quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Cientistas registram nascimento de milhões de tartarugas-da-amazônia, durante maior desova desses animais no planeta


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 Amazônia Bichos  




Cientistas registram nascimento de milhões de tartarugas-da-amazônia, durante maior desova desses animais no planeta

Um espetáculo da natureza que se repete todos os anos. E dessa vez, foi documentado através de vídeos e fotos pelos pesquisadores da Wildlife Conservation Society (WCS). Quando chega o final de setembro, milhares de fêmeas adultas de tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) se reúnem em praias ao longo do rio Guaporé/Iténez, na fronteira do Brasil com a Bolívia. Lá acontece a nidificação anual e a eclosão dos filhotes, no que é considerada a maior agregação e desova de tartarugas do planeta.

Podocnemis expansa é a maior espécie de tartaruga de água doce da América Latina: seu casco pode medir até mais de 1 metro e pesar cerca de 90 kg. As fêmeas colocam, em média, 100 ovos em cada ninho. São aproximadamente 60 dias de incubação, até que nasçam os filhotes entre novembro e o início de janeiro.

Na temporada de 2022, os cientistas da WCS, em parceria com a Ecovale, usaram drones para para estimar o número de tartarugas adultas e filhotes nascidos. Acredita-se que no ano passado estiveram ali 80 mil fêmeas.

“A nidificação anual e a eclosão da tartaruga-da-amazônia é um dos grandes espetáculos naturais da Terra. É visualmente deslumbrante, mas também extremamente importante ecologicamente para o ecossistema da Amazônia Ocidental”, diz Camila Ferrara, especialista em tartarugas do Programa WCS Brasil.

O objetivo do censo e monitoramento é traçar estratégias de proteção às praias de desova. É um esforço conjunto entre pesquisadores brasileiros e bolivianos.

Espetáculo anual da natureza
(Foto: Marcos Amend/WCS)

Antigamente, milhões desses quelônios eram observados nessa região amazônica. Historiadores relatam um verdadeiro “massacre” da Podocnemis expansa em séculos passados. Entre 1700 e 1903, algo em torno de 214 milhões de ovos foram coletados e enviados à Europa para atender à demanda por energia naquele continente. A espécie é um alvo fácil para a captura, uma vez que costuma desovar em praias, onde fica bastante exposta e vulnerável.

Além disso, a tartaruga-da-amazônia também é caçada por causa de sua carne.

Cientistas registram nascimento de milhões de tartarugas-da-amazônia, durante maior desova desses animais no planeta

Imagem aérea mostra as milhares de tartarugas no rio
(Foto: Marcos Amend/WCS)

Cientistas registram nascimento de milhões de tartarugas-da-amazônia, durante maior desova desses animais no planeta

Um filhotinho de Podocnemis expansa: a maior tartaruga de água-doce da América Latina
(Foto: WCS)

Atualmente na Amazônia podem ser observadas 21 espécies de quelônios, entre aquáticos, semi-aquáticos e terrestres. As tartarugas têm um importante papel em seus ecossistemas. Ao dispersar sementes, ajudam a regenerar a vegetação ao longo dos rios.

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Foto de abertura: Nikon Corporation/WSC)

Antas estão morrendo e sendo afetadas por agrotóxicos utilizados no Cerrado de MS, aponta pesquisa

https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2021/06/30/antas-estao-morrendo-e-sendo-afetadas-por-agrotoxicos-utilizados-no-cerrado-de-ms-aponta-pesquisa.ghtml 

Antas estão morrendo e sendo afetadas por agrotóxicos utilizados no Cerrado de MS, aponta pesquisa

Cientistas alertam para a grande quantidade de pesticidas, proibidos de serem usados no Brasil, nos organismos dos animais analisados. A preocupação aumenta em decorrência da espécie estar em risco de extinção.

Por José Câmara, G1 MS

30/06/2021 16h22  Atualizado há um ano


Pesquisa aponta que as antas estão ingerindo os agrotóxicos por meio das plantas que comem em seu habitat natural. — Foto: Reprodução




O uso de pesticidas no Cerrado de Mato Grosso do Sul tem preocupado cientistas da fauna regional. De acordo com uma pesquisa publicada no final de junho, deste ano, na revista Wildlife Researchantas, antas brasileiras estão morrendo e sendo afetadas por agrotóxicos utilizados em propriedades agrícolas que ficam no bioma.

