terça-feira, 9 de abril de 2019

Produção agrícola baseada no uso indiscriminado de pesticidas afeta os polinizadores naturais




Produção agrícola baseada no uso indiscriminado de pesticidas afeta os polinizadores naturais


Uso indiscriminado de pesticidas afeta os polinizadores

Morte de meio bilhão de abelhas é consequência de agrotóxicos

Por Caroline Aragaki, da Rádio USP.

abelha
Abelha – Foto: Marcos Santos/USP

Em três meses, meio bilhão de abelhas foram encontradas mortas no Brasil. É o que aponta o levantamento da Agência Pública e Repórter Brasil. O professor Tiago Maurício Francoy, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e especialista em abelhas, explica por que isso está acontecendo e qual alerta temos que ter diante da estatística.

“O que acontece é que as abelhas precisam buscar néctar e pólen das flores e elas acabam visitando as plantações, e esse uso de agrotóxicos, que aqui no Brasil está se tornando cada vez mais intenso e prejudicial, acaba por levar à morte essas abelhas”, afirma Francoy.

O regimento de agrotóxicos no Brasil está indo em direção contrária ao que os países desenvolvidos estão fazendo. “Esses agrotóxicos estão banidos na Europa e nos Estados Unidos há muito tempo já. E aqui, no Brasil, estamos seguindo o caminho inverso e liberando cada vez mais agrotóxicos.”

O especialista pontua que a morte das abelhas provavelmente é maior do que apenas meio bilhão em três meses, “porque quem está fazendo essa conta de quantas abelhas morreram são os apicultores, é quem vai todo dia à colmeia e vê que a abelha morreu. Mas o que acontece é que nós temos ainda uma diversidade de abelhas nativas, tanto sociais quanto solitárias, que estão morrendo silenciosamente, sem ninguém se dar conta, por viverem em matas ou entornos.”

A importância das abelhas vai muito além da produção de mel, tendo o papel fundamental de polinização. “As abelhas no mundo são responsáveis pela polinização de 75% de todas as plantas com flores que nós temos disponíveis no planeta.”

O uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola gera um ciclo vicioso. “A gente usa o agrotóxico para tentar fazer com que menos pragas vão às plantações para devastar aquelas plantações, só que, junto com as pragas morrem também os insetos benéficos. E aí você diminui a produtividade, porque tira o polinizador. E aí você desmata mais o entorno, diminui a área onde a abelha pode morar, usa mais agrotóxico para tentar aumentar a plantação. Só que você diminui a população de polinizadores e diminui também a produção, e assim vai…”, explica o especialista.


Além da produção agrícola, as abelhas também são importantes para as áreas verdes, de preservação ambiental. “Em qualquer área de preservação, sem abelhas você tem uma queda brusca na reprodução dessas plantas, e isso leva a uma diminuição na produção de frutos, do tamanho da área verde… e aí entra numa cadeia destrutiva, porque a planta é alimento de herbívoro, herbívoro é alimento de carnívoro. Se você começa a diminuir um, você vai afetar a cadeia inteirinha.”


A EACH está desenvolvendo um trabalho de conscientização sobre abelhas nativas sem ferrão, chamadas de jataía, que são sociais e também produzem mel. “A vantagem é que, por não terem ferrão, você consegue criar essas abelhas no fundo de casa. Então, estamos começando agora uma série de cursos que nós vamos ministrar na USP Leste, justamente para ensinar a população em geral a criar essas abelhas. Obviamente nosso intuito é de preservação, mas também demonstrar à população a parte da importância e também deles poderem explorar numa espécie de agricultura familiar e tirar até uma renda do mel produzido dessas abelhas.”


Da Rádio USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/04/2019

"Produção agrícola baseada no uso indiscriminado de pesticidas afeta os polinizadores naturais," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 8/04/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/04/08/producao-agricola-baseada-no-uso-indiscriminado-de-pesticidas-afeta-os-polinizadores-naturais/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Placas ajudam a preservar ninhos de corujas no interior paulista




Placas ajudam a preservar ninhos de corujas no interior paulista


Placas ajudam a preservar ninhos de corujas no interior paulista


Uma ideia simples com resultado prático. O fotógrafo de natureza Gustavo Pinto, especialista em registrar os hábitos das corujas, decidiu fazer algo além de clicar as aves.

