Nos quatro primeiros dias do mês,o sistema acumula 43,2 milímetros de chuvas, volume semelhante ao mês de outubro
O
nível dos reservatórios do Sistema Cantareira caiu hoje (5) para 11,8%
da capacidade total, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado
de São Paulo (Sabesp). O Cantareira retoma, assim, o ritmo de queda,
mesmo com a chuva que atingiu São Paulo nesta madrugada. O nível havia
ficado estável em 11,9% ontem (4) e segunda-feira (3).
O
volume médio de chuvas sobre as cabeceiras ficou em 3,6 milímetros,
menos que do que o de ontem, quando o manancial recebeu 15,7 milímetros.
Nos quatro primeiros dias do mês, o Cantareira já acumula 43,2
milímetros de chuvas – volume semelhante a todo o mês de outubro, quando
choveu 42,5 milímetros.
Como
principal sistema de São Paulo, o Cantareira atende a 6,5 milhões de
pessoas nas zonas norte, central, leste e oeste da capital, e os
municípios da região metropolitana de Franco da Rocha, Francisco Morato,
Caieiras, Osasco, Carapicuíba, São Caetano, Guarulhos, Barueri, Taboão
da Serra e Santo André. A água do Cantareira é distribuída também a uma
população de 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí.
Outro sistema em situação crítica, o Alto
Tietê, também registrou queda, ao passar de 8,7% ontem para 8,6% hoje. A
precipitação nesse manancial, que é o segundo maior do estado, chegou
ontem a 3,4 milímetros. O acumulado nos quatro primeiros dias do mês
soma 44,5 milímetros de chuvas, mais que o dobro registrado em todo o
mês passado: 20,1 milímetros.
Entre os demais sistemas de
abastecimento, apenas o Alto Cotia elevou a capacidade de ontem para
hoje, ao variar de 29,6% para 29,9%. A precipitação na cabeceira desse
manancial alcançou 15 milímetros ontem. O Guarapiranga caiu de 37,9%
ontem para 37,5% hoje. O Sistema Rio Claro reduziu a capacidade de 40,7%
para 40%. O Rio Grande se manteve em 67,9%.
Por
Anderson Passos- iG São Paulo | - Atualizada às
Lideranças tucanas afastam tese da defesa do impeachment e se mostram contrários a intervenção militar no País
Cativos
do voto anti-PT no segundo turno presidencial deste ano, o PSDB saiu do
processo eleitoral levando a simpatia da turma mais à direita,
defensora, por exemplo, do impeachment da presidente Dilma Rousseff
ou da intervenção militar, tese propagada em ato que reuniu duas mil
pessoas na Avenida Paulista no último final de semana em São Paulo.
Passadas menos de três semanas da eleição, os próprios tucanos se
apressam para se afastar do rótulo conservador.
“Respeito
a democracia. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de
retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Fui o
candidato da liberdade, da democracia”, reagiu o candidato derrotado na
sucessão presidencial Aécio Neves ao ser recebido por correligionários e militantes no Senado Federal nesta terça-feira (4).
Aécio
enfatizou que o papel do PSDB será o de fazer uma oposição sem tréguas,
mas com disposição para o diálogo em projetos de interesse do País. "Se
querem dialogar que apresentem propostas que interessem aos
brasileiros. No mais, vamos cobrar eficiência, transparência dos gastos
públicos e vamos cobrar que as denúncias de corrupção sejam apuradas",
sinalizou Aécio.
No dia anterior, Xico Graziano, liderança próxima
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi a uma rede social
combater a tese do impeachment e da volta dos militares propagada nas
ruas de São Paulo e foi chamado de “petralha”, entre outros insultos.
“De
qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que
vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a
ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar
errado, não eu!”, exclamou o tucano.
Graziano voltou a postar
sobre o assunto nesta quarta-feira (5) se dirigindo aos truculentos que
lhe atacaram. “A truculência dessa cambada fascista que me atacou passa
de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava
certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade
para esconder seu autoritarismo.
Nesse sentido, se aproximam daqueles
esquerdóides idiotas que querem ‘botar fogo’ no país. Ambos esses
grupos, extremistas pela esquerda ou pela direita, são intolerantes e
autoritários. Desprezam o regime democrático, ignoram as instituições
republicanas. Querem impor, na marra, suas convicções. Eu lhes digo: não
passarão.”
Ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados,
Duarte Nogueira (SP) diz que seu partido não concorda com o rompimento
das garantias constitucionais ou qualquer retrocesso.
Sobre
a manifestação na Avenida Paulista, ele comentou não saber “se esse
movimento é de esquerda ou de direita” para, a seguir, tecer comentários
sugerindo que o eleitor foi privado de informações que poderiam dar a
vitória a Aécio na corrida presidencial. “A sociedade brasileira não
concorda com o roubo, a corrupção, a perda das garantias sociais. Nós
estamos desde às 20h15 do último domingo (26 de outubro) fazendo
oposição, mobilizando a imprensa e a sociedade civil. Estamos sendo
porta-vozes da condução equivocada do País. Terminada a eleição,
passaram a ser conhecidos pela população o déficit na balança comercial
brasileira, os graves problemas na economia. O povo é sábio desde que
tenha todas as informações.”
Questionado se seu partido migrou do
centro para a direita, Duarte Nogueira rejeita a tese. “Acho que é muito
cedo para discutir. Mas o PSDB sabidamente é um partido de
centro-esquerda, o que está longe dessa abordagem conservadora. O PSDB
defende um parlamentarismo plural. Todo extremo tende a ser autoritário.
Essa opinião [da migração tucana à direita] é mais uma forçação de
barra do PT em relação a nós”, resume.
Direita abraça o PSDB
O
cientista político do Insper Carlos Melo tem sua tese em relação a uma
provável guinada à direita dos tucanos. "Não acho que o PSDB migrou para
a direita. A direita é que abraçou o PSDB. Não o contrário", afirma.
O
estudioso aponta que o partido adotou um discurso mais conservador na
disputa presidencial de 2006, quando o atual governador paulista Geraldo
Alckmin era o candidato do partido na disputa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Houve
um debate no segundo turno em que o Alckmin atacou com muita energia o
Lula. Essa adoção de um discurso antipetista acabou acontecendo em 2010
com o Serra e também teve reflexos na campanha do Aécio em 2014, quando
ele cunhou a expressão 'mar de lama' em um debate. Se o avô dele
[Tancredo Neves] ouvisse isso, sacudiria no túmulo", diz.
Para
Melo, o PSDB ocupou um espaço da direita antes preenchido pelo
malufismo. "Quando o antigo PDS se desmembrou, o malufismo levou consigo
a postura ideológica, enquanto o DEM acabou se mostrando extremamente
pragmático. Era uma direita ideológica de mentira que, por anos
sucessivos, só se manteve porque estava presente na máquina estatal",
lembra.
Ao
começar a comer, meu prato é igual ao que já comi inúmeras vezes em
restaurantes asiáticos. Um emaranhado de massa bezuntada em óleo em meio
a fatias de galinha, com aroma de alho e gengibre. Mas aos poucos vou
percebendo olhos. Glóbulos escuros em uma cabeça amarelada - tudo
conectado a um corpo.
Não os tinha percebido antes, mas agora vejo que estão por toda a parte - meu macarrão está cheio de insetos.