O documento assinado por cientistas da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (INCAB-IPÊ), além de apontar a contaminação da espécie, pede investigações mais profundas sobre o tema, em decorrência do uso dos pesticidas irregulares.

A pesquisa conclusiva traz um relatório detalhado da detecção de pesticidas e metais pesados analisados nas antas. Uma das principais conclusões foi a detecção da alta prevalência do agrotóxico, popularmente conhecido como 'chumbinho', presente de forma intensa no conteúdo estomacal dos animais. De todas as antas avaliadas, 41% delas testaram positivo para este ou mais produtos químicos.

O estudo de campo foi feito entre os anos de 2015 e 2017, nas cidades de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina, municípios próximos a Campo Grande. Conforme os dados levantados pela pesquisa, esta região contém plantações de cana-de-açúcar, cultura que utiliza da pulverização aérea de inseticidas, agrotóxicos encontrados nos organismos das antas analisadas.

Em 2012, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento decidiram retirar do mercado brasileiro o agrotóxico aldicarbe, pesticida encontrado nos animais. Diante da presença dos pesticidas, após 2012, o estudo deixa claro que agricultores estão utilizando o produto irregular.

A coordenadora da INCAB e uma das autoras do artigo, Patrícia Medici, alerta para os riscos da contaminação das antas. “Esse é um estudo de longo prazo e conseguimos apontar agora com ampla certeza quais os agrotóxicos que estão afetando a saúde das antas. Embora pouco se saiba sobre o impacto da exposição crônica a estas substâncias ao longo de meses ou anos, já sabemos que o índice de pesticidas encontrado nos tecidos, outros órgãos e sangue dos animais é muito superior ao limite permitido de ingestão. Isso pode desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas", afirma.

Agrotóxicos no habitat natural

 

Pesquisadores estão preocupados com a vida das antas brasileiras. — Foto: INCAB/Divulgação

Os especialistas explicam que as exposições das antas aos agrotóxicos são feitas no próprio habitat natural, seja pela ingestão de plantas em contato com o solo ou água contaminada. "A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar", descrevem.

“Isso é assustador e prejudicial e não sabemos ainda os efeitos colaterais para esses bichos. É como se as antas se alimentassem de veneno um pouco a cada dia, alimentando uma bomba-relógio em seu próprio corpo. Essa falta de conhecimento sobre a saúde da anta é um grande obstáculo para um planejamento adequado ações de conservação”, alerta Patrícia.

Além do "chumbinho", outros pesticidas foram encontrados como organofosforados - diazinon, malathion e mevinphos também foram encontrados nas patas dos animais. A pesquisadora explica que as substâncias podem tornar as antas mais vulneráveis a infecções e doenças, afetando adversamente sua saúde e sobrevivência.

“Já está claro que a agricultura em grande escala no Cerrado brasileiro está resultando em pesticidas e exposição a metais em concentrações que excedem a segurança ambiental e pode causar efeitos adversos à saúde das antas e, talvez, de outros animais. Precisamos olhar com mais seriedade para essa questão que afeta os animais silvestres e as vidas humanas. É inadmissível a utilização de agrotóxicos sem critérios e sem fiscalização”, conclui Patrícia.

 

Enrolada em rede de pesca, baleia de espécie em risco de extinção, provavelmente morrerá

 


Enrolada em rede de pesca, baleia de espécie em risco de extinção, provavelmente morrerá

Enrolada em rede de pesca, baleia de espécie em risco de extinção, provavelmente morrerá

baleia-franca do Atlântico Norte é um gigante dos oceanos. Pode pesar mais de 60 toneladas e medir até 20 metros. Sua expectativa de vida gira em torno dos 70 anos. No entanto, biólogos têm percebido que esses cetáceos vivem agora bem menos tempo. De acordo com especialistas da Agência Nacional de Oceano e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), essa redução da expectativa de vida se deve à mortalidade causada pelo homem. Um triste exemplo disso é uma baleia da espécie, de apenas 4 anos, que provavelmente morrerá porque está enrolada em apetrechos de pesca.

