Muitos de nós gostamos de pensar que nossos cães são inteligentes, ao apontarmos sua capacidade de ler nossas expressões faciais e entender o que dizemos.
Mas alguns cães são excepcionais. Veja o exemplo de Chaser, um border collie americano apelidado de “cachorro mais inteligente do mundo”, que podia reconhecer e lembrar 1.022 substantivos – um para cada um de seus brinquedos.
Na Alemanha, outro border collie, chamado Rico, praticava “mapeamento rápido” ou descobrir nomes de coisas novas com a velocidade e a perspicácia de uma criança de três anos. Descobriu-se que um punhado de outros border collies – bem como dois Yorkshire terriers, um do Brasil chamado Vicky Nina, o outro uma vira-lata americana, Bailey – têm o mesmo talento.
No entanto, esses exemplos de gênios caninos são muitas vezes “sobre apenas um cão”, diz Claudia Fugazza, uma etologista que estuda cognição canina na Universidade Eotvos Lorand de Budapeste. “Nunca houve um tamanho de amostra decente”, observa ela.
Então Fugazza decidiu consertar isso. Ela e seus colegas do Family Dog Project da universidade pediram aos proprietários de 34 cães de estimação de várias raças que ensinassem seus nomes caninos para dois brinquedos separados.
Londres (CNN) – Crianças da cidade que têm exposição diária à floresta têm melhor desenvolvimento cognitivo e menor risco de problemas emocionais e comportamentais, de acordo com um novo estudo publicado na Nature Sustainability.
Os pesquisadores estudaram 3.568 adolescentes de 9 a 15 anos em 31 escolas em Londres ao longo de quatro anos para examinar as associações entre ambientes naturais e desenvolvimento cognitivo, saúde mental e bem-estar geral.
Usando dados de satélite de vegetação, os pesquisadores calcularam a exposição diária dos adolescentes a “espaços verdes”, como bosques, prados e parques, e “espaços azuis”, incluindo rios, lagos e mar, em um raio de 50 metros, 100 metros, 250 metros e 500 metros de sua casa e escola.
Uma exposição diária mais alta à floresta foi associada a pontuações mais altas para o desenvolvimento cognitivo – medido por meio de uma série de tarefas baseadas na memória – e um risco 17% menor de problemas emocionais e comportamentais dois anos depois, disseram os pesquisadores, acrescentando que ajustaram para outras variáveis, como idade, origem étnica, sexo biológico, ocupação dos pais, tipo de escola e poluição do ar.
A exposição a espaços verdes foi associada a uma contribuição benéfica para o desenvolvimento cognitivo dos jovens, explicaram os pesquisadores. As mesmas associações não foram vistas com a exposição ao espaço azul – embora a amostra de crianças estudadas tivessem geralmente pouco acesso a ele, observaram os pesquisadores no estudo publicado na segunda-feira.
O autor principal, Mikaël Maes, disse que, embora a equipe tenha estabelecido uma associação entre florestas e melhor desenvolvimento cognitivo e saúde mental, não há uma relação causal entre os dois – algo que poderia ser estudado no futuro.
“Atualmente, os mecanismos pelos quais os humanos recebem benefícios para a saúde mental ou cognição com a exposição à natureza são desconhecidos. A pesquisa científica sobre o papel dos sentidos humanos é a chave para estabelecer uma ligação causal”, disse Maes, pesquisador PhD na Universidade de Londres na Escola de Geografia, Biociências e de Saúde Pública, à CNN.
Maes disse em um e-mail que uma possível explicação para a ligação entre floresta, cognição e saúde mental poderia ser que a exposição audiovisual através da vegetação e abundância de animais – que são mais comuns na floresta – fornece benefícios psicológicos.
No entanto, houve limitações para o estudo. A equipe disse que a pesquisa pressupõe que morar ou ir à escola perto de ambientes naturais significa mais exposição a eles, o que pode nem sempre ser o caso. As taxas de criminalidade na área também não foram levadas em consideração.
Os pesquisadores também observaram que mais da metade dos participantes tinha pais com uma ocupação gerencial ou profissional, o que significa que adolescentes de outros grupos socioeconômicos poderiam estar sub-representados no estudo. Os alunos com necessidades educacionais especiais também podem reagir de forma diferente dos colegas representados na pesquisa.