Com um investimento próprio, ele encomendou 65 placas de advertência e as espalhou em cinco pontos entre as cidades paulistas de Americana e Santa Bárbara d’Oeste. O material, que protege quatro casais de corujas, trata das espécies, informa sobre o risco de extinção, alerta para a existência de ninhos por ali e é taxativo no recado: não atear fogo.
Foi graças a essas placas que os mochos tiveram sucesso com seus filhotes. A partir do momento em que jogamos luz sobre a existência dos ninhos, foi incrível. Essa proteção influenciou de forma contundente na proliferação das aves
— Gustavo Pinto, fotógrafo de natureza
A proposta surgiu há quatro anos como forma de preservar as aves e garantir suas novas gerações. Na época, vários focos de incêndio começaram a ser registrados próximos dos pontos de ninho e algo precisava ser feito. Por sorte, muitos filhotes se salvaram, mas o risco continuava rondando. A proposta das placas apareceu daí.


Mocho-dos-banhados tem um voo exuberante: importante para o 
equilíbrio ambiental — Foto: Gustavo Pinto/Arquivo Pessoal
A população rapidamente entendeu o recado e passou a proteger os locais. O resultado disso é que o número de filhotes praticamente dobrou de quatro anos para cá. Da média de 5 a 6 filhotes encontrados nos ninhos, começaram a aparecer de dez a 12, de acordo com o fotógrafo.


Peças informativas estão na região de Santa Bárbara d’Oeste e Americana: 
65 placas encomendadas. — Foto: Arquivo Pessoal
Visitas e camisetas
A confecção das placas custou R$ 550, dinheiro que saiu do bolso do fotógrafo. O valor vem de saídas guiadas que ele faz com interessados em avistamentos de aves e a venda de camisetas do projeto, disponibilizadas pelas redes sociais dele. O projeto como um todo que, além da colocação das placas, também demanda roçagem e isolamento de algumas áreas com arame, tem um custo mensal de R$ 800.


Ave depende da mata para se reproduzir: espécie sofre com as queimadas 
— Foto: Gustavo Pinto/Arquivo Pessoal

Não dependo de ninguém, arregacei as mangas e me viro com isso. Deixei para trás a politicagem ou patrocínios, que acabaram sendo atrasos. Faço tudo por minha conta mesmo
Um detalhe curioso é que a luta parece ter ganhado mais um parceiro ou parceira. Desde setembro do ano passado, uma pessoa anônima deposita mensalmente R$ 300 para o fotógrafo. Um incentivo para que o projeto criado em 2012 continue de pé. “Não sei quem é essa pessoa que ajuda, ela não se identifica, mas o que ela deposita tem contribuído muito para o nosso trabalho”, agradece Gustavo Pinto.


Ideia simples e eficaz: valorização das aves e de sua observação — Foto: Arquivo Pessoal
Por Fábio Gallacci

Fique sabendo o que aconteceu entre 29 de março e 04 de abril de 2019

Fique sabendo o que aconteceu entre 29 de março e 04 de abril de 2019

 


Versão para impressãoA recém-lançada Frente Parlamentar em defesa dos direitos indígenas, coordenada pela primeira mulher indígena eleita como deputada federal no país, Joenia Wapichana (Rede-RR), agora encontra representatividade para a resistência destes povos no Legislativo


Frente parlamentar em defesa dos povos indígenas é lançada

 

Na última quinta-feira (04) foi lançada a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, composta por 219 deputados e 29 senadores. O grupo tem como coordenadora a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), primeira mulher indígena a ser eleita para a Câmara federal. Saiba mais no site da Câmara dos Deputados (04/04/2019).


Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (SC) deve concluir plano de manejo

 

O MInistério Público Federal em Santa Catarina realizou uma audiência contra o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que se comprometeu a agilizar os procedimentos para a conclusão do plano de manejo da Reserva Extrativista (Resex) Marinha do Pirajubaé, no estado catarinense. A Unidade de Conservação foi criada há 22 anos e, no entanto, o ICMBio alegava que os estudos ainda estavam em andamento. Segundo determinação da lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o plano de manejo deve ser entregue em até 5 anos após a criação da UC. Saiba mais no site do MPF/SC (03/04/2019).


Bolsonaro confirma concessão da Floresta Nacional de Canela e do Aparados da Serra (RS)

 

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, confirmou por sua conta no Twitter a concessão da Floresta Nacional de Canela e do Núcleo de Gestão Integrada Aparados da Serra – que contempla os Parques Nacionais de Aparados da Serra e de Serra Geral, todos no Rio Grande do Sul. Em 2018, o governo federal já sinalizava a publicação de editais para a concessão de 11 parques nacionais administrados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Saiba mais no Diário de Canoas (03/04/2019).


Vereadores de Florianópolis aprovam projeto que muda status da Lagoa do Peri

 

A mudança de categoria da Unidade de Conservação da Lagoa do Peri, em Santa Catarina, de Parque Natural para Monumento Natural (MONAT), foi aprovada no último dia 1º. A alteração se deve à necessidade de conciliar a ampliação da preservação das áreas protegidas e assegurar a manutenção das residências que estão estabelecidas no local, mesmo antes da criação do Parque Natural Municipal, em 1981. Saiba mais no OCP News (02/04/2019).


Mineração ilegal de ouro e diamante causam danos ao Rio Jequitinhonha, em Diamantina (MG)

 

A operação “Salve o Jequitinhonha”, deflagrada pela Polícia Federal e solicitada pelo Ministério Público Federal de Minas Gerais, teve como objetivo desarticular uma atividade clandestina de ouro e diamante em curso em Diamantina (MG). Segundo as investigações, cerca de 900 garimpeiros atuavam de forma ilegal ầs margens do Rio Jequitinhonha, obtendo lucro estimado de 20 milhões de reais contrabandeando diamantes para países da Europa e Ásia. Foram detectados o assoreamento e o desmatamento da mata ciliar, além da utilização de maquinários pesados como tratores, motores, sulcadores de água e jatos de água nas encostas do leito do rio, o que resultava no desmonte de barrancos e de sedimentos diversos, acelerando a erosão. Saiba mais no site do MPF/MG (03/04/2019).


Raquel Dodge defende que pedidos de reparação de dano ambiental sejam imprescritíveis

 

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu, no Supremo Tribunal Federal (STF), a tese jurídica de que os pedidos de reparação do dano ambiental sejam considerados imprescritíveis. Isto é: o agente que cometeu o dano pode ser processado, julgado ou ter a pena executada a qualquer tempo. A defesa foi feita no tratamento do Recurso Extraordinário (RE) 654.833, envolvendo o processo contra madeireiros condenados, por desmatamento ilegal, a indenizar a comunidade indígena ashaninka-kampa, no Acre. Saiba mais no site do MPF/PGR (02/04/2019).


Caciques xokleng denunciam o uso da Terra Indígena para tráfico de drogas e desmanche de carros

 

Cinco caciques xokleng da Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ, em Santa Catarina, denunciaram junto ao Ministério Público Federal (MPF), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Militar de Santa Catarina a invasão da Terra Indígena por traficantes de drogas e receptadores de desmanche de veículos. As comunidades se preocupam com a exposição das crianças e adolescentes ao tráfico e com a ideia errônea que os Xokleng participem do crime. Saiba mais no site do MPF/SC.

Sesc de São Paulo promove o 'Abril Indígena' com mais de 300 atividades

 

Ao longo do mês de abril, o Sesc promove 300 atividades nas 39 unidades espalhadas pela capital paulista, interior e litoral. Serão rodas de conversa, cursos, vivências, oficinas, apresentações de dança, música e teatro que contarão com a presença de indígenas de diversas etnias. O evento abordará as mais diversas temáticas, principalmente a luta por território. Confira a programação no site do Sesc e saiba mais na Rede Brasil Atual (01/04/2019).

