Eleitor
paulista é conservador e procura manter a mesma estrutura política que
governa o Estado há 20 anos. Hoje, não é Padilha, mas Skaf que ameaça
Alckmin em eventual 2º turno.
Dos 3,5 milhões de votos que separaram a vitória do PSDB da derrota
petista nas eleições estaduais de São Paulo em 2010, três quartos foram
no interior.
Uma diferença que nas urnas representou 2,7 milhões de
votos e que hoje torna a região o principal foco da pré-campanha de
reeleição do tucano Geraldo Alckmin e do pré-candidato Alexandre Padilha
(PT). ...
O grande empecilho petista para avançar no interior paulista é o perfil
historicamente conservador do eleitor, não em termos de valores, mas
conservador no desejo de manter a mesma estrutura política que governa o
Estado há quase 20 anos.
“O interior é muito influenciado pelas
disputas locais, onde geralmente você tem pouca rivalidade política, e a
tendência é que esse eleitorado contribua pouco para mudança política”,
diz o cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco
Antônio Teixeira.
Essa preferência pelo conhecido explica o alinhamento histórico do
interior ao PMDB, de Orestes Quércia, e ao PSDB, antes de Mário Covas e
agora de Alckmin.
“Eu acho que há um reconhecimento com o governo, e uma
identidade muito grande com o governador, porque ele também é
interiorano”, afirma o deputado federal Duarte Nogueira, presidente
estadual do PSDB, em referência ao passado político de Alckmin em
Pindamonhangaba, a 160 km da capital paulista.
“Ele está sempre
presente, entregando e mostrando trabalho, e isso é visível”, defende o
tucano.
O pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (centro),
recebe o apoio do PP de Paulo Maluf para as eleições de 2014 (direita)
Para Emidio de Souza, presidente do diretório estadual do PT e
coordenador da pré-campanha de Padilha, essa presença de Alckmin, na
verdade, é uso da máquina pública para fins eleitorais. O petista
rechaça qualquer análise que classifique o interior como próximo ao
tucano.
“Se fosse, o PT não tinha ganhado cidades importantes como São
José dos Campos, Araçatuba, e muitas outras em 2012”, diz. O otimismo de
Emidio se baseia no crescimento de cerca de 18 milhões de votos do PT
nas últimas eleições municipais em todo o Brasil, no primeiro turno, em
relação a 2008.
Partido com maior número de votos nas eleições de dois anos atrás, o PT
conseguiu eleger um número recorde de cidades na região metropolitana
de São Paulo, conquistando, além da capital, uma vitrine que soma 11
milhões de eleitores: São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco,
Guarulhos, Mauá e Carapicuíba.
E é no embalo de repetir o sucesso do chamado “cinturão vermelho” que o
PT de São Paulo dedicou boa parte da pré-campanha para apresentar o
ex-ministro da Saúde aos rincões paulistanos, indo de cidade em cidade,
nas chamadas caravanas do horizonte paulista. A estratégia, entretanto,
foi suspensa liminarmente pela Justiça Eleitoral, que entendeu que a
peregrinação não passa de propaganda antecipada.
No foco das caravanas, há mais de 100 cidades em regiões estratégicas.
Muitas, como Araçatuba, um dos berços do agronegócio paulista, tem o
petista Cido Sério (PT) no comando após vitória em 2012, mas, em 2010,
elegeu Alckmin para o governo, com uma vantagem de quase 50% dos votos.
“Essas coisas mudam muito de uma eleição para outra”, diz Emidio, que
afirma que o partido, apesar das caravanas, ainda não tem estratégias
definidas.
“Nós estamos vendo o Estado como um todo, não formulamos uma
estratégia específica para o interior.”
O histórico das eleições, entretanto, mostra que é mais fácil para o PT
crescer nas regiões metropolitanas e grandes cidades do que no interior
do Estado e, segundo o próprio Emidio, Padilha tem um perfil que se
encaixa mais com o eleitor paulistano.
“O eleitorado das grandes cidades
está mais acostumado com o PT. O perfil do Padilha é um perfil com o
qual o eleitor de São Paulo se identifica”, diz.
O PT consegue entrar melhor nas grandes cidades, e um dos motivos é o
porte maior das organizações de movimentos sociais no meio urbano,
prefeituras mais estruturadas e maior presença do governo federal, que
ofuscam em larga medida alguns trabalhos do governo estadual, muitas
vezes protagonistas nas pequenas cidades.
“Eu acho que há uma exigência
maior por parte da população dos grandes centros, há mais cobrança, e
também informações desencontradas. E neles, as obras do governo do
Estado são menos aparentes, e isso acaba tendo um efeito menor na
população, que valoriza menos”, avalia o tucano Duarte Nogueira.
Para Nogueira, que participará da coordenação de campanha à reeleição
de Alckmin, apesar do crescimento petista há dois anos, a tendência é de
regressão, principalmente depois das manifestações de junho, que para
ele ficaram sem resposta do governo federal. “Superfaturamento, desvios,
isso virou uma marca do PT.
Há uma frustração muito grande e acho que
vai ocorrer um encolhimento muito grande nestas eleições. Há uma crítica
muito contundente nas ruas, de que essa realidade precisa ser mudada”,
afirma.
Alckmin ganhou as eleições de 2010 ainda no primeiro turno, mas, apesar
da larga vantagem, Aloizio Mercadante, candidato do PT na época, se
manteve um pouco acima da média dos 30% de preferência do eleitorado
paulista.
Às vésperas do início da eleição, Padilha ainda não conseguiu
decolar nas pesquisas de opinião, empacando em torno dos 4% de intenções
de voto.
Se a eleição fosse hoje e Alckmin não vencesse no primeiro
turno, como apontam as pesquisas, Paulo Skaf (PMDB) é o candidato que
aparece como seu principal adversário.
Em 2010, Skaf, então no PSB, conquistou apenas 5% das intenções de
voto. Mas agora no PMDB, o partido com mais prefeitos eleitos em 2012,
em todo o País, o cenário é outro.
Com 21% no Datafolha do dia 9 de
junho, o presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp) pode levar a eleição para o segundo turno, em especial
após o início do horário político televisivo, quando aumentará a sua
visibilidade.
“A eleição estadual está pouco debatida, os nomes dos
candidatos estão pouco divulgados”, diz Marco Antonio Teixeira. “Mas
Skaf é ligado ao capital, e já tem uma grande entrada no interior, por
causa da Fiesp e do Sistema S (no qual se incluem Sesc, Senai e Sesi)”.
A eleição de Skaf, um nome novo, entretanto, significaria a volta do
PMDB de Quércia ao governo. PMDB que também já foi de Covas, que,
segundo Duarte Nogueira, já dizia: “o povo nunca erra, ele sempre
acerta, se ele tiver todas as informações”.
Fonte: NATÁLIA PEIXOTO - iG São Paulo - 17/06/2014 - - 21:14:59
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