Ativista relembra desastre em indústria química há 34 anos; 3 de dezembro tornou-se o dia de Luta Contra os Agrotóxicos.
A reportagem é de Nadine Nascimento, publicada por Brasil de Fato, em 03-11-2018.
Em 3 de dezembro de 1984, um vazamento em um tanque subterrâneo da fábrica americana de agrotóxicos Union Carbide, na Índia, lançou ao ar 40 toneladas do gás isocianato de metila e causou o mais grave desastre industrial da história.
Em questão de poucas horas, uma nuvem letal se dispersou sobre a densamente povoada cidade de Bhopal, com 900 mil habitantes, matando mais de 8 mil pessoas e intoxicando 150 mil. As doenças crônicas geradas pelo contato com a substância deixaram um assombroso legado para gerações futuras. Por conta do episódio, o 3 de dezembro ficou conhecido como o Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos.
A filósofa e física indiana, Vandana Shiva considera a data um monumento “àqueles que perdemos em Bophal em 1984, e uma prestação de solidariedade com aqueles que ainda sofrem as consequências, incluindo crianças que nasceram com malformações décadas depois, e as mulheres que nunca desistiram”.
A veterana ativista, que recebeu o Prêmio Right Liverhood (conhecido como o Nobel Alternativo) em 1993, é uma firme opositora das monoculturas e das sementes tratadas geneticamente. Vandana lembra que a raiz dos agrotóxicos, amplamente utilizados nesse tipo de agricultura, está nos gases dos campos de concentração da Alemanhanazista.
“Bophal mostrou que agrotóxicos matam. O relatório da ONU sobre alimentos diz que 200 mil pessoas morrem anualmente intoxicadas. Pesticidas e agrotóxicos estão levando espécies à extinção”, lamenta.
Para a ecofeminista, 3 de dezembro mostra que apesar do grande poder do “Cartel do Veneno”, referindo-se às multinacionais que comandam o mercado de agrotóxicos, “a verdade sempre aparece”.
“Bayer comprou a Monsanto e, pouco tempo depois, soubemos do caso de câncer de Johnson, que processou a empresa e a fez perder 35% de seu valor de mercado.” A ambientalista se refere ao caso de Dewayne Johnson, paciente terminal de câncer que venceu uma batalha judicial contra a Monsanto, condenando-a a pagar US$ 289 milhões em danos para sua família, em agosto deste ano. Segundo o zelador e jardineiro de uma escola na Califórnia nos EUA, o herbicida Roundup da empresa, que usa o princípio ativo glifosato, causou sua doença.
Alternativa
Em Sikkim, uma pequena região da Índia localizada no Himalaia, a realidade de Bophal é distante. O estado ganhou em 2018 o prêmio de Políticas para o Futuro da FAO, a Organização das Nações Unidas para a alimentação, por se tornar o primeiro estado totalmente orgânico do mundo.
Em 2015, Sikkim alcançou o marco revolucionário depois de conseguir converter seus mais de 60 mil agricultores a adotarem práticas agroecológicas, além de implementar a eliminação progressiva de fertilizantes e pesticidas químicos e a proibição total da venda e uso de agrotóxicos.
Shiva, que é natural da região do Himalaia, acredita que o feito de Sikkim e a produção de alimentos de maneira sustentável estão diretamente relacionados à vontade política. “O primeiro ministro do estado, Pawam Chamling, que trabalhou para fazer Sikkim 100% orgânica, é comprometido em proteger a natureza, a cultura de montanha do estado do Himalaia, os meios de subsistência dos agricultores e a soberania alimentar”, considera.
“Estamos trabalhando próximos a ele para fazer o Himalaia totalmente orgânico. Trabalhando também com movimentos ao redor do mundo para que a gente produza uma agricultura e alimentos livres de agrotóxicos em todo o planeta”, continua.
Em sua opinião, qualquer lei que passa a reduzir o uso de agrotóxicos, como é o caso da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA) do Brasil – projeto de lei que aguarda votação em Comissão Especial da Câmara de Deputados – “é uma lei para proteger a vida e a terra, direitos dos agricultores, e a saúde humana.”
Vandana estará no Brasil em dezembro para I Seminário Internacional e III Seminário Nacional: Agrotóxicos, Impactos Socioambientais e Direitos Humanos, e convida todos aqueles “preocupados com os direitos da Terra e os direitos humanos” a participarem do encontro que será realizado na cidade de Goiás (GO), entre os dias 10 e 13.
RIO DE JANEIRO, Dec. 26 (Xinhua) -- The Brazilian government on Wednesday criticized Japan's decision to resume commercial whale hunting.
In a statement, Brazil's Environment Ministry described Japan's move as "a great regression in the global scenario" and highlighted that the decision disregards the stance of the majority of countries.
Japan announced earlier its decision to withdraw from the International Whaling Commission (IWC), the watchdog in charge of preserving whales, and to resume commercial whaling by next July. The move has been criticized by countries such as Australia.
"Brazil has historically postulated for the defense of all forms of life in the seas of the planet, especially cetaceans, which have many species under risk of extinction," said the ministry.
"We have much to advance and only through the integrated action of IWC member countries can we succeed in protecting these species and other related agendas, such as tackling issues like sea pollution and global warming," it said.
The ministry said that Brazil works hard to protect whales and other sea animals off its coast and has managed to increase sea conservation areas significantly.
Casi todo el poder empresarial brasileiro apoya su programa liberalizador
Antonio Sánchez-Gijón
El 1 de enero toma posesión de la presidencia de Brasil Jair Bolsonaro, el ex militar y largo tiempo parlamentario que viene a ejecutar un programa de desarrollo económico por medio de medidas liberalizadoras, y con promesas de regeneración de los controles judiciales sobre la corrupción política.