Quilombolas ingressam com denúncia na OIT contra projeto espacial de Alcântara

 

Nesta quinta (04), na sede da Defensoria Pública da União em São Luiz, as comunidades quilombolas de Alcântara (MA) anunciaram o ingresso de uma reclamação perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT), denunciando as graves violações de direitos do projeto espacial do Estado Brasileiro. O território étnico dos quilombos de Alcântara vem sendo utilizado há décadas pelo Governo Federal para a exploração comercial de serviços de lançamentos de satélites e veículos espaciais, deixando um rastro infindável de violações de direitos para as centenas de comunidades quilombolas da região. Saiba mais em nota da Conaq (03/04/2019).


Saiu nos Diários Oficiais

Continua a desintrusão da TI Paraguassu Caramuru (BA), dos Pataxó Hã-Hã-Hãe
A Comissão Permanente de análise de benfeitorias de ocupantes não indígenas, da Funai, publicou a Resolução no último dia 1º – partindo do julgamento do Supremo Tribunal Federal, ocorrido em 02/05/2012, ocasião em foi dirimida a controvérsia referente aos títulos de propriedade de terceiros incidentes sobre a referida terra indígena, consignando-os como nulos e dando publicidade, de forma inconteste, aos limites da área ocupada tradicionalmente pelo povo indígena Pataxó Hã Hã Hãe. A Comissão se baseou em GTs que realizaram levantamentos fundiários da TI, para divulgar a relação das ocupações de boa fé.
Leia na íntegra aqui.



Continuidade da regularização fundiária da Terra Indígena Pankararu (PE)
O presidente da Funai, Franklimberg Ribeiro de Freitas, criou uma Comissão Técnica, para cumprimento de Decisão Judicial, de 28/02/2019, proferida pela 38ª Vara da Justiça Federal de Serra Talhada que determinou que a Funai levante informações dos ocupantes não indígenas remanescentes na Terra Indígena Pankararu, localizada nos municípios de Jatobá, Tacaratu e Petrolândia, estado de Pernambuco. Para saber mais, acesse aqui.



Garantia da presença e modo de vida tradicional na EETM e PNSP
Publicados diversos extratos de Termos de Compromisso entre beiradeiros e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade a fim de compatibilizar transitoriamente a presença e o modo de vida tradicional dos ribeirinhos residentes e/ou usuários de recursos naturais no interior da Estação Ecológica Terra do Meio e do Parque Nacional da Serra do Pardo, no Pará, até que seja viabilizada a adoção de uma solução definitiva. Embora temporários, com um horizonte de cinco anos, os termos de compromisso assinados garantem a possibilidade da manutenção do modo de vida dos beiradeiros em seus territórios tradicionais, bem como garantem que possam acessar políticas públicas até então impossibilitadas pela situação anterior onde sua presença em seus territórios estava negada. É a vitória em uma batalha para a permanência definitiva em seus territórios tradicionais, uma situação inconcebível por falha do estado em cumprir sua obrigação reconhecendo seus direitos, o que negava o direito ao modo de vida enquanto não se consegue uma solução definitiva.
Veja a íntegra aqui e aqui (DOU 01 e 03/04/2019).



Controle espécie exótica: javali
Publicada a Instrução Normativa Ibama nº12/2019, que institui o Sistema Integrado de Manejo de Fauna como sistema eletrônico para recebimento de declarações e relatórios de manejo da espécie exótica invasora javali (Sus scrofa). Além disso a IN altera a IN Ibama nº 3/2013 a qual decreta a nocividade do javali e dispõe sobre o seu manejo e controle, especificando normas de controle como uso de armas brancas e de fogo, cães e autorizando o uso de armadilhas do tipo jaula ou curral, que garantam o bem-estar animal, segurança e eficiência, preferencialmente conforme modelo descrito, sendo proibidas aquelas capazes de matar ou ferir, como, por exemplo, laços e dispositivos que envolvam o acionamento de armas de fogo. Acesse a íntegra.



