sexta-feira, 26 de julho de 2019

Três tios de Deltan Dallagnol figuram entre desmatadores da Amazônia

Três tios de Deltan Dallagnol figuram entre desmatadores da Amazônia

In Amazônia, De Olho na Política, De Olho no Agronegócio, De Olho no Ambiente, Desmatamento, Em destaque, Grilagem, Latifundiários, Principal, Últimas
Envolvida em disputa de terras, família do procurador da Lava Jato responde também por crimes ambientais na região de Nova Bandeirantes, em região conhecida como “portal da Amazônia”; eles são acusados de fazer loteamentos ilegais


Por Leonardo Fuhrmann e Alceu Luís Castilho



Dois tios e uma tia do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, foram flagrados por desmatamento ilegal na Amazônia. Os três casos ocorreram em Nova Bandeirantes, município em que membros do clã Dallagnol são proprietários de vários latifúndios, entre eles os pais de Deltan: o procurador de Justiça aposentado do Paraná Agenor Dallagnol e Vilse Salete Matinazzo Dallagnol. Um dos flagrados por infração contra a flora é Xavier Dallagnol, peça importante para se entender a territorialização da família na região. Outro é Leonar Dallagnol, conhecido como Tenente. Saiba mais sobre ele aqui: “Conhecido como Tenente, Leonar Dallagnol foi acusado de invadir terras ao lado de Pedro Doido”.

Desmatamento em Nova Bandeirantes. (Foto: Daniel Beltra/Greenpeace)
No noroeste do Mato Grosso, quase na fronteira com Amazonas, Nova Bandeirantes está localizada no Portal da Amazônia, região da Amazônia Legal, que marca a entrada para a floresta pelo estado. A área concentra um dos principais focos do desmatamento do país nos últimos anos. Por essa razão, foi incluída no chamado arco do desmatamento. O município, emancipado de Alta Floresta no início dos anos 1990, começou a ser formado a partir de 1982, em um processo de ocupação iniciado ainda durante a ditadura militar. Foi o período em que os Dallagnol chegaram à região.

Os negócios da família em Nova Bandeirantes são geridos principalmente pelos irmãos Xavier Leonidas Dallagnol e Leonar Dallagnol, o Tenente. Os dois irmãos, Xavier e Tenente, já foram flagrados em desmatamento irregular. Em 2010, Tenente assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Estadual do Mato Grosso por degradação do ambiente. Ele foi acusado de destruir a vegetação da área de reserva legal da Fazenda Aruanã.

Xavier e a mulher, Maria das Graças, foram autuados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento ilegal, ambos em 2017. Xavier foi multado pelo desmatamento de uma região de 276,5 hectares. Maria das Graças Prestes recebeu autuação pela devastação na Fazenda Iassã, na região de Japuranã, também em Nova Bandeirantes. Essas duas multas ainda não foram pagas, porque há recursos pendentes de julgamento.

XAVIER DALLAGNOL E ‘TENENTE’ SÃO ACUSADOS DE LOTEAR TERRAS ILEGALMENTE


Mapa mostra desmatamento na região de Nova Bandeirante. (Fonte: ICV)

Além de desmatar, os dois tios de Deltan – o procurador tem mais quatro tios com latifúndios na região – são acusados de lotear terras ilegalmente: Leonar, o Tenente, e Xavier Dallagnol foram alvos de um inquérito em Nova Monte Verde, município próximo de Nova Bandeirantes.

Tenente confirmou ao Ministério Público, em 2016, que era o proprietário do loteamento Estrela Dalva e que o irmão Xavier era o responsável pelo loteamento Jupuranã, também no  município. A empresa Estrela Dalva Empreendimentos Imobiliários, criada naquele ano e localizada na gleba Japuranã, epicentro dos latifúndios da família, está, de fato, em nome de Leonar Dallagnol, conforme apurou o De Olho nos Ruralistas. Ele é o único sócio.

A investigação do Ministério Público continua em andamento. Em outro inquérito por loteamento ilegal, Xavier Dallagnol – defensor de acusados por grilagem – foi beneficiado pela prescrição da pena, segundo o Portal da Transparência do MP-MT.