‘Novas percepções’
“As descobertas são impressionantes e destacam a importância do tempo ao ar livre em tal escala”, disse Carol Fuller, chefe do Instituto de Educação da Universidade de Reading, à CNN por e-mail.
“Dito isso, embora as descobertas sejam encorajadoras, o que não obtemos com o estudo é uma noção de por que vemos os resultados que vemos? Embora os autores especulem sobre as razões, há uma necessidade crucial de nos envolvermos diretamente com jovens para entender os resultados da perspectiva de quem estava participando”, disse Fuller, que não esteve associada à pesquisa.
“A pesquisa contribui para um crescente corpo de trabalho sobre a importância de estar do lado de fora em coisas como confiança, resiliência e autoeficácia”, disse ela.
“Faz sentido que, se você puder desenvolver essas habilidades, a cognição e resultados de aprendizagem irão melhorar. Estar do lado de fora permite que os jovens aprendam uma variedade de habilidades diferentes e se envolvam em experiências diversas, importantes para desenvolver essas características subjacentes”, acrescentou ela.
Stella Chan, professora de Tratamento Psicológico Baseado em Evidências da Universidade de Reading, disse em um e-mail à CNN que a pesquisa ofereceu “novas percepções” com “potencial para informar como podemos melhor apoiar o desenvolvimento intelectual, a saúde e o bem-estar dos jovens.”
“Como observam os autores, só porque alguém mora perto de ambientes naturais não significa que eles poderiam ou iriam acessar este espaço e, claro, como as pessoas usam o espaço é outra grande pergunta a se fazer”, disse Chan, que não esteve envolvida no estudo.
“Com base nessas descobertas, seria importante investigar como os fatores associados à exposição a ambientes naturais, como atividade física e sair com amigos, podem ajudar a aumentar a resiliência, saúde e bem-estar dos adolescentes”, disse Chan.
Há muito tempo a vida ao ar livre é associada a uma boa saúde física e mental – um estudo de 2015 mostrou que as pessoas que caminham na natureza relatam menos pensamentos negativos repetitivos.
E um estudo de 2019 descobriu que passar duas horas por semana absorvendo a natureza – seja na floresta, parque ou praia – dá um impulso positivo para a saúde e o bem-estar, tanto mental quanto fisicamente.
O fármaco restaura as funções cognitivas otimizando as transmissões entre os neurônios. [Imagem: Kohji Fukunaga]
Candidato a medicamento contra demência
Um novo tratamento experimental não apenas interrompeu os sintomas neurodegenerativos em modelos de camundongos com demência e doença de Alzheimer, como também reverteu os efeitos dos distúrbios.
"Atualmente, não há nenhuma terapia no mundo modificadora da doença para distúrbios neurodegenerativos, como doença de Alzheimer, demência por corpos de Lewy, doença de Huntington e demência frontotemporal," disse o Dr. Kohji Fukunaga, da Universidade de Tohoku (Japão). "Nós descobrimos o novo candidato terapêutico modificador da doença, SAK3, que, em nossos estudos, resgatou neurônios na maioria das doenças neurodegenerativas com mal dobramento de proteínas."
Em um estudo anterior, a equipe havia descoberto que a molécula SAK3 ajuda a melhorar a memória e o aprendizado em um modelo animal com doença de Alzheimer. A estrutura básica da SAK3 foi encontrada justamente no aumento da atividade do canal das células neurais (do tipo T) por onde flui o íon Ca2+, responsável pela condução dos sinais entre os neurônios.
Agora, eles demonstram que a SAK3 se liga diretamente à subunidade do canal Ca2+, resultando no aumento da neurotransmissão, reduzindo assim os défices cognitivos.
Os pesquisadores descobriram que o mesmo processo também parece funcionar em um modelo de camundongo com demência de corpos de Lewy, que é caracterizada por um acúmulo de proteínas conhecidas como corpos de Lewy.
"Mesmo após o início da deficiência cognitiva, a administração de SAK3 preveniu significativamente a progressão dos comportamentos neurodegenerativos, tanto na disfunção motora quanto na cognição," disse Fukunaga.
