Risco de extinção não impede chef de pagar $118 mil por um atum-rabilho
Por Justin McCurry
- quinta-feira, 07 janeiro 2016
O atum de 118 mil dólares. Foto: Youtube
Um restaurante de sushi no Japão pagou US$118.000 (cerca de R$500
mil) por um atum-rabilho no primeiro leilão do ano no mercado de
Tsukiji, em Tóquio, apesar das repetidas advertências de que o apreciado
peixe está a caminho da extinção.
Kiyoshi Kimura, presidente da empresa que comanda a cadeia de
restaurante Sushi Zanmai, disse que estava "feliz" de ter superado os
rivais no último leilão de Ano Novo a ser realizado neste mercado de 80
anos, antes que ele seja relocado para novas instalações ao longo de
2016.
Kimura pagou 14 milhões de ienes pelo atum de 200 kg, que foi capturado na ponta norte de Honshu, a ilha principal do Japão.
O preço foi três vezes maior do que no ano passado, mas muito menor do que o
recorde de 155.4 milhões de ienes
(1,76 milhão de dólares à época) que ele mesmo pagou em 2013, depois de
entrar em uma feroz guerra de lances com um dono de restaurante em Hong
Kong pelo peixe de 222 kg.
O primeiro leilão do ano em
Tsukiji
é marcado por lances inflacionados, enquanto compradores competem pelo
prestígio de garantir o primeiro grande atum do ano - uma façanha que
mais tarde usam para atrair clientes.
"O aumento da demanda na China e outras partes da Ásia está apressando a extinção do atum-rabilho do Pacífico"
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Mas grupos de conservação marinha alertam que a pesca excessiva
ameaça a sobrevivência do atum-rabilho do Pacífico, uma iguaria no Japão
e outras partes da Ásia.
É necessária uma ação urgente, dizem, para salvar a população de
atum-rabilho do Pacífico (
Thunnus thynnus),
a qual, estimou-se em 2012, foi dizimada em 96% ao longo de quase um
século de sobre pesca, em comparação aos seus níveis anteriores.
As populações continuarão a declinar "mesmo que os governos garantam a
implementação das medidas de manejo existentes", disse em um comunicado
Amanda Nickson, diretora global de conservação do atum da
Pew Charitable Trusts.
Cerca de 80% do total mundial de pesca do atum-rabilho é consumida no
Japão, onde é comumente servido cru como sushi e sashimi. Um pedaço de
otoro - um corte gordo da barriga do peixe - pode custar vários milhares de ienes em restaurantes luxuosos de Tóquio.
A popularidade de comida japonesa significa que o atum-rabilho se tornou mais procurado em outros países, em especial a China.
Em setembro passado, a Pew advertiu que o atum-rabilho do Pacífico
estava "um passo mais próximo de entrar em colapso", depois que nações
envolvidas na sua pesca, incluindo o Japão, não chegaram a um acordo
para novas medidas de conservação.
O aumento da demanda na China e outras partes da Ásia está apressando a extinção do atum-rabilho do Pacífico, o que levou a
IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) movê-lo da categoria “least concern” para a de “vulnerável” na sua
lista vermelha de espécies ameaçadas em 2014.
"Dado o estado já dramático desta população – da qual sobrou apenas
4% - aumenta a preocupação ver o preço do leilão subir novamente", disse
Nickson. "A comunidade internacional deve mostrar ao governo japonês
que são necessárias medidas adicionais para salvar esta espécie”.
Tsukiji, o maior mercado de peixes do mundo, cujos leilões na
madrugada são uma atração turística popular, atingiu o limite das suas
instalações atuais há anos.
Seu proprietário, o governo metropolitano de Tóquio, tinha a intenção
de movê-lo há duas décadas para um novo local, poucas milhas ao sul na
baía de Tóquio.
Porém, a mudança foi adiada duas vezes, depois que se descobriu
toxinas no solo do novo endereço, onde havia uma usina de gaseificação
de carvão.
Autoridades dizem que a mudança ocorrerá em novembro, depois que o
solo contaminado no local for removido e substituído por solo limpo.
Trabalhadores também bombearam para fora águas subterrâneas poluídas e
injetaram água fresca.