terça-feira, 29 de agosto de 2017

Na Mata Atlântica, ninguém é amigo da onça


Por Fabio Olmos
Preocupadíssima com os 12 barcos e 50 turistas que estão me olhando. Foto: Fabio Olmos.
Cenas do Pantanal que gostaríamos de ver na Mata Atlântica. Foto: Fabio Olmos.


Durante meu mestrado, entre 1988 e 1990, trabalhei na então Fazenda Intervales (tornada parque estadual em 1995). Recém transferida do finado BANESPA para a recém-criada Fundação Florestal, sob a administração do banco a fazenda era uma unidade de conservação de fato, apesar do histórico de exploração de palmito para alimentar uma fábrica própria.


Meu caderno de campo registra conversa com o sr. Lima, no dia 24 de abril de 1988. “A área total é de 38.000 ha... A propriedade é guardada por 28 vigilantes. Há 26 anos não se caça na fazenda”. O perímetro da propriedade era protegido por bases como Quilombo, Saibadela, Funil, Guapiruvu, etc. para manter caçadores, grileiros e ladrões de palmito afastados.


Os muitos vestígios e encontros com onças-pintadas, antas, porcos-do-mato, muriquis, jacutingas e outras raridades, apoiavam o que dizia Lima. Intervales, colada nos parques estaduais de Carlos Botelho (por décadas protegido por um diretor linha dura e,como resultado, cheio de bichos), Turístico do Alto Ribeira (PETAR) e na estação ecológica de Xitué parecia a Mata Atlântica como deve ser. Um lugar onde você anda na floresta e vê bichos, e não a triste situação de floresta vazia que ocorre em lugares como Picinguaba.


Em uma das primeiras visitas nos mostraram os restos de uma mula morta por uma pintada. O gato usou a técnica padrão da espécie, perfurando o crânio com seus caninos. Também vi pegadas de uma pintada junto à piscina de uma das hospedarias. E, às vezes, encontrava as pegadas de uma onça sobre as minhas quando retornava pela mesma trilha. Um gato que, curioso mas invisível, me seguia.
rio-3-irmaos-2015-08-04-1795
Preocupadíssima com os 12 barcos e os 50 turistas que estão me olhando. Foto: Fabio Olmos


Mas nunca vi uma onça-pintada em Intervales. Ou na Mata Atlântica. Só tive sorte quando visitei o Pantanal e, percorrendo a Transpantaneira à noite no banco traseiro de um Fusca, os faróis iluminaram um gato sentado no meio da estrada. Que nos olhou com o desprezo que só um gato pode expressar antes de desaparecer na mata.


Anos mais tarde, como milhares de outros turistas, tive a oportunidade de visitar as hoje famosas onças da região de Porto Jofre, no Pantanal Norte. O turismo de observação de onças é uma faceta de uma era onde experiências se tornam mais valiosas que compras,onde um gato vivo vale muito mais que um gato morto.


Vendo os gatos tranquilos na beira do rio enquanto dezenas de turistas tinham orgasmos fotográficos, me ocorreram duas coisas.


Décadas depois de países de primeiro mundo como o Quênia, Tanzânia, África do Sul, Índia e Nepal criarem em seus parques uma indústria turística baseada na observação de seus grandes gatos e fauna associada, finalmente temos um turismo baseado nas nossas onças-pintadas.


Mas será que algum dia teremos parques como os daqueles países?
Além de estrangeiros entre os visitantes, também havia muitos paulistas, como eu. O que me faz pensar porque nós não podemos ver cenas como aquelas às margens de rios paulistas como o Ribeira de Iguape, Paranapanema, Paraná ou Tietê.

A resposta é nossa longa guerra contra os grandes gatos.


O passado glorioso do jaguar
"Onças precisam é de florestas com populações saudáveis de suas presas e extensas o suficiente para que elas mesmas possam ter populações saudáveis. Para isso as onças só precisam que as pessoas não façam coisas. Que parem de matá-las e de competir com elas por comida e espaço."
 
 
Até 11.700 anos atrás as Américas humilhariam qualquer safari africano atual. Era um mundo de tigres-dentes-de-sabre, gatos-cimitarra, leões gigantes, guepardos, ursos de quase uma tonelada, lobos variados, dholes, pumas e onças-pintadas. A maioria foi extinta após a chegada de humanos,há pelo menos24 mil anos. Restam os pumas Puma concolor (ou suçuaranas, onças-pardas, onças-vermelhas...) e as onças-pintadas Panthera onca (ou jaguar, jaguaretê, etc).


As pintadas já ocuparam quase todo a América, do Oregon à Patagônia. Durante o Pleistoceno, a Panthera onca augusta, grande como as onças do Pantanal, ocorria em boa parte dos Estados Unidos. Já em tempos históricos,pintadas viviam no que hoje é a Califórnia, Arizona, Novo México, Arizona, Colorado e Texas. Todas foram mortas por brancos e índios.


Hoje, os jaguars dos Estados Unidos somam três indivíduos, todos machos e imigrantes ilegais vindos do México. O mais famoso, El Jefe, é conhecido por comer ursos.
Três machos não formam uma população e será preciso introduzir fêmeas. Um plano para recuperação da espécie foi lançado em 2016 não fala disso e há oposição de ruralistas – que ajudaram a eleger Trump --  alguns argumentando que a espécie não é nativa.


Se parece estúpido, não é caso único. “Nativos” havaianos se opuseram à translocação de focas-monges-havaianas (que eles ajudaram a quase extinguir) com o mesmo argumento.
Ao sul, as pintadas já ocorreram do México até o norte da Argentina, do litoral até os Andes. Essa pode não ser a história toda, pois exploradores dos séculos XVI e XVII relataram encontros com “tigres” e “guaguares”no extremo sul do Chile e Patagônia argentina. Mesma região onde existia a (pré)-histórica Panthera onca mesembrina.