Se
não tivesse sido alertada, talvez tivesse passado mal. Mas estou
fazendo parte de uma experiência na universidade de Wageningen, na
Holanda. O instituto de culinária da universidade, liderado por Ben
Reade e Josh Evans, tem o desafio de conseguir transformar insetos em
pratos saborosos.
Eu e outros três gastrônomos estamos presentes
para testar alguns dos pratos preparados. Cada um recebe um prato
principal diferente. O meu é um macarrão com gafanhotos - muitos deles
ainda estavam vivos pela manhã. O prato também tem uma pitada especial
de larva de mosca.
No dia seguinte, Reade e Evans participam de um
seminário mundial em entomofagia - a prática de comer insetos - com
mais de 450 delegados.
Segundo os especialistas presentes, no ano
2050 o planeta terá nove bilhões de pessoas. O desafio maior das
próximas décadas será suprir o mundo, sobretudo em países de renda baixa
ou média, com proteínas animais. Para eles, o planeta não teria
condições ambientais de sustentar um aumento da pecuária tradicional.
A
solução ecológica seria comer insetos, que são ricos em ferro e zinco. A
criação de insetos requer muito menos água do que gado. No caso dos
grilos, a quantidade de proteína é 12 vezes maior do que o encontrado em
um bife.
Os insetos também poderiam ser usados como substituto
das rações animais baseadas em soja, outro produto cujo cultivo tem alto
impacto ambiental.
Além disso os insetos se
alimentam de excrementos. Os próprios insetos podem ajudar a reciclar o
material orgânico do planeta - enquanto produzem proteína comestível.
Os
especialistas reunidos na conferência imaginam um mundo onde os
supermercados terão alas especiais com produtos a base de insetos, e
lanchonetes servirão "inseto-burgueres". Será que chegaremos a tanto?
Comida antiga
Entomofagia
é comum em várias partes do mundo. Segundo a FAO, dois bilhões de
pessoas no planeta se alimentam de insetos. No Japão, as larvas de
vespas são populares; na Tailândia, formigas também são alimentos
comuns. Em vários países africanos, cupins são fritos, defumados ou
cozidos a vapor. Atualmente, há 1,9 mil espécies de insetos comestíveis.
Então
por que temos tanto nojo dos insetos? A resposta mais simples, segundo o
psicólogo Paul Rozin, da Universidade da Pennsylvania, é que os insetos
são animais.
Qualquer animal que come outro - seja ele humano,
gorila, iguana ou barata - tem hábitos alimentares restritos, e costuma
se alimentar de uma quantidade pequena de espécies na natureza. No caso
dos humanos, a associação direta que se faz com insetos é lixo,
decomposição e doença.
A empresária Laura D'Asaro enfrenta o
desafio de colocar insetos na alimentação diária dos americanos - e
ainda fazê-los pagar por isso. Ex-vegetariana, ela descobriu os
"prazeres" da entomofagia na Tanzânia em 2011. Hoje ela tem uma linha de
produtos alimentícios baseados em insetos.
Ela conta que para
reduzir o asco de muitos consumidores o segredo é vender produtos à base
de insetos - e não o animal "in natura". Sua empresa, a Six Foods,
vende salgadinhos à base de uma farinha feita de grilos.
Alguns produtos têm até mesmo o
nome do inseto distorcido de alguma forma, para evitar rejeições com
base no nojo. Um dos alimentos é feito à base de larvas que vivem em
colmeias. A Six Food não menciona a palavra "larva" com destaque em seus
rótulos, preferindo o termo "inseto do mel".
Nos últimos anos,
diversas empresas surgiram para tentar explorar esse nicho de mercado.
Na França, existe a Ynsect; nos Estados Unidos, a Enviroflight; na
Holanda, a Protix. Na África do Sul, um empresário está criando uma
grande "fazenda de moscas", que pretende produzir sete toneladas de
"MagMeals" - refeições a base de "maggots" (larvas de mosca).
Mas a
resistência do público ainda é grande. Para muitos, a ideia de comer
insetos só parece vantajosa se comparada a experiências horríveis. Uma
pesquisa conduzida por Rozin mostrou que 75% dos americanos preferem
comer insetos do que carne de cabra crua. Para 53%, comer insetos é
melhor do que aguentar 10 minutos de dor moderada.
Larvas e baratas estão prestes a chegar ao seu prato. E são
essenciais para o futuro da alimentação. Conheça sete razões (e três
receitas) que podem convencer você a encarar estes insetos do mesmo
jeito que olha para o arroz e o feijão
por Luiz Romero
1. O nojo que você sente é relativo
Insetos podem, sim, ser bons substitutos para bois, porcos e frangos. No
"pasto", eles ajudariam a economizar água e custariam menos, além de
serem mais nutritivos do que outras carnes. Tudo muito legal se não
fosse um detalhe: imagine como seria mastigar uma larva. Sentir a
textura do bicho e o jeito que ele explode dentro da sua boca. Ruim?
Saiba que o nojo que você sente é natural, mas pode ser domesticado.
Tanto que existem provas de gente capaz de comer insetos espalhadas pelo
mundo todo. Dos índios brasileiros, que adoram formigas, aos glutões
japoneses, viciados em gafanhotos, passando por povos do México e
aborígenes da Austrália. Você também pode dizer que a questão não está
só na cabeça, mas no próprio bicho: eles são sujos. Bom, nem sempre. Clique na imagem abaixo e veja uma galeria com algumas iguarias prontas para serem comidas: 2. Insetos não são sempre sujos
Está vendo as larvas deste macarrão? Elas cresceram protegidas da
sujeira, comendo ração em fazendas especializadas na criação de insetos.
Para Gilberto Schickler, um dos responsáveis pelo desenvolvimento deste
gado meio diferente, nenhum animal é sujo por natureza. "Tudo depende
do jeito que você cria. Porcos, por exemplo, podem crescer em granjas ou
em lixões." Schickler trabalha na Nutrinsecta, que forneceu os bichos
mostrados nesta matéria. Com planos de produzir insetos para consumo
humano, a empresa de Minas Gerais foi a primeira do Brasil a consultar o
Ministério da Agricultura sobre o assunto. Agora, planejam abrir um
restaurante na região para divulgar a iguaria.
No mundo Veja as regiões onde insetos são mais populares. E quantas espécies eles podem comer. África Espécies comestíveis - 524 Países que consomem - 62% Ásia Espécies comestíveis - 349 Países que consomem - 58% Oceania Espécies comestíveis - 152 Países que consomem - 56% América Espécies comestíveis - 679 Países que consomem - 41% Europa Espécies comestíveis - 41 Países que consomem - 21% Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
3. Insetos estão cheios de energia
Adicione um fator importante à limpeza: eles são ricos em proteína. E
costumam carregar mais deste nutriente do que outros bichos. Compare:
enquanto a carne de boi é composta por apenas 28% de proteína, o corpo
de moscas e mosquitos chega a quase 59%, e libélulas têm 58% (veja mais
no gráfico). "Eles também são ricos em vitaminas, principalmente a B, e
minerais, como ferro e cálcio", enumera Marcel Dicke, professor de
entomologia da Universidade de Wageningen, na Holanda. Para terminar,
possuem ácidos graxos essenciais, um tipo de gordura também encontrada
em peixes, que ajuda nosso corpo a metabolizar energia.