Para ello cuenta con el apoyo de varios sectores muy influyentes de la vida política brasileña: la gran empresa industrial, la empresa agrícola exportadora, los sectores de alta tecnología y las fuerzas armadas, pero sobre todo una amplia clase media frustrada por años de parálisis bajo gobiernos de izquierdas, trabados por casos de corrupción que conmocionaron al país. Los sectores populares que le prestaron su apoyo, sin los cuales no hubiese podido ganar la carrera presidencial, lo hicieron dando crédito a su severo mensaje de lucha contra el crimen.
Como símbolo de lo que pueda venir se puede tomar el anuncio hecho por Eletrobras el pasado día 21, de que invertirá 30.200 millones de reales en el periodo 2019-2023, de los que 12.000 millones se aplicarán a terminar la planta nuclear Angra 3. Brasil posee otras dos plantas nucleares de generación de energía. El plan anterior de expansión, lanzado en 2014, quedó bloqueado por la sucesión de escándalos de corrupción en torno a Eletronuclear. La decisión estimulará sin duda el viejo proyecto de dotar a Brasil del ciclo nuclear completo. En agosto pasado debía entrar en funcionamiento la séptima centrifugadora de enriquecimiento de uranio. De hecho, el presidente cesante, Michel Temer, ya había dado impulso a lo nuclear al pasar las responsabilidades de esa política, detentadas de antiguo por el ministro de Energía y el propio gabinete presidencial, al alto mando de las fuerzas armadas.
Bolsonaro se opuso en su día a que Brasil suscribiera el Tratado de No Proliferación Nuclear, al que Brasilia acabó adhiriéndose en 1998. Este será probablemente un tema de preocupación para Argentina, ya que mantiene su industria nuclear – que adquirió un gran desarrollo en los años sesenta y setenta del pasado siglo - en estado prácticamente latente.
Hay grandes expectativas de los sectores industriales de que la nueva presidencia abra “un nuevo ciclo de crecimiento”, en palabras del presidente de la Confederación Nacional de Industria (CNI), Robson Braga Andrade. “El gobierno electo – añadió - necesita usar del capital político de las urnas para hacer que el país avance”, y advirtió “que cuanto más se retrasen las reformas, mayores serán los costos para las empresas”. La CNI ha propuesto medidas en las áreas fiscal (incluyendo la reforma tributaria), de seguridad jurídica, seguridad pública, educación y competitividad. Para despejar obstáculos al crecimiento, a Bolsonaro le será necesario reformar a fondo toda la legislación estatal que, pretendiendo regular el comercio entre estados, contribuye a fraccionar el mercado.
Bolsonaro es partidario de una fuerte expansión de la producción agraria, y ha prometido reducir las tierras que han sido puestas bajo protección medioambiental, y dotará al ministerio de Agricultura de la facultad de aprobar el uso de pesticidas, retirándosela a los de Salud y Medioambiente. El gobierno cesante tenía proyectado sacar a la venta diez millones de hectáreas para nuevos cultivos.
La asunción del poder por Bolsonaro creará inquietud entre los vecinos y socios de Mercosur. Una de sus primeras tareas será renegociar con ellos el tratado que les uner, en el sentido de que cada uno pueda firmar acuerdos de libre comercio con países fuera del área. Aunque en principio todos están de acuerdo, es previsible que en 2019 el presidente Macri, de Argentina, que debe presentarse a la reelección, se halle bajo extrema presión del peronismo para que Buenos Aires no dé su consentimiento. Tal posibilidad podría dar un golpe mortal al tratado de Mercosur, si Bolsonaro reaccionase en clave nacionalista.
Y si Argentina no reaccionara en clave nacionalista, al contrario, podría ver en las reformas de Bolsonaro (si producen el efecto que éste y su gobierno esperan) la oportunidad de expandir sus ventas en Brasil, el principal mercado para sus exportaciones. Puede incluso que esas reformas creen las condiciones para que Argentina recupere posiciones que ya tenía a principios de siglo, cuando sus ventas a Brasil representaban el 25% del total, para caer desde entonces: seis años al 21%, y actualmente al 15%, con un monto de $11.000 millones.
La combinación de un Brasil librecambista bajo Bolsonaro y una Argentina mercantilista bajo un peronista sería un auténtico desastre para la seguridad y el bienestar del país del Plata. Otro ‘efecto Bolsonaro’, incluso más dramático, sería la percepción que un gobierno brasileño que va a aparecer con fuerte apoyo militar, llegue a tener sobre el nivel de amenaza que pueda representar un chavismo fracasado, que se sostiene gracias a una dictadura policial y militar, y que arroja inseguridad sobre todas las fronteras del país.
Por Marcos Colón (*) Construção de megaempreendimento para exportação de soja na
Amazônia coloca em perigo comunidades, povos tradicionais e meio
ambiente
Há quase dois séculos, os naturalistas e exploradores britânicos Henry Walter Bates e Alfred Russel Wallace
passaram cerca de três anos estudando animais e insetos na região do
Lago do Maicá, no município de Santarém, em plena Amazônia Legal. Apesar
das dificuldades, a dupla celebrou o que chamaram de “floresta
gloriosa”. Estima-se que ao final da empreitada de três anos, eles
tenham coletado mais de 14.000 espécies, que fizeram parte de um amplo
estudo, que serviu de base para The Naturalist on the River Amazon, considerado um clássico de Bates.
Assim, o que diriam os naturalistas da decisão da Câmara de
Vereadores de Santarém que possibilita a transformação de parte do lago
em um porto privado para escoamento de soja?