O candidato a medicamento foi declarado seguro para uso humano pela autoridade de saúde do Japão, por isso os pesquisadores planejam iniciar os testes clínicos em humanos no próximo ano.
Checagem com artigo científico:
Artigo: T-type Ca2+ enhancer SAK3 activates CaMKII and proteasome activities in Lewy body dementia mice model Autores: Jing Xu, Ichiro Kawahata, Hisanao Izumi, Kohji Fukunaga Publicação: International Journal of Molecular Sciences DOI: 10.3390/ijms22126185
Foram encontradas pessoas com um sexto sentido médico em diversas etnias ao redor do mundo. [Imagem: Artin Arshamian et al. - 10.1098/rspb.2021.0922]
Sexto sentido médico
Algumas pessoas conseguem "ver" quando outras estão nos estágios iniciais de uma infecção apenas olhando para elas - e este "sexto sentido médico" ocorre em diferentes culturas.
Artin Arshamian e seus colegas do Instituto Karolinska (Suécia) queriam saber se era possível dizer se alguém está doente apenas olhando para o rosto da pessoa.
Eles então convocaram voluntários de seis origens culturais diferentes, indo desde moradores urbanos de Estocolmo até caçadores-coletores nas florestas tropicais da Tailândia e Malásia e nos desertos costeiros do México.
Cada voluntário via sempre as mesmas fotos de pares de homens suecos, tiradas 2 horas depois de ambos terem recebido uma injeção - um deles recebeu um injeção com a bactéria Escherichia coli, e o outro recebeu uma injeção com um placebo inerte.
Ou seja, os homens que haviam recebido a injeção com E. coli estavam nos estágios iniciais de uma infecção - e da respectiva resposta imunológica - quando as fotos foram tiradas.
Capacidade de ver quem está doente
Os resultados mostraram que alguns voluntários em todos os seis diferentes grupos culturais tinham uma capacidade estatisticamente significativa de identificar as pessoas que estavam doentes apenas olhando suas fotos.
A equipe não tem ideia do que leva algumas pessoas a serem capazes de identificar diferentes indivíduos doentes, mesmo sendo pessoas de etnias que nunca haviam visto, mas eles afirmam que o resultado faz sentido em um contexto evolutivo.
"A capacidade de saber quem está doente em um estágio inicial pode nos beneficiar, ajudando-nos a decidir se devemos evitar certas pessoas," teoriza o Dr. Joshua Tybur, da Universidade de Amsterdã (Holanda), que participou da pesquisa. "Isso também pode ser útil para as pessoas de quem você cuida, para saber quando elas precisam de mais ajuda."
"O mais perigoso é você entrar em contato com agentes patogênicos com os quais seu sistema imunológico tem pouca experiência," acrescentou Arshamian. "Esse é um dos problemas quando novas populações se aproximam e se misturam - elas podem trazer patógenos para grupos que têm muito pouca exposição a eles e isso é realmente ruim. Basicamente, foi isso que aconteceu com os nativos americanos."
Capacidade universal
A equipe havia pensado que os voluntários de Estocolmo seriam os melhores no reconhecimento dos doentes porque as fotos eram de pessoas de sua própria comunidade - mas não foi o caso.
"Eu acredito que isso significa que provavelmente essa é uma habilidade tão estável e tão geral que a experiência cultural provavelmente não a afeta tanto," ponderou Arshamian.
Checagem com artigo científico:
Artigo: Human sickness detection is not dependent on cultural experience Autores: Artin Arshamian, Tina Sundelin, Ewelina Wnuk, Carolyn O'Meara, Niclas Burenhult, Gabriela Garrido Rodriguez, Mats Lekander, Mats J. Olsson, Julie Lasselin, John Axelsson, Asifa Majid Publicação: Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences DOI: 10.1098/rspb.2021.0922
O papel das florestas protegidas no combate às mudanças climáticas
PRESERVAR A BIODIVERSIDADE E SEQUESTRAR CARBONO DA ATMOSFERA SÃO ALGUNS DOS BENEFÍCIOS DE ASSEGURAR A CONSERVAÇÃO DE ÁREAS FLORESTAIS, SOBRETUDO NA AMAZÔNIA. ENTENDA
Existem no mundo pelo menos 4 bilhões de hectares de florestas, sendo que, destes, 726 milhões são oficialmente protegidos. Essa área é um pouco menor que o território continental contíguo (sem Alasca) dos Estados Unidos. O Brasil possui 497 milhões de hectares do seu território ocupado por florestas (12% das florestas do mundo), dos quais cerca de 30% estão em áreas protegidas. No território nacional, as áreas de proteção são amparadas pela Lei Nº 9.985 de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Ele classifica as áreas protegidas, ou unidades de conservação (UC), em dois grandes grupos: unidades de conservação de proteção integral (UCPI) e unidades de conservação de uso sustentável (UCUS).
