de drenagem.
Hoje em dia pensamos que os agricultores estão lucrando com a
agricultura, mas quem está lucrando mais são as pessoas que fornecem as
máquinas e os insumos agrícolas. Então, a plantação de soja ainda não é,
nem foi um sucesso nessa região, apesar de o Mato Grosso ser um estado que dá apoio aos agricultores.
As universidades acompanham a situação da
região, mas não é missão da universidade fazer monitoramento da
qualidade da água do pantanal
Mas isso não quer dizer que não existam pesticidas no Pantanal.
Na verdade nós não sabemos muito sobre isso, porque não há programas de
monitoramento, mas sabemos que nas regiões em volta do Pantanal tem
bastante soja. No Cerrado e em toda a região do planalto que está junto
ao Pantanal, tem muita soja, milho, e para manter essas plantações são
utilizados muitos fertilizantes, como Roundup.
Esses pesticidas já foram
encontrados em sedimentos, ao serem analisados por programas de
pesquisa. O que sabemos é que quanto mais perto esses pesticidas estão
do Pantanal, mais provável é que eles passem a estar no próprio
Pantanal. Agora, para termos mais informações, seria preciso ter
programas de monitoramento, porque o Pantanal é um patrimônio nacional.
Essa questão teria que ser pensada pelo poder público, porque as
universidades acompanham a situação da região, mas não é missão da
universidade fazer monitoramento da qualidade da água do Pantanal.
IHU On-Line – Apesar das dificuldades em desenvolver a
agricultura no Pantanal, o senhor percebe que há um interesse dos
agricultores em desenvolver o cultivo de grãos, por exemplo, na região?
Por que há esse interesse? Pierre Girard – Porque tem terra plana e extensa e porque a rentabilidade da soja
é bastante grande, ou seja, trata-se de uma operação comercial. Então,
uma vez que se faça o processo de drenagem da terra, um investimento
inicial e a manutenção constante, os agricultores veem uma rentabilidade
no cultivo de soja.
A questão toda é saber por quanto tempo a soja será rentável, porque a história nos mostra que o Brasil já passou por vários ciclos e agora estamos no ciclo da soja,
mas ninguém sabe se esse será um ciclo perene, se irá se manter por 25
anos, ou se de repente, por uma razão qualquer, os chineses decidirem
não mais comer carne e, com isso, não precisarão mais da nossa soja para
alimentar suas galinhas e porcos. Essas são coisas que podem acontecer.
IHU On-Line – A expansão de soja para o Cerrado e para a Amazônia impacta o Pantanal de algum modo? Pierre Girard – Impacta de forma indireta. No Cerrado, a plantação de soja
ocorre na bacia do Alto Paraguai; ou seja, na mesma região em que
nascem os afluentes dos rios que formam a planície alagada do Pantanal, há cultivo intensivo de soja e também de pasto. Nos anos 80 houve formação de pasto na região do rio Taquari, o que causou muita erosão e transporte de sedimentos e resultou no assoreamento da planície do rio.
Na Amazônia a situação é um pouco diferente, porque a chuva que ocorre tanto no Rio Grande do Sul como no Pantanal,
depende da Amazônia. Então, à medida que se desmata a Amazônia para se
plantar pasto ou soja, as chuvas diminuem, isso porque essas novas
plantações não têm a mesma capacidade de gerar chuva que a floresta tem.
Então, o Pantanal, para existir, depende do ciclo das águas, ou seja, tem que chover bem durante uma parte do ano para que o Pantanal exista. Em Cuiabá,
por exemplo, às vezes ficamos 120 dias sem chuva; 90 dias é bastante
comum.
Se a chuva minguar durante o período das cheias, não tem
inundação, e se não tem inundação, não tem mais Pantanal. É a inundação
anual que faz com que o Pantanal seja como ele é. Desde a década de 70 o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE já mostrou que as chuvas no Sul, no Centro-Oeste e no Sudeste dependem da Amazônia.
