quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Mesmo com chuva, nível do Cantareira volta a cair e chega a 11,8%


IG

Por Agência Brasil | - Atualizada às

Nos quatro primeiros dias do mês,o sistema acumula 43,2 milímetros de chuvas, volume semelhante ao mês de outubro

Agência Brasil

O nível dos reservatórios do Sistema Cantareira caiu hoje (5) para 11,8% da capacidade total, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). O Cantareira retoma, assim, o ritmo de queda, mesmo com a chuva que atingiu São Paulo nesta madrugada. O nível havia ficado estável em 11,9% ontem (4) e segunda-feira (3).

Com chuva, Cantareira mantém nível dos reservatórios em 11,9%
Mesmo com chuva, captação de água no Cantareira ainda está abaixo do consumo


O volume médio de chuvas sobre as cabeceiras ficou em 3,6 milímetros, menos que do que o de ontem, quando o manancial recebeu 15,7 milímetros. Nos quatro primeiros dias do mês, o Cantareira já acumula 43,2 milímetros de chuvas – volume semelhante a todo o mês de outubro, quando choveu 42,5 milímetros.

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Como principal sistema de São Paulo, o Cantareira atende a 6,5 milhões de pessoas nas zonas norte, central, leste e oeste da capital, e os municípios da região metropolitana de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba, São Caetano, Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André. A água do Cantareira é distribuída também a uma população de 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

Outro sistema em situação crítica, o Alto Tietê, também registrou queda, ao passar de 8,7% ontem para 8,6% hoje. A precipitação nesse manancial, que é o segundo maior do estado, chegou ontem a 3,4 milímetros. O acumulado nos quatro primeiros dias do mês soma 44,5 milímetros de chuvas, mais que o dobro registrado em todo o mês passado: 20,1 milímetros.

Entre os demais sistemas de abastecimento, apenas o Alto Cotia elevou a capacidade de ontem para hoje, ao variar de 29,6% para 29,9%. A precipitação na cabeceira desse manancial alcançou 15 milímetros ontem. O Guarapiranga caiu de 37,9% ontem para 37,5% hoje. O Sistema Rio Claro reduziu a capacidade de 40,7% para 40%. O Rio Grande se manteve em 67,9%.


PSDB tenta fugir do rótulo conservador, mas vira referência para voto da direita


Por Anderson Passos - iG São Paulo | - Atualizada às

Lideranças tucanas afastam tese da defesa do impeachment e se mostram contrários a intervenção militar no País

Cativos do voto anti-PT no segundo turno presidencial deste ano, o PSDB saiu do processo eleitoral levando a simpatia da turma mais à direita, defensora, por exemplo, do impeachment da presidente Dilma Rousseff ou da intervenção militar, tese propagada em ato que reuniu duas mil pessoas na Avenida Paulista no último final de semana em São Paulo. Passadas menos de três semanas da eleição, os próprios tucanos se apressam para se afastar do rótulo conservador.
Valter Campanato/ABr
Aécio promete oposição sem trégua e descarta discurso pró-militares ou impeachment
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“Respeito a democracia. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Fui o candidato da liberdade, da democracia”, reagiu o candidato derrotado na sucessão presidencial Aécio Neves ao ser recebido por correligionários e militantes no Senado Federal nesta terça-feira (4).

Aécio enfatizou que o papel do PSDB será o de fazer uma oposição sem tréguas, mas com disposição para o diálogo em projetos de interesse do País. "Se querem dialogar que apresentem propostas que interessem aos brasileiros. No mais, vamos cobrar eficiência, transparência dos gastos públicos e vamos cobrar que as denúncias de corrupção sejam apuradas", sinalizou Aécio.

No dia anterior, Xico Graziano, liderança próxima do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi a uma rede social combater a tese do impeachment e da volta dos militares propagada nas ruas de São Paulo e foi chamado de “petralha”, entre outros insultos.

“De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB. Vocês é que estão no lugar errado, não eu!”, exclamou o tucano.

Graziano voltou a postar sobre o assunto nesta quarta-feira (5) se dirigindo aos truculentos que lhe atacaram. “A truculência dessa cambada fascista que me atacou passa de qualquer limite civilizado. No fundo, eles provaram que eu estava certo: não são democratas. Pelo contrário, disfarçam-se na liberdade para esconder seu autoritarismo.


Nesse sentido, se aproximam daqueles esquerdóides idiotas que querem ‘botar fogo’ no país. Ambos esses grupos, extremistas pela esquerda ou pela direita, são intolerantes e autoritários. Desprezam o regime democrático, ignoram as instituições republicanas. Querem impor, na marra, suas convicções. Eu lhes digo: não passarão.”

Ex-líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira (SP) diz que seu partido não concorda com o rompimento das garantias constitucionais ou qualquer retrocesso.
Fernando Zamora/Futura Press
Manifestação na Avenida Paulista reuniu cerca de 2 mil pessoas contra Dilma Rousseff
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Grupos católicos fizeram campanha para Aécio "contra o PT e o aborto"

Sobre a manifestação na Avenida Paulista, ele comentou não saber “se esse movimento é de esquerda ou de direita” para, a seguir, tecer comentários sugerindo que o eleitor foi privado de informações que poderiam dar a vitória a Aécio na corrida presidencial. “A sociedade brasileira não concorda com o roubo, a corrupção, a perda das garantias sociais. Nós estamos desde às 20h15 do último domingo (26 de outubro) fazendo oposição, mobilizando a imprensa e a sociedade civil. Estamos sendo porta-vozes da condução equivocada do País. Terminada a eleição, passaram a ser conhecidos pela população o déficit na balança comercial brasileira, os graves problemas na economia. O povo é sábio desde que tenha todas as informações.”

Questionado se seu partido migrou do centro para a direita, Duarte Nogueira rejeita a tese. “Acho que é muito cedo para discutir. Mas o PSDB sabidamente é um partido de centro-esquerda, o que está longe dessa abordagem conservadora. O PSDB defende um parlamentarismo plural. Todo extremo tende a ser autoritário. Essa opinião [da migração tucana à direita] é mais uma forçação de barra do PT em relação a nós”, resume.

Direita abraça o PSDB
O cientista político do Insper Carlos Melo tem sua tese em relação a uma provável guinada à direita dos tucanos. "Não acho que o PSDB migrou para a direita. A direita é que abraçou o PSDB. Não o contrário", afirma.

O estudioso aponta que o partido adotou um discurso mais conservador na disputa presidencial de 2006, quando o atual governador paulista Geraldo Alckmin era o candidato do partido na disputa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Houve um debate no segundo turno em que o Alckmin atacou com muita energia o Lula. Essa adoção de um discurso antipetista acabou acontecendo em 2010 com o Serra e também teve reflexos na campanha do Aécio em 2014, quando ele cunhou a expressão 'mar de lama' em um debate. Se o avô dele [Tancredo Neves] ouvisse isso, sacudiria no túmulo", diz.

Para Melo, o PSDB ocupou um espaço da direita antes preenchido pelo malufismo. "Quando o antigo PDS se desmembrou, o malufismo levou consigo a postura ideológica, enquanto o DEM acabou se mostrando extremamente pragmático. Era uma direita ideológica de mentira que, por anos sucessivos, só se manteve porque estava presente na máquina estatal", lembra.

Os insetos serão o alimento do futuro?



Desafio para quem vende insetos como comida é superar o nojo dos clientes

Ao começar a comer, meu prato é igual ao que já comi inúmeras vezes em restaurantes asiáticos. Um emaranhado de massa bezuntada em óleo em meio a fatias de galinha, com aroma de alho e gengibre. Mas aos poucos vou percebendo olhos. Glóbulos escuros em uma cabeça amarelada - tudo conectado a um corpo.

Não os tinha percebido antes, mas agora vejo que estão por toda a parte - meu macarrão está cheio de insetos.

Se não tivesse sido alertada, talvez tivesse passado mal. Mas estou fazendo parte de uma experiência na universidade de Wageningen, na Holanda. O instituto de culinária da universidade, liderado por Ben Reade e Josh Evans, tem o desafio de conseguir transformar insetos em pratos saborosos.

Eu e outros três gastrônomos estamos presentes para testar alguns dos pratos preparados. Cada um recebe um prato principal diferente. O meu é um macarrão com gafanhotos - muitos deles ainda estavam vivos pela manhã. O prato também tem uma pitada especial de larva de mosca.

No dia seguinte, Reade e Evans participam de um seminário mundial em entomofagia - a prática de comer insetos - com mais de 450 delegados.

Segundo os especialistas presentes, no ano 2050 o planeta terá nove bilhões de pessoas. O desafio maior das próximas décadas será suprir o mundo, sobretudo em países de renda baixa ou média, com proteínas animais. Para eles, o planeta não teria condições ambientais de sustentar um aumento da pecuária tradicional.

A solução ecológica seria comer insetos, que são ricos em ferro e zinco. A criação de insetos requer muito menos água do que gado. No caso dos grilos, a quantidade de proteína é 12 vezes maior do que o encontrado em um bife.

Os insetos também poderiam ser usados como substituto das rações animais baseadas em soja, outro produto cujo cultivo tem alto impacto ambiental.

Insetos podem ser ótima fonte de proteína
Além disso os insetos se alimentam de excrementos. Os próprios insetos podem ajudar a reciclar o material orgânico do planeta - enquanto produzem proteína comestível.

Os especialistas reunidos na conferência imaginam um mundo onde os supermercados terão alas especiais com produtos a base de insetos, e lanchonetes servirão "inseto-burgueres". Será que chegaremos a tanto?

Comida antiga

Entomofagia é comum em várias partes do mundo. Segundo a FAO, dois bilhões de pessoas no planeta se alimentam de insetos. No Japão, as larvas de vespas são populares; na Tailândia, formigas também são alimentos comuns. Em vários países africanos, cupins são fritos, defumados ou cozidos a vapor. Atualmente, há 1,9 mil espécies de insetos comestíveis.

Então por que temos tanto nojo dos insetos? A resposta mais simples, segundo o psicólogo Paul Rozin, da Universidade da Pennsylvania, é que os insetos são animais.

Qualquer animal que come outro - seja ele humano, gorila, iguana ou barata - tem hábitos alimentares restritos, e costuma se alimentar de uma quantidade pequena de espécies na natureza. No caso dos humanos, a associação direta que se faz com insetos é lixo, decomposição e doença.

A empresária Laura D'Asaro enfrenta o desafio de colocar insetos na alimentação diária dos americanos - e ainda fazê-los pagar por isso. Ex-vegetariana, ela descobriu os "prazeres" da entomofagia na Tanzânia em 2011. Hoje ela tem uma linha de produtos alimentícios baseados em insetos.

Ela conta que para reduzir o asco de muitos consumidores o segredo é vender produtos à base de insetos - e não o animal "in natura". Sua empresa, a Six Foods, vende salgadinhos à base de uma farinha feita de grilos.

Algumas empresas na Holanda e EUA tentam vender insetos no mercado
Alguns produtos têm até mesmo o nome do inseto distorcido de alguma forma, para evitar rejeições com base no nojo. Um dos alimentos é feito à base de larvas que vivem em colmeias. A Six Food não menciona a palavra "larva" com destaque em seus rótulos, preferindo o termo "inseto do mel".

Nos últimos anos, diversas empresas surgiram para tentar explorar esse nicho de mercado. Na França, existe a Ynsect; nos Estados Unidos, a Enviroflight; na Holanda, a Protix. Na África do Sul, um empresário está criando uma grande "fazenda de moscas", que pretende produzir sete toneladas de "MagMeals" - refeições a base de "maggots" (larvas de mosca).

Mas a resistência do público ainda é grande. Para muitos, a ideia de comer insetos só parece vantajosa se comparada a experiências horríveis. Uma pesquisa conduzida por Rozin mostrou que 75% dos americanos preferem comer insetos do que carne de cabra crua. Para 53%, comer insetos é melhor do que aguentar 10 minutos de dor moderada.

"Não é a pior coisa do mundo, mas é simplesmente algo que todo mundo prefere evitar", diz Rozin.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Future.

 
Saúde

Por que você deve começar a comer insetos

Larvas e baratas estão prestes a chegar ao seu prato. E são essenciais para o futuro da alimentação. Conheça sete razões (e três receitas) que podem convencer você a encarar estes insetos do mesmo jeito que olha para o arroz e o feijão

por Luiz Romero
1. O nojo que você sente é relativo
Insetos podem, sim, ser bons substitutos para bois, porcos e frangos. No "pasto", eles ajudariam a economizar água e custariam menos, além de serem mais nutritivos do que outras carnes. Tudo muito legal se não fosse um detalhe: imagine como seria mastigar uma larva. Sentir a textura do bicho e o jeito que ele explode dentro da sua boca. Ruim? Saiba que o nojo que você sente é natural, mas pode ser domesticado. Tanto que existem provas de gente capaz de comer insetos espalhadas pelo mundo todo. Dos índios brasileiros, que adoram formigas, aos glutões japoneses, viciados em gafanhotos, passando por povos do México e aborígenes da Austrália. Você também pode dizer que a questão não está só na cabeça, mas no próprio bicho: eles são sujos. Bom, nem sempre.

Clique na imagem abaixo e veja uma galeria com algumas iguarias prontas para serem comidas:

2. Insetos não são sempre sujos
Está vendo as larvas deste macarrão? Elas cresceram protegidas da sujeira, comendo ração em fazendas especializadas na criação de insetos. Para Gilberto Schickler, um dos responsáveis pelo desenvolvimento deste gado meio diferente, nenhum animal é sujo por natureza. "Tudo depende do jeito que você cria. Porcos, por exemplo, podem crescer em granjas ou em lixões." Schickler trabalha na Nutrinsecta, que forneceu os bichos mostrados nesta matéria. Com planos de produzir insetos para consumo humano, a empresa de Minas Gerais foi a primeira do Brasil a consultar o Ministério da Agricultura sobre o assunto. Agora, planejam abrir um restaurante na região para divulgar a iguaria.

No mundo
Veja as regiões onde insetos são mais populares. E quantas espécies eles podem comer.

África
Espécies comestíveis - 524
Países que consomem - 62%

Ásia
Espécies comestíveis - 349
Países que consomem - 58%

Oceania
Espécies comestíveis - 152
Países que consomem - 56%

América
Espécies comestíveis - 679
Países que consomem - 41%

Europa
Espécies comestíveis - 41
Países que consomem - 21%

Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.


3. Insetos estão cheios de energia
Adicione um fator importante à limpeza: eles são ricos em proteína. E costumam carregar mais deste nutriente do que outros bichos. Compare: enquanto a carne de boi é composta por apenas 28% de proteína, o corpo de moscas e mosquitos chega a quase 59%, e libélulas têm 58% (veja mais no gráfico). "Eles também são ricos em vitaminas, principalmente a B, e minerais, como ferro e cálcio", enumera Marcel Dicke, professor de entomologia da Universidade de Wageningen, na Holanda. Para terminar, possuem ácidos graxos essenciais, um tipo de gordura também encontrada em peixes, que ajuda nosso corpo a metabolizar energia.

Quantidade de proteína
Moscas têm quase o dobro de proteínas que bois. Veja a quantidade de nutrientes de outros insetos.

Moscas e mosquitos - 59%
Libélulas - 58%
Percevejos - 55%
Cigarras e cigarrinhas - 51%
Besouros - 50%
Formigas E abelhas - 47%
Borboletas e mariposas - 45%
Baratas e grilos - 44%
Boi - 28%
Porco - 25%
Frango - 23%

Quantidade de ração
A mesma quantidade de alimento produz muito mais carne de inseto do que carne de boi.

10 kg de ração
1 kg de carne de boi
8 kg de carne de inseto


Desperdício de carne
Boa parte dos animais é perdida. Mas, em média, apenas 20% do corpo dos insetos não vai para o prato.

Inseto - 20%
Porco - 30%
Frango - 35%
Boi - 45%

Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.


4. Eles não são sempre nojentos
Está mais convencido? Pronto para encarar uma pizza de larvas? Se a resposta for negativa, olhe para o pote branco bem ao lado da pizza, com uma colher dentro. A proteína, as vitaminas e a gordura estão todas neste potinho, porque isso é larva de mosca. E você nem desconfiou. Até mesmo uma inofensiva porção de pão de queijo pode ter baratas dentro. Não, você não vai encontrar asas ou patas no meio da mordida. Nesse caso, o bicho é esquentado, triturado e transformado em pó antes de ser misturado à massa. Isso faz com que todos os nutrientes do inseto fiquem escondidos na comida. Ou seja, a repulsa causada pela aparência pode ser evitada com um simples triturador. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação acredita nesta farinha. E defende que seja usada para reforçar a comida distribuída a povos que sofrem com a falta de comida.

5. Criar insetos é mais barato
Além de mais nutritivos do que outros tipos de carne, é mais barato criar insetos do que gado. "Por terem sangue frio, eles precisam de menos comida", explica Lynn Kimsey, professora de entomologia da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, "e essa ração é mais simples e barata de produzir". Além disso, os bichinhos ocupam menos espaço e se reproduzem mais rápido do que os outros animais que estamos acostumados a ver em pastos. E, no final do processo, são mais bem aproveitados. Afinal, muitas partes do boi não são consumidas - pense em pés, dentes, ossos e pele. Enquanto isso você pode mandar uma larva numa mordida, de uma vez só.

6. Bifes serão como caviar
Ainda prefere arroz e bife? No futuro, talvez esta não seja uma boa escolha. Porque, em algumas décadas, carne será uma iguaria de luxo. A previsão, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, diz que o pedaço de terra destinado à criação de animais precisará crescer em 70% para alimentar a população do planeta em 2050, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas. "É simples: não teremos alimento se continuarmos usando a pecuária como a grande fonte de proteína", resume Marcel Dicke, da Universidade de Wageningen. Ajuda lembrar que, mesmo com a pouca quantidade de insetos que pode ser consumida por humanos (são apenas 1 600 tipos comestíveis entre 1,5 milhão de espécies catalogadas), o ritmo frenético com que eles se reproduzem transforma a carne de insetos numa fonte de comida abundante.

7. Você vai gostar de comer insetos
Se você ainda não se convenceu, chegou a hora do argumento final: eles são gostosos. E eu não precisei ouvir isso dos entrevistados. Experimentei as três receitas que você vê nesta matéria (além de ter comido apenas os insetos, sem molhos e temperos, antes e depois do preparo) e descobri que eles são apetitosos. A única dificuldade é esquecer a natureza dos bichinhos. Para ajudar, lembrei que muitos dos alimentos que consumo no dia a dia já vêm com pedaços de insetos. "Porque é impossível separá-los da comida", explica Daniella Martin, jornalista especializada em gastronomia de insetos. "Sempre que colhemos uma safra, colhemos os bichos que andam pelas plantas também. E eles aparecem em muitos produtos vendidos no mercado." No fim das contas, acabei superando as impressões iniciais e até comeria uma segunda rodada de larvas. E você? Toparia um prato de arroz e baratas no jantar?

Comer ou não comer
Na dúvida, não coma: existem 1,5 milhão de espécies de insetos no mundo, mas apenas 1 662 são comestíveis. Veja a divisão.

Número de espécies comestíveis
1 traça
468 besouros
3 piolhos
29 libélulas
49 moscas e mosquitos
61 cupins
78 cigarras e cigarrinhas
102 percevejos
253 borboletas e mariposas
267 gafanhotos, baratas e grilos
351 formigas, abelhas e vespas

Fonte Edible Forest Insects, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

Macarrão com larvas gigantes*
Ingredientes
- 100 g de macarrão
- 50 g de larvas gigantes de besouro
- 40 g de brócolis
- 50 g de cenoura em tiras
- 40 g de tomate em cubos
- 40 g de cogumelo shitake
- 1 dente de alho picado
- 40 g de cebola picada
- 30 ml de shoyu
- 30 ml de azeite
- Sal e pimenta

Modo de preparo
Esquente uma frigideira, coloque azeite e frite o alho e a cebola. Depois, frite os insetos e os vegetais (cenoura, brócolis, tomate e cogumelo) e acrescente shoyu. Cozinhe o macarrão com um pouco de sal, escorra e adicione à frigideira. Tempere com sal e pimenta.

É gostoso?
O macarrão é uma delícia, mas você vai precisar fazer força para esquecer que isso é uma larva. Ela explode na boca e espalha uma gosma nojenta. O gosto é amargo, o mais desagradável dos quatro insetos que experimentei para fazer esta matéria.

Pizza com larvas de besouro e mosca*
Ingredientes
- 1 disco de pizza
- 25 g de larvas de besouro
- 25 g de larvas de mosca
- 15 ml de azeite de oliva
- 60 g de muçarela
- Coentro

Modo de preparo
Coloque as larvas de besouro e mosca sobre a pizza e acrescente o coentro. Cubra com a muçarela cortada, regue com azeite de oliva e asse em forno pré-aquecido a 180° C. Sirva depois que o queijo dourar e derreter.

É gostoso?
Entre todos os bichos que mostramos, as larvas de besouro são as mais gostosas. Elas lembram nozes. Além disso, larvas de mosca, que são bem salgadas, podem ser um bom aperitivo para combinar com cerveja.


Omelete com baratas*
Ingredientes
- 3 ovos
- 80 g de baratas
- 20 g de maisena
- 100 g de muçarela
- 2 folhas de alfavaca
- 150 ml de vinho branco
- 50 g de cebola
- 1 dente de alho
- Sal e pimenta

Modo de preparo
Redução: Aqueça o vinho branco em uma frigideira e deixe reduzir 1/3. Junte as folhas de alfavaca. Ajuste a consistência com a maisena dissolvida em água. Tempere com sal e pimenta.

Omelete: Bata as claras em neve. Frite a cebola, acrescente as baratas e o queijo. Adicione as gemas às claras batidas e mexa levemente. Junte essa mistura às claras e salpique com a cebolinha. Deixe assar, vire e enrole a omelete. Sirva com a redução por baixo e a omelete por cima.

É gostoso?
Eu nunca comi uma árvore, mas barata tem gosto de madeira. E aqui surge um paradoxo: é um dos insetos mais gostosos e também um dos mais difíceis de mastigar. Você simplesmente não consegue esquecer que está comendo uma barata.

*Nas receitas, a SUPER usou insetos tratados, mas que não estão à venda.



O eleitor de Dilma não se sente traído?



Apenas dez dias após Dilma ser reeleita já ficaram evidentes inúmeros estelionatos eleitorais. Logo três dias após a vitória, o Copom resolveu subir a taxa de juros, algo que era, durante a campanha, associado a coisa de tucano “neoliberal” insensível para com os pobres. Quando é o PT quem faz tudo bem?


Em seguida, os nomes de dois banqueiros passaram a ser considerados na lista de prováveis substitutos de Guido Mantega. Trabuco, do Bradesco, e Meirelles, que foi presidente do Bank Boston, portanto banqueiro internacional, seriam as sugestões de Lula para o cargo. Mas banqueiro não faz a comida desaparecer do prato dos miseráveis?


Por falar em bancos, o PT não era o partido que iria enfrentá-los para proteger os pobres? Marina Silva não foi acusada de defensora de banqueiros por ter o apoio de uma herdeira do Itaú? Pois bem: o próprio divulgou esses dias seu lucro recorde: R$ 5,4 bilhões no trimestre! Um aumento superior a 35% contra o ano passado. Imagina só se Dilma fosse amiga, e não inimiga dos banqueiros…



A inflação, vamos lembrar, estava “sob controle”, disse uma Dilma firme. Chegou a afirmar que era zero, pegando um mês apenas, um ponto fora da curva. E os preços represados? Isso não existia, garantiu a presidente candidata. E agora?

Agora a Aneel já autorizou o aumento de quase 20% na conta de luz para várias empresas, como a Light aqui no Rio, e a Petrobras já entrou com pedido de aumento para a gasolina, que deve ser aprovado em breve.

A OCDE divulgou que, enquanto a inflação mundial caiu pelo quarto mês consecutivo, a nossa subiu. Mas não era tudo culpa de uma suposta “crise internacional”? Ao menos isso foi dito durante a campanha. 


Dilma seria intransigente com a corrupção também. Foi a promessa durante a campanha. O que aconteceu depois? André Vargas, aquele deputado que saiu do PT para evitar constrangimentos após vazarem dados sobre sua íntima relação com o doleiro Alberto Youseff, foi passear na sede do PT, para trocar dois dedos de prosa com seus “ex-colegas” de partido. É essa a imagem de quem não compactua com a corrupção?

O presidente da Transpetro, ligado ao PMDB que apoiou Dilma, caiu nesses dias também. Eis uma amostra singela de apenas três notícias em destaque no site de um jornal carioca ontem:
Notícias

Diante disso tudo – e é só o começo – caberia perguntar aos eleitores do PT: não se sentem traídos? Esperavam tantas mudanças repentinas logo depois do pleito, em direção contrária ao que foi dito na campanha? Ou será que não se importam com o estelionato eleitoral, pois o que vale é ficar no poder “em nome do povo”, custe o que custar?

É por essas e outras que costumo dizer que o PT não tem mais eleitores, e sim cúmplices. Qualquer pessoa com algum resquício de decência estaria cobrando do partido e da presidente reeleita explicações para tantos atos opostos ao prometido na campanha. Mas os eleitores do PT fazem um ensurdecedor silêncio. É conivência. Estão dando o aval para mentir, para enganar os mais ignorantes.

Aumento de juros, aumento da conta de luz, aumento da gasolina, aumento do lucro dos bancos, e proximidade amigável com notórios corruptos: quem não se sente traído só pode ser cúmplice. Podem ficar sossegados, caros eleitores do PT, que estaremos aqui por muito tempo para jogar em suas caras que são responsáveis por isso tudo também.

Rodrigo Constantino

PMDB: um obstáculo aos projetos ideológicos do PT

05/11/2014


Eduardo Cunha, a pedra no sapato bolivariano do PT. Fonte: El País


Tem certas coisas que só falamos baixinho por aí, com alguma vergonha. Uma delas é que o PMDB vai, pelo incrível que pareça, salvar nossa democracia e impedir que o Brasil seja a próxima Venezuela. Já disse isso várias vezes em palestras e até em artigos, mas se perguntarem, eu nego!


Brincadeiras à parte, o PMDB se tornou um partido do “centrão”, mais fisiológico do que qualquer coisa. Um saco de gatos. Tem de tudo lá. Mas justamente por isso, não lhe interessa virarmos uma Argentina ou Venezuela, o que mataria a galinha dos ovos de ouro.

O PT sonha com a hegemonia, com a instauração do partido único. Quer ser como o PRI mexicano no mínimo, ou de preferência como os chavistas da Venezuela. O problema é que sua bancada não dá conta do recado, e ainda saiu reduzida nessas eleições, com a perda de 18 deputados.

A solução encontrada no passado foi comprar todos que estavam à venda (e no Brasil tem muita gente à venda). O mensalão foi isso, o Petrolão também. Com a crise econômica que vem aí, vai faltar verba. Além disso, os escândalos ainda terão desdobramentos, há as delações premiadas, e todos estão com mais receio de punições.

Ou seja, a vida promete não ser nada fácil para o PT nos próximos anos. Os anseios autoritários encontrarão barreiras firmes à frente. A começar pela presidência da Câmara, que deverá ir para Eduardo Cunha, desafeto do partido e tido como “conservador” para os padrões nacionais.

Em entrevista ao El País, Cunha disse que o PMDB não fez um “acordo eterno” com o PT, e que a Câmara não quer o partido na presidência agora, pois sua agenda é muito ideológica:

P: Você fala sobre essa questão ideológica do PT. A que se refere?
R: Aos conselhos populares, à regulação de mídia… Pautas que são ideológicas. Estando na presidência, o poder de colocá-las em discussão será maior.
P: Mas a gente vê que o Congresso está mais conservador. Não há um cenário de mais resistência a pautas mais progressistas?
R: Sem dúvida, mas não porque o Congresso está mais conservador. Mas porque o Congresso está mais bem representado do que é a sociedade. A sociedade é conservadora. O Congresso representa a sociedade. Hoje ele está mais próximo da sociedade do que esteve antes.

É exatamente por esse motivo que veremos cada vez mais colunista e “formador de opinião” espalhando por aí que o PMDB é o grande mal do país, e que precisamos superar esse entrave parlamentar para que as reformas progressistas possam deslanchar.

A “democracia direta” é o sonho chavista do PT, para poder manipular os “movimentos sociais” e desviar dos obstáculos da democracia representativa. Negociar dá trabalho, contemporizar idem, fechar acordos com base em programas muito mais. O PT detesta tudo isso. Ele detesta, no fundo, a democracia, usada apenas como “farsa” para a chegada ao poder.

O PMDB tem sido um aliado importante do PT, mas está cada vez mais rachado. Até mesmo Sarney votou em Aécio Neves, e depois que isso veio à tona num vídeo, justificou-se que foi pela gratidão ao seu avô Tancredo. Afinal, graças ao mineiro ele chegou à presidência em 1985.

O partido, naquela época, contava com figuras como Ulysses Guimarães, o D. Quixote da nossa democracia, aquele que fez da luta pela redemocratização sua cruzada na vida. Muitos condenavam o antigo MDB na ocasião, por ser “oposição” ao regime militar, o que daria um verniz de legitimidade aos militares. Ulysses rechaçava com veemência a alternativa da luta clandestina, pois só acreditava em solução pelas vias legais, de dentro do sistema.

Assumindo que hoje estamos numa espécie de regime autoritário e opressor, até golpista, só que do PT, então o PMDB poderá ser o fiel da balança novamente, aquele que lutará de dentro do sistema para preservar nossas instituições democráticas. Com todos os seus defeitos, ainda é a principal arma que temos contra o bolivarianismo, que deverá ser derrotado pelas vias legais, fortalecendo-se o Congresso, e não o contrário.

Que o PMDB honre o legado democrático de Ulysses Guimarães!


Rodrigo Constantino

Aécio Neves na oposição: discurso pusilânime ou sabedoria mineira?




Muita gente reclamou do primeiro discurso de Aécio Neves como incontestável líder da oposição após ter recebido 51 milhões de votos. Esperavam mais dele, uma posição mais aguerrida, combativa. Condenaram suas críticas ao lado mais agressivo das manifestações que pedem o impeachment da presidente Dilma ou mesmo a intervenção militar. Disse o tucano:


“Eu respeito a democracia permanentemente. Qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição. Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão em outro campo político, não estão em nosso campo político.”


Claro que os jornalistas vão destacar a parte do que ele condena nas manifestações, mas o que mais ele poderia ter dito? Que aplaude uma eventual forma autoritária e truculenta de protestar? Seria absurdo. Aécio deve mostrar total compromisso com os caminhos legais e democráticos, e rejeitar qualquer coisa que pareça com “golpismo”.

O que se espera dele é uma oposição firme sim, mas respeitando todos os trâmites democráticos e as regras do jogo. Não aceitamos a máxima petista de que os fins nobres justificam quaisquer meios. Aécio deve cobrar esclarecimentos, deve combater qualquer vestígio de desvio do governo, deve votar com base nos interesses nacionais, não partidários. É isso que se espera de um líder de oposição.

Claro, entendo a angústia de muita gente da direita. Afinal, o PSDB nunca foi um partido de direita. Alguns tucanos estão desesperados, tentando deixar isso bem claro. Sua origem é a social-democracia europeia, ou seja, um partido de centro-esquerda. Só mesmo no Brasil o PSDB passou a ser associado ao “neoliberalismo”.

A direita órfã encontrou abrigo no PSDB, por falta de opção. Isso não faz do PSDB um partido de direita. Mesmo na direita há muita divergência. Alguns gostariam de alguém como Jair Bolsonaro como porta-voz, outros não aceitam uma postura tão radical ou agressiva. Alguns clamam por intervenção militar, outros julgam esta demanda absurda e querem fortalecer as instituições democráticas, ainda existentes.

Isso tudo mostra como é necessário para a direita ter representação partidária, talvez mais de uma. O ideal seria um partido mais conservador, e outro mais liberal. O PSDB ficaria, então, como representante legítimo da social-democracia, a esquerda civilizada e democrática. Como nos principais países desenvolvidos.

Enquanto isso, é o PSDB que temos, todos nós que desejamos, acima de tudo, resgatar o respeito às instituições democráticas e combater essa quadrilha instaurada no poder. Desde Marina Silva e Eduardo Jorge até Bolsonaro e Feliciano, passando pelos liberais: estão todos juntos contra o PT. E essa união é fundamental para a vitória da democracia.

Claro que os mais à esquerda vão reclamar muito da “infiltração” da direita nessa oposição representada por Aécio Neves. E claro que a ala mais à direita vai criticar a “pusilanimidade” do tucano, que, afinal, não é conservador nem de direita. Está mais para Tancredo ou Ulysses do que para Carlos Lacerda.

No estilo mineiro ou com a persistência e paciência de Ulysses, vai comendo pelas beiradas para alcançar o poder e de lá tirar o PT. Quase conseguiu logo na primeira tentativa, contra todas as expectativas, contra o abuso da máquina estatal, o terrorismo eleitoral, a difamação e calúnia dos militantes petistas.

Não devemos confundir o que gostaríamos de ver Aécio falando com aquilo que é realmente mais eficaz do ponto de vista de resultado. Aécio precisa se estabelecer como líder da oposição, uma oposição firme e disposta a enfrentar o PT sem medo. Mas não deve ser truculento ou agressivo, passar do limite, pois isso aliviaria em parte nossas angústias e daria vazão ao nosso sentimento de indignação, mas não garantiria mais votos no futuro, dos indecisos ou dos que escolheram Dilma por alienação ou medo.

Confiemos no mineiro! Ele surpreendeu a todos com sua postura otimista e confiante nas eleições, e também pela firmeza, mesmo sob os ataques mais pérfidos já vistos na história de nossa democracia. Aécio não pode se curvar diante do PT em hipótese alguma, mas tampouco deve se transformar num Carlos Lacerda agora. Não é seu perfil, não é seu estilo, e também não é o necessário para conquistar mais adeptos em cima do muro.

Em vez de produzir mais calor, é hora de produzir mais luz!

Rodrigo Constantino

Se Dilma enganar seus eleitores e “tucanar” de vez, isso é bom ou ruim para o país?

05/11/2014
 
 



Mal foi reeleita e Dilma já começa a escancarar o estelionato eleitoral que praticou. Esqueçam o que foi dito durante a campanha: ali valia tudo para vencer, e apenas isso importava. Agora ela precisa ser mais realista, encarar o Brasil de verdade, não aquele da propaganda de João Santana. Não será nada fácil.


As primeiras medidas mostram que algum grau de realismo até mesmo Dilma terá de demonstrar. Aumento na taxa de juros, como se Arminio Fraga fosse o novo ministro da Fazenda, segundo a fala da própria presidente. Preços sendo aumentados após ficarem represados por causa da eleição. E até mesmo banqueiros, ó céus!, cogitados para assumir a pasta no lugar de Mantega. Isso é bom ou ruim?


Divido a resposta em duas partes. Do ponto de vista econômico, sem dúvida seria positivo Dilma ter mentido descaradamente para seus eleitores e enganado os trouxas. Afinal, insistir em suas promessas e levar a cabo seu discurso de campanha seria catastrófico para o país.


E não sou daqueles que acha que quanto pior, melhor. Até porque o fracasso econômico não é garantia de derrota política, como vimos na Venezuela e na Argentina. Se o PT conseguir aparelhar toda a máquina estatal e o que falta no STF, nem uma crise econômica nos salvará do bolivarianismo.


Logo, seria bom para a economia o estelionato eleitoral e uma “tucanada” de Dilma. O que não acho que vai acontecer de fato. Algumas coisas sim, como já estamos vendo. Mas não creio no repentino despertar para o bom senso de nossa presidente, cujo ranço ideológico e autoritário é muito forte. Mesmo sob pressão de Lula e da economia, acho mais provável ela fazer poucas concessões, mas manter sua “nova matriz macroeconômica”, insistir nos erros, e até dobrar a aposta.


Já do ponto de vista político, o estelionato eleitoral seria bastante negativo. Qual mensagem fica se um partido pode simplesmente falar o que bem entender durante a campanha, e logo depois fazer o oposto? Qual o efeito disso para nossa democracia a longo prazo?


Uma candidata que diz que banqueiro na Fazenda significa falta de comida para os pobres, e logo depois indica um banqueiro para a Fazenda? E vamos aceitar passivamente isso só porque é melhor para a economia? E para nossa moral, nossos costumes, nossos valores éticos? Eles não importam? Devemos aceitar calados um verdadeiro golpe eleitoral? Não estaríamos assinando embaixo que vale tudo para ficar no poder?


Enfim, se Dilma realmente adotar uma postura mais tucana, isso será evidentemente bom para a economia, pois a turma do PT é terrível e nada entende de economia, mas será ruim para a democracia. Porém, como já disse acima, acho pouco provável uma mudança tão radical de Dilma. Por isso mesmo não corremos muito “risco” de dar certo…

Rodrigo Constantino

O mesmo filme Rollemberg e Marconi selam parceria para resolver problemas no Entorno

4 de novembro de 2014 Estação da Noticia
publicado às 23h02


Aconteceu nesta terça-feira (4) a primeira reunião entre o governador eleito do DF, Rodrigo Rollemberg, e o governador reeleito pelo estado de Goiás, Marconi Perillo. Eles conversaram sobre os passos a serem tomados para resolver problemas comuns entre o Entorno e o DF.

Não é a primeira vez que a cena se repete entre um governador do DF e de Goiás. Os ex-governadores Joaquim Roriz e José Roberto Arruda também tentaram a mesma coisa, mas tudo ficou apenas nas intenções.  

O encontro ocorreu na sede do partido de Rollemberg, o PSB. Os governadores criaram uma pauta com assuntos relacionados à saúde, segurança e transporte. Para a próxima semana, eles estão com reunião marcada com a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre).

— Vamos discutir com a ANTT formas de integrar o transporte coletivo do DF e Entorno para melhorar a questão de custos, que é grande, para o trabalhador que mora no Entorno e trabalha no DF, explica Rollemberg.

Marconni Perilo disse que vem a Brasília toda semana e vai estar aberto a conversas mais frequentes com o novo governo. Segundo ele, esse contato não era tão próximo na gestão de Agnelo.

— Faltava uma agenda e diálogo mais permanentes. Eu tenho certeza que isso será corrigido a partir de agora.
Estreitar os laços com o governo de Goiás é um dos primeiros passos de Rollemberg nesse período de transição.


Nesta segunda-feira (3), foi publicado no Diário Oficial da União as atribuições do comitê indicado pelo novo governador para recolher dados e avaliar a gestão de Agnelo Queiroz. Com informações do R7.

Homem que doou sêmen a um par de lésbicas é obrigado a pagar pensão




BLOG ORGULHO HÉTERO


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Uma juíza do Kansas determinou que um homem (foto), de 46 anos, que doara sêmen para um casal de lésbicas pague pensão alimentícia, apesar de as partes terem assinado um documento que aliviava William Marotta das obrigações legais como pai biológico da criança que seria gerada.

Segundo a juíza Mary Mattivi, William e o casal não cumpriram a lei estadual, que exigia a presença de um médico licenciado durante a inseminação artificial. Essa violação, afirmou a magistrada, mantém todos os deveres de William como pai, segundo o “Topeka-Capital Journal”.

Em 2009, William respondeu a um anúncio de Jennifer Schreiner e Angela Bauer no site de classificados Craigslist. Um ano depois da doação de sêmen, Jennifer deu à luz.

Só que, pouco depois do nascimento da criança, o casal se separou. Após dois ano, Angela sofreu uma lesão e ficou impossibilitada de trabalhar. Jennifer entrou, então, com pedido de pensão do governo. O pedido foi negado.

O estado do Kansas resolveu recorrer ao pai biológico, pedindo na Justiça que William pagasse pensão para a criança do filho que ele gerara. Venceu a batalha.

Fonte: O Globo

Oposição sem trégua - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 05/11
Com um discurso firme e sem subterfúgios, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, marcou ontem sua volta à luta política, depois da derrota para a presidente Dilma na disputa pela Presidência da República, com a atitude de quem pretende assumir a liderança da oposição brasileira e não dar tréguas ao governo que, embora tendo sido eleito legitimamente, não tem crédito para contar com a boa vontade da oposição, hoje representante de quase metade dos eleitores que votou na eleição presidencial.

Fortalecido pelas urnas, Aécio pretende dedicar sua atuação no Senado a um combate permanente ao PT, assim como a oposição de diversos matizes, que não está disposta a dar espaços para o PT, no Congresso e também nas ruas.

A oposição oficial se afasta, como não poderia ser diferente, de manifestações golpistas que surgem aqui e ali nas primeiras passeatas antipetistas registradas logo depois das eleições. Esse não é o sentimento majoritário da oposição brasileira, mas caberá ao governo se afastar também de seus radicais. E afastar, sobretudo, a ameaça de se alinhar, mais do que já acontece, aos governos bolivarianos que pregam a revolução no continente.

O acordo de cooperação entre o governo venezuelano e o MST, firmado em solo brasileiro, é ato de provocação radical que só acontece devido à complacência do governo brasileiro com seus vizinhos bolivarianos. E a saudação de Nicolás Maduro à reeleição da presidente Dilma, como se fosse o sinal de um aprofundamento da revolução na América Latina mostra que, pelo menos para os venezuelanos, estamos seguindo os seus passos.

Resta para a presidente reeleita mostrar com atos que não se trata disso.

Pizzolato

Blogs e publicações ligadas ao petismo, seja por interesses financeiros ou por proximidades ideológicas, ou excepcionalmente os dois, andaram espalhando que o que chamam de "grande imprensa" escondeu as verdadeiras razões por que a Corte de Bolonha negou a extradição do mensaleiro Henrique Pizzolato, que fugiu do país e foi preso na Itália. Além das péssimas condições das prisões brasileiras, os juízes italianos teriam aceitado outros dois argumentos da defesa, o que evidenciaria as "anomalias do julgamento da Ação Penal 470". Os magistrados italianos teriam apontado a falta de duplo grau de jurisdição no julgamento do mensalão pelo STF, "direito universal", segundo um dos blogueiros, e a omissão de provas apresentadas pela defesa. Pura mentira. A íntegra da sentença foi divulgada ontem, e nela está dito, com todas as letras, que a Corte considerou "infundadas" todas as alegações da defesa, inclusive a suposta omissão de provas. Com relação ao duplo grau de jurisdição, a sentença diz que esse direito pode ser alvo de exceção quando o interessado já tiver sido julgado em primeira instância por um tribunal superior, tanto é assim que o ordenamento jurídico italiano prevê um único grau de jurisdição na Corte Constitucional. No fim, o único argumento considerado válido foram as más condições das prisões brasileiras. Toda a onda feita sobre problemas no processo do mensalão acaba de ser derrubada no primeiro teste internacional a que foi submetida.

Bancos e bancos

Para aumentar o ridículo da coisa, circulam entre os petistas justificativas para a insistência do expresidente Lula de ter o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, no Ministério da Fazenda depois que a campanha de Dilma demonizou os banqueiros na figura da educadora Neca Setubal. É que o Bradesco seria um "banco popular", enquanto o Itaú seria "um banco de elite".


Toque de reunir - DORA KRAMER


O ESTADÃO - 05/11


A julgar pelas decisões tomadas na reunião da direção Executiva do PT nesta segunda-feira, o partido parece mais empenhado em falar à militância que propriamente interessado em colaborar com a presidente Dilma Rousseff para enfrentar as dificuldades e dirimir os atritos já contratados para o segundo mandato.

As resoluções divulgadas vão todas na contramão do discurso de conciliação do governo, vocalizado pela presidente e levado por seus interlocutores ao Congresso a fim de propor uma trégua. O tom está longe de evocar unidade. Por outra, soa a demarcação de terreno.

Logo de início o partido reivindica participação "ativa" nas decisões políticas e econômicas dos próximos quatro anos. Desnecessário dizer o que o setor privado com o qual o governo busca reaproximação pensa do "ativismo" petista na economia. Quanto à política, é justamente da exclusiva influência do PT nas decisões de poder que reclamam os partidos aliados quando reivindicam participação efetiva, e não apenas o papel de coadjuvantes submissos.

A agenda prossegue com a decisão de enfrentar o PMDB na disputa pela presidência da Câmara. Não que o PT não tenha esse direito. Mas há maneiras e maneiras. Uma delas é iniciar a conversa falando em negociação, principalmente quando é o adversário quem momentaneamente está na posição do mais forte. O jeito que os petistas entraram no assunto, digamos de sola, oferece ao PMDB rebelde o argumento ideal para conquistar o apoio da oposição.

A dissonância não para por aí. O partido insiste na proposta de reforma política não só mediante plebiscito, mas por meio de convocação de Assembleia Nacional Constituinte exclusiva; sugestão ampla, reiterada e contundentemente repudiada pelos partidos e entidades mobilizadas em torno do assunto.

E como se não bastasse, o PT anuncia que pretende retomar o projeto dos conselhos populares que acabou de ser derrotado na Câmara dos Deputados. Em suas resoluções de ano novo inclui também a velha ideia do controle social (agora sob a denominação de "econômico") dos meios de comunicação.

Seria o cardápio ideal para uma agremiação interessada em colecionar derrotas ou se dedicar ao exercício da malhação em ferro frio. Não sendo esses os objetivos do PT, só resta a hipótese de que o partido esteja pouco se importando com a construção de convergências que ajudem a presidente. Parece, isso sim, mais empenhado em falar ao público interno para mobilizar a antiga militância e tentar fazer ligação direta com a "rua", a fim de enfrentar a oposição passando ao largo do Congresso.

Mais embaixo. Os apelos do Palácio do Planalto à trégua no Congresso têm um pouco a ver com a chamada "pauta bomba" de criação de despesas, mas têm muito mais a ver com o receio de perder o controle da base em outro tipo de agenda: comissões de inquéritos, convocações de autoridades, tramitação de processos de cassação e até eventuais pedidos de impeachment aos quais governos estão sempre sujeitos.

Deixa que digam. Os eleitores inconformados com o resultado da eleição têm o direito de se manifestar. Já os políticos derrotados têm o dever de repudiar atos que resvalem para agressão ao regime democrático, sem dar a menor margem à desconfiança de que estariam de acordo com palavras de ordem que pregam interrupção ilegal de mandatos e pregam a volta dos militares.

Tudo bem. É gente que não sabe o que diz. Que não poderia dizer o que bem entendesse se seus apelos fossem atendidos. Mas convém manter tais gatos pingados à distância, desprovidos de eco até que o berreiro tenha por destino a morte por inanição.


De Dilma para Dilma - CRISTIANO ROMERO



VALOR ECONÔMICO - 05/11 


A presidente Dilma Rousseff tem consciência de que precisa mudar a política econômica. Sabe que o risco, neste momento, é o país entrar numa grave crise econômica.

"Não tem saída", disse a esta coluna um interlocutor privilegiado da presidente.

"Tenho certeza absoluta de que o governo vai fazer o ajuste." Apesar de ter consciência dos problemas, Dilma não tem a urgência dos mercados: ela ainda não escolheu quem substituirá Guido Mantega no comando do Ministério da Fazenda. Nem muito menos quem presidirá o Banco Central (BC) a partir de janeiro. "Ela não tem a urgência do curto prazo. Vai fazer tudo ao seu tempo", contou um auxiliar.

Há um jogo de bastidor em curso, além da tentativa de setores do PT de impedir uma guinada ortodoxa: a presidente analisa, de fato, a nomeação de Henrique Meirelles para a Fazenda, mas há um rito a ser seguido. O primeiro passo é tratar do assunto com o ex-presidente Lula. Este já fez chegar a Dilma sua predileção por Meirelles, que presidiu o BC de forma bem-sucedida em seus dois mandatos. Mas não houve ainda uma "conversa pessoal" entre os dois. "A presidente não vai fazer nada sem antes conversar com uma pessoa: Lula", revelou uma fonte.

Há outras duas condições.

Dilma não aceitará a ideia, muito forte nos mercados, de que Meirelles entrará para o governo como o "salvador da pátria". "Ela não teve 54 milhões de votos para se submeter a isso", observou um colaborador. O outro aspecto relevante é o estabelecimento de um "acordo de convivência" entre os dois.

Em 2013, Lula tentou convencer Dilma a levar Meirelles para o governo. O argumento, já em abril daquele ano, é que isso ajudaria a restaurar a credibilidade da política econômica, abalada por contabilidades criativas e que tais. Lula está convencido de que, se tivesse seguido seus conselhos, Dilma teria vencido a eleição no primeiro turno, sem sustos.

Ao tempo em que o ex-presidente fez a indicação, havia apenas uma palavra para definir o que a presidente sentia por Meirelles: "desprezo".

Conforme noticiou a repórter Andréa Jubé, do Valor, Dilma mudou de ideia. "Hoje é diferente. As circunstâncias mudaram", comentou um assessor. "Continuo achando difícil [a escolha de Meirelles], porém, hoje, não descarto." Dilma não gosta de Meirelles porque o considera "liberal". Em 2010, pressionou-o mais de uma vez porque o BC iniciou um ciclo de aperto monetário em meio à campanha presidencial - na verdade, fez isso em abril, junho e julho, mas parou em setembro, véspera da eleição, mesmo tendo sinalizado antes que seria necessário elevar a taxa básica de juros (Selic) naquele momento.

Na transição de governo, a então candidata eleita teria dito a Meirelles que gostaria de chegar ao último ano do primeiro mandato com Selic real inferior a 2% ao ano. O então presidente do BC teria afirmado que não é possível trabalhar com meta de juros, mas, sim, de dívida pública, pré-condição para a queda da taxa Selic. Dilma não gostou e Meirelles ficou fora do governo. O então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ainda se esforçou, em vão, para indicá-lo a outro cargo.

Pode não ser de agora a mudança de opinião de Dilma quanto a Meirelles. Durante a campanha, o ex-presidente do BC recebeu alguns sinais do entorno da presidente, todos na direção de que ele pode vir a ser convidado a integrar o novo governo. Mas havia também a percepção de que isso só ocorreria se a situação econômica do país piorasse. O fato é que piorou e tudo indica que continuará piorando se nada for feito.

Se a nomeação de Meirelles não se confirmar, Nelson Barbosa pode vir a ser convidado. A relação de Dilma com o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda não é hoje das melhores, a presidente se chateou com a forma como ele deixou o governo e mais ainda com as críticas que vem fazendo à sua política econômica - sabe-se agora, por exemplo, que, numa reunião fechada promovida pela Anbima, ele teria tachado de "desastrosa" a decisão do BC de reduzir juros em agosto de 2011.

Apesar disso, Dilma gosta de Barbosa e se sente ideologicamente próxima dele.

As rusgas de Nelson Barbosa com Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, que deve continuar no governo, embora em outro cargo, não representam um impeditivo, garante um assessor.

O trabalho de quem assumir a Fazenda não será nada fácil. O quadro é de deterioração dos principais fundamentos da economia. No afã de produzir resultados a curto prazo, o governo lançou mão de uma série de experimentos heterodoxos que, no fim, não apenas não produziram os resultados esperados, mas também colocaram em risco conquistas alcançadas nos últimos 20 anos, como o controle da inflação e o equilíbrio das contas públicas.

O quadro abaixo mostra o país que a presidente Dilma encontrou e o que está entregando quatro anos depois.

Ela entrega, na verdade, a si mesma porque, reeleita, terá que lidar com a própria herança. Os indicadores fiscais e externos mostram forte deterioração, mas, a rigor, tudo piorou: inflação, investimento e PIB.



Mensagem antiga mas infelizmente muito atual.O PT e a inteligencia infantil (Jean Piaget)


Quatro anos num domingo - FERNANDO GABEIRA




O ESTADO DE S.PAULO - 24/10

A campanha chega ao fim com o grande debate de hoje. Alguns temas ficaram de fora. Do Rio Piracicaba à nascente do São Francisco, na Serra da Canastra, encontrei vestígios da grande seca, talvez a maior dos últimos 50 anos no Sudeste. Ignoro o que os candidatos pretendem fazer a respeito. Não falam em recuperação de rios, fortalecimento dos comitês de bacia, nada que lembre uma política de recursos hídricos. Apenas se culpam.

Não sei se todos têm a sensação de que há uma distância entre o País dos debates e o da vida real. Creio que a distância às vezes é ampliada pelo próprio debate, que deveria encurtá-la.

Jean Piaget escreveu muito sobre inteligência infantil. Ele descrevia um tipo de linguagem que prevalece numa faixa de idade: a linguagem egocêntrica. Nela não importa necessariamente fazer sentido, muito menos comunicar-se com o outro.

Apesar dos debates sem mediação, foi impossível estabelecer um fio da meada. Dilma comportou-se como se fosse uma candidata da oposição em Minas Gerais. Após o debate no SBT sua memória falhou em alguns momentos. Depois de tropeçar na palavra inequívoca, ela capitulou em mobilidade urbana, pediu um pouco de água, sentou-se para descansar. O que se passa no cérebro de Dilma, como se articulam nela uma camada do córtex com uma região do hipocampo, criando ou embotando a memória, é uma análise que farei depois de pesquisar o tema.

Dilma está se transformando numa equilibrista que entra em cena mesmo sem ter completado o período de formação. No caso da Petrobrás, a opção do governo era negar as denúncias: são apenas vazamentos clandestinos. No campo do feminismo, Dilma projetou imagem dura ao ironizar o choro de Marina Silva, bombardeada pelas mentiras do PT: o cargo de presidente não é para coitadinhas, afirmou.

Quando soube que um ex-dirigente do PSDB, Sérgio Guerra, também foi acusado de receber propinas no escândalo da Petrobrás, Dilma passou a acreditar nas denúncias. E afirmou: houve desvios. O fluxo de denúncias não acabara. Depois de Sérgio Guerra, aparecia em cena o nome de Gleisi Hoffman, ex-chefe da Casa Civil no governo Dilma. Nesse caso, a presidente voltou a duvidar e pedir precauções. Ficou evidente que as denúncias valem quando envolvem o adversário, mas são levianas e perigosas quando envolvem o governo.

Depois do piripaco de Dilma, Lula e outros insinuaram que Aécio agride mulheres e isso pode ter influenciado a performance dela. Marina tinha de apanhar sem choro, pois a "Presidência não é para coitadinhos".

O escândalo da Petrobrás, embora possa ter envolvido gente da oposição, é de principal responsabilidade do governo. A empresa está sendo investigada nos EUA. Lá, por exemplo, a lei é clara e responsabiliza também os dirigentes da empresa, mesmo que não tenham tocado no dinheiro.

O choro da Marina massacrada é fraqueza; a crise de Dilma, uma consequência do machismo. Eles reinventam o mundo à sua maneira. Passada a eleição, em vez de ficar remexendo a essência macunaímica do PT, talvez fosse necessária uma avaliação mais profunda de como uma experiência histórica termina na porta da delegacia.

Análises sobre a trajetória da esquerda no século passado ocuparam grandes historiadores. Tony Judt dedicou parte de seu trabalho aos intelectuais franceses e seus equívocos. No caso europeu, as hesitações diante do stalinismo conduzem um dos fios da meada. Aqui, no Brasil, não creio que o stalinismo tenha o mesmo peso. O fio da meada é a relação com a ditadura cubana, a admiração por um regime falido e o silêncio inquietante sobre seus crimes.
A trajetória da esquerda brasileira no governo mudou. Goulart foi derrubado pelos militares que alegavam combater a subversão e a corrupção. A corrupção era algo mais simbólico no seu discurso. Envoltos na guerra fria, os militares queriam, principalmente, derrotar o comunismo. Essa passagem de uma resistência à ditadura militar, o trânsito das páginas políticas para as policiais, essa mudança de ala nas penitenciárias é uma guinada na história da esquerda.

Tanto se falou em Goebbels, o homem da comunicação de Hitler, que a tática de repetir a mentira passou a ser até elogiada por alguns. O encontro da tática do PT com Goebbels não é acidental. Assim como o encontro das Farc com o tráfico de drogas também não o foi.
Quando desaparecem os objetivos estratégicos, quando o único alento é ganhar o poder, desaparece também a fronteira entre política e crime. Não te prendem mais em quartéis, mas na delegacia da esquina; já não se ergue o punho cerrado pelo futuro da humanidade, mas para garantir o banho de sol; não se comemoram grandes viradas históricas, mas o ingresso no regime de prisão albergue.
A transformação de uma força política num compacto muro de cinismo, o trânsito de ideias, aparentemente, generosas para a delinquência intelectual - tudo isso configura uma fascinante matéria de estudo.

Não sei se teria a isenção para cumprir a tarefa: ela mexe comigo, com a história pessoal, com as ilusões que me moveram no século passado. Mas alguém escreverá a história do nosso passado imperfeito, como Tony Judt fez com a intelectualidade francesa do pós-guerra.

No continente já estamos no socialismo do século 21. Em Caracas não se racionam mais os produtos básicos com cadernetas, mas com as impressões digitais. De Cuba para a Venezuela houve um salto tecnológico no interior do mesmo atraso.

Mas a sedução do modelo ainda não foi abalada na esquerda brasileira. O verdadeiro século 21, de certa forma, não chegou. Quem sabe, domingo?

Um exame profundo dessa longa trajetória histórica pode começar, se o PT perder. Se vencer, será preciso concentrar a energia na vigilância cotidiana e preservar alguma esperança no Brasil.

Vitoriosos depois do assalto à Petrobrás, os petistas logo estariam sonhando com o assalto aos céus.