Conselho Consultivo Parna Guaricana
O ICMBio realiza chamamento público Nº2/2019 para manifestação de interesse em participar do conselho consultivo do Parque Nacional Guaricana, no Paraná. https://uc.socioambiental.org/arp/5405 A manifestação de interesse serão recebidas no e-mail até às 23:59 horas do dia 12/04/2019, ou pessoalmente até às 17 horas de Brasília na sede do Parque, rua General Carneiro, n° 481, Alto da Glória, Curitiba, Paraná. Dúvidas e esclarecimentos: ngi.curitiba@icmbio.gov.br ou (41) 3262-8649. Veja a íntegra da chamada (DOU 01/04/2019).



Transporte de pescado no Estado do Tocantins
Sob portaria de número 106, do último dia 27, fica estabelecido pelo período de 03 (três) anos cota zero para transporte de pescado no Estado do Tocantins, nas Bacias dos Rios Araguaia e Tocantins, na modalidade pesca esportiva e amadora, podendo ser prorrogado a critério do NATURATINS (Instituto Natureza do Tocantins), considerando subsídios técnicos referentes ao tema. Saiba mais aqui (DOE 28/03/2019).



 

A deputada Joenia Wapichana, primeira mulher indígena eleita no Congresso Nacional. | Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mais de 12 mil quelônios são devolvidos para reserva sustentável no AM

Resultado de imagem para Mais de 12 mil quelônios são devolvidos para reserva sustentável no AMG1 - http://g1.globo.com/ - 27/03/2019 Mais de 12 mil quelônios são devolvidos para reserva sustentável no AM

27/03/2019 15h23

Por G1 AM

Ação de soltura garante a conservação das espécies Tracajá, Tartaruga e Irapuca.

No Amazonas, neste último final de semana, aproximadamente 12,5 mil quelônios foram soltos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã e na Reserva Extrativista (Resex) do Rio Gregório, Unidades de Conservação (UC) gerenciadas pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). A ação garante a conservação das espécies Tracajá, Tartaruga e Irapuca.

Na RDS do Uatumã, a soltura dos quelônios foi realizada na comunidade Maracarana e contou com o envolvimento dos moradores da UC em um dia intenso de atividades de cunho educacional e cultural, como dança, teatro, campeonato de futebol, oficinas de desenho com as crianças, entre outras. Ao todo, no local, foram devolvidos à natureza 11 mil quelônios na RDS.

Já na Resex do Rio Gregório, os filhotes somaram 1,5 mil, superando a soltura de 2018, quando foram devolvidos à natureza mil quelônios.

O trabalho de manejo dos quelônios é feito pelos próprios comunitários, que recebem orientação da Sema e de parceiros para a atividade. A proteção dos ovos envolve também as crianças, engajando-as na luta pelo meio ambiente. Antes da iniciativa, a relação dos comunitários com estes animais era focada principalmente na alimentação.

O supervisor técnico da Sema, Jefferson Moreira, explicou que é importante monitorar estas espécies para que se consiga aumentar a população de quelônios na natureza, visto que a taxa de sobrevivência é de 1%, e com o manejo sobe para 18%.

"Os comunitários recolhem os ovos quando são depositados na praia, aguardam a eclosão e depois cuidam dos filhotes até atingirem um tamanho ideal para sobrevivência na natureza. Este trabalho vem ajudando a preservar estas espécies", detalhou.

Ação contínua
Na RDS do Uatumã, outras quatro comunidades ainda realizarão soltura de quelônios em junho deste ano, em conjunto com as comemoração de aniversário da reserva.

A atividade nas comunidades Maracarana, Bela Vista e Manain é realizada pela Eletrobras Amazonas Energia, com apoio da Sema, e as demais comunidades da reserva são orientadas pelo Programa de Monitoramento da Biodiversidade e do Uso Sustentável de Recursos Naturais (Probuc), desenvolvimento pela secretaria.