À medida que enviamos a fronteira da floresta mais para o Norte, a tendência é que tenhamos efeitos ao Sul
O arco do desmatamento da Amazônia vem pelo Norte do Mato Grosso, pelo Sul do Pará, e por Rondônia,
que já foi conhecida como o estado da floresta, mas é hoje o estado do
pasto. Então, o ritmo de desmatamento é bem grande, e, à medida que
enviamos a fronteira da floresta mais para o Norte, a tendência é que
tenhamos efeitos ao Sul: é como se estivéssemos colocando a floresta
mais longe de nós e a consequência disso é que estamos perdendo umidade.
Se você vai a uma floresta nova, de aproximadamente 30 anos, em Mato
Grosso, e conversa com as pessoas, elas afirmam que há 20 anos chovia
mais. É claro que ao redor das cidades, onde há mais florestas, chove
mais, mas dentro da cidade, não.
IHU On-Line – Há incentivos fiscais por parte dos estados de
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para que esses investimentos agrícolas
aconteçam na região? Pierre Girard – Que eu saiba não há incentivos diretos na forma de um programa, como ocorreu nos anos 70 para abrir o Cerrado, via o Proálcool, por exemplo. Apesar disso, as pessoas decidem investir na agricultura por conta da rentabilidade,
porque veem isso como uma operação comercial.
Como todo mundo sabe que a
rentabilidade da soja é grande, é fácil conseguir dinheiro para iniciar
essa atividade e na sequência estabelecer uma fazenda e começar a
produção. Muitas pessoas que vivem em cidades como Lucas de Rio Verde (MT) fizeram
isso: migraram quando o Cerrado já estava aberto para produção
agrícola, mas ainda tinha terra, e investiram nesse tipo de atividade.
Hoje em dia a situação é mais difícil, porque a terra é muito mais cara
nessas regiões. Na fronteira com a Amazônia, a terra não tem tanto valor, mas há um movimento de expansão que é ligado ao capital.
IHU On-Line – Um tema que tem sido denunciado no Brasil é a
compra de terras brasileiras por grupos estrangeiros. Isso tem ocorrido
no Pantanal? Pierre Girard – Isso acontece na borda do Pantanal e no Cerrado, com certeza. No Pantanal existem muitas pessoas que têm fazendas imensas, nas quais há recursos de ativos de estrangeiros. ONGs internacionais
também compraram terras no Pantanal. A ideia dessas ONGs é promover a
conservação, mas elas podem receber ativos de estrangeiros, de fundos
internacionais etc.
Eu acredito que não há muito interesse por terras
para desenvolver a pecuária como uma operação
comercial, porque o gado do Pantanal não é muito rentável. Como a
produção agrícola também é baixa, é menos provável que se compre terra
para investir nessa finalidade. Existem algumas minas no Pantanal sul, e
uma parte delas deve ter relações com ativos estrangeiros, e o mesmo
deve ocorrer com a terra onde estão essas minas.
É provável que se fizéssemos um levantamento fundiário,
conseguiríamos saber que percentual de terras já foi adquirido por
empresas estrangeiras, mas não é fácil de mapeá-las. Por exemplo, um
amigo meu está fazendo um levantamento na região e só conseguiu ter
acesso de quem são os donos de 75% das terras do Pantanal.
Ou seja, não é fácil saber de quem é a terra. Isso se deve, em parte,
porque estamos falando de um território de 140 mil quilômetros
quadrados, ou seja, de uma extensão que é mais ou menos do tamanho da Inglaterra. Além disso, as ocupações dessas terras são antigas e a propriedade da terra se perde no tempo.
As terras em geral no Pantanal servem para pecuária e
para o turismo: fazendas imensas que trabalham com pecuária também
estão desenvolvendo o turismo. A mineração ocupa pouco espaço no Pantanal.
Então, acredito que os estrangeiros estão comprando terra ou via ONGs,
para preservá-las, ou para investir no turismo, porque há uma
possibilidade de que esse tipo de atividade seja interessante para o
Pantanal.
IHU On-Line – Outra fonte de ameaça ao Pantanal são as
barragens e as Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs. Quantas existem
ao longo do bioma e quais suas implicações para o sistema fluvial e o
ciclo hidrológico? Pierre Girard – Esse é um tema que estudo mais
diretamente. Quando falamos de pequenas centrais hidrelétricas, todo
mundo pensa que essas PCHs são de fato pequenas. No entanto, temos que
entender que a dimensão de uma PCH é de até 30 mil megawatts em termos
de produção de energia, e elas têm um plano de água de 13 quilômetros
quadrados; ou seja, inunda-se uma terra relativamente grande para
desenvolver as PCHs, o que indica que elas não são tão pequenas assim.
