terça-feira, 2 de junho de 2015

A importância do esporte na formação do caráter do indivíduo

by Alessandro Barreta Garcia
Reproduzo o texto do Rodrigo Constantino a respeito do meu livro:
24/05/2015

A importância do esporte na formação do caráter do indivíduo

Conversava com um amigo, que é um empresário muito bem-sucedido do setor financeiro, sobre como melhorar a situação de nosso estado. Eu lhe apresentava os projetos do Instituto Liberal, em busca de apoio. Ele, que é bastante discreto, mas mesmo assim não consegue fugir do assédio de políticos e ONGs devido à sua fortuna, confessou-me que a “menina dos seus olhos” que ajuda a financiar é uma instituição voltada para o fomento dos esportes nas comunidades carentes. Afirmou que, apesar de ter estudado em boas escolas, o que realmente fez diferença em sua vida foram os esportes, que lhe ensinaram a importância da determinação, da disciplina, do esforço, do mérito. Queria ajudar os mais pobres por meio da prática esportiva.
Lembrei dessa conversa ao ler Educação Física e Regime Militar: Uma guerra contra o Marxismo Cultural, de Alessandro Barreta Garcia. Com uma bela apresentação escrita pelo professor Ricardo Vélez-Rodríguez sobre Aristóteles, o livro procura resgatar a importância da educação física nas escolas, especialmente durante o regime militar, sempre com base nas tradições que vêm desde os gregos. Segundo o autor, que é mestre em Educação pela Universidade Nove de julho, a esquerda radical, seguindo o marxismo cultural inspirado em Gramsci e na Escola de Frankfurt, tem difamado e destruído esse legado fundamental para incutir valores nos mais jovens.
“Durante os anos do regime militar brasileiro que ocorreram de 1964 a 1985″, escreve Alessandro logo no começo, “a educação física vivenciou seus grandes momentos através da ordem, disciplina, rigor, ética, técnico, rendimento e fair play“. Os autores marxistas não reconhecem isso, e tentam transformar a prática esportiva escolar da era militar em simples instrumento de alienação, o que o autor julga absurdo. Se os comunistas clássicos viam nos esportes um instrumento de propaganda do regime, como em Cuba, na Coreia do Norte, na União Soviética ou na China, os comunistas modernos preferem a tática de desconstruir o esporte, visto como instrumento burguês de alienação.
Para tanto, e seguindo suas receitas nas demais áreas, é importante modificar sua estrutura, rejeitar a ordem, a disciplina, o comando, a hierarquia, a técnica, a moral. O desporto de rendimento também passa a ser visto como inimigo, pois expõe atletas melhores e piores, o que vai contra o total relativismo da esquerda radical, para quem ninguém é melhor do que ninguém. Para ela, o caos é o grande objetivo, e seria nele que poderíamos encontrar alguma “ordem”. Essa seria a “nova ordem mundial”, uma que enaltece o caos, a desordem, o relativismo. A prática esportiva tradicional vai contra tudo isso, e precisa, então, ser condenada como instrumento da burguesia opressora.
A crítica dos seguidores de Gramsci e da Escola de Frankfurt será voltada, portanto, para a condenação das principais instituições que impedem esse caos social, tais como as tradições, as religiões (especialmente o judaísmo e o cristianismo), as famílias, as Forças Armadas. Alessandro inclui nesse rol de alvos da esquerda a educação física, justamente porque significava a transmissão de valores como a ordem, a disciplina, o respeito na escola. Tal postura não é compatível com o clima de total rebeldia permanente que essa esquerda deseja adotar nas salas de aula, onde o professor precisa perder qualquer senso de hierarquia em relação aos alunos. Hey, teachers, leave them kids alone!
Alessandro busca em Aristóteles a receita do equilíbrio, do “meio termo”, que deveria ser adotado na educação física. Nem recreação pura, nem busca de alto rendimento, como fazem os regimes comunistas que enxergam os indivíduos como meros meios sacrificáveis para seus fins mais “nobres”. “Formar o cidadão para o esporte é cultivar os frutos de uma civilização de qualidade”, diz o autor, que prossegue: “Os valores morais são bem claros e a formação educacional do aluno frente ao esporte é fundamental para o desenvolvimento da unidade nacional”. Ou seja, ajuda a criar um indivíduo para o convívio coletivo, sem endossar um coletivismo nacionalista.
O praticante de esporte bem treinado e educado aprende a respeitar as regras, ser disciplinado, o que não é um mal como alega a esquerda, mas uma virtude. A cooperação também é estimulada nas aulas de educação física tradicionais. Honestidade e respeito, grandes virtudes da vida, podem fazer parte do universo desportivo, e era esse o verdadeiro espírito do ensino na era militar, segundo o autor. Não por acaso as escolas militares estão entre as melhores do país. “A vitória não pode se sobrepor ao espírito olímpico, ao fair play“, explica. Não é o esporte como instrumento de alienação ou de propaganda do estado que essa esquerda marxista condena, e sim aquele moralizante e civilizatório. O conteúdo do Manifesto sobre o Fair-Play deixa mais claro o que está em jogo e sendo atacado pelos marxistas:
O fair-play é uma “forma de ser” baseada no respeito a si próprio e que implica em: honestidade, lealdade e atitude firme e digna diante de um comportamento desleal; respeito ao companheiro; respeito ao adversário, vitorioso ou vencido, com a consciência de que é o companheiro indispensável, ao qual se une pela camaradagem desportiva; respeito ao árbitro e respeito positivo, traduzido por um constante esforço de colaboração com o mesmo.
Ou seja, praticamente um código de cavalheirismo para um típico gentleman britânico. Saber ganhar e saber perder, não tripudiar do adversário, não apelar para práticas desleais, respeitar sempre as regras do jogo, o império das leis, saber ser digno. “Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer”, escreveu Voltaire. O esporte bem praticado ensina tudo isso, além de deixar claro que não há vitória sem esforço e mérito, que de nada adianta a vitimização, ficar sempre culpando os astros ou os outros por seus fracassos e falhas. Essa é a receita certa para permanecer um perdedor.
“Ensinar a não violar os regulamentos é uma das essências do desporto moderno, principalmente do educacional. É preciso, por isso, desviar-se da deslealdade e da brutalidade. É esse o grande exemplo de um desportista”, escreve o autor, que conclui, contra a alegação da esquerda de que a educação física e o esporte são usados como instrumentos de alienação: “Falta-nos um sistema educacional de valor, a longo prazo, independente de ideologias ou de políticas deletérias. O esporte é tradição, é justiça, ética, respeito, coragem e virtude. O esporte é vida, é equilíbrio, é educação de qualidade”.
Concordo. Quando jogava algum jogo com minha filha, ainda pequena, nada me tirava mais do sério do que ela não saber perder, querer desistir no meio porque via que seria derrotada. Eu levava muito a sério aquela lição: ela precisava entender que tal atitude era uma completa falta de respeito com o oponente. O mesmo sobre qualquer tentativa de trapaça: impensável. A vitória não tem valor se for desleal. São ensinamentos ligados ao esporte tradicional. São valores muito em falta em nossas escolas hoje, dominadas pelo marxismo cultural.
Rodrigo Constantino

PF indicia ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira por quatro crimes

 

Acusação envolve lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológicae falsificação de documentos. Ex-presidente do Barcelona também é citado

Por Rio de Janeiro

A Polícia Federal (PF) indiciou, sob suspeita de quatro crimes, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira. O ex-dirigente é acusado de participar de ações de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos. O processo corre em paralelo ao escândalo de corrupção da Fifa - que resultou na prisão de sete pessoas, entre elas outro ex-presidente da CBF, José Maria Marin. São casos diferentes.