Na Resex do Rio Gregório, este foi o segundo ano de realização da atividade. A ação contou com a participação da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), e Associação de Moradores Agroextrativistas do Rio Gregório (Amarge), juntamente com integrantes do projeto Agentes Ambientais Voluntários (AAV), da Sema.

Neste ciclo do Probuc, cerca de 304 mil quelônios deverão ser devolvidos à natureza em 11 unidades de conservação gerenciadas pela Sema.

As solturas tiveram início em outubro de 2018 e seguem pelos próximos meses. A secretaria já realiza também o monitoramento da biodiversidade para os próximos ciclos de desova dos quelônios nos tabuleiros nas praias.

https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/03/27/mais-de-12-mil-quelonios-sao-devolvidos-para-reserva-sustentavel-no-am.ghtml
Biodiversidade:Fauna

Campeã de requerimentos minerários, Terra Indígena Yanomami sofre com explosão do garimpo

Campeã de requerimentos minerários, Terra Indígena Yanomami sofre com explosão do garimpo




Clara Roman
Extração ilegal se alastra pelo território, contaminando rios e degradando a floresta; levantamento do ISA mostra que região é a mais cobiçada por mineradoras.

Entre 6 e 7 mil garimpeiros estão retirando ouro ilegalmente na Terra Indígena Yanomami, no norte do país. É o maior número registrado até hoje. O garimpo ilegal tem se intensificado nos últimos meses e explodiu em janeiro, depois que o Exército desativou as bases de proteção nos Rios Uraricoera e Mucajaí, as principais entradas para a Terra Indígena.

Nos três últimos anos, a presença do Exército foi fundamental para inibir a entrada de garimpeiros. Em 2018, foi responsável pela saída de mais de 1.500 garimpeiros do Rio Uraricoera. Porém, desde dezembro, com o abandono das bases, os garimpeiros retomaram a invasão em ritmo acelerado.

O garimpo traz doenças, violência, desmatamento, assoreamento dos rios e contaminação por mercúrio e outros metais pesados. Maior do país, a Terra Indígena Yanomami abriga os povos Yanomami e Ye’kwana, além de 96.650 km² de florestas protegidas e 43.614 km de rede de drenagem (rios e igarapés*). A situação se agrava devido à presença de povos indígenas isolados em áreas muito próximas a registros de garimpo.

Imagens aéreas indicam pontos de garimpo na Terra Indígena Yanomami em julho de 2018   

Além do garimpo ilegal, a TI é campeã em requerimentos minerários, com 534 pedidos de pesquisa para exploração em suas terras, segundo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA). Isso significa que é o território indígena no Brasil mais cobiçado por mineradoras, que fazem requerimentos na expectativa da regulamentação de uma lei que libere a mineração nessas áreas.


Hoje, a exploração minerária em áreas protegidas, incluindo Terras Indígenas, não é permitida, e esses requerimentos ficam travados quando chegam à Agência Nacional de Mineração (ANM). Ao todo, o levantamento identificou 4.250 requerimentos minerários incidentes em Terras Indígenas. Mais de 90% desses processos são de requerimentos de pesquisa e envolvem a solicitação para a exploração de ao menos 66 substâncias. O ouro é o principal minério em requerimentos incidentes em Terras Indígenas.


No caso da TI Yanomami, as empresas anseiam pela exploração do ouro no solo e rios do território, e os requerimentos incidem em 42,57% do território.

Um histórico de destruição

Na década de 1980, quando aconteceu a primeira grande invasão garimpeira na Terra Indígena, cerca de 20% da população yanomami morreu em decorrência de doenças. Entre 1987 e 1989, estima-se que 2.003 balsas de garimpo trafegavam pelo Rio Uraricoera. Com a demarcação da TI, em 1992, esses garimpos foram encerrados. Mas, pouco a pouco, a atividade ilegal começou a se espalhar novamente pela região.