Como hoje quase todos os potenciais hidrológicos já foram
aproveitados, especialmente nas regiões em que havia grandes quedas
d’água, para viabilizar as PCHs é preciso construir um
muro grande no rio para a água cair do alto, ou seja, são construídos
muros de 20 metros de altura, o que nos indica que não são muros tão
pequenos. Digo isso para desfazer essa ideia de que as PCHs são
pequenas.
Hoje em dia existem quatro ou cinco grandes hidrelétricas no
Pantanal, que não se encaixam nesse modelo de PCHs. No total existem 41 PCHs em funcionamento na bacia do Alto Paraguai,
que é a região que abastece o Pantanal, ou seja, onde os rios
formadores começam. Além dessas, outras 96 PCHs foram planejadas ou
estão em construção.
IHU On-Line – Essa região comporta todas essas PCHs? Pierre Girard – Se a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL
designou a construção delas, deve ter algum lugar para construí-las.
Ainda não se sabe se todas de fato serão construídas, porque tudo isso
depende de operações comerciais, mas o fato é que todas as áreas com
potenciais de gerar energia já estão demarcadas. A questão é que são
muitas PCHs para pouca coisa: cada uma das 41 PCHs
produz aproximadamente 1.100 megawatts de energia, e essas 96 que serão
construídas vão produzir menos do que isso. Estima-se que elas
produzirão 900 megawatts de energia, ou seja, cada uma vai ter uma
produção de energia muito pequena.
O problema é que não conhecemos os impactos cumulativos de todas essas centrais. Uma pequena central hidrelétrica não precisa obrigatoriamente realizar um estudo de impacto ambiental, segundo determina a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso e a Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental – Imasul
de Mato Grosso do Sul. Mesmo assim, se o estudo de impacto ambiental
for feito, ele será local, e mesmo que fossem apontados impactos, não
poderíamos sugerir que uma determinada PCH fosse instalada em outro
local, porque o que determina a região em que a PCH será construída, é a
área potencial para gerar energia. Nesse sentido, a ANEEL já determinou os locais em que as PCHs deverão ser construídas.
De todo modo, os impactos cumulativos não são vistos no estudo de impacto ambiental
e ainda não temos nenhuma estratégia implementada para verificar esses
efeitos. Apesar disso, podemos observar que cada uma dessas PCHs
gera um impacto sobre a rota dos peixes, que muitas vezes são
comercializados: na bacia do Paraná quase não existem mais peixes para
serem pescados, o que indica que na parte do Alto Paraguai
é provável que aconteça o mesmo.
Cada uma dessas barragens gera um
impacto sobre a hidrologia dos rios. Será que isso será suficiente para
causar algum impacto no Pantanal de modo geral? Essa é
uma questão a ser estudada. Mas com certeza cada uma dessas barragens
capta sedimentos e nutrientes que deveriam chegar ao Pantanal, e os
efeitos disso são conhecidos no resto do mundo: quando tiramos
sedimentos dos rios, eles vão invadir outro lugar. Então, se o Pantanal é
uma planície de deposição e começa a ser erodido, isso terá impactos.
Mas a questão é que não temos estudos para prever isso por enquanto.
De todo modo, se esperarmos que todas as PCHs sejam
construídas, será tarde demais para voltar atrás. Então, o princípio de
precaução, que é uma postura ética frente ao impacto sobre o meio
ambiente, deve ser levado em conta. Se nada for feito, essas pequenas
centrais hidrelétricas vão gerar muitos impactos. Quando iniciei minha
pesquisa sobre as PCHs, em 2002, existiam nove PCHs; hoje, são mais de
40. Ou seja, trata-se de uma operação lucrativa, porque o Estado
facilita o financiamento desse tipo de empreendimento e garante a compra
de energia.
IHU On-Line – E esse tipo de PCH gera algum benefício para a população local?