Quantidade de proteína Moscas têm quase o dobro de proteínas que bois. Veja a quantidade de nutrientes de outros insetos. Moscas e mosquitos - 59% Libélulas - 58% Percevejos - 55% Cigarras e cigarrinhas - 51% Besouros - 50% Formigas E abelhas - 47% Borboletas e mariposas - 45% Baratas e grilos - 44% Boi - 28% Porco - 25% Frango - 23% Quantidade de ração A mesma quantidade de alimento produz muito mais carne de inseto do que carne de boi. 10 kg de ração 1 kg de carne de boi 8 kg de carne de inseto Desperdício de carne Boa parte dos animais é perdida. Mas, em média, apenas 20% do corpo dos insetos não vai para o prato. Inseto - 20% Porco - 30% Frango - 35% Boi - 45% Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
4. Eles não são sempre nojentos
Está mais convencido? Pronto para encarar uma pizza de larvas? Se a
resposta for negativa, olhe para o pote branco bem ao lado da pizza, com
uma colher dentro. A proteína, as vitaminas e a gordura estão todas
neste potinho, porque isso é larva de mosca. E você nem desconfiou. Até
mesmo uma inofensiva porção de pão de queijo pode ter baratas dentro.
Não, você não vai encontrar asas ou patas no meio da mordida. Nesse
caso, o bicho é esquentado, triturado e transformado em pó antes de ser
misturado à massa. Isso faz com que todos os nutrientes do inseto fiquem
escondidos na comida. Ou seja, a repulsa causada pela aparência pode
ser evitada com um simples triturador. A Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação acredita nesta farinha. E defende que
seja usada para reforçar a comida distribuída a povos que sofrem com a
falta de comida. 5. Criar insetos é mais barato
Além de mais nutritivos do que outros tipos de carne, é mais barato
criar insetos do que gado. "Por terem sangue frio, eles precisam de
menos comida", explica Lynn Kimsey, professora de entomologia da
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, "e essa ração é mais
simples e barata de produzir". Além disso, os bichinhos ocupam menos
espaço e se reproduzem mais rápido do que os outros animais que estamos
acostumados a ver em pastos. E, no final do processo, são mais bem
aproveitados. Afinal, muitas partes do boi não são consumidas - pense em
pés, dentes, ossos e pele. Enquanto isso você pode mandar uma larva
numa mordida, de uma vez só. 6. Bifes serão como caviar
Ainda prefere arroz e bife? No futuro, talvez esta não seja uma boa
escolha. Porque, em algumas décadas, carne será uma iguaria de luxo. A
previsão, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação, diz que o pedaço de terra destinado à criação de animais
precisará crescer em 70% para alimentar a população do planeta em 2050,
que deve chegar a 9 bilhões de pessoas. "É simples: não teremos alimento
se continuarmos usando a pecuária como a grande fonte de proteína",
resume Marcel Dicke, da Universidade de Wageningen. Ajuda lembrar que,
mesmo com a pouca quantidade de insetos que pode ser consumida por
humanos (são apenas 1 600 tipos comestíveis entre 1,5 milhão de espécies
catalogadas), o ritmo frenético com que eles se reproduzem transforma a
carne de insetos numa fonte de comida abundante. 7. Você vai gostar de comer insetos
Se você ainda não se convenceu, chegou a hora do argumento final: eles
são gostosos. E eu não precisei ouvir isso dos entrevistados.
Experimentei as três receitas que você vê nesta matéria (além de ter
comido apenas os insetos, sem molhos e temperos, antes e depois do
preparo) e descobri que eles são apetitosos. A única dificuldade é
esquecer a natureza dos bichinhos. Para ajudar, lembrei que muitos dos
alimentos que consumo no dia a dia já vêm com pedaços de insetos.
"Porque é impossível separá-los da comida", explica Daniella Martin,
jornalista especializada em gastronomia de insetos. "Sempre que colhemos
uma safra, colhemos os bichos que andam pelas plantas também. E eles
aparecem em muitos produtos vendidos no mercado." No fim das contas,
acabei superando as impressões iniciais e até comeria uma segunda rodada
de larvas. E você? Toparia um prato de arroz e baratas no jantar?
Comer ou não comer Na dúvida, não coma: existem 1,5 milhão de espécies de insetos no mundo, mas apenas 1 662 são comestíveis. Veja a divisão. Número de espécies comestíveis 1 traça 468 besouros 3 piolhos 29 libélulas 49 moscas e mosquitos 61 cupins 78 cigarras e cigarrinhas 102 percevejos 253 borboletas e mariposas 267 gafanhotos, baratas e grilos 351 formigas, abelhas e vespas Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Macarrão com larvas gigantes* Ingredientes - 100 g de macarrão - 50 g de larvas gigantes de besouro - 40 g de brócolis - 50 g de cenoura em tiras - 40 g de tomate em cubos - 40 g de cogumelo shitake - 1 dente de alho picado - 40 g de cebola picada - 30 ml de shoyu - 30 ml de azeite - Sal e pimenta Modo de preparo
Esquente uma frigideira, coloque azeite e frite o alho e a cebola.
Depois, frite os insetos e os vegetais (cenoura, brócolis, tomate e
cogumelo) e acrescente shoyu. Cozinhe o macarrão com um pouco de sal,
escorra e adicione à frigideira. Tempere com sal e pimenta. É gostoso?
O macarrão é uma delícia, mas você vai precisar fazer força para
esquecer que isso é uma larva. Ela explode na boca e espalha uma gosma
nojenta. O gosto é amargo, o mais desagradável dos quatro insetos que
experimentei para fazer esta matéria. Pizza com larvas de besouro e mosca* Ingredientes - 1 disco de pizza - 25 g de larvas de besouro - 25 g de larvas de mosca - 15 ml de azeite de oliva - 60 g de muçarela - Coentro Modo de preparo
Coloque as larvas de besouro e mosca sobre a pizza e acrescente o
coentro. Cubra com a muçarela cortada, regue com azeite de oliva e asse
em forno pré-aquecido a 180° C. Sirva depois que o queijo dourar e
derreter. É gostoso? Entre todos os bichos que
mostramos, as larvas de besouro são as mais gostosas. Elas lembram
nozes. Além disso, larvas de mosca, que são bem salgadas, podem ser um
bom aperitivo para combinar com cerveja. Omelete com baratas* Ingredientes - 3 ovos - 80 g de baratas - 20 g de maisena - 100 g de muçarela - 2 folhas de alfavaca - 150 ml de vinho branco - 50 g de cebola - 1 dente de alho - Sal e pimenta Modo de preparo
Redução: Aqueça o vinho branco em uma frigideira e deixe reduzir 1/3.
Junte as folhas de alfavaca. Ajuste a consistência com a maisena
dissolvida em água. Tempere com sal e pimenta. Omelete: Bata as
claras em neve. Frite a cebola, acrescente as baratas e o queijo.
Adicione as gemas às claras batidas e mexa levemente. Junte essa mistura
às claras e salpique com a cebolinha. Deixe assar, vire e enrole a
omelete. Sirva com a redução por baixo e a omelete por cima. É gostoso?