Hoje podemos apenas imaginar. Contudo, durante a última sessão da
Câmara de Vereadores do município de Santarém, em 11 de dezembro, os
representantes do legislativo alteraram, de forma secreta e apressada, a
revisão final do Plano Diretor Participativo (PDP), documento jurídico
regido pelo Estatuto da Cidade e aprovado pela sociedade civil santarena
de forma participativa em novembro de 2017. A decisão relâmpago visa
facilitar a construção de complexos portuários para o transporte do grão
através do Lago do Maicá.
A decisão invalida meses de discussões em grupos de trabalho e
audiências com representantes dos mais diferentes setores —
empresariais, acadêmicos, entes públicos e organizações sociais. Viola a
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho
(OIT). A reunião do plenário que alterou do Plano Diretor Participativo
pegou populações tradicionais, moradores e movimentos sociais em
Santarém e da Amazônia de surpresa.
A
construção desse grande porto será na região do Lago do Maicá, área de
elevada complexidade ambiental e lar de comunidades tradicionais,
pescadores e cerca de 400 famílias quilombolas,
totalizando aproximadamente 1.500 famílias na região. Maicá é um
santuário ecológico, berçário natural de espécies únicas da fauna
aquática e aves amazônicas. Além de ser um polo de visitação turística, é
fonte de renda para as famílias que vivem primariamente da pesca,
responsáveis por 30% do abastecimento de peixe da cidade.
Para a arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel da Universidade Federal do
Oeste do Pará (UFOPA), “o Lago do Maicá é um ecossistema extremamente
rico, mas também muito frágil e com uma grande dinâmica de formação
(terras caídas, terras em formação, aberturas de furos, etc.). A
presença de grandes navios provocará importantes deslocamentos de água,
alterando a dinâmica das correntes fluviais, com risco de destruição
acelerada das várzeas mais baixas, onde moram muitas comunidades
tradicionais.
Acompanhamentos já foram realizados no rio Madeira, outra
região de várzea, mostrando o impacto das balsas e navios. Além disso, a
região do Maicá é extremamente importante para a arqueologia, pois
abriga o sítio arqueológico mais antigo conhecido do município, o
Sambaqui de Taperinha, de 8 mil anos. Também temos um grande número de
sítios mais recentes (que possuem entre 500 e 2 mil anos) que ainda
estão sendo mapeados, muitos deles identificados pelas manchas de Terra
Preta.
Na área mais alta ainda temos presença de comunidades indígenas. A
história dessa região não para por aí, ocupações quilombolas estão
presentes desde o século XIX, com a adição de nove territórios
reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares na margem do Maicá/Ituqui”.
Séculos de história
Santarém é uma das cidades mais antigas do interior da Amazônia.
Localizada diante do encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas, foi
fundada pelos padres jesuítas, em 1661, durante o processo de
colonização portuguesa na região.
Desde então, Santarém tem sido um polo
estratégico, começando pela produção do cacau, pecuária, extrativismo,
borracha, juta e atualmente a monocultura da soja. Localizada a 475
milhas do Oceano Atlântico, sua posição geográfica é estratégica para o
escoamento da produção de soja, seja pela rodovia BR-163, pela hidrovia
do Tapajós ou pelo Rio Amazonas chegando ao Atlântico.
A construção da zona portuária na região do Lago do Maicá faz parte
da estratégia das empresas e produtores de soja da região para o
escoamento do grão oriundo do Mato Grosso pela região Norte do país,
precisamente através do eixo Tapajós-Teles Pires.
Pedro Martins, da organização de direitos humanos Terra de Direitos,
observa que “os proprietários de soja começam a aparecer num processo de
usurpação das terras dos camponeses. Esses proprietários, geralmente
vindos de outros estados, iniciam cultivos extensos na região do
Planalto de Santarém.
A Embraps surge nesse contexto, a partir de
proprietários de soja na região do Mato Grosso que tem como interesse o
escoamento da soja produzida em Santarém, mas que também vê um potencial
lucrativo enorme na construção de portos”, afirma Pedro Martins à Terra
de Direitos.
Para
o padre e ativista amazônico, Edilberto Sena, o processo tem início
quando a Cargill, uma multinacional, empreendeu esforços na construção
de um terminal portuário em 1999.
“A companhia viu que Santarém era um local estratégico para baratear a
exportação da soja do Centro-Oeste brasileiro. Políticos locais e até
parte da sociedade acreditaram que o porto da multinacional traria
emprego, renda e desenvolvimento. Mas foi uma armadilha, com impactos
negativos para a população. Os moradores dos bairros periféricos –
Pérola do Maicá, Área Verde, Jaderlândia, Jutaí e mais cinco outros –
precisarão lidar com uma grande avenida.
Com capacidade de tráfego de
800 carretas por dia, pode-se imaginar os acidentes e outros problemas
diários. Se essas populações não se organizarem, se nós não estivermos
junto com elas na resistência, a destruição de nossa cidade vai se
agravar, porque as autoridades não estão nem aí para o respeito às vidas
humanas. Esse porto da Embraps na Área de Proteção Ambiental (APA) do
Lago do Maicá pode ser útil para os empresários, mas trará graves
prejuízos para o ambiente e para os moradores de Santarém, como já
acontece com o porto da Cargill”, sinaliza o ativista.
Três empresas visam construir empreendimentos portuários no município: o Grupo Cevital, da Argélia, a empresa CEAGRO e a Embraps. O caso da empresa Embraps é significativo, pois seu licenciamento ambiental foi suspenso pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará
após ação judicial. A petição partiu dos povos e comunidades
tradicionais que vivem na região do Lago do Maicá junto ao Ministério
Público Federal (MPF) e ao Ministério Público Estadual (MPE), que
ajuizaram uma Ação Civil Pública contra as ações da Embraps.