Vale a pena o Brasil comprometer a integridade ecológica do Pantanal para ter esse retorno energético tão baixo?
Pierre Girard – Muito pouco, só durante a
construção, porque boa parte da mão de obra já vem junto com a
construtora responsável pela obra. Depois que a PCH
está pronta, são contratadas três pessoas que serão responsáveis por
operar a central hidrelétrica. Portanto, não tem benefício econômico
local, porque a ideia é ligar essas PCHs com o Sistema Interligado
Nacional.
A maior parte das PCHs está em Mato Grosso, mas não é essa a região que tem maior demanda de energia elétrica, ao contrário, são as regiões sul e sudeste
que precisam de mais energia. Além do mais, essas PCHs vão gerar pouca
energia, portanto nos períodos de seca não vão auxiliar o Brasil,
porque elas são a fio d’água, ou seja, não têm reservatório para
armazenar água por longos períodos.
Então nos perguntamos se vale a pena
o país comprometer a integridade ecológica do Pantanal para ter esse retorno energético tão baixo. Não seria melhor o Brasil investir em energia solar? A geração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar já produz mais energia do que a que será gerada por essas PCHs.
IHU On-Line – Alguns ambientalistas têm dito que há mais
políticas públicas para outros ecossistemas, como a Amazônia, mas faltam
políticas públicas para biomas como o Pantanal. Concorda com essa
crítica? Pierre Girard – Concordo, mas existem razões para
isso, por exemplo, o espaço midiático da Amazônia é muito maior, assim
como o espaço político que a Amazônia ocupa é muito maior em relação ao
Pantanal. Se olharmos o tamanho da Amazônia no Brasil e na América do Sul,
e o tamanho do Pantanal em território, veremos que há muita diferença: o
Pantanal representa 4% do país, enquanto a Amazônia ocupa praticamente
30% do território.
Se perdermos o Pantanal, os impactos serão muito mais locais. Obviamente seria uma tragédia para quem vive lá, mas se perdermos a Amazônia, será uma tragédia para toda a América do Sul.
Embora exista muito mais espaço político para a Amazônia, nada impede
que se dê a devida atenção para o Pantanal. O Estado brasileiro assumiu
um compromisso com o Pantanal há 30 anos, ao considerá-lo patrimônio
nacional, mas até hoje não existe uma lei para a região, e o Estado
quase perdeu o título de reserva da Biosfera porque não fazia nada pelo bioma. Então, nesse sentido, há um déficit de atenção.
IHU On-Line – As mudanças climáticas já estão impactando o Pantanal? Pierre Girard – O Pantanal, nessa questão que é ligada às mudanças climáticas,
tem uma função interessante: como é uma planície alagada, no Pantanal
evapora bastante água, e para evaporar, a água precisa de calor, assim,
de certa forma, o Pantanal funciona como um sistema de refrigeração. Mas
aí você vai perguntar como o Pantanal funciona como um sistema de
refrigeração, se lá faz tanto calor.
O ponto é que sem água, o calor
seria ainda mais intenso e a seca seria ainda mais dura. Justamente por
isso, é fundamental preservar esse regime hidrológico no Pantanal com
inundações extensas. O aquecimento global, nos próximos
anos, vai aumentar muito as ondas de calor e a tendência é que o mesmo
ocorra no Pantanal. Então, dado que o Pantanal é suscetível a mudanças
climáticas, temos que preservá-lo, e essa preservação pode ser feita com
o envolvimento das populações locais, que serão as mais atingidas.
IHU On-Line – Já é possível perceber essas alterações de temperatura no Pantanal por conta das mudanças climáticas? Pierre Girard – O que percebemos mais é o aumento da
estação de seca e o deslocamento do período de início da temporada de
chuvas, que têm começado mais tarde. Essas mudanças se referem às
alterações relacionadas à mudança climática. Além disso, os registros de
100 anos atrás mostram que em cidades como CampoGrande e Cuiabá houve um aumento de um grau na temperatura. Se os nossos amigos do INPE estão certos, a temperatura continuará aumentando [risos].