A fêmea foi avistada na primeira semana de janeiro, na costa do estado da Carolina do Norte. Havia várias voltas de fios de redes de pesca ao redor de sua boca e da cauda e em algumas outras partes do corpo.

Através de suas características físicas, os biólogos conseguiram identificar a baleia. Era #4904, que em maio do ano passado, tinha sido avistada na Baía de Massachusetts, e na época, não estava emaranhada.

As imagens aéreas obtidas recentemente mostram que as redes provocaram várias lesões no animal e em sua cabeça há crustáceos parasitas. Infelizmente, acredita-se que ela provavelmente não resistirá aos ferimentos e morrerá.

Desde 2017, quase 100 baleias-francas do Atlântico Norte já morreram vítimas de colisões com embarcações ou presas em redes de pesca.

“Esta é mais uma má notícia para esta espécie que sofre há muitos anos de proteção ineficaz. Ouvir que há outro emaranhado é frustrante, porque sabemos que é preciso fazer mais”, disse Gib Brogan, diretor de campanha da organização Oceana, em entrevista à CNN International.

Estima-se que restem apenas 350 baleias-francas do Atlântico Norte ainda vivas e que menos de 100 sejam fêmeas em idade de reprodução.

Em dezembro, escrevi sobre outra história muito parecida. Biólogos acompanhavamm apreensivos Snow Cone, uma baleia da mesma espéice, que mesmo presa numa rede de pesca, teve um filhote.

As fêmeas dão à luz a um único filhote após um ano de gestação. Apesar do intervalo entre o nascimento dos filhotes ser em média de três anos, mais recentemente os biólogos têm observado que esse tempo passou para seis a dez anos. Isso porque qualquer tipo de estresse pode afetar a saúde das baleias e seu processo reprodutivo.

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Foto de abertura: Clearwater Marine Aquarium Research Institute, taken under NOAA permit #20556-01.

Agrotóxico causa mortes de araras-azuis no Pantanal, aponta pesquisa

 

Agrotóxico causa mortes de araras-azuis no Pantanal, aponta pesquisa

Agrotóxico causa mortes de araras-azuis no Pantanal, aponta pesquisa

Os pesquisadores publicaram os resultados da análise na revista científica 'Scientific Reports', um braço da conceituada Nature. No artigo, cientistas confirmaram intoxicação por um tipo de pesticida.

Por Alysson Maruyama, g1 MS e TV Morena

10/03/2022 17h32  Atualizado há 10 meses



Araras foram encontradas mortas e pesquisa investigou causa. — Foto: Instituto Arara Azul/Reprodução

Araras-azuis foram encontradas mortas por produtores rurais de Mato Grosso do Sul. Após o incidente, pesquisadores iniciaram análises nos corpos dos animais e encontraram a presença de agrotóxico nos organismos das aves. Outros cientistas também estão preocupados com outro animal, a anta.

Os pesquisadores publicaram o resultada da análise na revista "Scientific Reports", um braço da conceituado grupo Nature, confirmando que a morte dos animais foi ocasionada por um intoxicação por organofosforado, um tipo de pesticida.

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As aves foram analisada no Centro de Assistência Toxicológica, em São Paulo, após passarem por exames necroscópicos em Mato Grosso do Sul.

"Nós fizemos necropsia, aqui em Campo Grande, coletamos os órgãos e enviamos para o laboratório, em Botucatu, com suspeita de envenenamento por agrotóxico", afirmou Neiva Guedes, pesquisadora do Instituto Ara Azul.

O Instituto Arara Azul atua há mais de 30 anos no Pantanal e ainda depende de parcerias para realizar o trabalho de análise da presença de substâncias tóxicas em aves vivas.

Antas


Pesquisa aponta que as antas estão ingerindo os agrotóxicos por meio das plantas que comem em seu habitat natural. — Foto: Reprodução

Outro grupo, o Instituto de Pesquisas Ecológica, coletou amostras de mais de 100 antas mortas, atropeladas em rodovias e também de animais vivos capturados em campo. O estudo começou em 2016, em regiões cercadas por lavouras e pastagens, e constatou que, no Cerrado, a Anta está perdendo a luta para os agrotóxicos.