Eu nunca comi uma árvore, mas barata tem gosto de madeira. E aqui surge
um paradoxo: é um dos insetos mais gostosos e também um dos mais
difíceis de mastigar. Você simplesmente não consegue esquecer que está
comendo uma barata. *Nas receitas, a SUPER usou insetos tratados, mas que não estão à venda.
Apenas
dez dias após Dilma ser reeleita já ficaram evidentes inúmeros
estelionatos eleitorais. Logo três dias após a vitória, o Copom resolveu
subir a taxa de juros, algo que era, durante a campanha, associado a
coisa de tucano “neoliberal” insensível para com os pobres. Quando é o
PT quem faz tudo bem?
Em seguida, os nomes de dois banqueiros
passaram a ser considerados na lista de prováveis substitutos de Guido
Mantega. Trabuco, do Bradesco, e Meirelles, que foi presidente do Bank
Boston, portanto banqueiro internacional, seriam as sugestões de Lula
para o cargo. Mas banqueiro não faz a comida desaparecer do prato dos
miseráveis?
Por falar em bancos, o PT não era o
partido que iria enfrentá-los para proteger os pobres? Marina Silva não
foi acusada de defensora de banqueiros por ter o apoio de uma herdeira
do Itaú? Pois bem: o próprio divulgou
esses dias seu lucro recorde: R$ 5,4 bilhões no trimestre! Um aumento
superior a 35% contra o ano passado. Imagina só se Dilma fosse amiga, e
não inimiga dos banqueiros…
A inflação, vamos lembrar, estava “sob
controle”, disse uma Dilma firme. Chegou a afirmar que era zero, pegando
um mês apenas, um ponto fora da curva. E os preços represados? Isso não
existia, garantiu a presidente candidata. E agora?
Agora a Aneel já autorizou o aumento de
quase 20% na conta de luz para várias empresas, como a Light aqui no
Rio, e a Petrobras já entrou com pedido de aumento para a gasolina, que
deve ser aprovado em breve.
A OCDE divulgou que, enquanto a inflação mundial caiu pelo quarto mês consecutivo, a nossa subiu. Mas não era tudo culpa de uma suposta “crise internacional”? Ao menos isso foi dito durante a campanha.
Dilma seria intransigente com a corrupção
também. Foi a promessa durante a campanha. O que aconteceu depois?
André Vargas, aquele deputado que saiu do PT para evitar
constrangimentos após vazarem dados sobre sua íntima relação com o
doleiro Alberto Youseff, foi passear na sede do PT, para trocar dois
dedos de prosa com seus “ex-colegas” de partido. É essa a imagem de quem
não compactua com a corrupção?
O presidente da Transpetro, ligado ao
PMDB que apoiou Dilma, caiu nesses dias também. Eis uma amostra singela
de apenas três notícias em destaque no site de um jornal carioca ontem:
Diante disso tudo – e é só o começo –
caberia perguntar aos eleitores do PT: não se sentem traídos? Esperavam
tantas mudanças repentinas logo depois do pleito, em direção contrária
ao que foi dito na campanha? Ou será que não se importam com o
estelionato eleitoral, pois o que vale é ficar no poder “em nome do
povo”, custe o que custar?
É por essas e outras que costumo dizer
que o PT não tem mais eleitores, e sim cúmplices. Qualquer pessoa com
algum resquício de decência estaria cobrando do partido e da presidente
reeleita explicações para tantos atos opostos ao prometido na campanha.
Mas os eleitores do PT fazem um ensurdecedor silêncio. É conivência.
Estão dando o aval para mentir, para enganar os mais ignorantes.
Aumento de juros, aumento da conta de
luz, aumento da gasolina, aumento do lucro dos bancos, e proximidade
amigável com notórios corruptos: quem não se sente traído só pode ser
cúmplice. Podem ficar sossegados, caros eleitores do PT, que estaremos
aqui por muito tempo para jogar em suas caras que são responsáveis por
isso tudo também.
Eduardo Cunha, a pedra no sapato bolivariano do PT. Fonte: El País
Tem certas coisas que só falamos baixinho
por aí, com alguma vergonha. Uma delas é que o PMDB vai, pelo incrível
que pareça, salvar nossa democracia e impedir que o Brasil seja a
próxima Venezuela. Já disse isso várias vezes em palestras e até em
artigos, mas se perguntarem, eu nego!
Brincadeiras à parte, o PMDB se tornou um
partido do “centrão”, mais fisiológico do que qualquer coisa. Um saco
de gatos. Tem de tudo lá. Mas justamente por isso, não lhe interessa
virarmos uma Argentina ou Venezuela, o que mataria a galinha dos ovos de
ouro.
O PT sonha com a hegemonia, com a
instauração do partido único. Quer ser como o PRI mexicano no mínimo, ou
de preferência como os chavistas da Venezuela. O problema é que sua
bancada não dá conta do recado, e ainda saiu reduzida nessas eleições,
com a perda de 18 deputados.
A solução encontrada no passado foi
comprar todos que estavam à venda (e no Brasil tem muita gente à venda).
O mensalão foi isso, o Petrolão também. Com a crise econômica que vem
aí, vai faltar verba. Além disso, os escândalos ainda terão
desdobramentos, há as delações premiadas, e todos estão com mais receio
de punições.
Ou seja, a vida promete não ser nada
fácil para o PT nos próximos anos. Os anseios autoritários encontrarão
barreiras firmes à frente. A começar pela presidência da Câmara, que
deverá ir para Eduardo Cunha, desafeto do partido e tido como
“conservador” para os padrões nacionais.
Em entrevista ao El País,
Cunha disse que o PMDB não fez um “acordo eterno” com o PT, e que a
Câmara não quer o partido na presidência agora, pois sua agenda é muito
ideológica:
P: Você fala sobre essa questão ideológica do PT. A que se refere?
R: Aos
conselhos populares, à regulação de mídia… Pautas que são ideológicas.
Estando na presidência, o poder de colocá-las em discussão será maior.
R: Sem
dúvida, mas não porque o Congresso está mais conservador. Mas porque o
Congresso está mais bem representado do que é a sociedade. A sociedade é
conservadora. O Congresso representa a sociedade. Hoje ele está mais
próximo da sociedade do que esteve antes.
É exatamente por esse motivo que veremos
cada vez mais colunista e “formador de opinião” espalhando por aí que o
PMDB é o grande mal do país, e que precisamos superar esse entrave
parlamentar para que as reformas progressistas possam deslanchar.
A “democracia direta” é o sonho chavista
do PT, para poder manipular os “movimentos sociais” e desviar dos
obstáculos da democracia representativa. Negociar dá trabalho,
contemporizar idem, fechar acordos com base em programas muito mais. O
PT detesta tudo isso. Ele detesta, no fundo, a democracia, usada apenas
como “farsa” para a chegada ao poder.
O PMDB tem sido um aliado importante do
PT, mas está cada vez mais rachado. Até mesmo Sarney votou em Aécio
Neves, e depois que isso veio à tona num vídeo, justificou-se que foi
pela gratidão ao seu avô Tancredo. Afinal, graças ao mineiro ele chegou à
presidência em 1985.
O partido, naquela época, contava com
figuras como Ulysses Guimarães, o D. Quixote da nossa democracia, aquele
que fez da luta pela redemocratização sua cruzada na vida. Muitos
condenavam o antigo MDB na ocasião, por ser “oposição” ao regime
militar, o que daria um verniz de legitimidade aos militares. Ulysses
rechaçava com veemência a alternativa da luta clandestina, pois só
acreditava em solução pelas vias legais, de dentro do sistema.
