A presidente Dilma Rousseff está numa sinuca quase impossível de resolver, e não é difícil que, em seus momentos de solidão, reflita sobre a possibilidade de renunciar à Presidência da República.
Na nossa história já tivemos renúncias presidenciais como a de Janio Quadros, que abriu caminho para a instalação da ditadura que nos sufocou durante anos. Ou, como a de Fernando Collor, cuja renúncia chegou atrasada e ele, oficialmente, foi impedido de continuar governando.
Outro fato histórico é o “Dia do Fico”, ocorrido em 9 de janeiro de 1822. D.Pedro I, príncipe regente do Brasil - em sentido inverso ao da situação atual - desobedeceu a ordens da Corte Portuguesa determinando que retornasse a Portugal, desarticulando movimentos pela independência, o que acabou acontecendo em 7 de setembro de 1822 pelas mãos do próprio D.Pedro I.
O “Dia do Fico” assim ficou conhecido, pela frase proferida pelo Imperador na ocasião: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”.
Meses depois, D.Pedro I abdicou do trono brasileiro, após uma tentativa frustrada de recuperar o seu prestígio político quando, em Minas Gerais, tentou obter um acordo com políticos da região, esperando conciliar o seu governo com a opinião pública. A oposição não aceitou a proposta e o pressionou até a sua abdicação a favor de D.Pedro II.
Mais recentemente, o Papa Bento XVI renunciou ao cargo de representante de Deus na terra, após denúncias de corrupção de costumes e roubo nas finanças do Vaticano; Bento XVI, à época, alegou estar cansado e fragilizado pela avançada idade que exigia dele condições físicas e mentais para se manter no cargo. Até hoje o mistério perdura sobre a renúncia, pois, como a de Janio Quadros, os historiadores suspeitam que forças ocultas teriam pressionado Bento XVI, levando-o à renúncia.
Nas atuais circunstâncias nacionais, apesar de opiniões de muitos profundos conhecedores da presidente Dilma afirmarem que uma mulher que, jovem, decidiu pegar em armas para lutar contra a ditadura, submetendo-se à tortura e a prisão, não irá, após assumir o poder de forma tão inusitada, renunciar à presidência da República.
As renúncias não são sempre vergonhosas para o renunciante. Na verdade, é possível que o interesse público fique acima dos interesses pessoais, e o governante decida, como D. Pedro I, e repita a frase com pequena modificação; ou seja: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que saio”
Neste momento em que as acusações contra o governo e ao Partido dos Trabalhadores se avolumam nos tribunais, com a prisão de dirigentes do partido e empresários envolvidos nas falcatruas contra o erário, é razoável que, em alguma delação, os companheiros não resistam e acabem desvendando a verdade e o volume de dinheiro desviado de órgãos e empresas públicas.
A agressividade do ex-presidente Lula contra as manifestações que saem às ruas diariamente demonstra o temor que se instalou no governo de que provas irrefutáveis poderão atingir Lula e Dilma. Não esqueçamos que em um governo em que até tapioca é paga com cartões corporativos é razoável surgir uma camionete qualquer para comprovar a fraude.
A história política da presidente já está traçada desde que ela entregou a área econômica ao ministro Joaquim Levy, e desde que se consolidou a independência do Senado Federal liderado por Renan Calheiros e da Câmara dos Deputados comandada por Eduardo Cunha.
A renúncia ao cargo se consolidou com a entrega do poder político ao hábil e ilibado vice-presidente Michel Temer que se desdobra para convencer algozes e aliados do governo a amenizar o ritmo das derrotas impostas à presidente, e tornar o país, ao menos, governável.
A derrubada dos programas sociais, o abandono à proteção aos trabalhadores e o descontrole da inflação só são enfrentados pela presidente com o frágil discurso de que as manifestações contra o governo são legítimas e democráticas. É claro que são, pois o brasileiro conquistou a democracia com a Constituição de 1988, aliás, desprezada pela representação do Partido dos Trabalhadores liderada por Lula.
Os movimentos populares pelo impedimento da presidente Dilma recrudescem em todos os estados da Federação, apesar de manifestações de juristas de que não há fato que o justifique; no entanto, o mais importante é a situação política que pode tornar o poder presidencial tão fraco que não restará outra medida senão pedir para sair. É difícil, mas liberta!
18 de abril de 2015
Paulo Castelo Branco