(EcoDebate, 27/03/2017) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
ABr
As ações cotidianas para economizar água envolvem, geralmente,
hábitos como diminuir o tempo no banho, fechar a torneira na hora de
escovar os dentes ou usar um balde em vez da mangueira para lavar o
carro ou a calçada. No entanto, grande parte da população desconhece a
chamada água invisível, usada em processos como a produção de alimentos e
até de celulares, e que pode reduzir ainda mais as reservas hídricas em
tempos de crise de abastecimento.
Cada pessoa consome diariamente de 2 mil a 5 mil litros de água
invisível contida nos alimentos, de acordo com dados da Organização das
Nações Unidas (ONU), divulgados esta semana pelo Instituto Akatu, para
marcar o Dia Mundial da Água (22). Para chegar a esse volume, os
pesquisadores analisaram toda a cadeia de produção de bens de consumo.
Uma única maçã, por exemplo, consome 125 litros de água para ser
produzida, segundo a Waterfootprint, rede multidisciplinar de
pesquisadores e empresas que estudam o consumo de água nos processos
produtivos.
A pecuária também é responsável por um alto consumo de água. “Para
cada quilo de carne bovina, são gastos mais de 15 mil litros de água.
Essa quantidade se refere à água e alimentação utilizadas para o gado
até que ele atinja a maturidade e também a tudo que é gasto no processo
do frigorífico, como limpeza e resfriamento do ambiente”, informa o
Instituto Akatu, organização não governamental que trabalha pela
conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente.
Essa água invisível não está somente na produção de alimentos. De
acordo com pesquisa da Mind your Step, feita a pedido da Friends of the
Earth, entidade de proteção do meio ambiente, a produção de um
smartphone consome em torno de 12.760 litros de água – o equivalente ao
volume transportado por um caminhão-pipa médio.
Para fazer uma calça jeans, são consumidos 10.850 litros de água
durante toda a cadeia produtiva. O volume é suficiente para suprir o
consumo de uma residência média no Brasil por mais de três meses,
segundo a instituto. “Essa quantidade contabiliza desde a água gasta na
irrigação do algodoeiro, material usado para fabricar o tecido, até a
água da confecção da peça.”
Segundo a ONG, as empresas precisam melhorar os processos de produção
para conseguir usar a água de forma mais eficiente. “Do ponto de vista
empresarial, é preocupante ser dependente desse recurso que é cada dia
mais escasso. E essa preocupação não deve ser só das empresas. As
políticas públicas devem contribuir para evitar desperdício hídrico e
garantir a preservação dos mananciais. E, além disso, cada pessoa e cada
família pode fazer a sua parte buscando consumir apenas o necessário,
evitando o desperdício desse recurso tão essencial”, destaca o
presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar.
Dicas de economia
O Instituto Akatu elaborou algumas dicas que podem evitar o gasto excessivo da água invisível:
– Dê preferência aos itens duráveis em vez dos descartáveis;
– Faça o uso compartilhado de bens e serviços. Se possível, alugue-os
temporariamente ou combine o uso comunitário, entre várias pessoas;
– Produtos concentrados, como de higiene ou limpeza, utilizam menos
água em sua produção e transporte; por isso, devem ter preferência em
relação aos produtos diluídos;
– Dê preferência aos alimentos produzidos próximos ao local onde você
mora e compre aqueles que são da estação, pois isso fará com que durem
mais e não haja desperdício;
– Aproveite cascas, sementes, talos e folhas de legumes, verduras e
frutas. Essas partes, que muitas vezes são jogadas fora, têm nutrientes e
podem ser aproveitadas em muitas receitas;
– Diminua o consumo de carne bovina, que exige muita água em sua
produção. Você não precisa eliminá-la de sua dieta, mas pode consumi-la
com menos frequência, substituindo-a por outras fontes de proteína – e
assim diminuir o impacto negativo de sua produção no meio ambiente e,
consequentemente, na vida das pessoas;
– Antes de fazer qualquer compra, reflita sobre a necessidade de
adquirir um novo item. Pense se você não pode pegar o item emprestado,
comprar o produto usado, ou fazer uma troca com outra pessoa;
– Promova uma feira de trocas com os amigos e parentes. Artigos como
roupas, acessórios, bijuterias, livros, entre outros, podem ser
reaproveitados e ganhar uma nova vida nas mãos de outra pessoa.