O pedido de indiciamento cita ainda outras quatro pessoas. Entre elas, Sandro Rosell, que foi presidente do Barcelona entre 2012 e 2014 e renunciou ao cargo após ser investigado suposto desvio de dinheiro na compra de Neymar. No inquérito da PF, ele é acusado de falsidade ideológica e falsificação de documentos.


Craque do Brasileirão Ricardo Teixeira (Foto: Gustavo Tilio / Globoesporte.com)PF suspeita de movimentações de R$ 464 mi feitas por Teixeira entre 2009 e 2012 (Foto: Gustavo Tilio/ Globoesporte.com)
Relatório aponta movimentações financeiras "atípicas" de Teixeira no valor de R$ 464,5 mi entre 2009 e 2012, quando ainda era presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014
As informações fazem parte de um relatório produzido pela Polícia Federal em janeiro deste ano e enviado ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. O ponto de partida para a investigação são as supostas relações de Teixeira com a empresa Ailanto Marketing, de propriedade de Sandro Rosell. É a mesma firma acusada de irregularidades na realização de um amistoso disputado no Distrito Federal entre Brasil e Portugal, em 2008. A partida custou R$ 9 milhões ao Governo do DF, dinheiro que teria sido pago sem licitação a Ailanto, criada um mês antes do jogo.


Em resposta ao GloboEsporte.com, por email, a assessoria do MPF do Rio afirmou que "as  investigações estão sob sigilo" e que nenhuma informação poderia ser passada no momento de forma oficial. A existência do pedido de indiciamento foi revelada nesta segunda-feira pela revista Época.
Relatório Ricardo Teixeira 1 (Foto: Reprodução) 

Trecho do relatório da Polícia Federal que detalha suspeitas sobre Ricardo Teixeira  (Foto: Reprodução)
O relatório aponta como atípicas as movimentações financeiras de Teixeira no valor de R$ 464,5 milhões entre 2009 e 2012 - quando ainda era presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014.


A análise foi feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
Um dos fatos apurados pela PF indica que Ricardo Teixeira mantinha contas no exterior e movimentou valores para comprar um apartamento de R$ 720 mil no Rio de Janeiro - cujo real valor de mercado seria de R$ 2 milhões.


A investigação alega que o ex-dirigente não teria como comprovar os valores e suspeita da negociação, visto que o proprietário, Claudio Abrahão, teria comprado o imóvel sete anos antes pelo mesmo valor e ainda teria gasto com impostos para a transferência. Cláudio é irmão de Wagner Abrahão, sócio do Grupo Águia, que até hoje atende a CBF.
Sandro Rosell presidente do Barcelona coletiva renuncia (Foto: AP)Ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell também é citado em relatório (Foto: AP)
Outro item investigado trata de supostas irregularidades na compra e venda de ações envolvendo Ricardo Teixeira, Sandro Rosell e Cláudio Honigman, parceiro comercial dos dois dirigentes. A acusação é de que os três teriam movimentado R$ 45 milhões usando a empresa Alpes Eletronic Broker como fachada.

O documento também aponta fraudes em uma suposta venda de uma aeronave particular entre as empresas Brasil 100% Marketing e a Ailanto. A primeira, de propriedade de Sandro Rosell e Cláudio Honigman. A segunda, tem como sócios o ex-presidente do Barcelona e Vanessa Almeida Precht.

Por fim, o relatório pede o indiciamento de Ricardo Teixeira pelos crimes previstos nos artigos 297 e 299 do Código Penal (falsificação de documentos e falsidade ideológica), além do artigo 22 da Lei 7.492/86 (evasão de divisas) e do artigo 1º da Lei 9613/98 (lavagem de dinheiro).

Cláudio Abrahão é acusado de lavagem de dinheiro. Sandro Rosell, Honigman e Vanessa foram enquadrados em falsidade ideológica e falsificação de documentos.


Ricardo Teixeira, 67 anos, foi presidente da CBF de 1989 a 2012, quando deu lugar a José Maria Marin, que está preso na Suíça desde a semana passada. Ele também presidiu o Comitê Organizador da Copa de 2014, no período entre 2009 e 2012, quando foi novamente sucedido por Marin.

Blatter renuncia ao cargo de presidente da Fifa


Estadão Conteúdo
A cadeira de Blatter vazia, antes de uma entrevista coletiva na sede da Fifa, em Zurique
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A cadeira de Blatter vazia, antes de uma entrevista coletiva na sede da Fifa, em Zurique
Uma era acabou no futebol mundial. Vivendo sua pior crise da história, a Fifa anunciou que Joseph Blatter vai convocar nova eleição para o presidente da entidade, apenas quatro dias depois de ter sido eleito para um quinto mandato. Sob forte pressão da polícia, de cartolas, de políticos e patrocinadores, Blatter deixa o poder e novas eleições estão convocadas. Ele ficará como presidente até a nova escolha.

Na semana passada, uma onda de prisões em Zurique havia deixado seu reinado debilitado e Michel Platini, presidente da Uefa, chegou a pedir que ele deixasse o poder. Mas Blatter se manteve no cargo e venceu as eleições de sexta-feira. Ele estava na Fifa desde 1976 e, como presidente, desde 1998.

O fim de seu mandato marca o fim de uma era que, de fato, começou nos anos 1970 com a presidência de João Havelange. Blatter, seu braço direito, apenas o sucedeu e manteve a mesma estrutura.

Sua posição ficou ameaçada quando, na última segunda-feira, o jornal New York Times revelou que a Justiça norte-americana também investiga seu secretário-geral, Jérôme Valcke, que também renunciou nesta terça-feira de seu cargo de secretário-geral da Fifa. Documentos revelaram que ele sabia dos pagamentos de US$ 10 milhões para cartolas no Caribe e que estão sob investigação pelo FBI. Foi a ele que uma carta foi direcionada para que a operação fosse realizada e o dinheiro do orçamento regular da Copa desviado.

Inicialmente, a Fifa insistiu que a carta não provava nada. Mas, na tarde desta terça em Zurique, o francês que ficou conhecido por sugerir que o Brasil deveria levar "um chute no traseiro" acabou abandonando seu cargo.

Valcke já havia anunciado que não viajaria ao Canadá, um forte aliado dos Estados Unidos, para a abertura do Mundial Feminino de Futebol que ocorre no fim de semana. Ele era o principal operador do torneio que, nos últimos anos, ganhou uma nova dimensão na entidade. Mas fontes em Zurique confirmam que existiam temores de que, estando no Canadá, a polícia local pudesse atender a qualquer momento um eventual pedido de extradição por parte dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira, Valcke foi indicado por uma reportagem do New York Times como a pessoa que, na Fifa, autorizou o pagamento de US$ 10 milhões a Jack Warner, um ex-vice-presidente da Fifa e o homem forte do futebol de Trinidad e Tobago. O dinheiro seria uma retribuição ao voto dele pela África do Sul como sede do Mundial e faz parte do caso liderado pelo FBI.

Em nota emitida nesta segunda, a Fifa confirmava que o pagamento existiu entre a Associação de Futebol da África do Sul, que organizava o Mundial de 2010, e países caribenhos, como uma forma de apoiar a "diáspora africana" na região. A entidade nega que seja uma propina. Mas sim um programa de desenvolvimento.