Os especialistas explicam que as exposições das antas aos agrotóxicos são feitas no próprio habitat natural, seja pela ingestão de plantas em contato com o solo ou água contaminada. "A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar", descreveram os cientistas do Instituto de Pesquisas Ecológica em um artigo.

Os cientistas identificaram que antas do Cerrado vivem até dez anos menos que em outros biomas e encontram alguns animais com deformações, como dedos a mais nas patas. De cada 10 amostras, quatro haviam altas concentrações de diferentes tóxicos.

"Quase metade de tudo o que a gente coletou pra amostra foi positivo pra um ou mais agroquímico. a gente tem caso de três ou quatro. O que é de fato preocupante é que a maioria desses agroquímicos são altamente tóxicos pro meio ambiente, altamente tóxicos pros seres humanos e pros animais, certamente", enfatizou a coordenadora de pesquisa do Instituto de Pesquisas Ecológicas, Patrícia Médice.

 

Declínio drástico de aves canoras está ligado a inseticida comum

 

Declínio drástico de aves canoras está ligado a inseticida comum

23/09/2019 clipping Clipping


Pardais de coroa branca, como esse, perderam peso rapidamente depois de comerem sementes tratadas com neonicotinoides, o inseticida mais usado nos Estados Unidos.
FOTO DE ALL CANADA PHOTOS/ ALAMY




O inseticida mais usado no mundo está ligado ao drástico declínio de pássaros na América do Norte. Estudo inédito sobre aves na natureza descobriu que um pássaro migrando que comeu o equivalente a uma ou duas sementes tratadas com inseticida neonicotinoide sofreu imediata perda de peso, atrasando sua jornada.

Apesar dos pássaros terem se recuperado, o atraso pode prejudicar seriamente suas chances de sobreviver e reproduzir, dizem os pesquisadores canadenses, cujo estudo foi publicado na Revista Science.

“Mostramos uma ligação clara entre a exposição aos neonicotinoides nos níveis do mundo real e o impacto nos pássaros”, diz a autora principal Margaret Eng, pós-doutorada na University of Saskatchewan Toxicology Center.

A migração de aves na primavera ocorre quando os fazendeiros estão plantando, e a maioria das plantações dos Estados Unidos e Canadá são cultivadas com sementes tratadas com neonicotinoides. Os pássaros podem ser expostos repetidas vezes em diversas paradas, quando descansam e se alimentam. Isso pode causar atrasos na migração e suas consequências, o estudo conclui.

Neonicotinoides, introduzidos no final dos anos 1980, deveriam ser uma alternativa mais segura que inseticidas anteriores. Mas estudos mostram que eles desempenham um papel fundamental no declínio de insetos, especialmente abelhas. A UE baniu o uso dos produtos químicos em 2018 pois estavam matando polinizadores. Esse estudo é mais um elo na cadeia de problemas ambientais, que mostra que o uso de neonicotinoides é prejudicial aos pássaros, e que as populações de aves estão em risco, Eng disse em entrevista.


É a primeira prova de “efeitos comportamentais em pássaros livres como resultado de intoxicação de neonicotinoides”, diz Caspar Hallmann, ecólogo da Universidade Radboud, na Holanda.

Os resultados podem ser aplicados a outras espécies de aves que consomem grãos tratados com pesticidas, disse Hallmann, que não estava envolvido no estudo da Science. A pesquisa publicada de Hallmann liga a queda generalizada de pássaros que comem insetos ao uso do neonicotinoide.

A população de mais de 75% de pássaros e outras aves que dependem da produção agrícola na América do Norte declinou significativamente desde 1966. O novo estudo revela como neonicotinoides podem estar contribuindo diretamente nas mortes. Há um mês, um estudo abrangente concluiu que o uso generalizado de neonicotinoides deixou a paisagem agrícola americana 48 vezes mais tóxica para abelhas, e provavelmente outros insetos, do que estava há 25 anos.

Pássaros magros

Para investigar o impacto em pássaros selvagens, pesquisadores capturaram pardais de coroa branca durante uma parada em sua rota migratória dos Estados Unidos para a região boreal do Canadá. Os pardais, divididos em três grupos, foram alimentados ou com uma pequena dose do neonicotinoide mais utilizado, chamado imidacloprid, ou com uma dose um pouco maior, ou com uma sem inseticida.