Assumindo que hoje estamos numa espécie
de regime autoritário e opressor, até golpista, só que do PT, então o
PMDB poderá ser o fiel da balança novamente, aquele que lutará de dentro
do sistema para preservar nossas instituições democráticas. Com todos
os seus defeitos, ainda é a principal arma que temos contra o
bolivarianismo, que deverá ser derrotado pelas vias legais,
fortalecendo-se o Congresso, e não o contrário.
Que o PMDB honre o legado democrático de Ulysses Guimarães!
Muita gente reclamou do primeiro discurso
de Aécio Neves como incontestável líder da oposição após ter recebido
51 milhões de votos. Esperavam mais dele, uma posição mais aguerrida,
combativa. Condenaram suas críticas ao lado mais agressivo das
manifestações que pedem o impeachment da presidente Dilma ou mesmo a
intervenção militar. Disse o tucano:
“Eu respeito a democracia
permanentemente. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de
qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente
oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito.
Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão em outro campo político, não estão em nosso campo político.”
Claro que os jornalistas vão destacar a
parte do que ele condena nas manifestações, mas o que mais ele poderia
ter dito? Que aplaude uma eventual forma autoritária e truculenta de
protestar? Seria absurdo. Aécio deve mostrar total compromisso com os
caminhos legais e democráticos, e rejeitar qualquer coisa que pareça com
“golpismo”.
O que se espera dele é uma oposição firme
sim, mas respeitando todos os trâmites democráticos e as regras do
jogo. Não aceitamos a máxima petista de que os fins nobres justificam
quaisquer meios. Aécio deve cobrar esclarecimentos, deve combater
qualquer vestígio de desvio do governo, deve votar com base nos
interesses nacionais, não partidários. É isso que se espera de um líder
de oposição.
Claro, entendo a angústia de muita gente
da direita. Afinal, o PSDB nunca foi um partido de direita. Alguns
tucanos estão desesperados, tentando deixar isso bem claro. Sua origem é
a social-democracia europeia, ou seja, um partido de centro-esquerda.
Só mesmo no Brasil o PSDB passou a ser associado ao “neoliberalismo”.
A direita órfã encontrou abrigo no PSDB,
por falta de opção. Isso não faz do PSDB um partido de direita. Mesmo na
direita há muita divergência. Alguns gostariam de alguém como Jair
Bolsonaro como porta-voz, outros não aceitam uma postura tão radical ou
agressiva. Alguns clamam por intervenção militar, outros julgam esta
demanda absurda e querem fortalecer as instituições democráticas, ainda
existentes.
Isso tudo mostra como é necessário para a
direita ter representação partidária, talvez mais de uma. O ideal seria
um partido mais conservador, e outro mais liberal. O PSDB ficaria,
então, como representante legítimo da social-democracia, a esquerda
civilizada e democrática. Como nos principais países desenvolvidos.
Enquanto isso, é o PSDB que temos, todos
nós que desejamos, acima de tudo, resgatar o respeito às instituições
democráticas e combater essa quadrilha instaurada no poder. Desde Marina
Silva e Eduardo Jorge até Bolsonaro e Feliciano, passando pelos
liberais: estão todos juntos contra o PT. E essa união é fundamental
para a vitória da democracia.
Claro que os mais à esquerda vão reclamar
muito da “infiltração” da direita nessa oposição representada por Aécio
Neves. E claro que a ala mais à direita vai criticar a “pusilanimidade”
do tucano, que, afinal, não é conservador nem de direita. Está mais
para Tancredo ou Ulysses do que para Carlos Lacerda.
No estilo mineiro ou com a persistência e
paciência de Ulysses, vai comendo pelas beiradas para alcançar o poder e
de lá tirar o PT. Quase conseguiu logo na primeira tentativa, contra
todas as expectativas, contra o abuso da máquina estatal, o terrorismo
eleitoral, a difamação e calúnia dos militantes petistas.
Não devemos confundir o que gostaríamos
de ver Aécio falando com aquilo que é realmente mais eficaz do ponto de
vista de resultado. Aécio precisa se estabelecer como líder da oposição,
uma oposição firme e disposta a enfrentar o PT sem medo. Mas não deve
ser truculento ou agressivo, passar do limite, pois isso aliviaria em
parte nossas angústias e daria vazão ao nosso sentimento de indignação,
mas não garantiria mais votos no futuro, dos indecisos ou dos que
escolheram Dilma por alienação ou medo.
Confiemos no mineiro! Ele surpreendeu a
todos com sua postura otimista e confiante nas eleições, e também pela
firmeza, mesmo sob os ataques mais pérfidos já vistos na história de
nossa democracia. Aécio não pode se curvar diante do PT em hipótese
alguma, mas tampouco deve se transformar num Carlos Lacerda agora. Não é
seu perfil, não é seu estilo, e também não é o necessário para
conquistar mais adeptos em cima do muro.
Em vez de produzir mais calor, é hora de produzir mais luz!
Mal foi reeleita e Dilma já começa a escancarar o estelionato eleitoral
que praticou. Esqueçam o que foi dito durante a campanha: ali valia
tudo para vencer, e apenas isso importava. Agora ela precisa ser mais
realista, encarar o Brasil de verdade, não aquele da propaganda de João
Santana. Não será nada fácil.
As primeiras medidas mostram que algum
grau de realismo até mesmo Dilma terá de demonstrar. Aumento na taxa de
juros, como se Arminio Fraga fosse o novo ministro da Fazenda, segundo a
fala da própria presidente. Preços sendo aumentados após ficarem
represados por causa da eleição. E até mesmo banqueiros, ó céus!,
cogitados para assumir a pasta no lugar de Mantega. Isso é bom ou ruim?
Divido a resposta em duas partes. Do
ponto de vista econômico, sem dúvida seria positivo Dilma ter mentido
descaradamente para seus eleitores e enganado os trouxas. Afinal,
insistir em suas promessas e levar a cabo seu discurso de campanha seria
catastrófico para o país.
E não sou daqueles que acha que quanto
pior, melhor. Até porque o fracasso econômico não é garantia de derrota
política, como vimos na Venezuela e na Argentina. Se o PT conseguir
aparelhar toda a máquina estatal e o que falta no STF, nem uma crise
econômica nos salvará do bolivarianismo.
Logo, seria bom para a economia o
estelionato eleitoral e uma “tucanada” de Dilma. O que não acho que vai
acontecer de fato. Algumas coisas sim, como já estamos vendo. Mas não
creio no repentino despertar para o bom senso de nossa presidente, cujo
ranço ideológico e autoritário é muito forte. Mesmo sob pressão de Lula e
da economia, acho mais provável ela fazer poucas concessões, mas manter
sua “nova matriz macroeconômica”, insistir nos erros, e até dobrar a
aposta.
Já do ponto de vista político, o
estelionato eleitoral seria bastante negativo. Qual mensagem fica se um
partido pode simplesmente falar o que bem entender durante a campanha, e
logo depois fazer o oposto? Qual o efeito disso para nossa democracia a
longo prazo?