O dinheiro, segundo a investigação do FBI, teria sido prometido em 2004. Mas, sem recursos, os sul-africanos tivera de esperar até 2008 para solicitar que o dinheiro fosse desviado. No informe financeiro da entidade sul-africana, porém, nenhuma referência é feita aos US$ 10 milhões no balanço aprovado e publicado em 2008.

Em defesa de um de seus principais dirigentes, a Fifa declarou oficialmente que o dinheiro sob suspeita foi autorizado pelo diretor do comitê financeiro à época, Julio Grondona, que morreu no ano passado. Jérôme Valcke, atual secretário-geral, também trabalhava na Fifa naquele momento. Mas, segundo a entidade, não foi ele quem assinou a movimentação.

Numa carta de 4 de março de 2008, porém, é para Valcke que o caso é dirigido. Trata-se de uma comunicação entre a Associação Sul-Africana de Futebol à Fifa (Safa, na sigla em inglês), sugerindo que o dinheiro fosse colocado sob a administração de Warner.

"Prezado sr. Valcke", inicia a carta. O texto pede que ele "segure" US$ 10 milhões do orçamento da Copa e depois transfira para o programa mencionado. O documento assinado por Molefi Oliphant, presidente da Safa, ainda insiste que Warner, um dos indiciados nos Estados Unidos, seria o "fiduciário" do dinheiro.

A Fifa tem outra avaliação sobre o assunto e insiste que, mesmo com a carta, sua resposta é consistente. "À pedido do governo sul-africano, e em acordo com a Associação de Futebol Sul-Africano, a Fifa foi solicitada a processar os recursos do projeto ao manter US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador Local", disse a nota da Fifa.

Segundo a Fifa, foram os sul-africanos que instruíram a entidade a mandar o dinheiro a Warner, naquele momento o presidente da Concacaf. Ele "administraria e implementaria" o projeto. Warner era também o vice-presidente do Comitê de Finanças, o mesmo que autorizou que o dinheiro o fosse destinado.

MORTO - Para a Fifa, quem autorizou o depósito foi "o presidente do Comitê de Finanças" da entidade. Naquele momento, o cargo era de Julio Grondona, o argentino que tinha as chaves do cofre da entidade. "Os pagamentos de US$ 10 milhões foram autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo com os regulamentos da Fifa", disse.

"Nem Valcke nem nenhum outro membro de alto escalão da administração da Fifa foram envolvidos na aprovação, início e implementação do projeto", insistiu a Fifa pela manhã desta terça. Grondona morreu logo depois da Copa de 2014, num momento que deixou Joseph Blatter abalado.

CONTURBADO - A vida de Valcke pelo futebol foi marcada por questões judiciais. Ainda fora da Fifa, ele foi citado em um processo na França por chefiar uma empresa citada em casos de evasão fiscal na compra de jogadores.

Já na Fifa, Valcke teria uma atuação que, em qualquer empresa normal, teria sido severamente punido e condenado. Foi ele quem negociou uma troca de patrocinadores de empresas de cartão de crédito. Mas, processado por quem perdeu, viu a Fifa ser obrigada a pagar US$ 90 milhões em multas na Justiça americana. Naquele momento, ele era apenas o diretor de marketing da entidade.

Valcke seria suspenso por alguns meses, mas nunca deixou de receber seu salário. Ao retornar, ele seria promovido a secretário-geral da Fifa, o homem responsável pela organização de todos os Mundiais.

Dono de um dos modelos de Ferrari mais caros do mundo, Valcke comprou em 2011 um terreno na Suíça avaliado em R$ 15 milhões na cidade com os menores impostos da Europa.

Cunha avisa que vai ‘comprar briga’ pela redução da maioridade penal



Presidente da Câmara anuncia que esta será “a próxima polêmica” que ele vai abrir



Cunha cercado por deputados, esta semana no Congresso. / Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aproveitou o domingo para anunciar nas redes sociais qual será a “próxima polêmica” que será colocada em pauta para ser votada no Congresso. “A próxima polêmica, após a conclusão da reforma política, será a redução da maioridade penal, que votaremos até o fim de junho em plenário”, escreveu ele no Twitter e Facebook.


A possibilidade de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos está sendo votada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Segundo Cunha, a CCJ vai concluir seus trabalhos no dia 15 de junho e ele levará a plenário a matéria na sequência.


O assunto é sensível e está gerando grandes debates de entidades civis e movimentos sociais, sobre a efetividade da medida. No dia primeiro de maio, oito ex-ministros de Direitos Humanos, nomeados durante os Governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, se reuniram para repudiar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata o assunto.


Mas, para o presidente da Câmara a redução da maioridade penal é apoiada pela maioria da população, o que justificaria, por exemplo, um referendo popular. “Vou sugerir ao relator que se faça um referendo sobre a redução da maioridade para que a gente faça um grande debate, que poderia ser nas eleições de 2016”, escreveu ele.


Cunha aproveitou para ressaltar o fato de ele ter tirado da gaveta o debate da reforma política, um projeto que estava parada há anos no Congresso. “Todos sempre falaram na reforma política, só que ninguém quis colocar para votar”, escreveu. O mesmo, segundo ele, vale para a redução da maioridade. “A redução da maioridade penal estava parada há mais de 20 anos, e tiramos da gaveta”, concluiu.
A reação virtual do líder da Câmara serviu para marcar posição, e escrever claramente seu papel de oposição ao PT, embora as mais recentes votações mostrem que os dois partidos estão votando em direções opostas a depender do assunto. Foi o caso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que tratou do financiamento privado de campanha. Enquanto a bancada peemedebista votou em peso favorável ao patrocínio de empresas (58 dos 61 deputados), os petistas votaram pelo não (62, dos 63 deputados).


Querela no Supremo
Parlamentares que votaram contra o financiamento privado estão levando o assunto ao Supremo Tribunal Federal, buscando uma brecha que derrube a aprovação da semana passada, quando 330 parlamentares votaram a favor dos recursos das empresas, e 141 contra. Um grupo de deputados, em sua maioria do PT, mas também do PSOL, PPS, PCdoB e PSB, entraram com um mandado de segurança no STF contra a aprovação da medida, alegando que as novas regras que seguem para o Senado ferem a Constituição.


Isso porque somente os partidos políticos poderão receber recursos de empresas, e não mais os políticos diretamente como é hoje, caso as regras sejam mantidas depois do ritual burocrático de aprovação - outra votação na Câmara, e depois o Senado, até chegar à presidenta Dilma, que pode sancionar ou vetar a PEC. Segundo os signatários do mandado, porém, a legislação brasileira não menciona que os candidatos possam receber recursos de pessoas jurídicas. Assim, se somente os partidos puderem receber dinheiro para campanha, o repasse na sequência para os políticos ficaria num vácuo legal. Cunha, entretanto, desdenhou do assunto.


“Isso é só para alimentar na mídia a polêmica, porque basta conhecer o regimento e processo legislativo para ver a verdade”, escreveu. Ele argumenta que “esses mesmos” já entraram com várias ações contra decisões suas, “e todas lá estão sem sucesso até agora. E esses mesmos ainda irão sofrer outras derrotas, pois as suas posições são minoritárias em plenário”, completou.

