sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Imagens de satélite registram um mundo em chamas


Imagens de satélite registram um mundo em chamas


O mundo está em chamas. É que aparece na imagem da Worldview da NASA. Os pontos vermelhos sobrepostos na imagem designam aquelas áreas que, usando bandas térmicas, detectam ativamente incêndios.


Por Lynn Jenner*
A África parece ter os fogos mais concentrados. Isto pode ser devido ao fato de que estes são os incêndios agrícolas mais prováveis. A localização, a natureza generalizada e o número de incêndios sugerem que esses incêndios foram deliberadamente estabelecidos para administrar a terra. Os agricultores costumam usar fogo para devolver os nutrientes ao solo e limpar o solo de plantas indesejáveis. Enquanto o fogo ajuda a melhorar as culturas e pastagens, o fogo também produz fumaça que degrada a qualidade do ar.
Em outros lugares, os incêndios, como na América do Norte, são incêndios florestais em sua maior parte. Na América do Sul, especificamente o Chile teve um número horrível de incêndios florestais este ano. Um estudo conduzido pela Universidade Estadual de Montana constatou que: “Além da baixa umidade, ventos fortes e temperaturas extremas – alguns dos mesmos fatores contribuindo para incêndios nos Estados Unidos – a região central do Chile vive uma mega seca e grandes porções de suas diversas florestas nativas foram convertidos em plantações de árvores mais inflamáveis, disseram os pesquisadores. ” Mais sobre este estudo pode ser encontrado aqui: https://phys.org/news/2018-08-massive-south-central-chile.html#jCp
No entanto, no Brasil, os incêndios são incêndios florestais e incêndios provocados pelo homem, destinados a limpar os campos de detritos da safra da última safra. Os incêndios também são comumente usados ??durante o período de seca do Brasil para desmatar a terra e limpá-la para criação de gado ou outras finalidades agrícolas ou de extração. O problema com esses incêndios é que eles crescem fora de controle rapidamente devido a problemas climáticos. As condições quentes e secas, juntamente com o acionamento do vento, disparam longe de sua área de queima prevista original. De acordo com o site Global Fire Watch (entre 8/15 e 8/22) mostra: 30.964 alertas de incêndio.
A Austrália também é onde você tende a encontrar grandes incêndios florestais em suas áreas mais remotas. Verões mais quentes e secos na Austrália significarão estações de fogo mais longas – e a expansão urbana na mata nativa está colocando mais pessoas em risco quando esses incêndios eclodirem. Para grandes áreas no norte e no oeste, a temporada de incêndios florestais foi antecipada em um total de dois meses até agosto – até o inverno, que começou oficialmente em 1º de junho. De acordo com o Bureau Australiano de Meteorologia (Bom), o período de janeiro a julho de 2018 foi o mais quente em NSW desde 1910. À medida que o clima continua a mudar e as áreas se tornam mais quentes e secas, mais e mais incêndios florestais irromperão em toda a Austrália.
O aplicativo de visão de mundo do Sistema de Informações e Sistemas de Observação da Terra (EOSDIS) da NASA fornece a capacidade de navegar interativamente por mais de 700 camadas globais de imagens de satélite de resolução completa e, em seguida, fazer o download dos dados subjacentes. Muitas das camadas de imagens disponíveis são atualizadas dentro de três horas de observação, essencialmente mostrando toda a Terra como parece “agora. Esta imagem de satélite foi coletada em 22 de agosto de 2018. Fogos ativos, detectados por bandas térmicas, são mostrados como vermelhos
Cortesia de imagem: Visão de mundo da NASA, Sistema de dados e informações do Sistema de Observação da Terra (EOSDIS)
Para ver a imagem na Worldview: https://go.nasa.gov/2BRck1Z
Por Lynn Jenner com informações Global Fire Watch, Australian Bureau of Meteorology, and Phys.org

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018
"Imagens de satélite registram um mundo em chamas," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/08/24/imagens-de-satelite-registram-um-mundo-em-chamas/.