Cada pássaro foi pesado e sua composição corporal foi medida antes e depois da exposição. Pássaros que receberam uma dose maior do pesticida perderam 6% de sua massa corporal quando pesados novamente seis horas depois.

A dose alta administrada é comparável a um décimo de uma única semente de girassol ou semente de milho tratada com imidacloprid, ou três ou mais sementes de trigo, diz a coautora Christy Morrissey, ecotoxicologista da Universidade de Saskatchewan. “É uma quantidade minúscula, uma pequena fração do que esses pássaros comeriam diariamente”, Morrissey disse em entrevista.

O imidaclorid, até em doses extremamente pequenas, tem um efeito inibidor de apetite nos pardais. Eles estavam letárgicos e sem interesse em comer, ela disse. “Nós vimos a mesma coisa com pássaros em cativeiro em um estudo anterior.” Este estudo foi publicado em 2017 no jornal online Scientific Reports.

Isso não é surpresa, já que neonicotinoides são quimicamente semelhantes à nicotina e estimulam células nervosas, matando em altas doses. Envenenamento por nicotina em humanos é raro porque o grande consumo normalmente deixa a pessoa muito doente para consumir mais. A mesma coisa parece estar acontecendo com os pássaros.

Ressaca de neonicotinoides

Os pardais capturados foram soltos logo após a segunda pesagem – e depois que um pequeno transmissor foi colado entre as asas. O transmissor permitiu o rastreamento de seus movimentos na natureza. Os pardais que receberam a dose não continuaram sua migração imediatamente. Já os que não receberam, logo seguiram em frente. Os pardais que receberam a dose alta ficaram na parada 3 dias e meio s a mais, recuperando-se da intoxicação e recuperando a perda de peso, o estudo concluiu.

Felizmente, o imidacloprid é metabolizado rápido em pássaros. Mas um atraso de 3,5 dias na migração pode significar a perda da chance de reprodução, diz Morrisey. “Pequenos pássaros se reproduzem apenas uma ou duas vezes em suas vidas, e perder essa chance pode causar declínios na população.

“Quando pássaros migram, precisam desesperadamente ganhar peso nos pontos de parada para abastecer sua jornada,” diz Steve Holmer, do American Bird Conservancy.

O novo estudo mostrou que pardais perderam quantidades cruciais de gordura corporal, somando 9% nos que receberam a dose pequena e 17% nos que receberam a dose maior. Essa exposição a um neonicotinoide pode deixá-los sem a “energia para reproduzir com sucesso depois de voar até o local de reprodução”, escreveu Holmer em um e-mail.

David Fisher, cientista chefe de Polinização Segura na Bayer CropScience, a principal fabricante de imidacloprid, diz que não há evidência de que as doses administradas no estudo “são representativas das exposições que os pássaros normalmente recebem nos campos agrícolas no mundo real.”

Pequenos pássaros, como o pardal de coroa branca, são “incapazes de engolir grandes sementes como de milho e soja”, Fisher escreveu por e-mail.

No entanto, Charlotte Roy gravou diferentes espécies de pardais e outros pássaros, além de ratos, cervos e até ursos negros comendo sementes de milho, soja e trigo em um novo estudo publicado 10 de setembro no periódico Science of The Total Environment. Roy, ecologista da vida selvagem no Departamento de Recursos Naturais de Minnesota, diz que pequenos pássaros quebram grandes sementes e comem o que está dentro ou fragmentos dela.

“Eles não precisam necessariamente consumir a semente inteira para serem expostos”, ela disse em entrevista.

Em seu estudo, Roy e seus colegas simularam as sementes espalhadas durante a plantação da primavera para ver se vida selvagem iria ser atraída por essa fonte de comida. Os pássaros acharam as sementes em um dia e meio em média. Eles também acharam sementes tratadas com neonicotinoides na superfície do solo em 35% dos 71 campos recentemente plantados examinados.

Foi a primeira comprovação de que sementes tratadas estão facilmente acessíveis para ser consumidas pela vida selvagem na América do Norte. “O índice de sementes espalhadas foi bem mais alto do que o esperado”, ela disse.

Fazendeiros geralmente não sabem o quanto essas sementes tratadas são ruins para vida selvagem, diz Roy.

Fonte: National Geographic Stephen Leahy