Noite de sábado (15). Quarto dia em que estudantes ocupam as ruas de mais de uma centena de cidades. O presidente da Venezuela justifica em discurso a suspensão dos serviços de transportes coletivos em Caracas e a censura: “Foi uma decisão de Estado.” Na cena, ao fundo, a bandeira brasileira se destaca em par com a venezuelana.
Pela segunda vez no dia, Nicolás Maduro diz que não vai renunciar. Enfático, diante de uma plateia de representantes do Mercosul, acrescenta: “O meu governo vai mais além da legitimidade política, eleitoral e constitucional. Tem uma legitimidade abarcante, de várias dimensões.”
O domingo (16) termina com a confirmação de três mortes a bala — dois estudantes e um chefe de milícia chavista, aparentemente confundido pela polícia. Organizações de defesa dos direitos humanos relatam dezenas de feridos e divulgam casos de tortura de presos.
Nessas 48 horas, o governo Dilma Rousseff subscreveu duas notas diplomáticas, divulgadas com alegria pelo governo Maduro.
Na primeira, com o selo da Unasul,
atribui-se aos manifestantes “a intenção de desestabilizar a ordem democrática”.
Na segunda, com o carimbo do Mercosul, qualificam-se os protestos como “ações
criminosas” destinadas a “disseminar a intolerância e o ódio como instrumento de
luta política”.
Uma das novidades das manifestações na Venezuela é a inexistência de líderes visíveis. Pela primeira vez, caciques do chavismo e opositores foram atropelados. Só não vê quem não quer.
Ao subscrever a criminalização dos protestos dos estudantes venezuelanos, Dilma esqueceu seu mea culpa sobre as manifestações no Brasil, em setembro: “Devemos ter humildade e autocrítica para admitir que existe um país com problemas urgentes a vencer, e a população tem todo o direito de se indignar com o que existe de errado e cobrar mudanças.”
A Venezuela enfrenta aguda escassez de alimentos, remédios e produtos básicos como papel higiênico. Maduro há muito perdeu a bússola na economia, na política e nos movimentos sociais, inclusive nas facções chavistas, cada dia mais fragmentadas.
Uma das novidades das manifestações na Venezuela é a inexistência de líderes visíveis. Pela primeira vez, caciques do chavismo e opositores foram atropelados. Só não vê quem não quer.
Ao subscrever a criminalização dos protestos dos estudantes venezuelanos, Dilma esqueceu seu mea culpa sobre as manifestações no Brasil, em setembro: “Devemos ter humildade e autocrítica para admitir que existe um país com problemas urgentes a vencer, e a população tem todo o direito de se indignar com o que existe de errado e cobrar mudanças.”
A Venezuela enfrenta aguda escassez de alimentos, remédios e produtos básicos como papel higiênico. Maduro há muito perdeu a bússola na economia, na política e nos movimentos sociais, inclusive nas facções chavistas, cada dia mais fragmentadas.
Até agora só apresentou uma resposta à sociedade:
radicalização na
repressão, cujo arsenal em parte provém do Brasil.
É pouco provável que a Embaixada do Brasil em Caracas não possua as mesmas informações que levaram a ONU, a OEA e a União Europeia a reagir com apelos à “justiça para os mortos” e ao “respeito pelo direito de protesto e liberdade de expressão”.
A única saída possível na crise venezuelana é a política, porque, como diz Hans Dieterich, ex-conselheiro de Hugo Chávez, o país realmente está à beira “de uma guerra civil”.
Em situações assim, vizinhos ajudam no papel de mediadores. Dilma descredenciou o Brasil, ao preferir a aliança com um governo que persiste no sequestro da liberdade.
Há momentos que são decisivos na biografia de líderes políticos, ensina Óscar Arias, ex-presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz (1987). Domingo, ele escreveu:
“Não vou me calar quando se vulneram os direitos humanos. Não vou me calar quando só a existência de um governo como o da Venezuela é uma afronta à democracia. Não vou me calar quando se põe em xeque a vida de seres humanos, por defender seus direitos de cidadania. Já vivi o suficiente para saber que não há nada pior do que ter medo de dizer a verdade.”
18 de fevereiro de 2014
José Casado, O Globo
É pouco provável que a Embaixada do Brasil em Caracas não possua as mesmas informações que levaram a ONU, a OEA e a União Europeia a reagir com apelos à “justiça para os mortos” e ao “respeito pelo direito de protesto e liberdade de expressão”.
A única saída possível na crise venezuelana é a política, porque, como diz Hans Dieterich, ex-conselheiro de Hugo Chávez, o país realmente está à beira “de uma guerra civil”.
Em situações assim, vizinhos ajudam no papel de mediadores. Dilma descredenciou o Brasil, ao preferir a aliança com um governo que persiste no sequestro da liberdade.
Há momentos que são decisivos na biografia de líderes políticos, ensina Óscar Arias, ex-presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz (1987). Domingo, ele escreveu:
“Não vou me calar quando se vulneram os direitos humanos. Não vou me calar quando só a existência de um governo como o da Venezuela é uma afronta à democracia. Não vou me calar quando se põe em xeque a vida de seres humanos, por defender seus direitos de cidadania. Já vivi o suficiente para saber que não há nada pior do que ter medo de dizer a verdade.”
18 de fevereiro de 2014
José Casado, O Globo