Por Camila Boehm, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/03/2017
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reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
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Índio tupinambá, da Bahia, protesta contra a indicação de general do PSC para a presidência da Funai
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Os cortes de servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio)
determinados por um decreto assinado pelo presidente Michel Temer e pelo
ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), vão afetar uma das
áreas mais estratégicas do órgão, a coordenação responsável por analisar
grandes empreendimentos que atingem terras indígenas.
O decreto com os cortes foi publicado nesta sexta-feira (26) no "Diário
Oficial da União". O texto determinou a extinção de 347 cargos em
comissão e a criação de funções comissionadas em substituição. No final
das contas, segundo a Funai, serão exonerados ocupantes de 87 cargos
comissionados.
Indagada pela Folha, a assessoria da Funai confirmou, em nota: "A
CGLIC (coordenação-geral de licenciamento), por onde passam todos os
processos de licenciamento de obras em terras indígenas, é a coordenação
que teve o maior corte de cargos".
Grandes empreendimentos da iniciativa privada ou do governo federal,
principalmente na Amazônia Legal, precisam passar pelo escrutínio da
CGLIC, criada em 2012 para avaliar a viabilidade e os impactos das obras
em relação aos indígenas, além de "buscar a definição e aplicação de
medidas adequadas à proteção e garantia dos direitos dos povos indígenas
nesses processos".
A Funai não esclareceu quantos cargos foram cortados na CGLIC ou nas
outras áreas. Na nota, informou que não partiu da Funai "um processo de
escolha [...] das áreas mais afetadas".
A Folha apurou que oitos postos de trabalho serão cortados na
CGLIC. Eram assessores responsáveis pela análise de projetos
controversos como uma imensa mina de ouro no Pará, chamada Belo Sun,
rodovias em Mato Grosso, linhas de transmissão de energia elétrica, como
a que ligaria Amazonas a Roraima, e usinas hidrelétricas, entre
diversos outros empreendimentos.
Os cortes agora anunciados aprofundam um processo de esvaziamento do
órgão responsável pela execução da política indigenista. Em 2012, a
força de trabalho total na fundação era de 3.133 servidores. O número
caiu para 2.946 em 2013 em recuou novamente para 2.769 em 2014.
No ano passado, foi feito um concurso público para 200 novos servidores,
mas nenhum deles foi contratado. Estima-se que outros 250 se
aposentaram nos últimos dois anos e mais 250 deverão deixar o órgão até
2019.
Em outra nota na sexta-feira (24) para explicar os cortes, assinada pelo
presidente do órgão, Antônio Costa, o órgão afirmou que "a diretoria da
Funai, em reunião permanente em Brasília, não medirá esforços para
adequar a instituição à nova realidade, priorizando as necessidades dos
povos indígenas em cada região e buscando blindar e fortalecer a
fundação em sua sede e nas bases regionais".
"A Funai enfrentará essa nova realidade com responsabilidade e buscará
alternativas junto ao Governo Federal e ao Ministério da Justiça para
que a crise econômica em que se encontra o nosso país não prejudique
ainda mais a instituição e suas 305 etnias existentes no Brasil."
Procurada pela Folha, a assessoria do Ministério da Justiça
afirmou que os cortes haviam sido decididos ainda em agosto de 2016, em
um contexto de enxugamento de toda a máquina pública federal determinada
pelo Palácio do Planalto. Na época o ministério não era ocupado por
Serraglio, mas sim pelo atual ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Alexandre de Moraes.
"Salienta-se que esta redução não se refere especificamente à Fundação
Nacional do Índio, mas a outros órgãos da administração, que também
tiveram redução proporcional de quadro de pessoal", diz a nota do MJ.
Em nota, a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), uma das
principais entidades indígenas do país, que também era crítica ao
governo Dilma Rousseff, afirmou que há "um desmonte do Estado, das
instituições e políticas públicas voltadas aos povos indígenas". A
entidade disse que os cortes vão atingir também as coordenações técnicas
locais, "o que implica o abandono total das comunidades nos
territórios".CompartilheCompartilhe no Twitter