‘EXTRAÇÃO IRREGULAR DE MADEIRAS DE TODAS AS ESPÉCIES’

 

Xavier Dallagnol está envolvido em uma disputa judicial de terras com a Madeireira Juara, em Nova Monte Verde. No ano passado, ao longo do processo, Xavier e a esposa foram acusados de desrespeitar decisões liminares e causar dano ambiental na área em disputa, com a “extração irregular de madeiras de todas as espécies”.

Ele e a madeireira também são investigados por dano ambiental em um inquérito proposto pelo Ministério Público do Mato Grosso, a partir de representação da Associação Comunitária Rural Matrinchã. A investigação está em andamento, segundo o portal da transparência do MP-MT. No município, Xavier é investigado em outros processos, inclusive inquéritos policiais, por dano ambiental.

Deltan Dallagnol não quis se manifestar sobre o assunto, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no Paraná. Xavier Dallagnol foi procurado em seu escritório, mas não retornou as ligações até o fechamento desta reportagem. Leonar não foi localizado.

Foto principal: documento do Ibama registra autuação de Xavier Dallagnol. (Fonte: Ibama)

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Conhecido como Tenente, tio de Deltan Dallagnol foi acusado de invadir terras ao lado de “Pedro Doido”
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Indenização milionária para os Dallagnol no MT foi liberada quando diretor de Obtenção de Terras do Incra era do estado
Na outra ponta do impasse fundiário em Nova Bandeirantes (MT), camponeses se sentem acuados com situação

Encontro em SP discute alternativas ao agronegócio

Encontro em SP discute alternativas ao agronegócio

In Agricultura Camponesa, Agroecologia, De Olho na Comida, Em destaque, Povos Indígenas, Quilombolas, Últimas
De Olho nos Ruralistas, Slow Food, O Joio o Trigo e Campanha Contra Agrotóxicos debatem no dia 25, Dia Internacional da Agricultura Familiar, outras formas de cultivo; observatório lança “De Olho na Fronteira”, sobre latifundiários com terras no Mato Grosso do Sul e no Paraguai

O papel social, econômico e ambiental da agricultura camponesa será tema do debate “Por outra agricultura: construindo alternativas ao agronegócio”, quinta-feira, no Ateliê do Bixiga, em São Paulo. Na ocasião, especialistas no assunto apresentarão opções ao modelo de cultivo da terra propagado pelas grandes empresas com apoio da indústria, da mídia hegemônica e do atual governo, com forte representação na Câmara e no Senado por meio da bancada ruralista.

O encontro, promovido pelo De Olho nos Ruralistas em parceria com o movimento Slow Food Brasil, O Joio e o Trigo e a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida reunirá Ademar Ludwig, coordernador da Rede Armazém do Campo, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST); Glenn Makuta, do Slow Food; Susana Prizendt, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida; e João Peres, de O Joio e o Trigo. O debate será mediado pela antropóloga Natalie Lima, da equipe do De Olho nos Ruralistas.

Na pauta, discussões sobre o uso abusivo de agrotóxicos, os conflitos provocados por latifundiários na disputa por terras com indígenas, camponeses, quilombolas, as dívidas bilionárias do agronegócio com o governo e o enfraquecimento da legislação ambiental pela bancada ruralista.

Na mesma noite, o observatório apresentará ao público o mapa De Olho na Fronteira, a ser distribuído para a plateia. A publicação mostra quem são os grandes proprietários que enriqueceram com o modelo predatório do agronegócio brasileiro na fronteira entre o Paraguai e o Mato Grosso do Sul – região repleta de histórias de conflitos indígenas. São histórias de latifundiários – e não de colonos – que possuem latifúndios dos dois lados da fronteira. A maioria mora no Brasil.

O projeto para elaboração e impressão do mapa contou com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, com fundos do Ministério Federal para a Cooperação Econômica e de Desenvolvimento da Alemanha. Ele foi elaborado com base na série jornalística De Olho no Paraguai, um especial com 36 reportagens publicadas por este observatório. As histórias de desmatamento e os conflitos com camponeses e indígenas se repetem dos dois lados da fronteira, com os mesmos protagonistas.

No evento, os participantes terão oportunidade de degustar receitas agroecológicas, um oferecimento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e concorrerão ao sorteio de dois livros:

“O protegido – por que o país ignora as terras de FHC”, do jornalista Alceu Luís Castilho, coordenador do De Olho nos Ruralistas; e “Roucos e Sufocados”, de João Peres e Moriti Neto.
A entrada é franca, sem necessidade de inscrição.

Por outra agricultura: construindo alternativas ao agronegócio

Data
: dia 25 de julho, quinta-feira, às 19 horas
Local: Ateliê do Bixiga (Rua Conselheiro Ramalho, 945, Bela Vista)

Incra diz que desapropriação de R$ 41 milhões no MT que beneficiou pai, tios e primos de Deltan Dallagnol foi ilegal

Incra diz que desapropriação de R$ 41 milhões no MT que beneficiou pai, tios e primos de Deltan Dallagnol foi ilegal

In Amazônia, De Olho na Política, De Olho no Agronegócio, De Olho no Ambiente, Desmatamento, Em destaque, Latifundiários, Principal, Últimas
Presidente do órgão, general João Carlos de Jesus Corrêa investiga indenizações, diante dos “indícios de irregularidades” praticadas por servidores; família do procurador cedeu mais de 36 mil hectares para a reforma agrária e recebeu a maior bolada, R$ 37 milhões

Por Leonardo Fuhrmann e Alceu Luís Castilho

O Conselho Diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) abriu em maio um procedimento para investigar irregularidades na desapropriação dos imóveis que constituem a Fazenda Japuranã, em Nova Bandeirantes (MT), em região de floresta na Amazônia Legal. Entre os beneficiários da megadesapropriação estão pelo menos 14 parentes de Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba. Entre eles o pai do procurador da República, o ex-procurador Agenor Dallagnol. Somente a família de Deltan recebeu R$ 36,9 milhões em dezembro de 2016, durante o governo Temer, diante da desapropriação de pelo menos 37 mil hectares no município, no noroeste do Mato Grosso.

Série de dez reportagens mostra o avanço do clã nas terras do Mato Grosso. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)
O presidente do conselho e do Incra, general João Carlos de Jesus Corrêa, definiu no dia 10 de maio, em uma resolução, o bloqueio dos bens depositados e apontou “indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”. A decisão envolve uma área exata de 36.792 hectares, declarados de interesse social para fins de reforma agrária, ainda em 2013, e uma indenização total de R$ 41 milhões. A reportagem identificou que a maior parte desse valor foi destinada à família Dallagnol. Em uma das ações, capitaneada por uma tia do procurador, aparecem os 14 membros da família e outros fazendeiros da região interessados no desmembramento de suas terras.


De Olho nos Ruralistas pesquisa desde outubro a teia que envolve os latifúndios dos Dallagnol no Mato Grosso. Em uma série de dez reportagens, o observatório conta como boa parte da família do procurador se moveu para Nova Bandeirantes, em meio a um processo de colonização estimulado pela ditadura de 1964. Confira aqui o índice dos textos: “Desmatamento, disputa por terras, desapropriação ilegal: o que está por trás dos latifúndios dos Dallagnol na Amazônia?“. Alguns ainda irão ao ar.

Um estudo da Unicamp mostra que o clã chegou a ter 400 mil hectares somente naquele município, ocupado nos anos 80. Outras reportagens informam como esse processo está relacionado ao desmatamento, entre outras irregularidades protagonizadas ou defendidas pelo clã – uma família recheada de advogados e procuradores. Um resumo inicial foi publicado pelo observatório em edição da revista CartaCapital.

PRESIDENTE DO INCRA QUER BLOQUEAR GASTOS COM AS TERRAS

O Incra não atendeu aos pedidos de entrevista. Mas a resolução em maio se refere à identificação de irregularidades nas ações de desapropriação celebradas na sede do próprio órgão. Entre as 14 ações, quatro motivaram depósitos. Segundo o general, de acordo com as manifestações técnicas e pronunciamentos jurídicos foi feito um parecer em 2018, ainda durante o governo Temer, portanto, que orientou “pela reanálise dos atos administrativos praticados posteriormente ao ajuizamento das ações de desapropriação”. E pela suspensão das ações, “até que seja realizado o levantamento ocupacional do imóvel e sua interferência no valor de mercado”.

O presidente do Incra determinou ainda “tornar insubsistentes todos os atos administrativos realizados após o ajuizamento das ações de desapropriação” relativas aos imóveis da gleba Japuranã.

E solicitar à Procuradoria Federal Especializada junto ao Incra o peticionamento, em juízo, “pela suspensão de todas as ações de desapropriação dos imóveis Japuranã”, “e o bloqueio do quanto depositado, até que o Incra conclua os levantamentos necessários para fins de apuração do justo preço de cada imóvel”. O documento solicita ainda à Corregedoria Geral do Incra que “instaure os procedimentos cabíveis, considerando a existência de indícios de irregularidades nos atos praticados por servidores públicos”.

Jesus Corrêa é um general de brigada e foi nomeado para presidir o Incra em fevereiro deste ano, pelo presidente Jair Bolsonaro. Confira o documento, com os destaques feitos pelo observatório:

Incra pede a suspensão das ações de desapropriação em Japuranã e o bloqueio das indenizações. 
(Fonte: Diário Oficial da União/Reprodução)

FAMÍLIA RECEBEU PELO MENOS R$ 37 MILHÕES POR DESAPROPRIAÇÕES

Figuram na lista dos beneficiados pelas desapropriações os avós paternos de Deltan Dallagnol, Sabino e Mathilde Rovani Dallagnol, e os pais dele, o procurador de Justiça aposentado do Paraná Agenor Dallagnol e Vilse Salete Matinazzo Dallagnol, além de irmãos de Agenor (tios de Deltan) e seus sobrinhos (primos de Deltan). A ligação exata do procurador com seus parentes no Mato Grosso foi confirmada com o auxílio do Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), da Universidade Federal do Paraná. Confira a lista dos beneficiados:

Agenor e Deltan: pai do procurador recebeu por terras. (Foto: Facebook/Reprodução)

  • Agenor Dallagnol -> Pai de Deltan. Mora em Curitiba. Recebeu R$ 8,8 milhões.
  • Xavier Dallagnol -> Tio de Deltan, irmão de Agenor. É quem cuida da parte jurídica da face agropecuária da família. Mora e tem escritório em Cuiabá.
  • Leonar Dallagnol -> Tio de Deltan, irmão de Agenor. Conhecido na Gleba Japuranã como Tenente. É ele quem controla as terras da família na região.
  • Maria das Graças Prestes -> Mulher de Xavier, tia de Deltan. É o nome que encabeça a ação principal, com 25 interessados nas desapropriações. Recebeu R$ 1,6 milhão por uma desapropriação.
  • Ninagin Prestes Dallagnol -> Filha de Xavier e Maria das Graças, prima de Deltan. É a recordista em valor de desapropriação, com R$ 17 milhões. Advogada, trabalha no escritório do pai em Cuiabá.
  • Belchior Prestes Dallagnol -> Irmão de Ninagin. Recebeu R$ 9,5 milhões pela desapropriação.
Agenor Dallagnol, portanto, recebeu cerca de 1/4 do total das indenizações relativas às desapropriações na área. Aqueles R$ 8,8 milhões foram pagos, em dezembro de 2016, no primeiro ano do governo Michel Temer. No mesmo dia, foram liberados, segundo o Portal da Transparência, ao menos R$ 36,9 milhões de indenizações do Incra para integrantes da família do procurador. Cerca de 3/4 do total, quase R$ 27 milhões, foram para Ninagin e Belchior, filhos de Xavier Leonidas Dallagnol – o líder de fato das desapropriações.

Dos 25 citados na principal ação de desapropriação da área, ao menos 14 fazem parte da família Dallagnol. Pelo menos um deles, o patriarca Sabino Dallagnol, já faleceu. Alguns ainda não tiveram as indenizações liberadas – pelo menos até onde a reportagem conseguiu alcançar. Outro nome listado na principal ação, Maria Osmarina Campestrini, é amiga da família.

Essa “lista dos 25” tem ainda uma espécie de “núcleo Fabris”, referente à família de Euclides Fabris, um fazendeiro radicado no Mato Grosso do Sul. E, assim como Sabino, já falecido. Oito entre os 25 na ação principal pertencem a esse clã, que estende sua sede territorial até o Paraguai. De Olho nos Ruralistas contará ao longo da semana a história desses personagens secundários – mas tão interessados nas indenizações em Nova Bandeirantes quanto os parentes de Deltan Dallagnol.
Segundo a resolução, o Incra ajuizou 14 ações de desapropriação, mas “com o depósito inicial em somente quatro ações”.

DISPUTA JUDICIAL OCORRE DESDE 1996

O processo de desapropriação da gleba Japuranã, em Nova Bandeirantes (MT), tramita sem solução desde 1996. De um lado, 425 famílias lutam pelo reconhecimento formal de seu direito de permanecer na terra onde trabalham e produzem há mais de vinte anos, em uma área de 66,9 mil hectares – equivalente ao tamanho de Bahrein, país do Oriente Médio, e maior que Singapura, na Ásia. De outro, um grupo de antigos proprietários, boa parte deles ligada ao clã Dallagnol, disputa com o Incra qual o valor a ser pago.

O confronto fica mais complexo a cada dia. Atualmente, é difícil saber com clareza quem são os responsáveis por melhorias que aumentariam o valor da indenização a ser paga aos antigos donos. Isso sem contar a própria valorização que os proprietários têm em outras terras na região por conta do loteamento da área.

Agenor Dallagnol, sua mulher Vilse Salete e irmãos dele – como Veneranda (junto com o marido, Aglacir Sperança, dono de um escritório de contabilidade em Cuiabá), Leonar, Eduardo Carlos, Eliseu Eduardo e Xavier Leônidas – são sócios de terras na gleba. É um universo de latifundiários e de formados em Direito. A começar por Xavier, o advogado dos interesses da família na região, inclusive de Agenor.

Eliseu, também advogado, aparece apenas como parte nos processos. Iolanda Dallagnol Caovilla, moradora de Renascença (PR), cidade próxima a Pato Branco, onde nasceu Deltan, também é uma das partes. A única das irmãs identificadas de Agenor que não consta no processo é Derci Dallagnol Bassani, também moradora de Renascença.

Eduardo Carlos Dallagnol, conhecido como Zuki, foi citado pelo sobrinho Deltan em conversas no Telegram publicadas pelo The Intercept Brasil e pela Folha de S. Paulo no dia 14, sobre a tentativa do procurador de montar uma empresa junto com Roberson Pozzobom, seu colega no Ministério Público Federal em Curitiba, em nome das esposas, para ganhar dinheiro com a repercussão da operação Lava Jato.

Eles conversaram, segundo o Intercept, no fim de 2018. “Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar no networking e visibilidade”, escreveu Deltan Dallagnol. O tio Zuki é dono da Polyndia, empresa organizadora de eventos de Curitiba. “Eles [Polyndia] podem oferecer comissão pra aluno da comissão de formatura pelo número de vendas de ingressos que ele fizer”, afirmou o procurador. “Isso alavancaria o negócio. E nós faríamos contatos com os palestrantes pra convidar. Eles cuidariam de preparação e promoção, nós do conteúdo pedagógico e dividiríamos os lucros”.

Tia de Deltan, Adriana Vaz Dallagnol, também é sócia da Polyndia. E igualmente interessada nas desapropriações na Amazônia. Dos eventos à floresta.

No norte do Mato Grosso, Nova Bandeirantes está localizada no Portal da Amazônia, região da Amazônia Legal, a 2,5 mil quilômetros da cidade natal de Deltan e de Curitiba, onde ele trabalha atualmente. É um dos principais focos do desmatamento do país nos últimos anos.

O município, emancipado de Alta Floresta no início dos anos 1990, começou a ser formado a partir de 1982, em um processo de ocupação comandado pela empresa Coban, do empresário Daniel Meneghel, ainda durante a ditadura militar. Daniel e o irmão Serafim são empresários no Paraná. Em setembro, durante a campanha eleitoral, o general Hamilton Mourão, atual vice-presidente da República, viajou de carona em um avião dos empresários, ligados também à União Democrática Ruralista (UDR), com o atual secretário de política agrária, Nabhan Garcia e o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).

Foto principal: Deltan Dallagnol, paladino da luta contra a corrupção; desmatamento em Nova Bandeirantes. (Agência Brasil/Greenpeace)

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Governo quer reduzir mais de 60 unidades de conservação para beneficiar estradas, ferrovias, portos e aeroportos



Governo quer reduzir mais de 60 unidades de conservação para beneficiar estradas, ferrovias, portos e aeroportos


por  Mônica Nunes, Conexão Planeta –

Em. maio, o ministro condenado do meio ambiente, Ricardo Salles, anunciou que iria rever todas as 334 Unidades de Conservação existentes no país porque “parte delas foi criada sem nenhum tipo de critério técnico”. Na época, ele acionou seu ministério para que analisasse as áreas protegidas (ainda) administradas pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade. Sua intenção era explorar cada centímetro de área natural com a parceria da iniciativa privada.  Falou em turismo e extrativismo, mas agora vem à tona o verdadeiro propósito do governo.

O jornal O Estado de São Paulo teve acesso a documento encaminhado pelo ministério da Infraestrutura ao ICMBio – aquele no qual especialistas foram substituídos por militares -, com levantamento detalhado de cada Unidade de Conservação (UC) administrada pelo órgão, indicando as que estão “em conflito” (tradução do ministério do meio ambiente: “interferindo nas obras”) com as vias de transporte do país, o que exige sua redução.

A intenção de Bolsonaro era fazer tais alterações por decreto presidencial – como fez com o uso de armas e a extinção dos conselhos participativos, sem sucesso -, mas foi informado de que, neste caso, é necessário criar um projeto de lei.

Por isso, o ministério de infraestrutura – com o apoio do ministério do Meio Ambiente – está trabalhando arduamente para apresentar, em breve, projeto de lei que possibilite reduzir UCs, que representam 9,1% do território brasileiro e e 24,4% da costa marinha, mas que estão “atrapalhando” o projeto desenvolvimentista do governo Bolsonaro.

O objetivo é eliminar “interferências” nas estruturas existentes e também dar “segurança jurídica” para a construção de ferrovias, portos, aeroportos e estradas federais, sejam obras públicas ou concedidas à iniciativa privada. Tudo para facilitar a atuação do setor produtivo, custe o que custar, mesmo que seja a conservação do meio ambiente
Veja só uma parte do diagnóstico: existem 54 unidades de conservação interceptadas por rodovias e ferrovias e 37 rodovias e ferrovias que margeiam áreas protegidas. Também terão que ser revistas cerca de 7 áreas que revelam conflito com 8 aeroportos de pequeno porte, além de 8 sobreposições de portos públicos e privados.

“A regularização dessa situação é necessária tanto para segurança jurídica da infraestrutura quanto para garantir a efetiva preservação ambiental”, declara o ministério da infraestrutura no documento. “Para tanto, entendemos que é preciso que haja a desafetação ou a redução dos limites dessas unidades”, complementa o texto da pasta, lembrando que tais mudanças só podem ocorrer por meio de lei específica. A questão é que, para “corrigir” tais “conflitos”, será preciso recortar as áreas, certamente criando fragmentos de florestas, o que impede que o equilíbrio ecológico seja mantido. Isso significa que os ambientes onde essas reduções forem implementadas, podem se tornar florestas zumbi já que será impossível mantê-los em harmonia. Leia estes dois textos para entender melhor esse fenômeno: Degradação cria “floresta zumbi”na Amazônia e O apocalipse zumbi da Mata Atlântica já começou.

Assim sendo, o projeto de lei que será enviado para votação no Congresso Nacional deve condenar mais de 60 áreas protegidas, entre parques e florestas nacionais, reservas, refúgios de vida silvestre, estações ecológicas, monumentos naturais, RPPNs etc. Eis algumas já identificadas:

Parques Nacionais

  • Parque Nacional da Chapada Diamantina
  • Parque Nacional da Serra do Itajaí
  • Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba
  • Parque Nacional de Boa Nova
  • Parque Nacional de Paccas Novos
  • Parque Nacional Mapinguari
  • Parque Nacional Nascentes do Lago Jari
  • Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
  • Parque Nacional da Serra da Bocaina
  • Parque Nacional da Serra da Capivara
  • Parque Nacional da Serra dos Órgãos
  • Parque Nacional de Ilha Grande
  • Parque Nacional do Pico da Neblina
  • Parque Nacional Mapinguari
  • Parque Nacional da Serra Itabaiana
  • Parque Nacional Restinga de Jurubatiba
  • Parque Nacional de Sete Cidades
  • Parque Nacional dos Campos Gerais (este parque foi condenado no inicio de abril, quando deputada federal do partido de Bolsonaro pediu a Salles para anular o decreto de sua criação)

Florestas Nacionais (Flonas)

  • Floresta Nacional de Balata-Tufari
  • Floresta Nacional de Goytacases
  • Floresta Nacional de Saracá-Taquera
  • Floresta Nacional de Três Barras
  • Floresta Nacional de Mário Xavier
  • Floresta Nacional de Passo Fundo
  • Floresta Nacional de Mário Xavier
  • Floresta Nacional Contendas do Sincorá
  • Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo
  • Floresta Nacional de Passo Quatro
  • Floresta Nacional de Ritápolis

Reservas Ecológicas, Biológicas ou Extrativistas

  • Reserva Biológica das Araucárias
  • Reserva Biológica de Poço das Antas
  • Reserva Biológica Guaribas
  • Reserva Biológica do Rio Trombetas
  • Reserva Biológica União
  • Reserva Extrativista Rio Cajati
  • Reserva Extrativista Ioaú-Anilzinho
  • Reserva Extrativista Riozinho da liberdade
  • Reserva Biológica das Araucárias
  • Reserva Biológica de Sooterama

Estação Ecológica

  • Estação Ecológica do Castanhão

Refúgio de Vida Silvestre

  • Refúgio de Vida Silvestre de Boa Nova

Monumento Natural e Área de Relevante Interesse Ecológico

  • Monumento Natural do Rio São Francisco
  • Área de Relevante Interesse Ecológico Capetinga-Taquara.
No caso das Unidades de Proteção Integral (veja isto!!!), não foram identificados seus nomes, mas, como já comentei acima, estão condenadas as que se encontram margeadas ou interceptadas por rodovias federais e ferrovias, exceto APAs.
Como se pode perceber, a colaboração entre os ministérios flui em perfeita harmonia. Tudo para garantir a tranquilidade do setor produtivo, custe o que custar.
Fotos: Fernanda Ligabue / Greenpeace
Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.
(#Envolverde)

MapBiomas Alerta constata uma epidemia de desmatamento em todo o país

MapBiomas Alerta constata uma epidemia de desmatamento em todo o país




Praticamente todos esses alarmes aconteceram em áreas onde o desmatamento é proibido ou sem a devida autorização. Metade aconteceu em áreas da União: Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Quilombolas e em áreas devolutas. Apenas 5% dos alarmes apontaram para áreas de propriedade privada que tinham a autorização para desmatar.

MapBiomas Alerta
Os alarmes foram emitidos pela plataforma MapBiomas Alerta, lançada na 6a feira passada.

O sistema analisa imagens de quatro fontes para emitir os alertas. São três cobrindo a Amazônia:

– DETER/INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);

– SIPAMSar/Censipam, onde SAR (Radar de abertura sintética) equipa satélites que “enxergam” através das nuvens que cobrem a Amazônia durante a metade chuvosa do ano; e

– SAD/Imazon.
O restante do país é coberto pelo:

– GLAD da Universidade de Maryland.

O sistema reconhece quando há uma mudança na vegetação e identifica o polígono onde, antes, havia vegetação nativa. Cruza-se as coordenadas do polígono com o Cadastro Ambiental Rural para saber se são terras da União ou propriedades privadas. E, neste último caso, se ocorreu em área de Reserva Legal ou de Proteção Permanente. Se configurado, o sistema, então, emite um alarme identificando o local exato e o proprietário da área. Quando for configurada uma operação ilegal, o sistema emite um laudo para ser usado pelas equipes de fiscalização.

Além das matérias na Folha e n’O Globo que indicamos na semana passada, vale dar uma lida na matéria de Dani Chiaretti, publicada no Valor da última 6ª feira.