As pouco conhecidas frutas brasileiras com superpoderes
Com informações da Agência Fapesp
Frutas pouco conhecidas, como a grumixama, têm alto poder anti-inflamatório e antioxidante.
[Imagem: B.navez/Wikimedia Commons]
[Imagem: B.navez/Wikimedia Commons]
Os nomes de algumas frutas nativas da Mata Atlântica ainda soam estranhos para a maioria dos brasileiros: bacupari-mirim, araçá-piranga, cereja-do-rio-grande, grumixama e ubajaí.
Se depender de suas propriedades bioativas, contudo, é um questão de tempo para que elas possam estar não só disputando espaço nas gôndolas dos supermercados, como ganhando posição no ranking dos superalimentos.
"Não havia muito conhecimento científico sobre as propriedades dessas frutas nativas. Agora, com os resultados do nosso estudo, a ideia é fazer com que elas sejam produzidas por agricultura familiar, ganhem escala e cheguem aos supermercados. Quem sabe elas não se tornam um novo açaí?", comentou o professor Severino Matias Alencar, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) em Piracicaba (SP), que realizou o estudo em colaboração com pesquisadores da Universidade de La Frontera, no Chile.
A equipe avaliou os compostos fenólicos - estruturas químicas que podem ter efeitos preventivos ou curativos - e os mecanismos anti-inflamatórios e antioxidantes do extrato de folhas, sementes e polpa de quatro frutas do gênero Eugenia e uma do gênero Garcinia: araçá-piranga (E. leitonii), cereja-do-rio-grande (E. involucrata), grumixama (E. brasiliensis), ubajaí (E. myrcianthes) e bacupari-mirim (Garcinia brasiliensis), todas típicas da Mata Atlântica.
Essas espécies já são raras em ambiente natural, tendo sido necessário usar plantas fornecidas por sítios localizados no interior de São Paulo que comercializam as plantas com o objetivo de preservação. Um dos produtores possui a maior coleção de frutas nativas do Brasil, somando mais de 1,3 mil espécies plantadas.
Esta é a cereja-do-rio-grande.
[Imagem: Erika Silva/Wikimedia Commons]
[Imagem: Erika Silva/Wikimedia Commons]
Antioxidantes
As quatro espécies do gênero Eugenia apresentaram um vasto potencial econômico e farmacológico, sendo exemplos de alimentos funcionais, que, além das vitaminas e valores nutricionais, têm propriedades bioativas como o combate aos radicais livres - átomos instáveis e altamente reativos no organismo que se ligam a outros átomos, provocando danos como envelhecimento celular ou doenças.
As plantas brasileiras mostraram um potencial tão significativo quanto frutas já mundialmente famosas, como o mirtilo.
"A araçá-piranga, espécie ameaçada de extinção, teve a melhor atividade anti-inflamatória em comparação com a de outras frutas do gênero Eugenia", disse o professor Pedro Rosalen, membro da equipe. "O mecanismo de ação também é muito interessante, pois ocorre de forma espontânea e logo no começo da inflamação, impedindo uma via específica do processo inflamatório. Ela age também no endotélio dos vasos sanguíneos, evitando que os leucócitos transmigrem para o tecido agredido, reduzindo a exacerbação do processo inflamatório."
Rosalen destaca que os antioxidantes não têm como função única combater o envelhecimento ou a morte celular, atuando na prevenção de doenças mediadas por processo inflamatório crônico.
"A ação oxidante dos radicais livres também significa o surgimento de doenças inflamatórias dependentes, como diabetes, câncer, artrite, obesidade, doença de Alzheimer," disse.
"Não percebemos muitas dessas lesões provocadas pelos radicais livres. São as inflamações silenciosas. Por isso, é importante a ação de sustâncias antioxidantes, que podem neutralizar os radicais livres."
O pesquisador ressalta que há cerca de 400 espécies pertencentes ao gênero Eugenia distribuídas pelo Brasil, incluindo várias espécies endêmicas. "Temos uma imensidão de frutas nativas com compostos bioativos que trariam benefícios para a saúde da população. É preciso estudá-las", disse.