Uma candidata que diz que banqueiro na
Fazenda significa falta de comida para os pobres, e logo depois indica
um banqueiro para a Fazenda? E vamos aceitar passivamente isso só porque
é melhor para a economia? E para nossa moral, nossos costumes, nossos
valores éticos? Eles não importam? Devemos aceitar calados um verdadeiro
golpe eleitoral? Não estaríamos assinando embaixo que vale tudo para
ficar no poder?
Enfim, se Dilma realmente adotar uma
postura mais tucana, isso será evidentemente bom para a economia, pois a
turma do PT é terrível e nada entende de economia, mas será ruim para a
democracia. Porém, como já disse acima, acho pouco provável uma mudança
tão radical de Dilma. Por isso mesmo não corremos muito “risco” de dar
certo…
Aconteceu nesta
terça-feira (4) a primeira reunião entre o governador eleito do DF,
Rodrigo Rollemberg, e o governador reeleito pelo estado de Goiás,
Marconi Perillo. Eles conversaram sobre os passos a serem tomados para
resolver problemas comuns entre o Entorno e o DF.
Não é a primeira
vez que a cena se repete entre um governador do DF e de Goiás. Os
ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda também tentaram a
mesma coisa, mas tudo ficou apenas nas intenções.
O encontro ocorreu na sede do partido de Rollemberg, o PSB. Os
governadores criaram uma pauta com assuntos relacionados à saúde,
segurança e transporte. Para a próxima semana, eles estão com reunião
marcada com a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre).
— Vamos discutir com a ANTT formas de integrar o transporte coletivo
do DF e Entorno para melhorar a questão de custos, que é grande, para o
trabalhador que mora no Entorno e trabalha no DF, explica Rollemberg.
Marconni Perilo disse que vem a Brasília toda semana e vai estar
aberto a conversas mais frequentes com o novo governo. Segundo ele, esse
contato não era tão próximo na gestão de Agnelo.
— Faltava uma agenda e diálogo mais permanentes. Eu tenho certeza que isso será corrigido a partir de agora.
Estreitar os laços com o governo de Goiás é um dos primeiros passos
de Rollemberg nesse período de transição.
Nesta segunda-feira (3), foi
publicado no Diário Oficial da União as atribuições do comitê indicado
pelo novo governador para recolher dados e avaliar a gestão de Agnelo
Queiroz. Com informações do R7.
Uma juíza do Kansas determinou que um
homem (foto), de 46 anos, que doara sêmen para um casal de lésbicas
pague pensão alimentícia, apesar de as partes terem assinado um
documento que aliviava William Marotta das obrigações legais como pai
biológico da criança que seria gerada.
Segundo a juíza Mary Mattivi, William e o
casal não cumpriram a lei estadual, que exigia a presença de um médico
licenciado durante a inseminação artificial. Essa violação, afirmou a
magistrada, mantém todos os deveres de William como pai, segundo o
“Topeka-Capital Journal”.
Em 2009, William respondeu a um anúncio
de Jennifer Schreiner e Angela Bauer no site de classificados
Craigslist. Um ano depois da doação de sêmen, Jennifer deu à luz.
Só que, pouco depois do nascimento da
criança, o casal se separou. Após dois ano, Angela sofreu uma lesão e
ficou impossibilitada de trabalhar. Jennifer entrou, então, com pedido
de pensão do governo. O pedido foi negado.
O estado do Kansas resolveu recorrer ao
pai biológico, pedindo na Justiça que William pagasse pensão para a
criança do filho que ele gerara. Venceu a batalha.
Com um discurso firme e
sem subterfúgios, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, marcou
ontem sua volta à luta política, depois da derrota para a presidente
Dilma na disputa pela Presidência da República, com a atitude de quem
pretende assumir a liderança da oposição brasileira e não dar tréguas ao
governo que, embora tendo sido eleito legitimamente, não tem crédito
para contar com a boa vontade da oposição, hoje representante de quase
metade dos eleitores que votou na eleição presidencial. Fortalecido pelas urnas,
Aécio pretende dedicar sua atuação no Senado a um combate permanente ao
PT, assim como a oposição de diversos matizes, que não está disposta a
dar espaços para o PT, no Congresso e também nas ruas.
A oposição oficial se
afasta, como não poderia ser diferente, de manifestações golpistas que
surgem aqui e ali nas primeiras passeatas antipetistas registradas logo
depois das eleições. Esse não é o sentimento majoritário da oposição
brasileira, mas caberá ao governo se afastar também de seus radicais. E
afastar, sobretudo, a ameaça de se alinhar, mais do que já acontece, aos
governos bolivarianos que pregam a revolução no continente.
O acordo de cooperação
entre o governo venezuelano e o MST, firmado em solo brasileiro, é ato
de provocação radical que só acontece devido à complacência do governo
brasileiro com seus vizinhos bolivarianos. E a saudação de Nicolás
Maduro à reeleição da presidente Dilma, como se fosse o sinal de um
aprofundamento da revolução na América Latina mostra que, pelo menos
para os venezuelanos, estamos seguindo os seus passos.
Resta para a presidente reeleita mostrar com atos que não se trata disso.
Pizzolato
Blogs e publicações
ligadas ao petismo, seja por interesses financeiros ou por proximidades
ideológicas, ou excepcionalmente os dois, andaram espalhando que o que
chamam de "grande imprensa" escondeu as verdadeiras razões por que a
Corte de Bolonha negou a extradição do mensaleiro Henrique Pizzolato,
que fugiu do país e foi preso na Itália. Além das péssimas condições das
prisões brasileiras, os juízes italianos teriam aceitado outros dois
argumentos da defesa, o que evidenciaria as "anomalias do julgamento da
Ação Penal 470". Os magistrados italianos teriam apontado a falta de
duplo grau de jurisdição no julgamento do mensalão pelo STF,
"direito universal", segundo um dos blogueiros, e a omissão de provas
apresentadas pela defesa. Pura mentira. A íntegra da sentença foi
divulgada ontem, e nela está dito, com todas as letras, que a Corte
considerou "infundadas" todas as alegações da defesa, inclusive a
suposta omissão de provas. Com relação ao duplo grau de jurisdição, a
sentença diz que esse direito pode ser alvo de exceção quando o
interessado já tiver sido julgado em primeira instância por um tribunal
superior, tanto é assim que o ordenamento jurídico italiano prevê um
único grau de jurisdição na Corte Constitucional. No fim, o único
argumento considerado válido foram as más condições das prisões
brasileiras. Toda a onda feita sobre problemas no processo do mensalão
acaba de ser derrubada no primeiro teste internacional a que foi
submetida.
Bancos e bancos
Para aumentar o ridículo
da coisa, circulam entre os petistas justificativas para a insistência
do expresidente Lula de ter o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, no
Ministério da Fazenda depois que a campanha de Dilma demonizou os
banqueiros na figura da educadora Neca Setubal. É que o Bradesco seria
um "banco popular", enquanto o Itaú seria "um banco de elite".
A
julgar pelas decisões tomadas na reunião da direção Executiva do PT
nesta segunda-feira, o partido parece mais empenhado em falar à
militância que propriamente interessado em colaborar com a presidente
Dilma Rousseff para enfrentar as dificuldades e dirimir os atritos já
contratados para o segundo mandato.