Usuários transformam seus murais no Facebook em ‘bolhas’ ideológicas





Algoritmo ajuda a reduzir a diversidade ideológica das páginas, mas não é maior culpado

Usuários se fecham em suas próprias ideias, aponta estudo com 10 milhões de pessoas

Facebook
Facebook mostra pouco conteúdo contrário à ideologia de seus usuários. / EFE

Embora ainda muita gente não saiba, o Facebook seleciona o que os usuários veem em seu mural. Um algoritmo filtra o que é mostrado para, em princípio, dar ao usuário apenas o que mais lhe agrada ver e não enchê-lo com informações que não lhe interessem tanto.


A dúvida é se esse algoritmo que nos conhece tão bem está nos alimentando apenas com o que gostamos, criando uma bolha a nosso redor na qual não entra nada que desafie nosso modo de pensar. Para dissipar dúvidas, os cientistas sociais do Facebook publicaram na quinta-feira na revista Science o primeiro estudo que analisa a influência dessa fórmula que manipula os murais: a bolha ideológica existe, mas é mais culpa dos próprios usuários do que da programação de Mark Zuckerberg.
Depois de estudar mais de 10 milhões de usuários e sua interação com os links de notícias políticas, os cientistas do Facebook descobriram que a rede social é uma caixa de ressonância para nossas próprias ideias, com poucas janelas para o exterior. Assim, de todos os links vistos pelas pessoas que se consideram progressistas, apenas 22% desafiam sua forma de pensar. Os conservadores veem cerca de 33% de notícias que não correspondem com sua ideologia.


Sem a intervenção do algoritmo, os progressistas teriam visto 24% de notícias incômodas e, os conservadores, 35%. Ou seja, essa fórmula idealizada nos computadores do Facebook ajuda a reduzir a diversidade ideológica do mural dos usuários, mas não é a principal culpada. De acordo com o estudo, os usuários são os responsáveis por se fechar em suas próprias ideias: se não escolhessem suas amizades como o fazem, mas de forma aleatória, os progressistas veriam cerca de 45% de notícias contrárias às suas ideias, em comparação a 40% pelos conservadores.


Logicamente, o ambiente off line, as pessoas com as quais os usuários se relacionam fisicamente, tampouco é aleatório. Mas é muito mais difícil medir essa bolha ideológica na ruas do que nas redes sociais. A vasta quantidade de informação que uma empresa como o Facebook pode compilar sobre seus usuários (e os que não são) lhe permite medir a tendência dos que se fecham em grupos de pensamento mais ou menos isolados.


Por exemplo, a probabilidade de clicar no mural em uma notícia favorável às próprias ideias —um eleitor do conservador Partido Republicano dos Estados Unidos ler uma notícia da Fox News— em relação a uma contrária é esmagadora.
É um estudo na defensiva. O Facebook tem um problema de imagem e queria demonstrar que o filtro algorítmico não tem tanta influência como o filtro social
Esteban Moro, pesquisador
Um dos pontos fracos do estudo é que são analisados apenas os usuários dos EUA que definiram sua posição ideológica em uma seção do Facebook —mais fácil de ser mostrada em lados opostos—, o que gera um viés significativo e deixa dúvidas sobre o comportamento dos usuários que têm ideologia, mas não a selecionaram em seu perfil. Para Pablo Barberá, que estuda a polarização das redes na Universidade de Nova York, os usuários estudados provavelmente têm uma rede de contatos mais homogênea no Facebook: “Se o estudo tivesse incluído todos os usuários, certamente observaríamos níveis ainda mais altos de exposição à diversidade de opiniões e um efeito maior dos algoritmos”.

A era dos algoritmos

“É um estudo na defensiva”, explica Esteban Moro, especialista em redes sociais da Universidade Carlos III. “O Facebook tem um problema de imagem, por causa dos algoritmos que filtram a informação que vemos e queria demonstrar que o filtro algorítmico não tem tanta influência como o filtro social”, resume o pesquisador.

Não é fácil saber se a bolha ideológica é maior ou menor fora do Facebook, mas alguns estudos indicam que as redes ajudam a diminuí-la

Vivemos na era dos algoritmos. O que nos é mostrado nos resultados do Google, no mural do Facebook ou em outras plataformas é decido por uma fórmula cada vez mais complexa que seleciona o melhor para satisfazer os interesses do usuário e da empresa. No entanto, ainda há muitos os que pensam que veem o que existe e não o que o algoritmo acredita que devem ver. Mas não é assim: em função da interação dos usuários com os amigos e atividade, o Facebook define seus interesses e mostra o que provocará mais interação, para que permaneçam mais tempo na rede e, deste modo, gerem mais receita para a empresa.

Este ciclo de retroalimentação despertou o interesse do ativista Eli Pariser, que publicou em 2012 um livro chamado Filter Bubble (A Bolha dos Filtros), referindo-se ao efeito do algoritmo em nossas vidas: ao buscar “Egito” no Google, alguns usuários recebem informações sobre revoltas e, outros, apenas sobre férias nas pirâmides, tudo em função de seu comportamento prévio.


Em meados de 2014, o Facebook divulgou outro de seus estudos —publicados regularmente sobre o comportamento na rede— que gerou uma polêmica inusitada, porque revelou que manipulava emocionalmente seus usuários, mostrando-lhes mais mensagens negativas ou positivas de seus contatos, para verificar se havia certo contágio na forma de expressão. Em grande parte, a polêmica surgiu porque o público descobriu que o Facebook manipula os murais e, portanto, o comportamento das pessoas.

Dados do estudo

O estudo foi realizado com usuários que informaram sua posição ideológica nos EUA. Estudaram 10,1 milhões dos quase um bilhão de usuários ativos diários registrados atualmente.
Apenas 13% dos links de notícias estudadas correspondiam a informações factuais, notícias políticas válidas para o estudo.
Dos 903 milhões de notícias vistas pelos usuários estudados, foram clicadas apenas 59 milhões de vezes.

Apenas 20% das notícias que os progressistas clicaram eram contrarias às suas ideias, comparadas aos 29% dos conservadores.

Os pesquisadores explicam que essa diferença entre progressistas e conservadores é devido ao fato de que os usuários de esquerda são mais propensos a compartilhar links com notícias de sua ideologia.
Não é algo que faça questão de esconder, muito pelo contrário: o Facebook gaba-se de influenciar de forma notável a participação eleitoral em todo mundo, depois de arrastar às urnas cerca de 340.000 pessoas que não tinham intenção de votar nas legislativas dos EUA.

Nesse cenário, os cientistas da empresa comandada por Zuckerberg mostram que o contágio social ou a bolha ideológica que se forma em sua rede social é semelhante ou mais moderada à que se produz off line. De fato, já em 2012, havia publicado um estudo que negava que a bolha fosse tão grave, mas naquela ocasião o importante era diminuir a culpa do algoritmo.

A pesquisa preliminar de Barberá e este estudo destacam que as redes sociais poderiam ser um mecanismo para receber informação diferente da habitual. “Por exemplo, um eleitor de direita que apenas vê Antena 3 e lê La Razón [jornal ultraconservador da Espanha] poderia ser exposto pela primeira vez a um conteúdo com um viés de esquerda compartilhado por seus contatos no Facebook”, explica Barberá.

No entanto, esse é outro ponto fraco deste último estudo da equipe do Facebook, como lamenta Moro, da Carlos III. “O problema é que não compara com nada. Não podemos saber se o que ocorre é pior ou melhor fora do Facebook.”