Yanomami vítima da invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami é levado para  posto médico por piloto da Força Aérea Brasileira (FAB), em 1990 

Em seu livro “A Queda do Céu”, o xamã Yanomami Davi Kopenawa relata os perigos que a extração do ouro traz para o seu povo. “O que os brancos chamam de ‘minério’ são as lascas do céu, da lua, do sol e das estrelas que caíram no primeiro tempo”, explica Kopenawa. “Durante o sono, eu vi os brancos trabalhando nesses minérios. Não pareciam se dar conta de que esses fragmentos de céu antigo são perigosos. Ignoravam que sai deles uma fumaça de metal densa e amarelada, uma fumaça de epidemia tão poderosa que se lança como uma arma para matar os que dela se aproximam e respiram”, afirma.

Hoje, apenas na porção da Terra Indígena que ocupa o Estado de Roraima, existem 14 pistas de pouso clandestinas de garimpo ilegal, e 347 polígonos de área degradada, o que corresponde a 1.096 hectares (ou mais de mil campos de futebol). O garimpo ocorre principalmente em 14 regiões da TI: Oriak, Uraricaá, Waikás, Aracaçá, Parima, Whato u, Homoxi, Hakoma, Kayanau, Uxiu, Alto catrimani, Serra da Estrutura, Lobo d’almada, e Rio Novo.

Isolados em risco

Focos de garimpo foram registrados na Serra da Estrutura, próxima à fronteira com a Venezuela. A região tem presença de indígenas isolados, que escolheram não ter nenhum contato com não indígenas e mesmo outros indígenas, e dependem intrinsecamente da floresta para sobreviver. Além da degradação pelo garimpo, há uma pista de pouso na área. Nesta região, a área degradada decorrente do garimpo aumentou 167% desde outubro de 2018.

Em 2015, por conta dos cortes no orçamento, a Funai encerrou sua base de proteção de isolados na Serra da Estrutura, uma das regiões com maior presença desses povos. Hoje, a Terra Indígena Yanomami abriga sete registros de povos em isolamento voluntário, segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas na porção brasileira. São cinco registros em informação, um em estudo e um confirmado. Essas categorias são utilizadas pela Funai para classificar os registros de acordo com o nível de informação que se tem sobre cada um deles.

Além da possibilidade de conflitos, o perigo é de contaminação, já que os índios isolados não têm imunidade para doenças comuns que circulam entre os não indígenas. Na década de 1970, a construção da Perimetral Norte levou o sarampo, a gripe, a malária, a caxumba e a tuberculose para o território Yanomami. Segundo relatos da Comissão Nacional da Verdade, em algumas regiões 80% da população Yanomami morreu em decorrência dessas doenças. A rodovia foi planejada pelo governo militar, mas sua construção foi abandonada.

Imagens aéreas indicam pontos de garimpo na Terra Indígena Yanomami em julho de 2018  

Relatos do povo Ye’kwana, que também vive na TI, dão pistas sobre um mercado paralelo do ouro que se formou na região. Em zonas de difícil acesso e comunicação, os garimpeiros instalaram pontos de wifi, onde se cobra 0,5 g de ouro por meia hora de acesso. 50 litros de diesel custam 10g de ouro e 50 litrosde gasolina, 15g. Uma lata pequena de cerveja chega a custar 0,2 gramas de ouro (R$ 20 reais) um frango, 0,8 g, ou R$ 80 reais.

“Quando o ouro fica no frio das profundezas de terra, aí tudo está bem. Tudo está realmente bem. Ele não é perigoso. Quando os brancos tiram o ouro da terra, eles o queimam, mexem com ele em cima do fogo como se fosse farinha. Isto faz sair fumaça dele. Assim se cria a xawara que é a fumaça do ouro. Depois desta xawara wakêmi esta “epidemia fumaça”, vai se alastrando na floresta, lá onde moram os Yanomami, mas também na terra dos brancos, em todo lugar. É por isso que estamos morrendo. Por causa desta fumaça”, afirma Davi Kopenawa.
*Identificados em base cartográfica na escala 1:250.000
Imagens: