segunda-feira, 30 de outubro de 2017

AUDIÊNCIA PÚBLIC ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DO DISTRITO FEDERAL . Comentários.


DATA: 28 DE OUTUBRO   DE 2017
LOCAL: CREA/DF

Prezado Senhor Secretário André Lima, prezados senhoras e senhores,

Nós, do Fórum das ONGs Ambientalistas do Distrito Federal, integramos o Conselho de Política de Meio Ambiente e o Conselho de  Recursos Hídricos do Distrito Federal.  As colocações que irei fazer em seguida em relação ao Zoneamento Ecológico Econômico do Distrito Federal  foram por mim expostas em ambos os conselhos na semana que passou.  


Gostaria de dizer aos presentes que sou Secretária Executiva do Fórum das ONGs Ambientalistas do Distrito Federal e que há mais de vinte anos lutamos para termos um instrumento ZEE que realmente seja  a matriz de informações ambientais que nos aponte o grau de integridade de nossos ecossistemas terrestres e aquáticos, que faça a necessária aderência dos demais instrumentos, quais sejam: de ordenamento territorial, PDOT e LUOS;  dos zoneamentos ambientais das Unidades de Conservação; e da área de tutela do Conjunto Urbanístico de Brasília, localizado na Bacia do Lago Paranoá.   

1.     Houve avanços na proposta do ZEE/DF desde a primeira audiência pública. Retiraram a proposta do PDOT de termos um  milhão de pessoas de frente para a RECOR  e Estação Ecológica do Jardim Botânico. Como havíamos dito, não havia ciência que justificasse tal descalabro; retiraram a ocupação urbana de todo o restante de Cerrado na área do Sítio Aeroportuário JK, posto que nem licença ambiental da INFRAMÉRICA existe; retiraram uma enorme mancha urbana de frente para a Estação Ecológica de Águas Emendadas, o que também não se justificava; retiraram a mancha urbana de dentro da Reserva Ecológica da Contagem, outro erro grosseiro. 

2.     Contudo, há ainda vários problemas que permanecem que precisam ser corrigidos. O primeiro é em relação à escala de trabalho e de disponibilização de informações para a sociedade. A comunidade continua sem se ver dentro do ZEE/DF.  Como o Fórum das ONGs teve acesso aos mapas digitais, o que deveria ser de domínio público, por toda a legislação afeta à obrigatoriedade da transparência pelo Poder Público, vimos que há zonas do ZEE que de um lado da estrada a proposta é de uso urbano e de outro uso rural. A pergunta que fica é: mas a unidade bacia hidrográfica não seria a norteadora das ocupações humanas? 

3.     A Reserva da Biosfera do Cerrado não se restringe a suas zonas-núcleo.  Sua zona de amortecimento, de 3km,  deve ser incluída e considerada no planejamento territorial do Distrito Federal. Isto está definido no Marco Estatutário do programa da UNESCO o Homem e a Biosfera e é compromisso do Plano de Lima (2015-2025);
4.     Não há nenhuma referência a proteção e grau de fragmentação das ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTES (APPs), Reservas Legais, florestas remanescentes de vegetação nativa, conforme definido na Lei Florestal n. 12.651/2012 e que caberia ao ZEE/DF.  Assim, áreas de Cerrado íntegro que estão nos interstícios de bairros como o ParkWay e que são corredores ecológicos naturais e de recarga de aquíferos, e que a comunidade luta para virarem bosques urbanos, nem ao menos são vistos pelo ZEE/DF.  

5.     Também não há  nenhum resultado que nos aponte as condições ambientais das bacias hidrográficas onde estão os produtores  de agricultura convencional e orgânica.  E isso foi dito pelo conselheiro da área rural na reunião do CONAM e CRH. E aqueles produtores rurais que se encontram pressionados pela expansão urbana, embora prestem um serviço ambiental de extrema valia para não piorar ainda mais as condições dos cursos d’água, como é o caso dos produtores rurais da ARIE JK. Logo, faltou também o ZEE/DF assumir na sua proposta a inserção da categoria periurbano, que inclusive faz parte da nova Agenda Urbana Habitat III;

6.     Por fim, em relação à aderência dos demais instrumentos, LUOS e a área de tutela do Conjunto Urbanístico de Brasília, que devem ser considerados pelo ZEE/DF, não há nenhuma referência explícita no trabalho.  O principal norteador para ambos os instrumentos  seria em relação à densidade populacional máxima por bacia hidrográfica. Embora se fale o tempo todo no ZEE/DF que a questão hídrica é o norteadora do trabalho, um dado básico seria termos o percentual de  áreas naturais e antrópicas pelo menos nas principais bacias hidrográficas,  para vermos a pressão humana sobre os sistemas hídricos. Logo, a sociedade não conhece os limites mínimos de adensamento populacional em cada unidade hidrográfica e, por conseguinte o grau de impacto ambiental da proposta da LUOS para os ecossistemas terrestres e aquáticos. 

7.     Assim, nos encontramos em um circulo vicioso onde temos a escassez hídrica, não sabemos as condições de integridade de nossos ecossistemas aquáticos e os limites de pressão antrópica de nossas bacias hidrográficas. E, em relação aos ecossistemas terrestres, desconhecemos os diferentes graus de pressão sobre as diversas unidades de conservação e se há ou não corredores ecológicos entre elas ou passíveis de serem criados. Todas essas respostas devem vir do Zoneamento Ecológico-Econômico do Distrito Federal. 

Obrigada


Mônica Veríssimo dos Santos


Secretária-Executiva do Fórum das ONGs Ambientalistas do Distrito Federal  


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Fórum Ambientalista do DF - Cultura e Cidadania
Brasília - DF

Prédios do Ibama e ICMBio são atacados no Amazonas

Prédios do Ibama e ICMBio são atacados no Amazonas

Por Vandré Fonseca
Print do vídeo de Waldir Adriano no Youtube.
Print do vídeo de Waldir Adriano no Youtube.

Manaus, AM -- Prédios de órgãos ambientais pegando fogo, viaturas tombadas e em chamas, casas e carros de servidores do Ibama atacados. O caos fechou a semana no município de Humaitá (AM), a 675 quilômetros de Manaus, com a reação de garimpeiros e parte dos moradores à Operação Ouro Fino, contra o garimpo ilegal no Rio Madeira.

O ataque ocorreu quando as equipes estavam em campo. Houve protestos nas ruas da cidade, contra a operação. Os prédios do Ibama e Instituto Nacional de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e viaturas dos dois órgãos foram incendiados. Houve tentativa de destruir também o prédio do Incra, onde funciona o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam).

Um servidor e um vigia permaneciam no prédio do Ibama no momento no momento do ataque e conseguiram sair sem ferimentos. Ninguém ficou ferido, mas servidores dos órgãos ambientais precisaram buscar abrigo em unidades das Forças Armadas.

Fotos e vídeos com os prédios e viaturas em chamas foram divulgados pelo jornalista Altino Machado em seus perfis nas redes sociais. Os vídeos mostram também  pessoas comemorando o ataque. De acordo com a publicação dele, os servidores dos órgãos ambientais estavam pedindo ajuda da Polícia Federal. Outro vídeo, veiculado pelo You Tube, mostra o protesto nas ruas da cidade.
Humaitá fica no Sul do Amazonas, uma região onde se acumulam agressões ao Meio Ambiente, que vão desde o desmatamento à extração ilegal de ouro. Esta semana, Ibama, ICMBio, Marinha, Exército e Força Nacional iniciaram a Operação Ouro Fino, para combater o garimpo no Rio Madeira, uma atividade que se espalha desde Porto Velho (RO) até Novo Aripuanã (AM), centenas de quilômetros rio abaixo.

Para o superintendente do Ibama no Amazonas, José Leland Juvêncio Barroso, milícias organizadas estão por trás do ataque. “É uma região de fronteira agrícola, onde o Ibama tem intensificado a fiscalização”, afirma Leland. “Veio gente de fora e financiou isso, para desestabilizar o estado”, sustenta.

De acordo com ele, 45 balsas já haviam sido apreendidas quando ocorreu o ataque. Elas estavam sendo desmontadas para evitar que voltassem a ser usadas pelos garimpeiros.


A coordenadora regional do ICMBio no Amazonas, Keuris Kelly Souza da Silva, havia deixado Humaitá pouco antes dos ataques. “Nós só estamos fazendo nosso trabalho”, afirmou por telefone. “É uma atividade (garimpo) ilegal, que sempre foi ilegal e continua ilegal, mas tem gente importante iludindo os garimpeiros, dizendo que vai ser regularizada”, afirmou por telefone.


O sensacionalismo para ocultar a inoperância e incapacidade para operar um sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais nas unidades de conservação do país.

O sensacionalismo para ocultar a inoperância e incapacidade para operar um sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais nas unidades de conservação do país.
Paulo Cezar Mendes Ramos PhD
Analista ambiental aposentado do ICMBio

Estamos assistindo nos noticiários televisivos e nas redes virtuais, notadamente no facebook, informações e afirmações carregadas de emoções por parte de amantes da Chapada, de voluntários amadores e de posturas nitidamente defensivas por parte de gestores do ICMBio.  


Expressões como, “nunca vimos incêndio tão destrutivo”, por parte brigadistas que estão há apenas três anos na área do parque nacional e que não conhecem a história do fogo no parque nacional.
Da população que tem grande apreço pelo parque nacional, leiga sobre o tema dos incêndios florestais se aceitam afirmações emocionadas.


Entretanto, certas posturas deveriam ser evitadas por parte dos especialistas em emergências ambientais do ICMBio.
Este incêndio não é ou foi o maior incêndio florestal na história dos incêndios florestais em unidades de conservação do Brasil e, também, não é o maior ou pior incêndio ocorrido no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.


O PN da Chapada dos Veadeiros já queimou tanto quanto ou mais que nesta temporada de estiagem por várias vezes.  É sensacionalismo e talvez estratégia defensiva expor este incêndio como o maior, o pior e sob condições climáticas extremas. Além disso, afirmar que o ICMBio está respondendo ao evento com a maior força de combate, jamais utilizada antes é falacioso. Isto é inverídico e me faz imaginar que existe alguma culpa subjacente em tais afirmações, que certamente são pensadas.


Se formos verificar o tempo de  resposta efetiva para combater este incêndio vamos mostrar que tudo foi muito gradual e tardio. Se toda a força de combate a que se refere o Coordenador de Emergências Ambientais do ICMBio estivesse atendendo ao incêndio desde sua detecção o quadro poderia ser outro.


Pelo rápido desenvolvimento deste incêndio pode-se aferir que não houve pronto atendimento e que os recursos se acumularam quando o incêndio já era demasiadamente extenso, intenso e impossível de ser contido com o recurso disponível.


O combate inicial falhou, portanto a detecção falhou também. Combater focos iniciais de forma rápida é uma estratégia fundamental para o êxito do combate. Se o incêndio se propagou muito, significa que o combate inicial falhou ou não aconteceu.


O ICMBio não faz esta autocrítica, mas tenta justificar a sua fragilidade. É notória a falta de pessoal. O parque nacional foi ampliado para mais de 200 mil hectares, mas não possui brigadistas suficientes para prevenir e combater incêndios nem nos antigos sessenta mil hectares, como mostra a situação deste incêndio.


Ver um chefe de parque nacional agoniado, suplicando a sociedade recursos para fazer o que é dever do ICMBio, por total falência. O parque não tem servidores nem recursos financeiros para funcionar adequadamente.  O desmonte do ICMBio é visível e notório. O fogo mostra a realidade da instituição, suas insuficiências, sua falta de meios e organização, incapaz para fazer frente a este desastre ambiental.


Os gestores ficam calados todo o tempo sobre a caótica situação da instituição. Aceitam sem questionar aos seus superiores e ao governo golpista e corrupto, que fez piorar demais a situação do ICMBio, do IBAMA  e dos serviços públicos em geral.

Surge então o incêndio e levanta a cortina silenciosa. O incêndio não permite que se esconda o estado de pobreza institucional do ICMBio.
Desesperados os gestores mantém a postura defensiva. “Este incêndio é o maior da história. Criminosos estão agindo e aumentando o incêndio. Nunca tivemos uma estrutura de combate tão grande para combater um incêndio em uma unidade de conservação federal ou num parque nacional. O clima está mais extremo que jamais observado”. Uma ótima estratégia para não discutir suas falências, suas incapacidades de resposta.

É claro que os incêndios são criminosos. Quase sempre o são.
Pesa não somente o crime ou o clima seco, mas a incapacidade de prevenir, de detectar em tempo e de reagir com o combate efetivo. O crime é retórico. Todos os anos os proprietários da região que dependem de pastos nativos usam o fogo para alimentar o gado com a rebrota da vegetação. Esta queimada se transforma em grandes incêndios, que não raro atingem o parque nacional.  Incendiários não são novidade. Muitos incêndios neste parque nacional iniciaram-se dentro dos limites, prováveis caçadores, antes mesmo da ampliação do parque.

Quanto à resposta ao incêndio, já expressei que tudo indica ter ocorrido demora na detecção e no ataque aos focos iniciais. Este incêndio parece ter atingido o parque nacional distraído e sem os meios necessários.

Os meios aéreos para combate e suporte, aviões e helicópteros não existiam na área e levaram bastante tempo para serem acionados e para operar na área do incêndio.

Os helicópteros são de grande operacionalidade nos incêndios, porque podem transportar equipes e lançar água. Os aviões Airtractor só funcionam se estiverem estacionados no parque nacional ou proximidades, prontos para contribuírem com os brigadistas, lançando água no ataque inicial. De nada ou quase nada servem para combater um incêndio que se expandiu demasiadamente como o atual. Tornam-se despesas altas e ineficientes.

O Serviço Florestal americano tem como rotina relatar os incêndios nos mínimos detalhes para melhorar o sistema. No Brasil o comum é o que vemos os técnicos responsáveis fazendo, que é ocultar as falhas e jogar todas as responsabilidades para terceiros, ou seja, os criminosos e o clima.

Quero finalizar responsabilizando ao ministro do meio ambiente e ao presidente do ICMBio que permitiram sem lutar, os cortes absurdos de recursos do ICMBio. Coloco os incêndios florestais, mal assistidos nas unidades de conservação federais, nas contas do Temer e de seu ministro do meio ambiente golpistas. Não menos responsáveis são os gestores do ICMBio que aceitam sem brigar, mantendo seus cargos, mesmo com o desmonte da instituição promovida por este governo corrupto e golpista.


Paulo Ramos