As UCPI têm como objetivo básico preservar a natureza, evitando o quanto possível a interferência humana, e só admitem uso indireto dos recursos naturais — isto é, que não envolvam consumo, coleta ou dano, com exceção dos casos previstos em lei. Já nas UCUS, o intuito é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável, permitindo uma exploração do ambiente com a garantia da perenidade dos recursos naturais e processos ecológicos. Do total de UC do território continental brasileiro, 76% estão localizadas na Amazônia, cobrindo uma área de 118 milhões de hectares, dos quais 42 milhões encontram-se em UCPI e 75 milhões de hectares em UCUS (veja o mapa abaixo).
Proteger as florestas em UC é importante, pois, além dessas áreas contribuírem como barreiras ao avanço do desmatamento, elas também abrigam uma imensa biodiversidade, fornecem diversos serviços ecossistêmicos e contribuem para a mitigação das mudanças climáticas. Isso porque, quando contemplados nas diversas categorias de conservação, esses biomas formam um mosaico que impede a especulação da terra e evita que boa parte do território se transforme em pastos e áreas agrícolas.
No entanto, as unidades de conservação não estão completamente imunes à perda de áreas florestais. Desde 2010, as UCPI da Amazônia perderam 0,13% de suas florestas, num total de 57,3 mil hectares. Nas UCUS, que deveriam ter um destino sustentável, essa perda foi de 420 mil hectares, ou 0,56% da área ocupada por elas. O desmatamento em unidades de conservação de uso sustentável foi 7,3 vezes maior que nas áreas de proteção estrita.
Fogo e garimpo ilegal são outras ameaças que rondam as UC. Embora nenhum desmatamento devesse ocorrer em unidades de conservação de proteção integral e muito pouco em UCUS, a perda florestal acontece porque ainda são comuns na Amazônia brasileira os chamados “parques de papel”, ou seja, unidades de conservação que são decretadas e desenhadas, mas que não têm implementação, gestão e proteção territorial efetivas.
Em relação à nota divulgada hoje sobre o trabalho do Serviço Nacional de Meteorologia ligado às queimadas do Brasil, o IPAM ressalta o trabalho de excelência que o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) vem desenvolvendo em suas atividades, em especial nos temas de monitoramento do desmatamento e, desde 1985, de focos de calor, queimadas e incêndios de vegetação no território brasileiro. Seu rigor científico faz do INPE uma referência nacional e internacional.
O trabalho que o Serviço Nacional de Meteorologia anuncia, como boletins semanais e uma plataforma de predição de risco de fogo, já é executado pelo INPE e deve se somar, e não substituir, o monitoramento contínuo feito pelo instituto. A divulgação diária dos dados que hoje existe, disponibilizados para toda a sociedade no portal do programa de queimadas, precisa permanecer.
A transparência, assim como a série histórica de monitoramento do INPE, é diferencial brasileiro, o que nos coloca à frente de outras nações ao ter em mãos subsídios para o enfrentamento que as alterações no uso do solo provocam. Em um mundo que enfrenta o agravamento das mudanças climáticas, ter a possibilidade de olhar para trás permite identificar com mais clareza os desafios que temos à frente.
Por esses motivos, esperamos que o INPE seja fortalecido por esse novo arranjo institucional. O Brasil precisa focar em soluções para o problema, reduzindo cada vez mais o uso da queimada e substituindo por tecnologia e assistência técnica de qualidade; tem de combater o desmatamento e a queima que se segue; e proteger suas florestas dos incêndios florestais. Voltar a ser protagonista no tema das proteções das florestas tropicais colocará o Brasil em uma posição de equivalência com as grandes potências econômicas na construção de soluções para a crise climática global.