As resoluções divulgadas vão
todas na contramão do discurso de conciliação do governo, vocalizado
pela presidente e levado por seus interlocutores ao Congresso a fim de
propor uma trégua. O tom está longe de evocar unidade. Por outra, soa a
demarcação de terreno.
Logo de início o partido reivindica
participação "ativa" nas decisões políticas e econômicas dos próximos
quatro anos. Desnecessário dizer o que o setor privado com o qual o
governo busca reaproximação pensa do "ativismo" petista na economia.
Quanto à política, é justamente da exclusiva influência do PT nas
decisões de poder que reclamam os partidos aliados quando reivindicam
participação efetiva, e não apenas o papel de coadjuvantes submissos.
A
agenda prossegue com a decisão de enfrentar o PMDB na disputa pela
presidência da Câmara. Não que o PT não tenha esse direito. Mas há
maneiras e maneiras. Uma delas é iniciar a conversa falando em
negociação, principalmente quando é o adversário quem momentaneamente
está na posição do mais forte. O jeito que os petistas entraram no
assunto, digamos de sola, oferece ao PMDB rebelde o argumento ideal para
conquistar o apoio da oposição.
A dissonância não para por aí. O
partido insiste na proposta de reforma política não só mediante
plebiscito, mas por meio de convocação de Assembleia Nacional
Constituinte exclusiva; sugestão ampla, reiterada e contundentemente
repudiada pelos partidos e entidades mobilizadas em torno do assunto.
E
como se não bastasse, o PT anuncia que pretende retomar o projeto dos
conselhos populares que acabou de ser derrotado na Câmara dos Deputados.
Em suas resoluções de ano novo inclui também a velha ideia do controle
social (agora sob a denominação de "econômico") dos meios de
comunicação.
Seria o cardápio ideal para uma agremiação
interessada em colecionar derrotas ou se dedicar ao exercício da
malhação em ferro frio. Não sendo esses os objetivos do PT, só resta a
hipótese de que o partido esteja pouco se importando com a construção de
convergências que ajudem a presidente. Parece, isso sim, mais empenhado
em falar ao público interno para mobilizar a antiga militância e tentar
fazer ligação direta com a "rua", a fim de enfrentar a oposição
passando ao largo do Congresso.
Mais embaixo. Os apelos do
Palácio do Planalto à trégua no Congresso têm um pouco a ver com a
chamada "pauta bomba" de criação de despesas, mas têm muito mais a ver
com o receio de perder o controle da base em outro tipo de agenda:
comissões de inquéritos, convocações de autoridades, tramitação de
processos de cassação e até eventuais pedidos de impeachment aos quais
governos estão sempre sujeitos.
Deixa que digam. Os eleitores
inconformados com o resultado da eleição têm o direito de se manifestar.
Já os políticos derrotados têm o dever de repudiar atos que resvalem
para agressão ao regime democrático, sem dar a menor margem à
desconfiança de que estariam de acordo com palavras de ordem que pregam
interrupção ilegal de mandatos e pregam a volta dos militares.
Tudo
bem. É gente que não sabe o que diz. Que não poderia dizer o que bem
entendesse se seus apelos fossem atendidos. Mas convém manter tais gatos
pingados à distância, desprovidos de eco até que o berreiro tenha por
destino a morte por inanição.
A
presidente Dilma Rousseff tem consciência de que precisa mudar a
política econômica. Sabe que o risco, neste momento, é o país entrar
numa grave crise econômica.
"Não tem saída", disse a esta coluna um interlocutor privilegiado da presidente.
"Tenho
certeza absoluta de que o governo vai fazer o ajuste." Apesar de ter
consciência dos problemas, Dilma não tem a urgência dos mercados: ela
ainda não escolheu quem substituirá Guido Mantega no comando do
Ministério da Fazenda. Nem muito menos quem presidirá o Banco Central
(BC) a partir de janeiro. "Ela não tem a urgência do curto prazo. Vai
fazer tudo ao seu tempo", contou um auxiliar.
Há um jogo de
bastidor em curso, além da tentativa de setores do PT de impedir uma
guinada ortodoxa: a presidente analisa, de fato, a nomeação de Henrique
Meirelles para a Fazenda, mas há um rito a ser seguido. O primeiro passo
é tratar do assunto com o ex-presidente Lula. Este já fez chegar a
Dilma sua predileção por Meirelles, que presidiu o BC de forma
bem-sucedida em seus dois mandatos. Mas não houve ainda uma "conversa
pessoal" entre os dois. "A presidente não vai fazer nada sem antes
conversar com uma pessoa: Lula", revelou uma fonte.
Há outras duas condições.
Dilma
não aceitará a ideia, muito forte nos mercados, de que Meirelles
entrará para o governo como o "salvador da pátria". "Ela não teve 54
milhões de votos para se submeter a isso", observou um colaborador. O
outro aspecto relevante é o estabelecimento de um "acordo de
convivência" entre os dois.
Em 2013, Lula tentou convencer Dilma a
levar Meirelles para o governo. O argumento, já em abril daquele ano, é
que isso ajudaria a restaurar a credibilidade da política econômica,
abalada por contabilidades criativas e que tais. Lula está convencido de
que, se tivesse seguido seus conselhos, Dilma teria vencido a eleição
no primeiro turno, sem sustos.
Ao tempo em que o ex-presidente
fez a indicação, havia apenas uma palavra para definir o que a
presidente sentia por Meirelles: "desprezo".
Conforme noticiou a
repórter Andréa Jubé, do Valor, Dilma mudou de ideia. "Hoje é diferente.
As circunstâncias mudaram", comentou um assessor. "Continuo achando
difícil [a escolha de Meirelles], porém, hoje, não descarto." Dilma não
gosta de Meirelles porque o considera "liberal". Em 2010, pressionou-o
mais de uma vez porque o BC iniciou um ciclo de aperto monetário em meio
à campanha presidencial - na verdade, fez isso em abril, junho e julho,
mas parou em setembro, véspera da eleição, mesmo tendo sinalizado antes
que seria necessário elevar a taxa básica de juros (Selic) naquele
momento.
Na transição de governo, a então candidata eleita teria
dito a Meirelles que gostaria de chegar ao último ano do primeiro
mandato com Selic real inferior a 2% ao ano. O então presidente do BC
teria afirmado que não é possível trabalhar com meta de juros, mas, sim,
de dívida pública, pré-condição para a queda da taxa Selic. Dilma não
gostou e Meirelles ficou fora do governo. O então ministro da Casa
Civil, Antonio Palocci, ainda se esforçou, em vão, para indicá-lo a
outro cargo.
Pode não ser de agora a mudança de opinião de Dilma
quanto a Meirelles. Durante a campanha, o ex-presidente do BC recebeu
alguns sinais do entorno da presidente, todos na direção de que ele pode
vir a ser convidado a integrar o novo governo. Mas havia também a
percepção de que isso só ocorreria se a situação econômica do país
piorasse. O fato é que piorou e tudo indica que continuará piorando se
nada for feito.
Se a nomeação de Meirelles não se confirmar,
Nelson Barbosa pode vir a ser convidado. A relação de Dilma com o
ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda não é hoje das
melhores, a presidente se chateou com a forma como ele deixou o governo e
mais ainda com as críticas que vem fazendo à sua política econômica -
sabe-se agora, por exemplo, que, numa reunião fechada promovida pela
Anbima, ele teria tachado de "desastrosa" a decisão do BC de reduzir
juros em agosto de 2011.
Apesar disso, Dilma gosta de Barbosa e se sente ideologicamente próxima dele.
As
rusgas de Nelson Barbosa com Mantega e o secretário do Tesouro, Arno
Augustin, que deve continuar no governo, embora em outro cargo, não
representam um impeditivo, garante um assessor.
O trabalho de
quem assumir a Fazenda não será nada fácil. O quadro é de deterioração
dos principais fundamentos da economia. No afã de produzir resultados a
curto prazo, o governo lançou mão de uma série de experimentos
heterodoxos que, no fim, não apenas não produziram os resultados
esperados, mas também colocaram em risco conquistas alcançadas nos
últimos 20 anos, como o controle da inflação e o equilíbrio das contas
públicas.
O quadro abaixo mostra o país que a presidente Dilma encontrou e o que está entregando quatro anos depois.
Ela
entrega, na verdade, a si mesma porque, reeleita, terá que lidar com a
própria herança. Os indicadores fiscais e externos mostram forte
deterioração, mas, a rigor, tudo piorou: inflação, investimento e PIB.
A
campanha chega ao fim com o grande debate de hoje. Alguns temas ficaram
de fora. Do Rio Piracicaba à nascente do São Francisco, na Serra da
Canastra, encontrei vestígios da grande seca, talvez a maior dos últimos
50 anos no Sudeste. Ignoro o que os candidatos pretendem fazer a
respeito. Não falam em recuperação de rios, fortalecimento dos comitês
de bacia, nada que lembre uma política de recursos hídricos. Apenas se
culpam.
Não sei se todos têm a sensação de que há uma distância
entre o País dos debates e o da vida real. Creio que a distância às
vezes é ampliada pelo próprio debate, que deveria encurtá-la.
Jean
Piaget escreveu muito sobre inteligência infantil. Ele descrevia um
tipo de linguagem que prevalece numa faixa de idade: a linguagem
egocêntrica. Nela não importa necessariamente fazer sentido, muito menos
comunicar-se com o outro.
Apesar dos debates sem mediação, foi
impossível estabelecer um fio da meada. Dilma comportou-se como se fosse
uma candidata da oposição em Minas Gerais. Após o debate no SBT sua
memória falhou em alguns momentos. Depois de tropeçar na palavra
inequívoca, ela capitulou em mobilidade urbana, pediu um pouco de água,
sentou-se para descansar. O que se passa no cérebro de Dilma, como se
articulam nela uma camada do córtex com uma região do hipocampo, criando
ou embotando a memória, é uma análise que farei depois de pesquisar o
tema.
Dilma está se transformando numa equilibrista que entra em
cena mesmo sem ter completado o período de formação. No caso da
Petrobrás, a opção do governo era negar as denúncias: são apenas
vazamentos clandestinos. No campo do feminismo, Dilma projetou imagem
dura ao ironizar o choro de Marina Silva, bombardeada pelas mentiras do
PT: o cargo de presidente não é para coitadinhas, afirmou.
Quando
soube que um ex-dirigente do PSDB, Sérgio Guerra, também foi acusado de
receber propinas no escândalo da Petrobrás, Dilma passou a acreditar
nas denúncias. E afirmou: houve desvios. O fluxo de denúncias não
acabara. Depois de Sérgio Guerra, aparecia em cena o nome de Gleisi
Hoffman, ex-chefe da Casa Civil no governo Dilma. Nesse caso, a
presidente voltou a duvidar e pedir precauções. Ficou evidente que as
denúncias valem quando envolvem o adversário, mas são levianas e
perigosas quando envolvem o governo.
Depois do piripaco de Dilma,
Lula e outros insinuaram que Aécio agride mulheres e isso pode ter
influenciado a performance dela. Marina tinha de apanhar sem choro, pois
a "Presidência não é para coitadinhos".
O escândalo da
Petrobrás, embora possa ter envolvido gente da oposição, é de principal
responsabilidade do governo. A empresa está sendo investigada nos EUA.
Lá, por exemplo, a lei é clara e responsabiliza também os dirigentes da
empresa, mesmo que não tenham tocado no dinheiro.
O choro da
Marina massacrada é fraqueza; a crise de Dilma, uma consequência do
machismo.Eles reinventam o mundo à sua maneira. Passada a eleição, em
vez de ficar remexendo a essência macunaímica do PT, talvez fosse
necessária uma avaliação mais profunda de como uma experiência histórica
termina na porta da delegacia.
Análises sobre a trajetória da
esquerda no século passado ocuparam grandes historiadores. Tony Judt
dedicou parte de seu trabalho aos intelectuais franceses e seus
equívocos. No caso europeu, as hesitações diante do stalinismo conduzem
um dos fios da meada. Aqui, no Brasil, não creio que o stalinismo tenha o
mesmo peso. O fio da meada é a relação com a ditadura cubana, a
admiração por um regime falido e o silêncio inquietante sobre seus
crimes. A trajetória da esquerda brasileira no governo mudou.
Goulart foi derrubado pelos militares que alegavam combater a subversão e
a corrupção. A corrupção era algo mais simbólico no seu discurso.
Envoltos na guerra fria, os militares queriam, principalmente, derrotar o
comunismo. Essa passagem de uma resistência à ditadura militar, o
trânsito das páginas políticas para as policiais, essa mudança de ala
nas penitenciárias é uma guinada na história da esquerda.
Tanto
se falou em Goebbels, o homem da comunicação de Hitler, que a tática de
repetir a mentira passou a ser até elogiada por alguns. O encontro da
tática do PT com Goebbels não é acidental. Assim como o encontro das
Farc com o tráfico de drogas também não o foi. Quando desaparecem
os objetivos estratégicos, quando o único alento é ganhar o poder,
desaparece também a fronteira entre política e crime. Não te prendem
mais em quartéis, mas na delegacia da esquina; já não se ergue o punho
cerrado pelo futuro da humanidade, mas para garantir o banho de sol; não
se comemoram grandes viradas históricas, mas o ingresso no regime de
prisão albergue. A transformação de uma força política num
compacto muro de cinismo, o trânsito de ideias, aparentemente, generosas
para a delinquência intelectual - tudo isso configura uma fascinante
matéria de estudo.
Não sei se teria a isenção para cumprir a
tarefa: ela mexe comigo, com a história pessoal, com as ilusões que me
moveram no século passado. Mas alguém escreverá a história do nosso
passado imperfeito, como Tony Judt fez com a intelectualidade francesa
do pós-guerra.
No continente já estamos no socialismo do século
21. Em Caracas não se racionam mais os produtos básicos com cadernetas,
mas com as impressões digitais. De Cuba para a Venezuela houve um salto
tecnológico no interior do mesmo atraso.
Mas a sedução do modelo
ainda não foi abalada na esquerda brasileira. O verdadeiro século 21, de
certa forma, não chegou. Quem sabe, domingo?
Um exame profundo
dessa longa trajetória histórica pode começar, se o PT perder. Se
vencer, será preciso concentrar a energia na vigilância cotidiana e
preservar alguma esperança no Brasil.
Vitoriosos depois do assalto à Petrobrás, os petistas logo estariam sonhando com o assalto aos céus.