Na América Latina, as pintadas foram eliminadas de El Salvador e do Uruguai; o limite sul de sua distribuição original foi deslocado em mais de mil km para o norte e pelo menos 40% do habitat antes adequado desapareceu.


No Brasil, especula-se que a população efetiva da espécie esteja entre 15 e 30 mil indivíduos, a maior parte na Amazônia. Este número, que não lotaria um estádio de futebol, continua caindo.


O fim das pintadas, do longo atrito com populações ameríndias ao extermínio pelos pecuaristas, ruralistas, povos tradicionais variados e caçadores “esportivos”, é parte do contínuo massacre dos grandes predadores como leões, tigres, leopardos e guepardos promovido por nós humanos. Não contentes em matá-los, também exterminamos as presas de que dependem.


E com isso perdemos algo mais que bichos bonitos ou linhagens evolutivas com milhões de anos. Perdemos experiências que vão além das palavras e tornam a vida algo maior. Se fracassamos em coexistir com os grandes predadores não somos melhores que fungos, presos à uma necessidade inata de nos multiplicar e apodrecer o próprio lar.


Destronada e rumo à extinção na Mata Atlântica
A Mata Atlântica já foi 100% ocupada por onças-pintadas. Lugares com “jaguar” no nome mostram isso, assim como testemunhos como o do Padre Anchieta. Ele conta que, em 1592, a atual Ilhabela, litoral norte de São Paulo, não tinha gente,mas muitos “tigres”. O que implica a presença de presas hoje extintas como porcos-do-mato, antas, veados, etc.


Em 1897, Herman von Ihering conta que a última onça-pintada em Ilha bela chegou ali a nado,vinda do continente, e foi morta a pauladas ao chegar, exausta, à praia. Testemunho da relação tradicional entre pessoas e onças.


Trabalho de 2016 mostra a situação crítica das onças-pintadas na Mata Atlântica, com menos de250 pintadas adultas no bioma. No maior bloco contínuo de floresta, o das serras do Mar e Paranapiacaba entre RJ, SP e PR, uma estimativa era de 41 indivíduos.Número que talvez só seja maior do que o de políticos honestos no país.


Em toda Mata Atlântica as pintadas perderam 85% de seu antigo habitat. Do que sobrou, as onças ocupam apenas 18% do habitat considerado adequado para elas. Estas áreas que deveriam ter onças, mas estão vazias delas e de suas presas, incluem unidades de conservação como o Parque Nacional do Monte Pascoal – detonado pelos Pataxó -, o da Serra dos Órgãos e o da Serra da Bocaina (onde ainda ocorria na década de 1980).


Sem terra e sem comida
" Por quê há tão poucas onças no filé da Mata Atlântica? Simples: as pessoas continuam matando as pintadas, como aconteceu em março deste ano. Caso que mostra tanto a inoperância da fiscalização ambiental como quão ridículas são as punições para este tipo de crime."
 
 
A Mata Atlântica teve suas populações animais massacradas por séculos de caça, desmatamento e degradação. O que temos hoje são os resquícios do que deveria existir, incluindo as áreas protegidas.
Para um predador de topo, viver em um mundo onde suas presas são raras (quando existem), implica em andar muito. Não é surpresa que as onças da Mata Atlântica tenham as maiores áreas de vida dentre as estudadas. Também não é surpresa que a combinação de florestas vazias de presas e ter que andar muito resulta em onças morrendo nas mãos das pessoas, seja a bala ou atropeladas.


São Paulo abriga boa parte da Mata Atlântica.Mas a espécie foi extinta de parques como a Ilha do Cardoso (e Ilhabela) e na maioria das UCs. Resta um punhado de indivíduos. Por exemplo, apenas 3 no Núcleo Santa Virgínia do Parque estadual da Serra do Mar e de 1 a 3 nomosaico de áreas protegidas da Juréia.


É bem possível que no conjunto de UCs da Serra do Mar, Paranapiacaba e litoral haja menos de 20 pintadas, com pífios 0,66 indivíduos/100 km2 onde a espécie é mais “comum”, o conjunto dos parques Intervales, Carlos Botelho e PETAR.Em outras palavras, quatro vezes menos onças-pintadas do que as 2 e pouco por 100 km2 que seria razoável esperar.


Por quê há tão poucas onças no filé da Mata Atlântica? Simples: as pessoas continuam matando as pintadas, como  aconteceu em março deste ano. Caso que mostra tanto a inoperância da fiscalização ambiental como quão ridículas são as punições para este tipo de crime.


As mortes ocorrem mesmo nas áreas protegidas onde a fauna deveria estar mais segura. Um dos problemas é o furto de palmito por quadrilhas organizadas, que está associado à caça.


Outro são as pessoas que moram dentro de áreas “protegidas” e continuam com seus costumes tradicionais. No mosaico da Juréia sabe-se que 4 onças foram mortas em 12 anos, duas por caçadores e duas como retaliação por matarem porcos domésticos.


História repetida em Intervales. Onças, sem comida porque pessoas eliminaram suas presas, são mortas por atacarem animais domésticos dentro do que deveria ser um parque. E 54% da população do lugar achava que exterminar os felinos seria a melhor solução.


Preterida
pantanal-2016-07-12-1104
Sou fofa, não sou? Foto: Fabio Olmos


Isso ilumina um problema de fundo. Aquelas comunidades ditas amigas da natureza ocupam terras devolutas (ou seja, de todos nós) que eram parte de Intervales, mas lhes foram dadas por serem consideradas quilombolas. Houve consulta pública? Estudo de impacto ambiental? Condicionantes? A prioridade é conservação ou reforma agrária?


Não foi um evento único. Ali do lado, o núcleo Quilombo foi entregue a um grupo Guarani que o invadiu em 1999 e arrasava a fauna e flora. Da última vez que visitei soube que “a ordem da secretaria é nem chegar perto”. Mais um sintoma de como o a coisa degringolou da década de 90 para cá.