Na ação foi
concedida liminar suspendendo o processo de licenciamento ambiental do
Terminal de Uso Privado da Embraps até que fosse realizada a consulta
prévia, livre e informada às comunidades quilombolas e demais povos e
comunidades tradicionais que serão atingidos pelo empreendimento. A
empresa recorreu da decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região
(TRF1) a liminar foi mantida e o licenciamento ambiental do porto
permanece suspenso.
A Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) produziu um Relatório Técnico
a partir das fragilidades detectadas no Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) da Estação de Transbordo do Lago do Maicá, apresentado pela
Empresa Brasileira de Portos (Embraps). Contrariando o estudo da Embraps
a equipe multidisciplinar da UFOPA demonstra os danos ambientais,
arqueológicos e humanos, que, se não forem sanados, colocarão em risco
as populações de peixes e fitoplânctons do Lago do Maicá, com danos
irreversíveis à vida dos humanos e não humanos da região.
Para o professor do Instituto de Biodiversidade e Floresta
(Ibef/Ufopa), Jackson Rêgo Matos, “nossa grande preocupação com a
construção do porto não é só com o Lago Maicá, mas com toda a cidade de
Santarém e região do Rio Tapajós. Essas áreas, incluindo a praia de
Alter do Chão, terão suas paisagens afetadas, tanto pela passagem de
caminhões circulando por toda a cidade quanto pelo tráfego de comboios
de balsas.
Essa logística, certamente, acarretará em mais poluição
atmosférica, visual, sonora, além da perda do patrimônio arqueológico,
sendo Santarém a cidade mais antiga pré-colonial do Brasil, a qual
abriga um dos mais expressivos sítios arqueológicos das Américas.
Ressalta-se que a bacia do Tapajós é a quinta maior bacia tributária da Amazônia e abrange aproximadamente 492.000 km2,
o que, por si só, justificam políticas públicas que garantam a
manutenção desse patrimônio para usufruto de suas populações, e não
somente dar segurança jurídica aos empreendedores, como alega o
prefeito, Nélio Aguiar, para justificar o desrespeito dos vereadores aos
trâmites constitucionais do plano diretor construído com a participação
popular” explica Rêgo Matos.
Vozes autônomas
Como bem aponta a reportagem do jornal Brasil de Fato,
o modo de vida das comunidades do Maicá está em risco por um desejo
alheio às necessidades delas: a busca por um caminho mais curto para a
soja brasileira sair do país. Com a construção do porto, seria possível
diminuir em cerca de 800 quilômetros o trajeto dos grãos que saem do
Mato Grosso por rodovias e, atualmente, necessitam passar pelo Porto de
Santos. O Porto do Maicá, em Santarém, encurtaria em sete dias o tempo
que os navios levam para chegar à Europa. No entanto, a voz das
populações locais precisa ser ouvida, de acordo com Mário Pantoja,
liderança quilombola santarena.
“Os grandes beneficiados com a construção do porto são exatamente os
grandes empresários. Não estamos impedindo o progresso, estamos ajudando
no desenvolvimento de forma sustentável. Por quê? Porque a gente
trabalha com a pesca. Construído o porto, isso aqui vai acabar” alerta.
Essa dinâmica ultrapassada de progresso vai na contramão do que o
mundo tem discutido, fato muito bem posicionado pelo ativista ambiental,
Padre Guilherme Cardona, ao afirmar que “esse modelo de desenvolvimento
está criando cidades insustentáveis, e uma dinâmica que se tem hoje em
todo o mundo, é a de como criar cidades sustentáveis para que a
população e o desenvolvimento possam caminhar juntos”.
Apesar
de serem defendidos como obras para desenvolvimento da região, os
projetos dos portos atingem nove bairros da cidade, habitados por
comunidades tradicionais que se estabeleceram forçadamente na área
urbana após uma série de deslocamentos devido à ausência de políticas
públicas.
A construção do porto, além de não ser aceita, compromete a
própria sobrevivência das pessoas. Dona Sebastiana,
pescadora no Lago do Maicá, é enfática: “Ninguém concorda com isso [a
criação do porto]. Porque a gente precisa do Lago. Porque daqui mais uns
tempos você não tem mais o peixe pra pegar, porque isso aqui vai ser
aterrado e os peixes vão sumir daqui”. O mesmo questionamento faz o
quilombola João Lira.
“A pergunta é: por que um porto na área do Maicá? Pra quem vai trazer
benefícios? Pro povo da região? Eu creio em nenhum benefício; benefício
zero”.
O padre Edilberto Sena acredita ser crucial pensar o futuro da Região
Amazônica diante do quadro de ameaças ambientais, sociais e culturais
com que a região se depara em face da pressão virulenta do capital
externo.
“A disputa pelo território (terra, floresta, rios, subsolo e povos)
está cada vez mais agressiva. Nossa região, Oeste do Pará, é um exemplo
do que ocorre em toda a Amazônia. São 70 mil hectares de invasão do
plantio de soja com intenso uso de agrotóxicos; a invasão de portos
graneleiros para exportação de soja do Mato Grosso. Existem 23 portos,
construídos e em construção, no rio Tapajós; uma ferrovia de 930 kms de
extensão entre Cuiabá e Miritituba; e sete hidroelétricas previstas no
rio Tapajós. Por fim a cidade de Santarém, centro de toda essa
exploração, está sendo ocupada por prédios de 20 andares que empurram os
moradores do centro para periferias, inchando uma cidade que hoje tem
300 mil habitantes”, afirma Sena.
Até quando o poder econômico vai corromper os poderes executivo e
legislativo para burlar leis internacionais em prol de uma
insignificante parcela de acionistas que não respeita os biomas e povos
amazônicos? Até quando a Floresta amazônica ficará a mercê de
vereadores, políticos e empresários que formulam leis na calada da noite
para prejudicar o social, agredindo comunidades, povos tradicionais e o
meio ambiente, com a devastação em prol da monocultura tóxica da soja,
com a desculpa de equilibrar a balança comercial nacional?
Certamente Bates e Wallace não aprovariam a decisão tomada pela
Câmara de vereadores de Santarém, como bem disse Henry Bates depois de
passar 11 anos documentando a beleza dos trópicos: “Fui obrigado, por
fim, a concluir que a contemplação da natureza não basta para o coração e
mente humanos”.
Ou como diria o escritor Brasileiro Euclides da Cunha, ao descrever a região durante sua visita em 1905, “A Amazônia é a última página, ainda a escrever-se, do Gênesis”.
Se depender dos vereadores santarenos, os últimos redutos da
biodiversidade mundial ficarão escritos nos registros dos livros de
ciências naturais de Bates e Wallace, incorporados nas prateleiras dos
livros de história como um passado que não existe mais.
(*) Marcos Colón é Professor Assistente (TA) no Departamento de
Português e Espanhol e membro do Center for Culture, History and
Environment (CHE) do Nelson Institute for Environmental Studies, da
Universidade de Wisconsin-Madison; é também diretor e produtor do
documentário Beyond Fordlândia: An Environmental Account of Henry Ford’s Adventure in the Amazon.
Mata Atlântica – Estudo publicado na revista Nature Ecology &
Evolution apresenta algoritmo inédito que combina conservação da
biodiversidade, mitigação de mudanças climáticas e redução de custos
Por Kellen Leal
Uma pesquisa inédita desenvolveu um algoritmo capaz de identificar as
áreas prioritárias da Mata Atlântica a serem restauradas combinando
três fatores essenciais: conservação da biodiversidade, mitigação de
mudanças climáticas e redução de custos. A equipe liderada pelo
professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio) Bernardo Strassburg, apresentou ferramenta baseada em
Programação Linear (PL) que aponta um conjunto de cenários possíveis de
recuperação florestal em escala nacional. O algoritmo desenvolvido
alcança a solução considerada ótima, que tem desempenho 33% melhor em
relação às obtidas pelas ferramentas disponíveis, que se baseiam em
aproximações matemáticas.
“A diferença que isso faz para a Mata Atlântica é enorme: são 450
milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) a menos na atmosfera, 308
espécies menos extintas e 4 bilhões de dólares de redução de custos”,
afirma Strassburg, que é diretor do Instituto Internacional para a
Sustentabilidade (IIS) e coordenador do Centro de Ciências da
Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio). A pesquisa foi
desenvolvida por 25 pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Austrália,
Reino Unido, Suécia e Polônia, e mapeou 362 soluções para recuperação
florestal com um custo-benefício oito vezes maior do que aquelas obtidas
por métodos usuais.
Strassburg participou do desenvolvimento do Plano Nacional de
Recuperação da Vegetação Nativa, instituído em 2017, que determinou que o
Brasil deve restaurar, em 20 anos, 12 milhões de hectares de floresta,
sendo 5 milhões de Mata Atlântica – o equivalente a 4% desse bioma.
“Onde promover essa restauração faz uma grande diferença”, afirma o
economista e cientista ambiental. Por isso, o grupo buscou desenvolver
uma metodologia para entender em quais áreas a recuperação traria um
melhor custo-benefício. “Essa ferramenta deveria ter uma abordagem
flexível que integrasse múltiplos critérios – não apenas a conservação
da biodiversidade, a mitigação das mudanças climáticas ou a redução de
custos. Queríamos um algoritmo que fizesse os três ao mesmo tempo”.
Estima-se que, hoje, restam apenas de 22 a 28% da Mata Atlântica
original. Por isso, definir onde serão recuperados os 5 milhões de
hectares desse bioma requer uma estratégia cautelosa. As 362 soluções
ótimas encontradas são diversas e decidir qual é a melhor depende dos
objetivos. Em um dos melhores cenários, cada um dos três fatores –
conservação da biodiversidade, mitigação das mudanças climáticas e
custos – têm um desempenho de cerca de 94%, 90% e 80%, respectivamente.
“Mas definir se é melhor ter um desempenho de 94% para conservação e 90%
para redução de CO2 na atmosfera ou o contrário, isso se trata de uma
escolha da sociedade”, destaca Strassburg.
Pela legislação, cada propriedade deve ter, no mínimo, 20% de
vegetação de Mata Atlântica, e as que estiverem abaixo da meta devem
fazer a restauração – não necessariamente na sua própria terra, pois a
lei permite que o produtor pague por essa recuperação em outros locais.
“O pior cenário encontrado na análise é cada proprietário restaurar a
vegetação em seu terreno, em pequenos projetos pulverizados. Sai mais
caro e é pior para a biodiversidade e para o clima. Por isso, é
importante considerar a inteligência espacial trazida pelas soluções do
algoritmo”.
A descoberta inédita foi publicada esta semana em um artigo na
renomada revista Nature Ecology & Evolution. Os mapas produzidos
serão utilizados como instrumento para a definição de áreas prioritárias
para restauração pelo Ministério do Meio Ambiente e a metodologia está
sendo replicada para outros biomas e países.
SOBRE O IIS
O Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) é uma
organização independente com sede no Rio de Janeiro que desenvolve
pesquisa, projetos e ferramentas voltadas à compreensão da relação entre
o homem e demais elementos da natureza e implementação de políticas
públicas.
Referência: Strategic approaches to restoring ecosystems can triple conservation gains and halve costs
Bernardo B. N. Strassburg, Hawthorne L. Beyer, Renato Crouzeilles,
Alvaro Iribarrem, Felipe Barros, Marinez Ferreira de Siqueira, Andrea
Sánchez-Tapia, Andrew Balmford, Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero,
Pedro Henrique Santin Brancalion, Eben North Broadbent, Robin L.
Chazdon, Ary Oliveira Filho, Toby A. Gardner, Ascelin Gordon, Agnieszka
Latawiec, Rafael Loyola, Jean Paul Metzger, Morena Mills, Hugh P.
Possingham, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Carlos Alberto de Mattos
Scaramuzza, Fabio Rubio Scarano, Leandro Tambosi & Maria Uriarte
Nature Ecology & Evolution volume 3, pages62–70 (2019)
DOI https://doi.org/10.1038/s41559-018-0743-8
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
O suprimento global de água está diminuindo, mesmo
com o aumento das chuvas. O culpado? O ressecamento dos solos devido à
mudança climática
Universidade de Nova Gales do Sul*
Um estudo mundial descobriu um paradoxo: nossos suprimentos de água estão diminuindo ao mesmo tempo que a mudança climática
está gerando chuvas mais intensas. E o culpado é o ressecamento dos
solos, dizem os pesquisadores, apontando para um mundo onde condições de
seca se tornarão a nova normalidade, especialmente em regiões que já
são áridas.
Universidade de Nova Gales do Sul*
O estudo, a mais completa análise mundial de chuvas e
rios, foi conduzido pela equipe liderada pelo Professor Ashish Sharma
da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW), em Sidney, Austrália. Ele
se baseou em dados reais de 43.000 estações pluviais e 5.300 locais de
monitoramento de rios em 160 países, em vez de basear suas descobertas
em simulações de modelo de um clima futuro, que podem ser incertas e às
vezes questionáveis.
“Isto é algo que estava faltando,” disse Ashish,
futuro membro do Conselho de Investigação Australiano (ARC) na Escola de
Engenharia Civil e Ambiental da UNSW. “Nós esperávamos o aumento das
precipitações, já que um ar mais quente armazena mais umidade – e é isso
que os modelos climáticos também previam. O que não esperávamos é que,
apesar de toda a chuva extra em todo o mundo, os grandes rios estão
secando.
“Nós acreditamos que a causa seja o ressecamento dos
solos em nossas bacias de captação. Antes de uma tempestade, estas
bacias costumavam ser úmidas, permitindo que o excesso de chuva caísse
nos rios. Agora elas estão mais secas e absorvem mais da chuva, então
menos água é escoada.
“Menos água entrando em nossos rios significa menos
água para as cidades e fazendas. E solos mais secos significam
fazendeiros precisando de mais água para plantar as mesmas culturas.
Pior ainda, este padrão é repetido em todo o mundo, assumindo proporções
sérias em lugares que já são áridos. É extremamente preocupante,” ele
acrescentou.
Para cada 100 gotas de chuva que caem na terra,
apenas 36 gotas são de ‘água azul’ – a precipitação que entra em lagos,
rios e aquíferos – e portanto, toda a água extraída para as necessidades
humanas. Os dois terços remanescentes de precipitação são na maior
parte retidos como umidade do solo – conhecida como ‘água verde’ – e
usada pelo ambiente e pelo ecossistema.
À medida que a temperatura elevada causa uma maior
evaporação da água nos solos, aqueles solos secos absorvem mais da
precipitação quando esta ocorre, deixando menos ‘água azul’ para o uso
humano.
“É um infortúnio duplo,” diz Ashish. “Menos água está
indo para onde podemos armazená-la para posterior uso. Ao mesmo tempo,
mais chuva está sobrecarregando a infraestrutura de saneamento nas vilas
e cidades, levando a mais inundações urbanas.”
O Professor Mark Hoffman, Reitor de Engenharia da
UNSW, acolheu a pesquisa de Ashish e convocou uma discussão mundial
sobre como lidar com esse desdobramento de cenário, especialmente na
Austrália, que já é o continente habitado mais árido (sem contar a
Antártica).
“Está claro que não há uma correção simples, então
nós precisamos começar a nos preparar para isso,” ele disse. “A mudança
climática continua nos entregando surpresas desagradáveis. Contudo, como
engenheiros, nosso papel é identificar o problema e desenvolver
soluções. Conhecer o problema é muitas vezes metade da batalha, e este
estudo definitivamente identificou alguns grandes problemas.”
As descobertas foram feitas nos quatro últimos anos,
em pesquisa que apareceu nas revistas científicas Nature Geoscience,
Geophysical Research Letters, Scientific Reports e, mais recentemente,
na Water Resources Research da União de Geofísica dos Estados Unidos.
No artigo de 5 de novembro da revista Water Resources
Research, Ashish e seus colegas escrevem que apesar da ampla evidência
mundial do aumento de extremos de precipitação, não há evidência de
aumento de inundações. Na verdade, as evidências apontam mais em direção
a picos de cheias decrescidos para as inundações moderadas que formam
os eventos-chave de reabastecimento nos reservatórios de abastecimento
de água.
“Enquanto extremos de cheias podem aumentar devido às
maiores tempestades que vem ocorrendo, essas cheias costumam ser
grandes demais para serem armazenadas para o abastecimento de água. São
dos extremos de cheias menos intensos que nossos reservatórios
dependem,” Ashish disse.
“De modo geral, as magnitudes das cheias estão
diminuindo,” escreveu Ashish e seus co-autores, o Dr. Conrad Wasko da
Universidade de Melbourne e o Professor Dennis Lettenmaier, da
Universidade da Califórnia, em Los Angeles. (O Dr. Conrad foi estudante
de PhD de Ashish na UNSW durante a maior parte da pesquisa).
Eles sugerem que grandes reduções na quantidade de
umidade do solo, somados à redução da extensão geográfica de cada evento
de tempestade, são as maiores razões para o aumento de extremos de
precipitação não estarem resultando em aumentos correspondentes de
inundações.
Eles apontam para pesquisas americanas anteriores que
mostram que, em eventos extremos de precipitação, se os solos
circundantes estiverem úmidos antes de uma tempestade, 62% da chuva leva
a cheias que são capturadas por bacias de captação. Mas quando os solos
estão secos, apenas 13% da chuva resulta em cheias.
“Isto está meio que contradizendo o argumento de
aumento das inundações em relatórios anteriores do IPCC [Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], mas apontando para
possivelmente um cenário bem pior,” disse Ashish. “Pequenas cheias são
muito importantes para o suprimento de água, porque elas reabastecem
represas e formam a base de nosso suprimento de água,” disse Ashish.
“Mas elas estão ocorrendo com menos frequência,
porque os solos estão sugando a chuva extra. Até mesmo quando uma grande
tempestade despeja um monte de chuva, os solos estão tão secos que eles
absorvem mais água do que antes, e uma quantidade menor alcança os rios
e reservatórios.”
Pesquisas anteriores até então haviam despercebido
isso. “Todos estavam obcecados pelo lado das inundações dessa equação e
ignoraram o componente mais crítico, que é o suprimento de água em
apuros resultante de fluxos reduzidos em nossos reservatórios,” ele
acrescentou.
Então qual é a solução? “Uma opção é aguardar que
acordos internacionais surtam efeito, para que as concentrações dos
gases de efeito estufa possam ser reduzidas – mas isso levará um longo
tempo. A outra opção é ser proativo e reprojetar nossos sistemas
hídricos para que possamos nos adaptar e lidar melhor com o assunto.”
Para se adaptar à esta nova realidade, são
necessárias novas políticas e infraestrutura. Em áreas onde o suprimento
de água está diminuindo, a agricultura com uso intensivo de água
precisará ser reduzida ou movida para outro lugar, enquanto a capacidade
de armazenamento dos reservatórios precisarem ser expandidas. Em áreas
urbanas, onde as inundações estão se tornando mais comuns, será
necessário estudar incentivos a criar ‘cidades verdes’ e a armazenar ou
desviar água das inundações.
“Nós precisamos nos adaptar à essa realidade
emergente,” disse Ashish. “Nós precisaremos de um reprojetamento em
grande escala em alguns lugares se quisermos continuar morando neles.
Mas isto é possível: lugares como o Arizona e a Califórnia recebem
apenas 400mm de chuva por ano, mas projetaram seus sistemas de
suprimento de água para tornar habitáveis lugares anteriormente
inabitáveis.
“Ou tome por exemplo o esquema Snowy Mountains: não é
apenas sobre hidroeletricidade, é também um complexo esquema de
suprimento de água com 225 km de túneis, tubulações e aquedutos.”
Ashish disse que a resposta não era simplesmente mais
represas. “Reprojetar soluções não é simples, elas precisam ser
analisadas região por região, vendo os custos e benefícios, analisando a
mudança esperada para o futuro, enquanto também estudando projetos
anteriores para não repetir os mesmos erros. Não há soluções mágicas.
Qualquer projeto de reprojetamento em grande escala irá exigir um
investimento significativo, mas o custo da inércia poderia ser
monstruoso.”
Em áreas urbanas, será necessário o inverso: as
inundações estão se tornando mais comuns e mais intensas. Perdas
econômicas mundiais devido às inundações aumentaram de uma média de 500
milhões de dólares por ano na década de 80 para cerca de 20 bilhões de
dólares anuais em 2010.
Em 2013, o valor aumentou para mais de 50
bilhões. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas prevê que
este número mais que duplicará nos próximos 20 anos, à medida que os
extremos de tempestades e de chuvas se intensificarem e um maior número
de pessoas se mudarem para centros urbanos.
“Adaptar-se a isso é possível, mas exigirá um
reprojetamento em grande escala de muitas cidades,” diz Ashish. “Tóquio
sofria com inundações todo ano, mas eles construíram um enorme tanque
subterrâneo embaixo da cidade que armazena a água da chuva e depois a
libera. Você nunca vê inundações lá agora.”
###
Referência:
Sharma, A., Wasko, C., & Lettenmaier, D. P. (2018). If precipitation extremes are increasing, why aren’t floods?. Water Resources Research, 54. https://doi.org/10.1029/2018WR023749
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, chamou ontem (26) de
“grande retrocesso no cenário global” a decisão anunciada pelo governo
do Japão de retomar a caça de baleias e deixar Comissão Internacional da
Baleia (CIB).
Em nota, o Ministério do Meio Ambiente informa que tal iniciativa “
ignora a posição majoritária dos países”. Ressalta ainda que o Brasil é
um defensor de todas as formas de vida.
“O Brasil historicamente postula pela defesa de todas as formas de
vida nos mares do planeta, principalmente dos cetáceos [animais marinhos
que pertencem à classe dos mamíferos], que têm muitas espécies
ameaçadas de extinção”, diz o comunicado. “Temos muito a avançar e
somente por meio da atuação integrada dos países-membros da CIB
poderemos ter êxito na proteção dessas espécies e em outras agendas
relacionadas, como o combate ao lixo no mar e ao aquecimento global.”
