https://ipam.org.br/deep-learning-ajuda-cientistas-a-olharem-fogo-no-brasil-com-lupa/
Deep learning ajuda cientistas a olharem fogo no Brasil com lupa10.02.2021 • Notícias
Cerrado
é o bioma mais ameaçado do Brasil atualmente.
Um artigo científico publicado nesta semana por
pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da
Universidade de Brasília propõe uma nova abordagem para mapear as marcas do
fogo no Brasil. O trabalho, publicado
na revista especializada “Remote Sensing Applications: Society and Environment”,
utiliza deep learning para facilitar o processamento de
imagens sem perda na qualidade e na confiança da informação, e com uma
sensibilidade melhor às cicatrizes de queimadas deixadas no solo. Com isso, é
possível obter o mapeamento da área queimada com mais detalhe.
Com acurácia de 95%, o novo método detectou 115% mais áreas
queimadas no bioma do que o método utilizado pelo INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), e 57% mais área queimada do que o Modis Burned Area, da
Nasa. Essa diferença se deve ao uso de todas as imagens disponíveis do Landsat
(com resolução de 30 metros e frequência de 16 dias), que ainda têm melhor
resolução das obtidas com o sensor Modis (com resolução de 500 metros), e a
possibilidade de processar um grande volume de dados em um curto espaço de tempo.
Deep learning é uma forma de “ensinar” máquinas
a partir de redes neurais artificiais. Para desenvolver e validar o método, os
cientistas usaram imagens do satélite Landsat-8, amostras de treinamento e
algoritmos de deep learning, implementados no Google Earth Engine,
para avaliar quanto foi afetado por queimadas e incêndios florestais no Cerrado
em 2017, além de descobrir onde o fogo aconteceu: em vegetação nativa ou em
áreas com atividades agropecuárias.
“O desenvolvimento de uma nova metodologia para mapeamento
de áreas queimadas com uso de sensoriamento remoto e aprendizado de máquinas
permite um alto potencial para a construção de longas séries temporais de áreas
afetadas por fogo”, explica a pesquisadora do IPAM Vera Arruda, que liderou o
trabalho. “Essa linha de trabalho pode ser útil para estimar emissões de
carbono, impactos ambientais, analisar as interações entre o clima e as causas
ecológicas do fogo e desenvolver modelos preditivos de risco de incêndios,
fornecendo assim informações espaciais que auxiliam nas políticas públicas, no
manejo do fogo e em ações para a conservação.”
A nova abordagem já foi utilizada para calcular a evolução
da área queimada no Brasil entre 2000 e 2019, lançada
em dezembro pela iniciativa MapBiomas Fogo (http://plataforma.mapbiomas.org).
Segundo a análise, nos últimos 20 anos 1,5 milhão de quilômetros quadrados do
Brasil, ou cerca de 17,5% de seu território, queimou pelo menos uma vez.