Além de serem mortas, competirem com as pessoas por comida e terem seu habitat destruído, as onças ainda têm as áreas protegidas que deveriam ser seu lar - e de toda a sociedade - privatizadas para quem não é exatamente amigo da onça.


Esse é um dos exemplos de como quem deveria proteger nossa herança natural pode perder o rumo. Mas não o único. Um dos melhores pedaços da Mata Atlântica paulista é a Fazenda Nova Trieste, vizinha de Intervales. Que quase virou um parque estadual.


Isso felizmente não aconteceu. Olhando a situação dos parques paulistas é fácil ver como a natureza pode ser melhor servida por mãos privadas interessadas em conservar, ainda mais quando há no governo quem queira transformar o que já é protegido em área quilombola, o que não é sinônimo de conservação. Como sabem bem as onças.


Onças não podem ir à escola ou à faculdade para se tornar algo diferente do que seus pais e avós foram. Elas não podem escolher uma nova profissão ou abrir um negócio. Elas não podem escolher ser vegetarianas. Elas não votam. Mas elas também não precisam de bolsas isso ou aquilo, cestas básicas, luz para todos ou aposentadorias rurais.


O que elas precisam é de florestas com populações saudáveis de suas presas e extensas o suficiente para que elas mesmas possam ter populações saudáveis. Para isso as onças só precisam que as pessoas não façam coisas. Que parem de matá-las e de competir com elas por comida e espaço.
Gatos são gatos e conviver com grandes predadores em um mundo lotado é complicado, mas possível se nós quisermos. Existe muito conhecimento sobre como minimizar conflitos, como a predação de animais domésticos e riscos para as pessoas.


Na verdade, ataques de onças a pessoas são, na vastíssima maioria, resultado de gatos se defendendo de pessoas (e cães) que querem matá-las, ou pura imprudência. No mato, é muito mais perigoso encontrar uma pessoa do que uma onça. As estatísticas me apoiam.


"Em cana"
Grandes gatos são adaptáveis o suficiente para viver em áreas periurbanas, como os pumas de Los Angeles e da Grande São Paulo. Eu gostaria de ver famílias de onças-pintadas paulistanas residentes, não só relatos de visitantes.


Há os casos onde pessoas se mudaram e devolveram os espaços para a natureza, o que pode ser bom para as pessoas e os gatos.  E países que estão trazendo seus grandes predadores de volta, de leopardos a leões, dando um final mais feliz a estórias como a de Lady Liuwa (que descanse em paz).
São os bichos que dizem se uma UC é bem manejada ou não. Talvez seja esperar muito que a secretaria de meio ambiente paulista adote a meta quadruplicar a população de onças no Vale do Ribeira e Serra do Mar e criar um turismo similar ao que existe no Pantanal. Talvez algum dia apareça um governador amigo da onça com a coragem para isso.


No fim, talvez sejam as más práticas humanas que permitirão a recuperação das onças-pintadas. O agronegócio paulista criou vastas áreas com poucas pessoas, majoritariamente ocupadas por canaviais e plantações de cana que são habitat para javalis e java porcos. Um mosaico de florestas naturais e plantadas pode criar condições para que as onças recolonizem a região. Alguma reflorestadora ou usina se anima a ser amiga da onça?


Será irônico se o futuro for de uma Mata Atlântica socioambiental, cheia de gente e vazia de onças. E estas encontrarem seu refúgio em meio a eucaliptos e canaviais

Senador quer sustar decreto de Temer que extingue Reserva de Cobre


Por Sabrina Rodrigues
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou decreto legislativo que susta o decreto do presidente Michel Temer que abre uma área do Pará e do Amapá para a mineração. Foto: Moreira Mariz/Agência Senado.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou decreto legislativo que susta o decreto do
 presidente Michel Temer que abre uma área do Pará e do Amapá para a mineração. 
Foto: Moreira Mariz/Agência Senado.


O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) já apresentou um decreto legislativo para sustar a decisão apresentada, ontem (23), pelo governo Temer de abrir uma área do Pará e do Amapá para a mineração. A área da Reserva Nacional de Cobre e seus Associados (Renca), que possui 4,7 milhões de hectares, estava bloqueada para a mineração desde 1984. A Renca guarda grandes reservas de ouro, minério de ferro, níquel, manganês e tântalo.


Com a publicação do decreto  nº 9.142/2017 , a preocupação recai sobre os impactos dessa atividade perto de unidades de conservação. Além do Parque nacional Montanhas do Tucumaque (AP), duas unidades de conservação de proteção integral estavam sobrepostas a Renca, como a Estação Ecológica do Jari e a Reserva Biológica Maicuru, que ficam no Pará.


Mesmo com a manutenção das Unidades de Conservação e Terras Indígenas, a possibilidade de exploração mineral, uma atividade altamente impactante, do lado dessas áreas sensíveis, preocupa os ambientalistas.


No projeto de decreto legislativo, o senador Randolfe Rodrigues ressalta que o decreto que extingue a Renca põe em risco nove áreas protegidas que estão dentro dos limites da reserva entre elas o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, que é o maior parque de florestas tropicais do mundo. O documento alerta para a existência de comunidades indígenas vivendo dentro dessa reserva.

“Inadmissível, portanto, aceitar a medida, cujos efeitos ambientais serão irreversíveis, sem que haja ampla discussão com a sociedade civil, com as comunidades indígenas a serem afetadas e, especialmente com o Congresso Nacional, a quem a Constituição Federal delega a competência para legislar sobre essa matéria”, justifica o senador ao apresentar o decreto legislativo.


O senador pediu urgência na votação de seu projeto e afirmou que também recorrerá à Justiça Federal contra a extinção da Reserva Nacional de Cobre.