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Cientistas alertam que floresta Amazônica reduziu a capacidade de absorção de carbono, chegando à quase zero


Cientistas alertam que floresta Amazônica reduziu a capacidade de absorção de carbono, chegando à quase zero


Floresta Amazônica Foto Fernanda Farias INPA
Há cerca de 20 anos, a floresta amazônica era considerada um sumidouro de carbono, retendo todos os anos meia tonelada de carbono por hectare. Foto: Fernanda Farias INPA
As apresentações dos palestrantes do Workshop Amazônia estão disponíveis no link http://www.fapesp.br/eventos/amazon-workshop/pt

Por Cimone Barros – Inpa
Fotos: Fernanda Farias (capa), Cimone Barros, Ingrydd Ramos e Letícia Misna

Fundamental para a estabilidade do clima do planeta, a floresta amazônica, que até alguns anos absorvia carbono em quantidades muito significativas, do ponto de vista de balanço de carbono total, reduziu essa capacidade e hoje está chegando à zero. Os cientistas consideram a situação preocupante. Em um cenário futuro de mudanças climáticas, em que eventos extremos de secas e grandes inundações são mais frequentes, é possível que a floresta comece a perder carbono para a atmosfera piorando o já grave aquecimento global.
O alerta foi feito no Workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”, na quinta-feira (16), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O evento foi organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Inpa e Instituto Wilson Center.
As pesquisas na região mostram que a Amazônia é um ecossistema altamente crítico no clima global, controlando o ciclo hidrológico, a chuva sobre a própria Amazônia e sul do Brasil, e que armazena uma quantidade enorme de carbono. A ciência estima que a Bacia Amazônica abrigue 16 mil espécies de plantas arbóreas. Já se sabe também que a estação seca na Amazônia está se ampliando em seis dias por década, o que pode parecer pouco, mas é uma alteração significativa.
Segundo o coordenador do workshop e professor da Universidade de São Paulo, Paulo Artaxo, a floresta amazônica até cerca de 10 a 20 anos fazia um serviço ambiental muito importante de reter todos os anos meia tonelada de carbono por hectare. Este serviço ambiental agora está indo para zero.
“Nosso medo é que, a partir de agora, a floresta, além de perder carbono para a atmosfera, e como ela corresponde a dez anos da queima de combustíveis fósseis, perca mais 2%, 3% ou 4% do carbono, pois isso vai aumentar muito o efeito estufa”, disse Artaxo, que também é presidente do Comitê Científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa/MCTIC).

Workshop Amazonia Paulo Artaxo Foto Cimone Barros INPA

Segundo o cientista, hoje a floresta é neutra do ponto de vista do carbono. Mas se forem diminuídas as emissões haverá possibilidade de voltar a ter a floresta retendo mais carbono do que emite. “É por isto que temos de lutar hoje”, afirmou.
As florestas tropicais são o lugar do mundo em que mais se estoca carbono na Terra. O carbono é o quarto elemento mais abundante na atmosfera e é um dos gases de efeito estufa. De acordo com o pesquisador da USP, Luiz Martinelli, se a floresta faz mais fotossíntese do que ela perde carbono pela respiração, essa floresta tende aumentar sua biomassa.
“É disso que estamos precisando, porque, devido ao grande aporte de carbono e CO2 na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, o clima da Terra está mudando. Então, é extremamente benéfico para o clima que a Amazônia continue limpando esse excesso de carbono na atmosfera, mesmo que lentamente”, explicou Martinelli.
As pesquisas apoiadas pela Fapesp e realizadas em colaboração com o Inpa serão apresentadas em um Workshop nos mesmos moldes deste de Manaus em Washington, no dia 25 de setembro. A proposta é apresentar para o Banco Mundial e o Fundo Amazônia quais as necessidades de pesquisas que se tem na Amazônia atualmente.
Participaram da mesa de abertura do Workshop o Comandante do 9º Distrito Naval, o Vice-Almirante Carlos Alberto Matias; o pesquisador da USP Paulo Artaxo; o diretor administrativo da Fapesp, Fernando Almeida; o coordenador de Pesquisas do Inpa, Paulo Maurício; o diretor-técnico e científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Décio Reis; o coronel Washington Rocha Triani, do Comando Militar da Amazônia (CMA); e o diretor do Brazil Institute Wilson Center, Paulo Sotero.

Workshop Amazonia Foto Cimone Barros INPA

“O Inpa desenvolve pesquisas em várias áreas, desde questões climáticas, agricultura sustentável até tecnologias sociais, que no seu conjunto podem ser aproveitadas para se ter desenvolvimento com base sustentável na região. A questão central é conseguirmos ter ressonância com os políticos quando vão construir os caminhos para a Amazônia”, destacou o coordenador de Pesquisas do Inpa, o pesquisador Paulo Maurício Alencastro.
No evento ainda foram debatidas iniciativas empresariais e de organizações não-governamentais de pesquisas e seus papeis no desenvolvimento sustentável na Amazônia, além do importante apoio logístico das Forças Armadas à pesquisa na Amazônia, especialmente com o programa do CMA, o Proamazônia.

Ponto de não retorno

De acordo com a pesquisadora do Inpa, Maria Teresa Fernandez Piedade, empresários, políticos e tomadores de decisão precisam entender que a devastação da Amazônia está chegando a um ponto de não retorno, e que isso será prejudicial para todos. Há fortes componentes atuando no desmatamento em níveis muito altos, juntamente com mudanças climáticas globais e ainda uma ação continuada de fogo.
Estudos mostram que a floresta já foi desmatada em 20% e se aumentar mais cinco pontos percentuais vai perder sua resiliência, alterando o ciclo hidrológico de maneira irreversível – ponto de não retorno, conforme artigo publicado na revista Science Advances assinado pelo professor da George Mason University, nos Estados Unidos, Thomas Lovejoy, que participou do Workshop via vídeo, e o coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, o brasileiro Carlos Nobre.

Worksho Amazonia Maria Teresa Piedade Foto Letícia Misna INPA

“Esse conjunto de pressões, que antigamente não se considerava como interagindo nos modelos, agora mostra que com 25% de desmatamento da região algumas partes da Amazônia vão atingir um ponto no qual a cobertura vegetal será transformada em um tipo de vegetação mais aberta e pobre em espécies, no processo chamado de savanização. E esse processo não vai ser revertido de forma banal”, alerta Piedade, que é coordenadora do projeto Pesquisa Ecológica de Longa Duração – Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Peld/Maua).
Na parte central da Amazônia, onde se encontra Manaus, há previsões de modelos climáticos que mostram que a temperatura pode aumentar 5°C até 2050.

Valor econômico dos serviços ambientais

O Brasil não recebe compensação financeira pelos serviços ambientais que a Amazônia realiza. Só os serviços ambientais produzidos na América do Sul são estimados em 14 trilhões de dólares.
“Não há dúvidas de que, do ponto de vista econômico, o vapor de água que Amazônia processa e se transforma em chuva irrigando as culturas de soja no Mato Grosso, culturas de alimento no Rio Grande do Sul, Goiás e em São Paulo, todo esse serviço ambiental vale trilhões de dólares”, afirmou o pesquisador Paulo Artaxo.
Nas próximas décadas, as previsões são de alterações profundas no planeta que afetarão a economia do mundo, e o Brasil precisa se adaptar para esse novo cenário, segundo os cientistas, com a implementação de políticas públicas, melhorando a sustentabilidade, e implantando outras matrizes energéticas como solar e eólica, para as quais o Brasil tem grande potencial.
“Hoje a mais importante dessas políticas é reduzir a taxa de desmatamento da Amazônia que está em cerca de 8 mil km2 por ano, quando era há três anos de 4,5 mil km2 por ano. Essa taxa está aumentando e precisamos urgentemente reduzir o desmatamento na Amazônia até chegar ao desmatamento zero, e isso é possível”, destacou Artaxo.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018
"Cientistas alertam que floresta Amazônica reduziu a capacidade de absorção de carbono, chegando à quase zero," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/08/24/cientistas-alertam-que-floresta-amazonica-reduziu-a-capacidade-de-absorcao-de-carbono-chegando-a-quase-zero/.

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Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“Há 10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam
menos de um décimo de um por cento da biomassa dos
vertebrados da terra. Agora, eles são 97 por cento”.
Ron Patterson (2014)
área ocupada por humanos, pelos animais domésticos e animais selvagens

[EcoDebate] O ser humano é uma das espécies caçulas da Terra. O Homo Sapiens surgiu na África a cerca de 200 mil anos e se espalhou por todo o território mundial. As grandes migrações do passado e o processo de globalização têm tornado o mundo cada vez mais ecúmeno, com impactos crescentes das atividades antrópicas sobre o meio ambiente e a redução das áreas anecúmenas. O termo anecúmeno designa uma área da superfície terrestre emersa que não seja habitada pelo ser humano de forma permanente, opondo-se ao termo ecúmeno que designa uma área onde os humanos permanecem no presente.
Como o Planeta é um só, todas as espécies estão em constante competição entre si, bem como com os membros de sua própria espécie. Todas as espécies evoluíram e fizeram adaptações voltadas para a sobrevivência. A Águia tem voo, garras, mira telescópica e assim por diante. Todas as outras espécies têm adaptações similares. O Homo sapiens desenvolveu várias adaptações, sendo que há uma que lhe dá uma enorme vantagem sobre todas as outras: sua capacidade intelectual. Esta habilidade favorece a competição com outras espécies para a alimentação e território. O ser humano não só venceu as demais espécies, como, na verdade, está em processo de acabar com elas, provocando uma grande extinção em massa, especialmente dos vertebrados da Terra (Patterson, 2014).
Para tentar evitar os danos irreversíveis da crescente dominação humana sobre o Planeta – época conhecida como Antropoceno – existem várias propostas para salvar a vida de milhões de seres não-humanos e a biodiversidade da Terra.
O biólogo da Universidade de Harvard de 85 anos, Edward Osborne Wilson, duas vezes vencedor do Prêmio Pulitzer e autor de mais de 25 livros, acredita que o ser humano está provocando um “holocausto biológico” e para evitar a “extinção em massa de espécies”, ele propõe uma estratégia para destinar METADE DO PLANETA exclusivamente para a proteção dos animais. A tese também é defendida pela jornalista Elizabeth Kolbert no livro The Sixth Extinction.

The Sixth Extinction

Segundo reportagem de Marina Maciel, no Planeta Sustentável (09/09/2014), o plano de conservação do Dr. Wilson, chamado de “Half Earth”, inclui a criação de cadeias de corredores ininterruptos de vida selvagem, alguns deles grandes o bastante para abrigar parques nacionais de biodiversidade, idealizados para impedir o desaparecimento de espécies. Tais medidas ajudariam os animais a reagir aos efeitos das mudanças climáticas por meio da migração e também evitariam isolamento em ilhas sem conexão com outros habitats.
A Revista Science publicou, em julho de 2014, uma série de estudos em que mostra taxas alarmantes de crimes contra os demais seres vivos. A humanidade é responsável pelo risco de espécies desaparecerem com 1000 vezes mais intensidade do que os processos naturais. A Revista confirma que o ser humano está provocando, em um curto espaço de tempo, a sexta extinção em massa no planeta. Isto acontece em função dos impactos da perda da fauna devido ao empobrecimento da cobertura vegetal, à falta de polinizadores, ao aumento de doenças, à erosão do solo, aos impactos na qualidade da água, etc. Ou seja, os efeitos são sistêmicos e um dos artigos da revista chama este processo de “Defaunação no Antropoceno”, que ocorre devido ao aprofundamento da discriminação contra as espécies não humanas e à generalização do crime do ecocídio.
Segundo a WWF, no relatório Planeta Vivo 2014, o estado atual da biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a metade do que era 40 anos atrás. Esta redução é muito maior do que a que foi divulgada em relatórios anteriores em função de uma nova metodologia que visa obter uma amostra mais representativa da biodiversidade global.
Ainda segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das 1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%. As principais causas destas reduções são a perda de habitats e a degradação e exploração decorrente de caça e pesca. As mudanças climáticas são a segunda ameaça primária mais significativa e é provável que exercerão mais pressão sobre as populações no futuro.

Índice do Planeta Vivo

Por tudo isto, se denomina Ecocídio o crime que acontece contra as espécies animais e vegetais do Planeta. Esse crime se espalha no mundo em uma escala maciça e a cada dia fica pior. Exatamente por isto, cresce a consciência de que é preciso mudar o modelo de desenvolvimento que adota um padrão de produção e consumo danoso para o meio ambiente e que é responsável pelo aumento da destruição da vida na Terra. Para tanto, é preciso considerar o Ecocídio um crime contra a paz, um crime contra a natureza e um crime contra a humanidade e as futuras gerações.
O site “Eradicating Ecocide” considera ser necessário a aprovação de uma lei internacional contra o Ecocídio para fazer com que os dirigentes de empresas e os chefes de Estado sejam legalmente responsáveis por proteger a Terra e as espécies não humanas. O Planeta teria que se tornar a prioridade número um da legislação nacional e internacional. O mundo já definiu o Genocídio como um crime, falta fazer o mesmo em relação ao Ecocídio. Não há direitos humanos no longo prazo sem o respeito aos direitos da natureza. Acabar com o ecocídio é também uma forma de evitar o suicídio.

Eradicating Ecocide

O site do Instituto Rewilding é uma outra fonte para informações sobre a integração da vida selvagem tradicional e a conservação de terras selvagens e a preservação das paisagens naturais. Ele fornece explicações sobre conceitos-chave com documentos para download e links para documentos importantes.

Rewilding Institute

Reselvagerizar o mundo pode ser uma alternativa, mesmo que parcial, aos crescentes crimes do especismo e do ecocídio. Para garantir espaços para a vida selvagem será preciso descivilizar amplas áreas territoriais, diminuindo a pegada ecológica antrópica global, regional e local. Neste sentido, a proposta de Caroline Fraser em seu livro “Rewilding the World” (Reselvagerizando o mundo) pode ser uma alternativa concreta para se evitar a extinção em massa da vida selvagem no Planeta e para criar uma esperança de conservação da biodiversidade e a convivência respeitosa e ética entre as espécies.

Rewilding the World

A humanidade ocupa cada vez mais espaço no Planeta e tem prejudicado de forma danosa todas as formas de vida ecossistêmicas da Terra. O ser humano está reincidindo cotidianamente nos crimes do especismo e do ecocídio. Se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio. Porém, antes de o antropoceno provocar uma extinção em massa da vida na Terra é preciso uma ação radical no sentido conter a ganância egoística, garantir a saúde do meio ambiente e a livre evolução da biodiversidade.
Referências:
PATTERSON, Ron. Of Fossil Fuels and Human Destiny, May 7, 2014
ATTENBOROUGH, David. Humans are plague on Earth. Telegraph, UK, 22/01/2013
Vanishing fauna. Science. Special Issue, 25 July 2014
MACIEL, Marina. Edward Wilson pede devolução de metade da Terra para os animais, Planeta Sustentável, 09/09/2014
HISS, Tony. Can the World Really Set Aside Half of the Planet for Wildlife? Smithsonian Magazine, 09/2014
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Publicado no Portal EcoDebate, 03/12/2014

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Dia Mundial pelo fim do Especismo: 25 de agosto de 2018



“A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”
Mahatma Gandhi

A luta contra o especismo é também contra a 6ª extinção em massa das espécies.
os seres humanos e seus rebanhos respondem por 97% da biomassa do planeta


[EcoDebate] Em 25 de agosto de 2018 acontece o Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE). É uma data para denunciar e dar visibilidade ao genocídio das espécies, ao holocausto biológico, aniquilação da biodiversidade, ao ecocídio e à escravidão animal. É um dia para dar vez e voz aos seres sencientes que sofrem silenciosamente e dão a vida e o sangue para satisfazer o apetite humano. 

A luta contra o especismo é também contra a 6ª extinção em massa das espécies.


Como mostra o gráfico acima, se somarmos o peso de todas as pessoas e do rebanho domesticado – vacas, ovelhas, porcos, cavalos, cachorros, galinhas, perus, etc. – dá um total equivalente a 32 vezes o peso de todos os mamíferos terrestres selvagens e aves – todos os elefantes, camundongos, cangurus, leões, guaxinins, morcegos, ursos, veados, lobos, alces, chickadees, garças, águias, etc. Por exemplo, biomassa das galinhas é mais do que o dobro da massa total, combinada, de todas as outras aves da Terra.


Antes do advento da agricultura e das civilizações humanas, no entanto, prevalecia uma realidade oposta: animais selvagens e pássaros dominavam a Terra e seu número e massa eram várias vezes maiores que seus números da massa de hoje. Antes do advento da agricultura, cerca de 11.000 anos atrás, os seres humanos constituíam apenas uma pequena fração da biomassa animal, e o gado domesticado não existia.

Estas observações são baseadas estão em um relatório de maio de 2018, publicado na revista acadêmica Proceedings, da National Academy of Sciences, por Yinon Bar-On, Rob Phillips e Ron Milo. Os autores usaram uma variedade de fontes para construir um “censo da biomassa da Terra”, estimando a massa de todas as plantas, animais, insetos, bactérias e outros seres vivos em nosso planeta.

A taxa de extinção das espécies nunca foi tão alta desde a extinção do Cretáceo-Paleogeno há 65 milhões de anos – a extinção provocada pelo impacto de asteroides que destruiu os dinossauros. No Antropoceno, a menos que reduzamos a escala e os impactos das sociedades e das atividades antrópicas e a menos que compartilhemos mais equitativamente a Terra com as demais espécies selvagens, entraremos totalmente em um grande evento global de extinção.

O avanço da população humana e sua forma de produção e consumo equivale à força de um tsunami que arrasa a biodiversidade do Planeta. O impacto humano equivale ao choque de um asteroide que provoca uma aniquilação biológica. Mas o ecocídio vai se voltar contra o próprio ser humano, pois a economia depende da ecologia e não o contrário.

superpopulação

Estudo publicado na revista Science, (Pennisi, 08/09/2016), mostra que a dimensão da perda de biodiversidade no mundo todo ameaça o funcionamento dos ecossistemas da Terra e inclusive a sobrevivência dos seres humanos. Em 58% da superfície terrestre, onde vive 71% da população mundial, “o nível de perda de biodiversidade é substancial o suficiente para questionar a capacidade dos ecossistemas de suportar as sociedades humanas”. O especismo leva ao ecocídio e também ao suicídio.


O manifesto do Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) diz: “A fronteira da espécie não é, e não pode ser, uma fronteira moral. Nossa sociedade deve evoluir para incluir os animais no nosso círculo de consideração moral”. Como disse Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”. O vegetarianismo e o veganismo são imperativos da ética de defesa animal.

Nesta mesma linha, nenhuma prática religiosa justifica o racismo, o sexismo, o escravismo ou o especismo. É preciso defender o direito dos animais e os direitos da natureza, começando por condenar a violência dos abatedouros, os maus tratos nos zoológicos, a covardia das touradas e das rinhas de galo, etc.

Para evitar o especismo, o ecocídio e o holocausto biológico, todas as pessoas, em suas diferentes identidades e inserções sociais, deveriam participar das atividades, no dia 25 de agosto, do DIA MUNDIAL CONTRA O ESPECISMO.



Referências:
ALVES, JED. Demografia, Democracia e Direitos Humanos, Texto Discussão n. 18, ENCE/IBGE, RJ, 2005http://www.ence.ibge.gov.br/images/ence/doc/publicacoes/textos_para_discussao/texto_18.pdf
ALVES, JED. Redução da biodiversidade ou das atividades antropogênicas? Ecodebate, RJ,21/05/2010
ALVES, JED. Direitos Humanos, Direitos da Terra e Direitos da Biodiversidade. Ecodebate, RJ,12/01/2011
ALVES, JED. “Troque seu cachorro por uma criança pobre”. Ecodebate, RJ,06/09/2011
ALVES, JED. Classismo, sexismo, escravismo, racismo, xenofobismo, homofobismo e especismo, Geledes, 28/12/11
ALVES, JED. Especismo e as desigualdades entre espécies. Ecodebate, Rio de Janeiro, 14/03/2012http://www.ecodebate.com.br/2012/03/14/especismo-e-as-desigualdades-entre-especies-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Do antropocentrismo ao mundo ecocêntrico. Ecodebate, Rio de Janeiro, 13/06/2012
ALVES, JED. Morre o Solitário George: desaparece mais uma espécie em Galápagos. Ecodebate, Rio de Janeiro, 29/06/2012http://www.ecodebate.com.br/2012/06/29/morre-o-solitario-george-desaparece-mais-uma-especie-em-galapagos-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Erradicar o Ecocídio. Ecodebate, Rio de Janeiro, 31/10/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano. Ecodebate, RJ, 07/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o massacre de elefantes e o comércio de marfim. Ecodebate, RJ, 21/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a ameaça de extinção dos rinocerontes. Ecodebate, RJ,28/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a destruição da Amazônia. Ecodebate, RJ, 01/02/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: Gorilas ameaçados de extinção. Ecodebate, RJ, 10/04/2013
ALVES, JED. Por um mundo mais selvagem! Ecodebate, RJ, 14/08/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o sumiço das abelhas. Ecodebate, Rio de Janeiro, 18/09/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos tigres. Ecodebate, Rio de Janeiro, 25/10/2013
ALVES, JED. Direitos Humanos e Direitos da Natureza. Ecodebate, Rio de Janeiro, 06/12/2013
ALVES, JED. Reduzir a população de bovinos para combater o desmatamento e o aquecimento global. Ecodebate, Rio de Janeiro, 07/02/2014
ALVES, JED. O naufrágio dos deltas devido às atividades humanas. Ecodebate, RJ, 21/05/2014
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos Guepardos. Ecodebate, Rio de Janeiro, 22/08/2014
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a extinção dos leões na África Ocidental e perda de biodiversidade no mundo. Ecodebate, Rio de Janeiro, 15/10/2014
ALVES, JED. Para evitar o holocausto biológico: aumentar as áreas anecúmenas e reselvagerizar metade do mundo. Ecodebate, Rio de Janeiro, 03/12/2014
ALVES, JED. Deserto verde e Defaunação. Ecodebate, Rio de Janeiro, 18/03/2015
ALVES, JED. Especismo, Ecocídio e a degradação da Grande Barreira de Corais. Ecodebate, RJ, 15/05/2015
ALVES, JED. Dia Mundial pelo fim do Especismo: 22 de agosto. Ecodebate, RJ, 19/08/2015
ALVES, JED. Abolicionismo animal. Ecodebate, RJ, 06/11/2015
ALVES, JED. Escravidão e morte de um Gorila inocente. Ecodebate, RJ, 06/06/2016
ALVES, JED. Ser humano: maior espécie invasora. Ecodebate, RJ, 19/12/2016
ALVES, JED. A humanidade é especista. Ecodebate, RJ, 26/08/2016
ALVES, JED. Beleza ameaçada. Ecodebate, RJ, 02/09/2016
ALVES, JED. A sobrepesca e a degradação dos oceanos. Ecodebate, RJ, 15/05/2017
ALVES, JED. Humanos e chimpanzés: uma relação desigual, especista e ecocida. Ecodebate, RJ, 02/06/2017
ALVES, JED. Jornada Mundial pelo Fim do Especismo e do Ecocídio. Ecodebate, RJ, 25/08/2017
ALVES, JED. Sexta extinção em massa e a insegurança alimentar global. Ecodebate, RJ, 26/01/2018https://www.ecodebate.com.br/2018/01/26/sexta-extincao-em-massa-e-inseguranca-alimentar-global-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. ‘Half-Earth’: reservar metade da Terra para a natureza. Ecodebate, RJ, 08/06/2018
ANDRADE, Rodrigo. Introdução ao Abolicionismo Animal, 2012
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Pelo fim da Escravidão Animal
Dia Mundial pelo fim do Especismo: 25 de agosto de 2018

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018
"Dia Mundial pelo fim do Especismo: 25 de agosto de 2018," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/08/2018, https://www.ecodebate.com.br/2018/08/24/dia-mundial-pelo-fim-do-especismo-25-de-agosto-de-2018/.

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