O texto destaca também que há no Brasil um esforço para garantir a
preservação de várias espécies. “Em nossa zona exclusiva, protegemos as
baleias jubarte e franca, os golfinhos, as tartarugas e manejamos a
pesca de espécies comerciais para garantir a sobrevivência das espécies
mais exploradas. Além disso, ampliamos as unidades de conservação
costeiras marinhas de 1,5% para 26%, para preservar os hábitats da fauna
marinha.”
O comunicado lembra que, na Declaração de Florianópolis, foi
reafirmada a importância da manutenção da moratória à caça comercial de
baleias e da obrigação da CIB de garantir financiamento adequado para
atividades de conservação e uso não letal e não extrativo de cetáceos,
como o turismo de avistamento.
O governo da Austrália também lamentou a decisão das autoridades
japonesas e apelou para que revisem a medida e abandonem a iniciativa de
retomar a caça comercial de baleias a partir de julho de 2019.
Da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/12/2018
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
O Brasil tem ocupado um papel de protagonismo e liderança técnica e
diplomática desde que as Conferências da ONU foram criadas na Rio-92.
Essa visibilidade nos maiores fóruns globais sobre desenvolvimento e
sustentabilidade se dá muito por sermos considerados a maior potência
mundial em biodiversidade
e água potável, donos da maior área de floresta tropical úmida, um dos
maiores produtores de alimentos do planeta e proprietários do maior
programa de biocombustível do mundo.
Temos muito a ganhar mantendo o Brasil nessa posição de destaque e
consolidando nossa liderança em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Entre
nossos principais desafios está o fim do desmatamento,
o que equivaleria a cerca de um bilhão de toneladas de carbono a menos
na atmosfera anualmente. Uma missão que depende de esforços e trabalho
compartilhado de atores públicos e privados.
O Brasil também pode se posicionar diante de outras nações como o
maior produtor de alimentos sustentáveis do mundo. O caminho é
implementar uma agropecuária de baixo carbono, que já conta com
tecnologia disponível para agregar maior valor aos produtos brasileiros,
área suficiente para duplicar a produção, política pública definida –
como o Plano ABC – e programa de financiamento estabelecido – o Plano
Safra, que disponibiliza R$ 200 bilhões por ano. Outro caminho é
despontar como grande potência global em biocombustíveis e energias
alternativas.
É necessário dar o primeiro passo nesse caminho o quanto antes. Na COP24,
encerrada no último final de semana, na Polônia, aprendemos que quem
quer faz. Ao falar sobre Adaptações Baseadas em Ecossistemas (AbE) – ou
seja, uso de recursos naturais como parte da estratégia de adaptação aos
impactos da mudança do clima –, países como Holanda, El Salvador e as
ilhas africanas de Seicheles se destacaram.
Entre as novidades apresentadas por Seicheles está o Bluebond,
iniciativa que angariou U$ 15 milhões do setor privado para investir em
iniciativas de Blended Finance (ou financiamento misto, público e
privado) voltadas para projetos de capacitação das comunidades
litorâneas e empreendimentos locais, visando uma transição para a pesca
sustentável e a proteção dos oceanos adaptação, desenvolvendo assim uma
“economia azul”. Além disso, um novo mecanismo legislativo determina
que, antes de investir em engenharia cinza – como são denominadas as
ações de engenharia convencional –, deve-se buscar alternativas de AbE.
Na mesma linha, El Salvador provou que é dez vezes mais barato o
custo da adaptação do que o da inação. O país criou indicadores de
avaliação de sustentabilidade e colocou, assim como o Brasil, AbE em sua
Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), as metas voluntárias de
cada país para o Acordo de Paris. Ao cumprir as metas, serão restauradas
50% das áreas naturais do país, provando que é possível reverter
situações de risco usando a natureza como parte da solução.
A Holanda, país conhecido pelos diques e estruturas de contenção de
enchentes, também está investindo em Soluções Baseadas na Natureza para
aumentar a resiliência territorial aos impactos da mudança do clima. A
implantação de parques nas margens de rios em áreas urbanas permite o
contato das pessoas com a natureza, resguarda a infraestrutura de
possíveis danos e serve de habitat para a biodiversidade.
Esses são apenas alguns exemplos que foram apresentados na última COP
do Clima e que mostram o quão viáveis são as ações para frear o
aquecimento global e lutar contra as mudanças climáticas. Ao analisar
todas as metas dos países para o Acordo de Paris,
verifica-se que 66% delas trazem algum tipo de iniciativa de adaptação
baseada em ecossistemas, indicando que esse é um caminho possível para
diversos tipos de ecossistemas em todo o mundo.
No entanto, ao final da COP24, muitas expectativas não foram
superadas. As regras para adoção de mecanismos de mercado de carbono,
por exemplo, não tiveram consenso entre os países envolvidos na
discussão. Assim como outros que serão discutido no Chile, país sede da
próxima Conferência, no ano que vem. Cabe ao Brasil e a nós brasileiros
decidirmos se também queremos ser exemplo para as demais nações. Diante
de uma resposta positiva, basta arregaçarmos as mangas e colocar as mãos
na massa.
* André Ferretti é gerente de Economia da Biodiversidade da
Fundação Grupo Boticário, coordenador geral do Observatório do Clima e
membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza. * Juliana Baladelli Ribeiro é bióloga e analista de Soluções Baseadas na Natureza da Fundação Grupo Boticário.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado,
reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à
EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]