29% dos alimentos analisados pela Anvisa apresentam irregularidades

23/06/2010 15h38 - Atualizado em 23/06/2010 15h38


3.130 amostras de 20 alimentos foram analisadas pela agência em 2009.
Foram detectados resíduos de agrotóxicos e ingredientes não autorizados.

Do G1, em Brasília

Relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgado nesta quarta-feira (23) aponta alta presença de agrotóxicos nos alimentos – frutas, verduras, legumes e grãos - consumidos pelos brasileiros. Das 3.130 amostras de 20 alimentos coletadas pela agência em 2009, 29% apresentaram algum tipo de irregularidade, como resíduos de agrotóxicos acima do permitido e ingredientes ativos não autorizados.
Produto Total de amostras insatisfatórias
Pimentão 80%
Uva 56,4%
Pepino 54,8%
Morango 50,8%
Couve 44,2%
Abacaxi 44,1%
Mamão 38,8%
Tomate 32,6%
Beterraba 32%
Arroz 27,2%
Cenoura 24,8%
Repolho 20,5%
Cebola 16,3%
Laranja 10,3%
Manga 8,1%
Maçã 5,3%
Banana 3,5%
Feijão 3%
Batata 1,2%


Os casos mais problemáticos foram os do pimentão, com 80% das amostras insatisfatórias; a uva, com 56,4%; o pepino, com 54,8%; e o morango, que teve 50,8%. A cultura que apresentou melhor resultado foi a da batata com irregularidades em apenas 1,2% das amostras analisadas.


Os dados fazem parte do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Em 2009, o programa monitorou 20 culturas em 26 estados do Brasil. Das amostras coletadas em 2009, 26,9% foram rastreadas até o produtor ou associação de produtores, 5,2% até o embalador e 64,9% até o distribuidor. Somente 3% das amostras não tiveram qualquer rastreabilidade.



Irregularidades
Segundo o relatório, em 2,7% das amostras dos alimentos coletadas, foi detectada a presença de resíduos de agrotóxicos acima dos permitidos. “Esses resíduos evidenciam a utilização de agrotóxicos em desacordo com as informações presentes no rótulo e bula do produto”, explica Luiz Cláudio Meirelles, gerente de Toxicologia da Anvisa.


De acordo com a Anvisa, agrotóxicos que apresentam alto risco para a saúde da população são utilizados no Brasil sem levar em consideração a existência ou não de autorização do governo para o uso em determinado alimento.

Em 15 das vinte culturas analisadas foram encontrados ingredientes ativos em processo de reavaliação toxicológica junto à Anvisa, devido aos efeitos negativos desses agrotóxicos para a saúde humana. “Encontramos agrotóxicos, que estamos reavaliando, em culturas para os quais não estão autorizados, o que aumenta o risco tanto para a saúde dos trabalhadores rurais como dos consumidores”, afirma o diretor da Anvisa, Dirceu Barbano.


Nesta situação, chama a atenção a grande quantidade de amostras de pepino e pimentão contaminadas com endossulfan, de cebola e cenoura contaminados com acefato, e de pimentão, tomate, alface e cebola contaminados com metamidofós. Além de serem proibidas em vários países do mundo, essas três substâncias já começaram a ser reavaliadas pela Anvisa e tiveram indicação de banimento do Brasil.


De acordo com o diretor da Anvisa, são ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.


“Apesar de serem proibidos em vários locais do mundo, como União Européia e Estados Unidos, há pressões do setor agrícola para manter esses três produtos no Brasil”, afirma Barbano.


A Anvisa realiza a reavaliação toxicológica de ingredientes ativos de agrotóxicos sempre que existe algum alerta nacional ou internacional sobre o perigo dessas substâncias para a saúde humana. Em 2008, a Agência colocou em reavaliação 14 ingredientes ativos de agrotóxicos.  Entretanto, uma séria de decisões judiciais, também em 2008, impediram, por quase um ano, a Anvisa de realizar a reavaliação desses ingredientes.




Cuidados
Para reduzir o consumo de agrotóxico em alimentos, a Anvisa recomenda que o consumidor opte por produtos com origem identificada. Essa identificação aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com adoção de boas práticas agrícolas.


É importante, ainda, que a população escolha alimentos da época ou produzidos por métodos de produção integrada (que a princípio recebem carga menor de agrotóxicos). Alimentos orgânicos também são uma boa opção, pois não utilizam produtos químicos para serem produzidos.


Os procedimentos de lavagem e retirada de cascas e folhas externas de verduras ajudam na redução dos resíduos de agrotóxicos presentes apenas nas superfícies dos alimentos. “Os supermercados também tem um papel fundamental nesse processo, no sentido de rastrear, identificar e só comprar produtos de fornecedores que efetivamente adotem boas práticas agrícolas na produção de alimentos”, afirma Meirelles.

É impossível remover agrotóxicos dos alimentos



sexta-feira, 26 de junho de 2015




De vez em quando, as redes sociais desencavam uns assuntos mofados, um monte de gente curte e compartilha e com isso, certos mitos voltam. 
Com a crença em remover agrotóxicos dos alimentos, aconteceu o mesmo. É impossível remover agrotóxicos dos alimentos.
Receitas caseiras a base de água sanitária, água oxigenada, iodo, hipoclorito, bicarbonato, carvão ativado, vinagre, limão ou argila são, além de ineficazes, muitas vezes não recomendadas. Observe que o hipoclorito afeta a tireoide.

Os agrotóxicos são substâncias químicas ou biológicas normalmente utilizadas para combater possíveis pragas que podem vir a causar danos aos cultivos. Existem três tipos: herbicidas (combatem ervas daninhas), inseticidas (combatem pragas) e fungicidas (obviamente sobre fungos). Os agrotóxicos dividem-se basicamente em dois grupos de transmissão: por contato ou sistêmicos - os agrotóxicos sistêmicos, mais usados atualmente penetram no fruto desde a seiva e incorporam-se ao DNA do vegetal. Seu acúmulo no organismo leva ao câncer, alergias em geral, doenças generativas e desequilíbrios hormonais. Em gestantes, pode causar má formação fetal.


Higienizar os vegetais é fundamental para eliminar possíveis parasitas, contudo remove apenas a parte do agrotóxico usado nas plantações. Para eliminar parasitas em geral, o mais recomendado é deixar de molho em soluções à base de cloro ou cloreto de sódio e permanganato de potássio, produtos tradicionalmente à venda em supermercados e distribuídos gratuitamente em postos de saúde mantidos pelo SUS. Na ausência de ambos, soluções de limão ou vinagre diluídos em água resolvem perfeitamente.


O brasileiro já consome em média 5 litros anuais de agrotóxico, muitos proibidos em outros países ou adulterados e contrabandeados sem qualquer controle. Comprar orgânicos, além de ser melhor para a saúde, fortalece a agricultura familiar, mantém a terra nas mãos de pequenos produtores, não financia a agroindústria transgênica e claro, qualquer produtor de fertilizantes sintéticos, que não contaminam apenas os alimentos, mas também o solo e os lençóis freáticos do entorno.


Deixando seus orgânicos de molho, não esqueça de usar bacias, deixar em água corrente não vai cobrir toda a superfície e ainda desperdiçar mais água.



Trago abaixo dois artigos e deixo também a Nota Técnica de Esclarecimento sobre o Risco de Consumo de Frutas e Hortaliças cultivadas com Agrotóxicos divulgada pela ANVISA para baixar do link ou ler diretamente do meu slideshare.






Lavar alimentos pode ser inútil para tirar agrotóxicos, dizem especialistas


Defensivos agrícolas podem ficar dentro dos alimentos.

Instituto pede regras mais rígidas para controlar venenos.

Deixar vegetais de molho no vinagre antes de levá-los à mesa pode ser ótimo para matar micróbios, mas 

nem sempre vai funcionar quando se quer tirar agrotóxicos de frutas e verduras, relataram especialistas ouvidos pelo G1.

Em 15 de 20 culturas analisadas pela Anvisa foram encontrados ingredientes ativos em processo de reavaliação toxicológica junto à agência, como o endossulfan em pepino e pimentão; acefato em cebola e cenoura; e metamidofós em pimentão, tomate, alface e cebola.


"Dentre as medidas necessárias está a reavaliação toxicológica das substâncias pela Anvisa, uma vez que vários agrotóxicos utilizados no Brasil já foram proibidos em outros países, diante das evidências de seus riscos", comunicou a ONG em nota ao G1.


Para o engenheiro de alimentos Carlos Eduardo Sassano, professor da Universidade de Guarulhos, o problema seria resolvido se os agrotóxicos fossem utilizados da maneira correta. "Se fossem usados dentro dos padrões permitidos, não teria problema", defende.


Segundo ele, o consumo de alimentos orgânicos poderia ser uma boa alternativa, mas é difícil haver produção suficiente. "Estamos falando de uma sociedade moderna, onde a produtividade tem que ser alta. Por isso a gente não vislumbra agricultura sem agrotóxico."


O médico Angelo Trapé, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), discorda da opinião dos colegas. Segundo ele, as irregularidades encontradas pela Anvisa não mostram que haja perigo ao consumidor, pois a quantidade de agrotóxicos nos alimentos é muito pequena. "A população pode ingerir alimentos de maneira segura que não vai causar nenhum dano à sua saúde."


De 3.130 amostras coletadas pela agência, 29% apresentaram algum tipo de irregularidade.A dificuldade cresce nas situações em que há penetração da substância. “Nesse quadro, a fervura pode inativá-la, mas há agrotóxicos à base de zinco ou estanho, à base de metais, que são chamados estáveis”, afirma Wong. “Quando isso ocorre, o aquecimento não inativa, logo não reduz o perigo.”


Já existe no Brasil uma “indicação de banimento” para as três substâncias. Dirceu Barbano, diretor da Anvisa, afirmou na quarta-feira (23) que esses ingredientes causam problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer.


De acordo com Pignati, a estatísticas não mostram essas doenças relacionadas a agrotóxicos porque é difícil fazer exames para identificar substâncias tóxicas no organismo. "Aqui em Mato Grosso, se eu quiser fazer uma análise de suspeita de resíduos de agrotóxicos no sangue ou na urina, tenho que mandar a amostra para o Rio de Janeiro ou São Paulo".


Os fabricantes de defensivos agrícolas, por meio da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), defendem que os produtores rurais estão cada vez mais preocupados em aplicar corretamente os agrotóxicos.


"A Andef considera fundamental tranqüilizar a população quanto à segurança dos alimentos tratados com defensivos aplicados de acordo com as recomendações agronômicas e oficialmente registrados", afirmou a instituição em nota divulgada à imprensa.


A preocupação com resíduos tóxicos na comida ganhou força nesta quarta-feira (24), quando um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou alta presença de agrotóxicos nos alimentos brasileiros


Segundo Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) da Faculdade de Medicina da USP, “se o agrotóxico for de superfície, de aplicação limitada à parte externa do alimento, elimina-se o risco na maioria das vezes lavando bem”, diz. Os casos do morango e do tomate, por exemplo, poderiam ser “facilmente resolvidos” assim.


O médico Wanderlei Pignati, professor de Saúde Ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é mais cético em relação à água. "[Lavar os alimentos] não resolve praticamente nada. Vai eliminar o agrotóxico que tem na casca, mas o grande problema está dentro", afirma.


Segundo Wong, do Ceatox, a total eliminação de situações de risco depende do governo. “Aí, só fiscalização mesmo. Não tem como eliminar por lavagem ou fervura.”O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) defende regras mais rígidas para agrotóxicos. 


Remover agrotóxicos de alimentos, artigo de Roberto Naime

quinta-feira, 24 de agosto de 2017


Existe uma crença que boa lavagem, cloro ou iodo possam remover agrotóxicos dos alimentos. Pelo que se depreende, atualmente ocorre absorção dos agrotóxicos pelo metabolismo das culturas vegetais. Por isso, se imagina que seja tarefa impossível a remoção dos agrotóxicos dos alimentos.







Receitas caseiras a base de água sanitária, água oxigenada, iodo, hipoclorito, bicarbonato e carvão ativado, podem afetar a tireoide.
Os agrotóxicos são substâncias químicas ou biológicas normalmente utilizadas para combater possíveis pragas que podem vir a causar danos aos cultivos. São herbicidas que combatem ervas daninhas, inseticidas que combatem pragas e fungicidas que atuam sobre fungos e uma série de outras substâncias.





Os agrotóxicos são divididos basicamente em grupos de transmissão por contato ou sistêmicos. Os agrotóxicos sistêmicos, mais usados atualmente penetram no fruto desde a seiva e se incorporam ao ácido desoxirribonucleico (DNA) do vegetal. Logo, não podem ser removidos como resíduo físico. Seu acúmulo no organismo leva ao câncer, alergias em geral, doenças generativas e desequilíbrios hormonais. Em gestantes, podem ser teratogênicos e causar má formação fetal.





Higienizar os vegetais é fundamental para eliminar possíveis parasitas contudo, remove apenas parte ínfima dos agrotóxicos usados nos cultivos. Para eliminar micro-organismos biológicos e parasitas em geral, o mais recomendado é deixar de molho em soluções à base de cloro ou cloreto de sódio e permanganato de potássio, produtos tradicionalmente à venda em supermercados e distribuídos gratuitamente em postos de saúde mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na ausência de ambos, soluções de limão ou vinagre diluídos em água resolvem perfeitamente.





O brasileiro já consome em média 5 litros anuais de agrotóxicos, muitos dos quais proibidos em outros países, que são adulterados e contrabandeados sem qualquer controle. Consumir produtos orgânicos, além de ser mais recomendável para a saúde, fortalece a agricultura familiar, mantém a terra nas mãos de pequenos produtores, não financia a agroindústria de agrotóxicos e de transgênicos e qualquer produtor de fertilizantes sintéticos, que não contaminam apenas os alimentos, mas também o solo e os lençóis freáticos do entorno.





Deixar vegetais de molho no vinagre antes de levá-los à mesa pode ser ótimo para matar micróbios, mas nem sempre vai funcionar quando se quer tirar agrotóxicos de frutas e verduras, relataram especialistas ouvidos por sites de órgãos de comunicação como G1.





Em 15 de 20 culturas analisadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foram encontrados ingredientes ativos em processo de reavaliação toxicológica junto à agência, como o endossulfan em pepino e pimentão; acefato em cebola e cenoura; e metamidofós em pimentão, tomate, alface e cebola.





Para o engenheiro de alimentos Carlos Eduardo Sassano, professor da Universidade de Guarulhos, o problema seria resolvido se os agrotóxicos fossem utilizados da maneira correta. “Se fossem usados dentro dos padrões permitidos, não teria problema”, defende. Se questiona se existe maneira correta e adequada de manejar esta venenama.





Ocorre lembrar de experiência pessoal emblemática. Colaboradora do serviço de higienização de um grande hospital, referência no centro-oeste brasileiro, dentro de sua concepção humilde e sincera, certa noite numa ala destinada a pacientes com câncer terminal, fez constatação diagnóstica da maior relevância.





Indivíduos de origem europeia, expostos a substâncias cancerígenas desde a primeira revolução industrial, da máquina a vapor, estão exibidos ao contágio de substâncias químicas potencialmente cancerígenas. Aduziu que estes pacientes eram amplamente hegemônicos na referida ala hospitalar.
Cidadãos de origem afrodescendentes, segundo a colaboradora, costumavam ir a óbito por “unha encravada” numa clara alusão de um “chiste”, ”blague” ou pilhéria jocosa.





De 3.130 amostras coletadas pela agência, 29% apresentaram algum tipo de irregularidade. A dificuldade cresce nas situações em que há penetração da substância.





De acordo com o médico Wanderlei Pignati, as estatísticas não mostram essas doenças relacionadas a agrotóxicos porque é difícil fazer exames para identificar substâncias tóxicas no organismo. “Aqui em Mato Grosso, se eu quiser fazer uma análise de suspeita de resíduos de agrotóxicos no sangue ou na urina, tenho que mandar a amostra para o Rio de Janeiro ou São Paulo”.





Os fabricantes de defensivos agrícolas, por meio da Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF), defendem que os produtores rurais estão cada vez mais preocupados em aplicar corretamente os agrotóxicos.





“A ANDEF considera fundamental tranquilizar a população quanto à segurança dos alimentos tratados com defensivos aplicados de acordo com as recomendações agronômicas e oficialmente registrados”, afirmou a instituição em nota divulgada à imprensa.






A preocupação com resíduos tóxicos na comida ganhou força quando um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) indica a alta presença de agrotóxicos nos alimentos brasileiros.





Segundo Anthony Wong, diretor médico do Centro de Assistência Toxicológica (CEATOX) da Faculdade de Medicina da USP, “se o agrotóxico for de superfície, de aplicação limitada à parte externa do alimento, elimina-se o risco na maioria das vezes lavando bem”, diz. Os casos do morango e do tomate, por exemplo, poderiam ser “facilmente resolvidos” assim. Mas como já se viu, hoje os agrotóxicos empregados são predominantemente sistêmicos ou metabólicos.





O médico Wanderlei Pignati, professor de Saúde Ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), é mais cético em relação à água. Para ele, “lavar os alimentos não resolve praticamente nada. Vai eliminar o agrotóxico que tem na casca, mas o grande problema está dentro”, afirma.





Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para o arranjo social, é urgente, principalmente nesta exposição irresponsável a que se submete a vida humana.
Referência:


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.





Fonte: EcoDebate

Contratação para consultor: mercado de serviços ambientais


TERMO DE REFERÊNCIA PARA CONTRATAÇÃO DE CONSULTOR
Contexto

No âmbito da política ambiental há consenso de que, para a efetiva implementação da legislação florestal no Brasil, é necessário ir além das ações de comando e controle e executar medidas de fomento e inventivo de cunho econômico, tributário e outros que estimulem os proprietários e posseiros rurais a recuperarem ou manterem suas florestas. Estas medidas estão previstas na Lei n° 12.651 de 25 de maio de 2012, o novo Código Florestal.


O artigo 41 do Código Florestal determina a instituição do “Programa de Apoio e Incentivo à Conservação do Meio Ambiente, bem como para adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável, observados sempre os critérios de progressividade”.

Três categorias são previstas por esse normativo legal:
1)    Pagamentos ou incentivo a serviços ambientais;
2)    Compensação por medidas de conservação ambiental (por meio de linhas de crédito, política tributaria e outros);
3)    Incentivos associados com uso sustentável da floresta;


Embora a lei esteja em vigor desde 2012, esse artigo nunca foi regulamentado. Neste contexto, o IPAM está realizando a elaboração de uma proposta de minuta de decreto para a regulamentação do artigo 41 do Código Florestal junto com o Fórum de Secretários de Meio Ambiente dos estados Amazônicos, contando com a consultoria do Ludovino Lopes. Desde o início de 2017, esta proposta tem sido desenvolvida e discutida no Fórum. Neste processo, foi possível entender a necessidade de aprofundar o entendimento sobre alguns aspectos para efetivamente contribuir para a implementação dos instrumentos de fomento e incentivo, uma vez o artigo regulamentado, especificamente no que diz respeito ao Subprograma Mercado de Serviços Ambientais. Para isso devem ser consideradas experiências de outros países da América Latina, como o sistema de Pagamento por Serviços Ambientais da Costa Rica, seus desafios e lições aprendidas.


Objeto:
Contratação de consultoria especializada para analisar e propor a estruturação/ desenho de um Subprograma Mercado de Serviços Ambientais no âmbito do Programa Nacional de Apoio e Incentivo à Conservação do Meio Ambiente, previsto no Artigo 41 do Código Florestal – considerando os objetivos e diretrizes já propostos na minuta do decreto que visa regulamentar o mesmo (conforme subsídios a serem repassados pelo contratante).


Atividades:
1)    Análise de experiências em outros países da América Latina que instituíram um Mercado de Serviços Ambientais e as lições aprendidas;
2)    Entrevistas com atores-chaves para alinhamento das expectativas em relação a regulamentação de um Mercado Nacional de Serviços Ambientais no âmbito do Programa Nacional de Apoio e Incentivo à Conservação do Meio Ambiente previsto no Artigo 41 do Código Florestal;
3)    À luz de outras experiências em andamento e do texto da proposta que visa regulamentar o Artigo 41 do Código Florestal, recomendar um mecanismo eficiente que permita captar e aplicar recursos de financiamento para viabilizar a operacionalização do Subprograma Mercado de Serviços Ambientais – respeitando os objetivos e diretrizes já definidos no mesmo. Neste sentido, considerar os seguintes aspectos:


– Arranjo institucional  do mecanismo
– Gestão do programa
– Instrumentos para Integração entre sistemas subnacionais e federal
– Contabilidade
– Sistema de Plataformas de Cadastro e Informação
– Fontes de recursos a partir de instrumentos financeiros, instrumentos econômicos e instrumentos tributários
– Modelos contratuais
– Estratégia de integração com os outros subprogramas previstos no Programa Nacional de Apoio e Incentivo à Conservação do Meio Ambiente
Produtos e prazos de entrega:
1)      Relatório das atividades 1 e 2 – 45 dias após a assinatura do contrato;
2)      Apresentação da Primeira Versão do documento que contenha um desenho/subsídios de um Subprograma de Mercado de Serviços Ambientais no âmbito do Artigo 41 do Código Florestal – 70 dias após a assinatura do contrato;
3)      Entrega da Versão Final do documento – 90 dias após a assinatura do contrato.

Duração:
O trabalho deverá ser realizado de 16 de setembro de 2017 até 16 de dezembro de 2017. Período total: 90 dias.
Candidatos enviar proposta (incluindo o valor total do serviço considerando os encargos) e Curriculum Vitae para erika@ipam.org.br até 4 de setembro. O resultado será divulgado ao selecionado até o dia 12 de setembro.
Obs: custos com eventuais viagens serão cobertos pelo contratante.

Se candidate

Abolição de reserva na Amazônia afeta animais em extinção e terras indígenas


25.08.2017Notícias
O fim da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), assinada esta semana pelo presidente Michel Temer, abre um precedente perigoso: os conflitos socioambientais e fundiários inerentes a uma ocupação humana súbita e à extração mineral em uma região cercada de terras indígenas e unidades de conservação.

A Renca é uma área de 47 mil quilômetros quadrados de mata fechada entre os estados do Amapá e Pará – do tamanho do Espírito Santo ou oito vezes o Distrito Federal – criada em 1984 no apagar das luzes do governo militar, que não teve tempo de explorá-la, como era a intenção.

“Abrir uma área desse tamanho em uma região tão preservada e com essas características fundiárias é, de fato, temeroso”, alerta Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). A Renca está localizada em uma das áreas com maior riqueza predita de mamíferos brasileiros ameaçados de extinção. Esse é o caso, por exemplo, do peixe-boi-da-amazônia, espécie aquática ameaçada que já foi observada na Floresta Estadual do Paru, área que agora permite exploração mineral em seu interior. Atividades de mineração são especialmente danosas aos ambientes aquáticos e podem liberar metais pesados, causando intoxicação na população e biodiversidade local. Estudos do ICMBio já identificaram a altíssima contaminação de peixes por mercúrio em área vizinha.
O mapa mostra a altíssima prevalência de mamíferos ameaçados de extinção na Renca:
riqueza_spp
Ainda que o texto do decreto diga que “a extinção da Renca não afasta a aplicação de legislação específica sobre proteção da vegetação nativa, unidades de conservação da natureza, terras indígenas e áreas em faixa de fronteira“, há exemplos históricos sobre o impacto negativo que medidas como essa causam.

Em Roraima, entre 1986 e 1988, mais de 40 mil garimpeiros contaram com o apoio do governo para invadir as terras do estado e em especial o território ianomâmi, segundo relatório da Comissão Nacional da Verdade. O presidente da Funai, na época, era Romero Jucá, atual líder do PMDB no Senado. Como o documento descreve, “comunidades inteiras desapareceram em decorrência das epidemias, dos conflitos com garimpeiros, ou assoladas pela fome. Os garimpeiros aliciaram indígenas, que largaram seus modos de vida e passaram a viver nos garimpos. A prostituição e o sequestro de crianças agravaram a situação de desagregação social.” Estima-se que até um quarto dos ianomâmis tenham morrido por efeitos diretos ou indiretos do garimpo.

“Mesmo com as regras supostamente preservadas como diz o governo federal, o impacto de fora para dentro é enorme. Pode atrair sim invasão de terras, gerar contaminação e outros problemas conhecidos, sendo devastador para a região”, afirma Alencar. Reportagem especial da Agência Pública revela que, na Amazônia Legal, um terço das áreas indígenas tem processos minerários registrados no DNPM, que vão do desejo de explorar ouro, diamante e chumbo a minérios como cassiterita, cobre e estanho. Na região, a proporção é de uma terra indígena para cada dez processos minerários. Campeão nacional, o Pará concentra 50% desses processos em TIs já identificadas oficialmente pela Funai.

A área da agora extinta Renca engloba nove áreas protegidas: o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, as Florestas Estaduais do Paru e do Amapá, a Reserva Biológica de Maicuru, a Estação Ecológica do Jari, a Reserva Extrativista Rio Cajari, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru e as Terras Indígenas Waiãpi e Rio Paru d’Este.

Uma análise da ONG WWF revela que menos de 30% da Renca estará acessível à exploração dos recursos minerais. As regiões que apresentam contexto geológico favorável à mineração estão inseridas em áreas protegidas, que bloqueiam a extração mineral, o que deve estimular o conflito. Reportagem da BBC mostra que mineradoras canadenses souberam da extinção da reserva 5 meses antes do anúncio oficial.

No momento, são 28 títulos outorgados (autorizações de pesquisa e concessões de lavra) e 189 requerimentos de pesquisa prévios à criação da reserva que deverão ser analisados pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), que, de acordo com as regras publicadas por Temer, será substituído pela Agência Nacional de Mineração (ANM), uma troca vista com desconfiança por especialistas e que, tudo indica, tem a intenção expressa de acelerar processos travados.

Adolpho Melfi: “Precisamos de mais ações efetivas do poder público”


28.08.2017Notícias
 
Geólogo e doutor em Geociências pela Universidade de São Paulo (USP), onde é professor sênior e foi reitor de 2001 a 2005, Adolpho José Melfi é uma das principais referências acadêmicas no Brasil. Confira a entrevista com o conselheiro do IPAM, que cobra uma presença mais forte e constante da gestão pública para evitar desastres anunciados como o de Mariana, considerado o maior crime ambiental da história do Brasil, que contaminou toda a bacia do Rio Doce e o Oceano Atlântico, cobrindo um raio superior a 600km e que mostra os enormes riscos de uma fiscalização falha e leniente.

IPAM – Na sua visão, qual foi a maior conquista do Brasil em termos ambientais nos últimos anos?
Adolpho José Melfi – Considero que a maior conquista do Brasil foi o fato de que a nossa sociedade, de uma maneira geral, se conscientizou de que a questão ambiental é de suma importância passando a tomar medidas para proteger o ambiente (água, ar, resíduos, alimentação). Ao mesmo tempo que também está participando mais ativamente de grupos nas discussões que envolvem as questões ambientais.

IPAM – Em que áreas o Brasil e as pesquisas precisam avançar mais para garantir a conservação do ecossistema?
AJM – Para garantir a conservação do nosso ecossistema é evidente que mais pesquisas necessitam ser realizadas, porém não só as pesquisas precisam avançar. Precisamos ter ações mais efetivas por parte dos órgãos governamentais de fiscalização e prevenção dos desastres ambientais, muitos deles anunciados, como no caso de Mariana.

IPAM – Na sua opinião como professor, quais devem ser as atitudes dos atuais e futuros pesquisadores ambientais?
AJM – Os cientistas devem entender melhor o funcionamento e a dinâmica atual e passada do nosso planeta, com a finalidade de criar modelos de sua evolução, face aos impactos antrópicos que estão acontecendo, mais próximo da realidade.

IPAM – Como a Academia pode contribuir para melhores soluções ambientais que gerem resultado nas políticas públicas?
AJM – Privilegiar a realização de pesquisas interdisciplinares que nos possibilitem levar à implantação de políticas públicas factíveis para a solução dos problemas ambientais, seja para preservação do nosso meio ambiente, seja para criar melhor qualidade de vida para os serem humanos.

IPAM – Quais são os principais impactos das mudanças climáticas?
AJM – As mudanças climáticas podem apresentar impactos negativos para parte da humanidade, o que se reflete na biodiversidade, produção de alimentos, na saúde humana, qualidade de vida, etc. Os modelos existentes devem no mostrar de que forma as mudanças climáticas podem afetar diferentes regiões do globo. Isto envolve pesquisas que permitem antecipar os impactos com ações de mitigação ou de adaptação.