Quando as redes sociais favorecem um “ativismo preguiçoso” São meios eficientes quando não se requer mais do que o compromisso dos usuários

smoda

Quando as redes sociais favorecem um “ativismo preguiçoso”

São meios eficientes quando não se requer mais do que o compromisso dos usuários


Imagem do quarto aniversário do 15-M em Madri. / cordon press

Conto uma experiência que suspeito não ser unicamente minha. Há uns cinco anos, e principalmente por causa da depressão econômica e do Movimento 15-M, os indignados espanhóis, uma parte do meu círculo social se “politizou” de maneira bastante repentina. O fenômeno se tornou especialmente exagerado nas redes sociais.


Hoje em dia, para muita gente, entrar no Facebook ou no Twitter significa mergulhar em um grande protesto, onde as pessoas comentam sem parar artigos das edições digitais da imprensa e notícias dos onipresentes casos de corrupção entre políticos e empresários, convocam atos políticos ou simplesmente desabafam contra aqueles que consideram como os responsáveis pelo desastre de nosso país.


No meu caso (e sou alguém que nunca teve muito envolvimento na vida política), esse círculo social digital se encheu de um ativismo regeneracionista, de um radicalismo típico do século XIX. O paradoxo é que o Facebook me mostra um entorno social e a rua, outro. As redes sociais fervem de agitação política. No mundo “real”, nada muda.



Eu poderia procurar diversas explicações para isso. Afinal, trabalho no mundo da cultura e vivo no centro de uma grande cidade. Relaciono-me principalmente com pessoas da minha geração. É possível que isso crie uma bolha ideológica ao meu redor. A bolha deve existir, em todo caso, porque para além da infância praticamente não conheci ninguém na minha vida que se defina como conservador ou de direita. As urnas, no entanto, demonstram que pelo menos metade da população comunga com a ideologia conservadora.
A realidade, aparentemente, é que as redes sociais criam bolhas ideológicas. Duas pesquisas divulgadas nos últimos meses ratificam essa ideia. Segundo um estudo do Pew Research Center, as pessoas de direita tendem, predominantemente, a ter amigos que concordam com suas ideias políticas e a fazer parte de grupos com ideias parecidas, enquanto os esquerdistas têm uma tendência maior a apagar ou bloquear amigos por causa de divergências políticas.


Outro estudo, publicado na revista Science, confirma que as pessoas constroem uma espécie de “sala de espelhos” digital de suas próprias opiniões, e que o usuário médio das redes tem apenas cerca de 23% de amigos com ideias políticas diferentes das suas. Além disso, os especialistas no assunto descobriram que o Facebook e o Twitter amplificam aquilo que, em ciência política, se chama “espiral do silêncio”: os usuários têm medo de publicar opiniões políticas quando pensam que elas podem ser lidas por outros com ideias diferentes.


O resultado de tudo isso se parece inquietantemente com o maravilhoso romance A Cidade e a cidade, de China Miéville (Boitempo Editorial), no qual duas cidades coexistem no mesmo espaço físico mas sem se comunicarem para nada, desenvolvendo métodos engenhosos para não se verem uma à outra.


Na esteira do otimismo digital resultado da primavera árabe surgiram muitas vozes céticas em relação ao poder mobilizador das redes sociais. Ano após ano, as pesquisas do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS, na sigla em espanhol), em Madri, mostram que não mais do que 25% dos usuários espanhóis navegam na Internet com alguma finalidade política, nem que seja para se informarem esporadicamente. Além disso, os internautas não passam de 51% da população espanhola, e representam um setor completamente apoiado nos cidadãos com alto grau de instrução.


As redes sociais, segundo esses céticos, favorecem um “ativismo preguiçoso” ou “superficial”, que produz muito barulho mas mal se traduz nas urnas ou na rua. São meios eficientes quando não se requer mais do que o compromisso dos usuários. Parece que novamente a Internet está “ficando independente” da realidade.


*Javier Calvo é escritor. Sua mais recente obra é El jardín colgante (ainda sem edição no Brasil).

A pátria em chuteiras e algemas

Os dirigentes da CBF, acostumados a uma marcação frouxa das autoridades brasileiras, agora enfrentaram os beques carniceiros do FBI. Jogo bruto.




José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, na Copa do Mundo do Brasil. / Ricardo Stuckert/Fotos Públicas/CBF

O futebol no Brasil já foi tão importante ao ponto do nosso principal cronista, Nelson Rodrigues, ter definido a seleção nacional como a “Pátria em chuteiras”.


Para o estrangeiro ou desavisado conterrâneo da “Pátria Educadora” que ainda desconhece o tio Nelson, deixo uma comparação bem à maneira da pegada hiperbólica rodrigueana: este monstruoso escritor nascido no Recife e criado no Rio de Janeiro é o Shakespeare dos trópicos. No mínimo.


Muita gente se aproveitou do mote do cronista nos últimos 50 anos. Generais da Ditadura Militar, o governo federal do PT/aliados durante a Copa 2014 e, óbvio, a oposição chefiada pelo tucano Aécio Neves e seus célebres amigos futebolistas, como Ronaldo e o seu então agenciado e subalterno Neymar Jr.
A camisa amarela do escrete também virou fardamento oficial das recentes manifestações que clamavam aos céus pelo impeachment da presidenta Dilma, pediam o golpe dos milicos e o fim da corrupção. Por cima daqueles corações exaltados, em uma espécie de taquicardia cívica e moral, havia o escudo da CBF, a Casa Bandida do Futebol, para usar a sigla na versão do jornalista Juca Kfouri (Folha de S. Paulo e ESPN), um Quixote pioneiro nas denúncias das tenebrosas transações da tal confederação.


Em todos os casos de uso e abuso da “Pátria em chuteiras”, vale a versão verde e amarela do filósofo carioca Millôr Fernandes para uma frase famosa do velho mr. Johnson: “O patriotismo é o último refúgio do canalha. No Brasil, é o primeiro”.


Ricardo Teixeira passa a bola para José Maria Marin, que mata no peito patriótico —o do lado do bolso e do coração— e solta a pelota para Marco Polo Del Nero... Eis o trio de atacantes das últimas três décadas na presidência da CBF. Acostumados a uma marcação frouxa e relaxada por parte das autoridades brasileiras, agora enfrentaram os beques carniceiros do FBI. Jogo bruto. Marin está preso na Suíça, Teixeira e Del Nero, os boas vidas, são citados, nas figuras de “co-conspiradores”, no relatório da investigação americana. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos do seriado.


A certeza absoluta da impunidade foi definida por essa turma da pesada em todos os modos possíveis. Principalmente no “estou cagando e andando” de Teixeira, como disse na histórica entrevista à repórter Daniela Pinheiro (revista Piauí, 2011). Falava sobre as denúncias, as mesmíssimas de hoje, que já borravam a sua ficha corrida. “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional", desdenhou. E saiu na noite de ontem, vamos ver os desdobramentos. “Deu até no New York Times”, como a gente costuma se expressar na língua provinciana da taba Tupi desde os tempos do Henfil.


Dinheiro e fase anal

O “cagando e andando”, segundo a teoria da fase anal de Sigmund Freud, significa esbanjamento de grana. Simbolicamente, se meu freudianismo de botequim estiver em dia, Teixeira esnobava sem economizar no verbo ou na gastança, sem qualquer contenção (enfezamento), o seu pecado capital sem origem muito bem resolvida. A merda ou o dinheiro, mesmo de maneira simbólica, sempre deixam rastros. Siga o cacau, digo, a grana, reza o manual do cão farejador de mutretas.


Em crise de qualidade técnica e de moral, o mais correto, caríssimo Nelson Rodrigues, seria dizer que estamos em uma fase da Pátria em sandálias da humildade. Descemos do salto alto. Como repetem por aqui: 7x1 foi pouco. Infelizmente não consigo pensar assim de forma tão fria.


Aquela tarde-noite do Mineirão ainda me humilha profundamente. Por mais que eu politize a minha dor, minha dor não cai no conto. Algumas dores dos homens, mesmo as mais bestas, são à prova de analgésicos ideológicos. A dor do futebol principalmente.


Falar neste imoral placar de 7x1, mal o José Maria Marin foi para o xilindró “padrão Fifa” de Zurique e o pipoqueiro cearense aqui da esquina da Miguel Lemos com Nossa Senhora de Copacabana já possuía sua teoria da conspiração mais do que fundamentada: a CBF vendeu a Copa. Tudo armação ilimitada. Pego o metrô Cantagalo/Uruguaiana e o papo é o mesmo. No táxi do flamenguista, idem. No bar Papillon, naturalmente.


No Galeto Sat's, uns amigos do PSOL, ligados na TV Câmera, vibravam com aquele primeiro gol contra do Eduardo Cunha, na derrota do mafioso peemedebista na votação do chamado voto distritão.

No dia seguinte, o mesmo 7x1 de sempre contra uma possível ideia de reforma política, como já previa, distraída no ambiente luxuoso, a nada enigmática Valquíria, a mais cool das damas da noite carioca: “Sou puta velha, entregue às evidências, o contrário de qualquer dissimulada Capitu de araque”.


Capitu, para o amigo que não teve chance ou sede de leitura na “Pátria Educadora”, vem a ser um personagem machadiano sobre quem pairavam algumas dúvidas de conduta amorosa. Deixo o Marechal, meu amigo Álvaro Costa e Silva, em colóquio ilustrado com Valquíria, e sigo no jogo sujo e enigmático da existência até a porta de casa.


“O Brasil vendeu a Copa, hein, seu Xico!”, diz o porteiro Juju, outro nobre cearense. “Será?”, indago. “Quando eu tenho certeza né pouca certeza não”, diz ele, convicto. “É certo como boca de padre, justo como boca de bode”, manda o mantra nordestino.


(...) E coube a este noctívago cronista ficar esperando, agora, a chegada do presidente da CBF, Del Nero, até essa hora da madruga, 05h e alguma coisa. Como sabemos, ele fugiu do Congresso da FIFA, em Zurique, e chegaria hoje ao Brasil. Crente em uma prisão espetacular do folgado cartola, algemas assim que soltar o cinto de segurança, aqui aguardo, dedos coçando sobre a máquina de escrever, para concluir essa crônica...

Quem sabe, né?

Esperei, esperei...

Vixe, ilusões perdidas, como naquele velho e lindo romance francês. Esperei até a chegada de Del Nero no aeroporto de Guarulhos.

O homem segue na sua vida boa, a Polícia Federal não inventou um daqueles nomes espetaculares para suas operações, a Pátria em chuteiras espera mais uma rodada do Campeonato Brasileiro.


Bom final de semana.


Xico Sá, escritor e jornalista, é comentarista esportivo dos programas “Redação SporTv” e “Extra-Ordinários”.

Assim os dirigentes do futebol internacional torram suas fortunas


FIFA: ONG e ninho de ladrões

Jack Warner e Chuck Blazer, acusados e fabulosamente ricos, exemplificam o escândalo



Caso Corrupción FIFA
Joseph Blatter, na sexta-feira no congresso da FIFA. / M. Hewitt (Getty)

Jack Warner e Chuck Blazer: dois homens, um destino. Até pouco tempo atrás membros do todo-poderoso comitê executivo da FIFA. Ambos fabulosamente ricos. Os dois acusados de corrupção.

Jack e Chuck, como são conhecidos pelo recém reeleito presidente da FIFA Sepp Blatter, dominaram a CONCACAF durante 21 anos, a entidade regional da FIFA que compreende o Caribe, América Central e América do Norte. Entre 1990 e 2011 Jack, de Trinidad e Tobago, foi presidente da organização; Chuck, de Nova York, seu secretário-geral e homem de confiança. Hoje a justiça dos EUA, repentinamente a “polícia do mundo” no sentido mais literal da frase, persegue Jack para que responda às acusações de suborno e lavagem de dinheiro. Chuck, que já admitiu sua culpa, é hoje informante do FBI.


Uma olhada em como os dois acumularam suas fortunas oferece uma visão do modus operandi criminoso que se estende, ao que tudo indica, por um amplo setor de uma organização que é para o futebol o que o Vaticano é para a Igreja católica.
Um dos que melhor conhecem a história é Andrew Jennings, autor escocês do livro Um Jogo Cada Vez Mais Sujo: O Padrão FIFA de Fazer Negócios e Manter Tudo em Silêncio. Jennings, que forneceu informação à justiça norte-americana para a investigação atual, escreve que Warner é "um ladrão de carreira” que “roubou dezenas de milhões de dólares”. “Blatter sempre soube”, segundo Jennings, “mas pagaria qualquer preço para que Warner lhe desse 35 votos cruciais nas eleições presidenciais”. Eram os 35 votos correspondentes aos países da CONCACAF, a maior parte de pequenas ilhas caribenhas.

Warner teve duas principais fontes de renda: dinheiro recebido da FIFA para o desenvolvimento do futebol de base que ele pegava para fins pessoais; subornos de países que precisavam de seus votos no comitê executivo, o que há de mais sagrado na FIFA, um grupo de indivíduos cujos votos decidem quais países têm o direito de sediar as Copas do Mundo de futebol.

O ‘modus operandi’ para acumular suas fortunas se estende à parte da entidade

Em 1996, por exemplo, Warner recebeu 3,5 milhões de dólares (11,13 milhões de reais) da FIFA para construir um “centro de excelência” esportivo em Trinidad. No ano seguinte conseguiu um empréstimo bancário garantido pela FIFA, mas que Warner nunca devolveu, de mais 6 milhões de dólares (19 milhões de reais).

Os lotes nos quais foram construídos o centro de excelência e um hotel eram de Warner. Ainda que algumas crianças e jovens da ilha tenham se beneficiado do centro, o grande favorecido foi Warner que, graças à FIFA, se transformou em um magnata imobiliário.


Sobre as acusações de suborno, mais informações aparecerão, mas por enquanto o que se sabe, segundo depoimento no Parlamento britânico, é que Warner solicitou aos ingleses 2,5 milhões de libras (12,14 milhões de reais) para sua conta pessoal, nunca pagos, para construir “um centro de educação” em Trinidad.


Em troca teria garantido seu voto para a Inglaterra como sede da Copa do Mundo de 2018. Por outro lado, Jennings conta em seu livro que a federação de futebol australiana, que queria a Copa de 2022, cometeu o erro de dar-lhe um cheque de 462.000 dólares (1,47 milhão de reais) para seu centro de excelência, acreditando pertencer não a Warner, mas à CONCACAF. Na mesma época, antes da FIFA votar para decidir as sedes das Copas, Warner visitou o presidente Vladimir Putin na Rússia, o país que ganhou o direito de sediar a Copa de 2018, e forjou uma estreita relação com Mohamed bin Hammam, que liderou a bem-sucedida campanha do Catar para a Copa de 2022.


Resta esperar que a investigação chegue à África, onde Blatter tem muito apoio
Chuck Blazer, que acompanhou Warner em sua visita a Putin, foi não só secretário-geral, mas tesoureiro da CONCACAF. Blazer, um senhor obeso de 70 anos que possuía um blog no qual escrevia sobre seus restaurantes favoritos, ganhou seu dinheiro através de comissões pagas por patrocinadores e a venda de direitos de televisão.

Engordou ainda mais suas contas bancárias com a venda de entradas para as Copas. Segundo Jennings, Blazer desviou pelo menos 20 milhões de dólares (63,62 milhões de reais) para contas nas Ilhas Cayman e Bahamas. Excêntrico e ostentoso, comprou dois apartamentos de luxo em Manhattan, um deles para seus gatos, segundo a imprensa nova-iorquina.


Nunca pagou impostos e foi assim que, como Al Capone, a justiça norte-americana conseguiu pegá-lo. Em 2011 um agente da Fazenda iniciou um processo contra Blazer, comparou notas com o FBI, Blazer confessou e depois delatou seus pares. Assim começou a investigação que levou à acusação de sete membros da FIFA pela Promotoria Geral dos EUA —ou no caso de Warner, ex-membro. Foi obrigado a pedir demissão em 2011 após revelações de corrupção na imprensa, mas não sem antes Blatter lhe agradecer publicamente pelos seus serviços ao futebol.


Blazer teria desviado aproximadamente 63 milhões de reais às Bahamas e Ilhas Cayman


Até o momento os acusados, cujos supostos crimes seguem o padrão dos de Warner e Blazer, são apenas do continente americano. Mas a promotoria norte-americana alertou que logo outros cairão. Resta esperar que as investigações se estendam a algumas federações de futebol africanas, que em sua maioria votaram fielmente em Blatter na eleição presidencial de sexta-feira. Blatter tem muito apoio na África. Sob seu mandato ocorreu a primeira Copa do Mundo na África em 2010 com um bilhão de dólares (3,18 bilhões de reais) investido para o desenvolvimento. O que ainda precisa ser averiguado é quantas das 133 pessoas da África e do resto do mundo que deram seus votos a Blatter na sexta imitaram o exemplo de Warner e ficaram com uma porcentagem do dinheiro em seus próprios bolsos.

A suspeita de que Warner e seu comparsa Blazer não são a exceção, mas a regra na FIFA, apoia-se em dados da respeitada organização anticorrupção Transparência Internacional. Um mapa do mundo publicado pela Transparência Internacional pinta os países nos quais a corrupção é endêmica de cor vermelha. A grande maioria dos votos que acabam de dar a Blatter a presidência da FIFA pela quinta vez vêm dos países em vermelho.

Os dados oficiais da FIFA também são eloquentes. Revelam que entre 2011 e 2014 a organização investiu 454 milhões de dólares (1,44 bilhão de reais) em programas de desenvolvimento e gastou mais do que o dobro, 995 milhões de dólares (3,16 bilhões de reais), para alimentar sua máquina através de salários, pensões e pagamento variados às federações dos países membros. “A família FIFA”, como Blatter a chama, sabe se cuidar. Grande parte desses 995 milhões de dólares contribuem para que os chefes das federações associadas recebam suculentos salários, voem sempre de primeira classe, hospedem-se em hotéis cinco estrelas e recebam diárias que variam de 200 a 500 dólares (636 a 1.590 reais). Segundo um ex-funcionário da FIFA entrevistado na semana da eleição, Blatter, que costuma viajar em jatos privados, recebe salário de dois milhões de dólares (6,36 milhões de reais) mensais.

Warner declarou que Mandela e Gandhi também foram presos

Poucos presidentes de multinacionais recebem tanto, mas Blatter sustenta que ele é presidente de uma ONG. Disse isso um ano atrás em uma frase que definiu sua visão do papel filantrópico do maior órgão do futebol mundial.

“Como ONG e de acordo com sua missão de desenvolver o esporte, deslumbrar as pessoas com torneios emocionantes e construir um futuro melhor através do futebol”, declarou Blatter, “a FIFA reparte a maior parte possível de sua renda com a comunidade global do futebol”.

Como revela sua insistência em continuar dirigindo a FIFA apesar do escândalo planetário que estourou na última semana de maio, Blatter está no comando do fenômeno esportivo que mais paixão desperta em todo o mundo, mas vive dentro de uma bolha. Ele e todos os que nele votaram. Um de seus devotos, o presidente da federação de futebol da República Dominicana, o comparou a Moisés, Abraham Lincoln e Winston Churchill durante um congresso da CONCACAF em abril. Jack Warner foi mais longe dois dias atrás. Atento à ordem de busca e captura do FBI, Warner declarou que Mandela e Gandhi também foram presos.

O FBI desafia o poder da FIFA


Registro da sede da Concacaf em Miami. / REUTERS

Na quarta-feira, pela primeira vez na história, a FIFA se viu encurralada pela justiça dois dias antes das eleições presidenciais. Uma longa e minuciosa investigação do FBI causou a detenção de sete membros do órgão que comanda o futebol mundial e a acusação de outros sete por corrupção e lavagem de dinheiro. Entre os presos em Zurique estão funcionários de alto escalão como Jeffrey Webb (Ilhas Cayman), vice-presidente da FIFA e presidente da CONCACAF e José Maria Marín, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e membro do comitê organizador do futebol nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016.

A acusação, liderada pela promotora geral dos Estados Unidos Loretta Lynch, afirma que a corrupção da FIFA “é crescente e sistêmica”. Paralelamente, outro processo aberto na Suíça investiga se houve compra de votos na nomeação da Rússia como sede da Copa de 2018 e o Catar, de 2022.

A intervenção norte-americana provocou também um clima de tensão geopolítica. O presidente russo Vladimir Putin, que viu a Copa que organiza entrar em perigo, afirmou que os Estados Unidos excederam suas responsabilidades.

Políticos acossados pela Lava Jato querem vetar reeleição de Janot

Se indicado por Dilma Rousseff, atual procurador-geral terá de passar pelo crivo do Senado



O procurador Janot, em outubro passado. / Felipe Sampaio (STF)

Na mira de raivosos políticos acossados pela operação Lava Jato, o Ministério Público Federal inicia nesta semana o processo de escolha de seu chefe para o biênio 2015-2017. Entre os prováveis candidatos está o atual nome do cargo — e considerado favorito para permanecer nele —, Rodrigo Janot, à frente da investigação contra dezenas de políticos implicados no chamado Caso Petrobras, um dos maiores escândalos de corrupção da história.
Ao todo, cinco procuradores devem ser os candidatos à função. Os concorrentes começarão a se inscrever a partir da próxima sexta-feira e terão até o dia 15 para fazê-lo. A eleição, interna e informal, ocorrerá no dia 5 de agosto. Os três que tiverem mais votos entre todos os membros do MPF terão seus nomes levados para a presidenta Dilma Rousseff (PT), que possivelmente escolherá um deles para ocupar o cargo.


Como a escolha do procurador-geral é uma decisão do chefe do Executivo, Rousseff poderá acatar ou não o nome daquele que for o mais votado pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Depois, o escolhido passará pela análise do Senado, que terá de aprová-lo com o aval de ao menos 41 dos 81 parlamentares. Nos últimos dez anos, o mais votado pelos procuradores foi o escolhido pelo presidente e aceito pelos senadores.


Todos os holofotes levam a Rodrigo Janot. É nele que estão centradas as críticas à atuação dos procuradores que investigam 49 políticos brasileiros suspeitos de participarem do esquema de corrupção que desviou ao menos 6 bilhões de reais da Petrobras. Os outros potenciais candidatos são os subprocuradores-gerais Mário Bonsaglia, Carlos Frederico Santos, Raquel Dodge e Nicolao Dino (leia mais sobre eles abaixo).


Janot ainda não confirmou se disputará a recondução. Porém, sua ausência seria vista como uma derrota diante das pressões que sofre nos últimos dias por causa da Lava Jato. "É mais do que esperado que ele se candidate", diz um procurador ligado a ele. Uma de suas dificuldades seria a avaliação do Senado. Dos 49 investigados, 12 são senadores da atual legislatura, de cinco partidos diferentes, inclusive do oposicionista PSDB. Na lista também estão os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL).

Cerco

O cerco ao procurador-geral se intensificou no mês passado. Solicitações para depor na CPI da Petrobras, pedidos de investigação de sua gestão e até mudança na legislação são algumas das medidas usadas pelos congressistas investigados para pressionar o principal responsável por conduzir as apurações contra os políticos no caso de desvio de recursos da petroleira estatal.
O senhor Janot, o chantagista, comigo não se cria. Ele estiola
Senador Fernando Collor
A temperatura subiu quando o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) chamou o procurador de chantagista, porque pediu, e obteve, a quebra de sigilo fiscal e bancário dele por suspeita de envolvimento com a quadrilha que agia na Petrobras. Nos dias 11 e 12 do mês passado, o parlamentar apresentou quatro requerimentos de investigação contra o chefe do Ministério Público Federal. O senador diz que Janot usa seu cargo para se autopromover, desperdiça dinheiro público e faz encontros secretos para definir quem deve ou não ser investigado.


Em um discurso no plenário do Senado, Collor disse que Janot age com o “nítido intuito de intimidação” ao pedir a quebra de seus sigilos. “O nome dessa conduta é chantagem. Só que o senhor Janot, o chantagista, comigo não se cria. Ele estiola [enfraquece]”, afirmou o senador, o auto intitulado “caçador de marajás” que presidiu o país entre 1990 e 1992, quando sofreu um impeachment. “Até quando suportaremos esse populismo judicial de Janot, um especialista em escolher alvos e em chantagear?”.  Conforme um dos delatores do esquema, o doleiro Alberto Youssef, Collor recebeu 3 milhões de reais em propinas pagas pela BR Distribuidora, uma empresa vinculada à Petrobras. O senador nega.


Os requerimentos apresentados por Collor, na visão de especialistas, não são irregulares. “A ação do senador não é questionável do ponto de vista legal. Pelo contrário, o Senado está fazendo seu papel de investigar o Ministério Público, o que raramente ocorre. Ninguém está acima da lei”, diz Marcelo Figueiredo, advogado e professor de direito público da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Figueiredo, contudo, pondera que nem sempre as ações dos senadores são de interesse público. “Nesse caso parece algo individual, secundário”.


Já o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcante, diz que a ação de Collor é infundada. “Ele está usando a sua prerrogativa de senador, mas o conteúdo dos documentos apresentados por ele não comprovam nenhuma irregularidade. Essa não é uma forma inteligente de enfrentar o Ministério Público”.

Segunda frente

A outra linha de ataque a Janot está na Câmara dos Deputados. Lá, o seu principal articulador é o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já disse que o procurador tem uma querela pessoal contra ele. Cunha, suspeito de pressionar empresas ligadas à Petrobras por meio de requerimentos parlamentares, sugeriu a aliados que elaborem um projeto de emenda constitucional que impeça a recondução de um procurador-geral ao cargo.
O ato [mudança na lei] pode ser visto como retaliação a um trabalho sério que vem sendo feito 

Procurador José Robalinho
Atualmente, conforme previsto na legislação, é possível haver a recondução para a função. O mandato é de dois anos e o de Janot começou em setembro de 2013. “Falta pouco mais de três meses para a escolha do novo procurador ou para a recondução do atual. Uma medida como essa, que altera a Constituição, não passa de uma hora para a outra no Congresso. O ato pode ser visto como retaliação a um trabalho sério que vem sendo feito, mas não acredito que dê tempo de entrar em vigor”, analisou o procurador Robalinho, da ANPR.


Na Câmara, até membros de partidos de oposição ao Governo Dilma Rousseff acabam levantando dúvidas sobre o trabalho do procurador-geral. O deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD), por exemplo, apresentou dois pedidos de convocação de Janot para depor na CPI da Petrobras. É incomum procuradores-gerais responderem a questionamentos de deputados nessas situações. Um deputado do partido de Pereira também é investigado pela Lava Jato.


Janot, por sua vez, prefere o silêncio. Ele não atendeu ao pedido de entrevista feito pelo EL PAÍS e desde novembro do ano passado não atende à imprensa individualmente, segundo sua assessoria. A amigos, diz que está tranquilo quanto à investigação da Lava Jato porque ela seria impessoal e cercada de provas robustas. Sobre as pressões que sofre, diz que são algo normal em sua profissão.


 

Os mais cotados para concorrer ao cargo de procurador-geral

Até o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), pouco se ouvia falar o nome do procurador-geral da República. Foi na gestão dele, que o cargo começou a ganhar destaque. Na ocasião, a fama foi negativa, quando Geraldo Brindeiro ganhou o apelido de "engavetador-geral da República". A razão era que poucos processos de investigação contra grandes figuras políticas tinham sequência.


O nome de Brindeiro foi rejeitado pela sua própria classe, que encaminhou uma lista tríplice para FHC em 2001. Porém, o presidente ignorou os anseios da classe. De 2003 para cá, as listas tríplices informais elaboradas pela Associação Nacional de Procuradores da República passaram a ser levadas em conta. Sempre o primeiro colocado acabou sendo escolhido.


Depois dos anos Brindeiro, o cargo de procurador-geral ganhou destaques positivos. Os mais recentes foram a investigação do mensalão petista (iniciado com o Antonio Fernando de Souza e concluído com Roberto Gurgel) e atualmente com a operação Lava Jato.


Antes de ser conduzido ao cargo de procurador-geral em 2013, Janot foi derrotado no pleito da ANPR de 2011, quando ficou em segundo lugar. Para este ano, quando deve tentar sua recondução, seus principais concorrentes serão os seguintes subprocuradores-gerais da República:


Carlos Frederico Santos. Atuou nas procuradorias do Amazonas e de Roraima. Presidiu a ANPR e se destacou como o primeiro procurador a denunciar o genocídio de povos indígenas.  Também se notabilizou por tentar impedir obras de uma hidrelétrica na reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.


Mário Bonsaglia. Doutor em direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP), atuou na procuradoria de São Paulo e já emitiu pareceres na operação Lava Jato. É bastante ativo nas redes sociais e já "comprou briga" com a Polícia Federal sobre o direito do Ministério Público poder investigar.


Nicolao Dino. Professor da Universidade de Brasília, é um dos principais aliados de Rodrigo Janot, o que pode dificultar sua candidatura. Atualmente ocupa o cargo de "articulador político" da Procuradoria-Geral. Tem forte atuação na área criminal e é irmão do atual governador do Maranhão, o ex-juiz Flavio Dino. Sua ligação familiar fez com que ele fosse rejeitado pelos senadores para um cargo de conselheiro do Conselho Nacional do Ministério Público.


Raquel Dodge. Era tida como uma das favoritas na eleição de 2013. Mas não compôs a listra tríplice da ANPR. Nos últimos anos, foi a responsável para operação Caixa de Pandora, que denunciou 38 pessoas por corrupção e resultou no afastamento do então governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, em 2010.