A parcialidade daqueles que nos querem fazer crer num só lado da moeda
Por
vezes, revela-se importante sopesar os fatos e as versões da história
para a melhor compreensão do presente.
A parcialidade daqueles que nos
querem fazer crer num só lado da moeda relembra uma das citações de
Nietzsche na qual a verdade não significa necessariamente o contrário de
um erro, mas somente, e em todos os casos mais decisivos, a posição
ocupada por diferentes erros uns com relação aos outros. ...
Então,
faz-se necessário reconhecer esses erros para desanuviar a verdade
histórica. Para isso, façamos uma regressão aos fatos, que geraram
feridas entre nós, da segunda metade do século passado.
Tanto a tortura quanto o terrorismo são erros que convergem para uma
vil afronta aos Direitos Humanos. Querer pesar as motivações e qual
desses atos atinge mais a dignidade da pessoa humana seria uma vã e
passional tentativa de engano. Nosso tecido social foi ferido com
atrocidades truculentas e hediondas, tais como justiçamentos,
sequestros, assassinatos, assaltos e, também, com os excessos em nome do Estado.
Sopravam aqui os ventos exógenos da
Guerra Fria,
que era a disputa global polarizada entre a democracia capitalista dos
Estados Unidos e a antiga ditadura comunista da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Daí, seguimentos politizados da sociedade
brasileira de então se deixaram instrumentalizar por ideologias
estrangeiras de dominação numa luta fratricida. Uns errados com relação
aos outros.
A aproximação, a partir de 1961, do então presidente João Goulart do
Bloco Comunista, culminou no protesto massivo de repúdio na
“Marcha pela Família com Deus pela Liberdade”,
que respaldou a Revolução Cívico-Militar no País em 1964, com apoio,
mesmo que velado, do bloco capitalista. Enquanto os que se opuseram e
optaram pela luta armada, eram adeptos do comunismo totalitário.
Dentre
esses, havia o Comando de Libertação Nacional – COLINA – e a Vanguarda
Armada Revolucionária Palmares – VAR Palmares, dos quais, inclusive,
consta que desses grupos fez parte a Sra. Dilma Rousseff. Apoiados eram,
com equipamento e treinamento, pelos regimes de Cuba, da China e da
URSS para, de acordo com o seu programa, implantar no Brasil uma
ditadura do proletariado. Fernando Gabeira, nesse vídeo, assevera que esses grupos armados estavam muito longe de lutarem por uma democracia. É um erro dizer o contrário.
Límpido é que o regime Cívico-Militar evitou que se instalasse uma
ditadura comunista tal qual a de Fidel Castro, em Cuba, e, também, criou
condições para uma transição – lenta, gradual e pacífica – para que
houvesse a abertura democrática. Assim, torna-se irrefutável que as
Forças Armadas contribuíram fundamentalmente para o Brasil ser o atual
Estado Democrático de Direito dos dias atuais, porquanto ditadores são
depostos e não promovem transição, nem anistia, mas, sim, o padedón de fuzilamento nos moldes cubanos.
Salienta-se que nenhum militar se perpetuou no poder, nem enriqueceu.
Não cai nada bem o papel de bode expiatório da História que tentam
impingir a esses brasileiros, nem a pretensa destruição do legado que os
identifica. Se erros foram cometidos, houve muitos acertos.
A injustiça é, também, reflexo da perseverança nos enganos com
propósito de desvirtuar. Não é possível voltar no tempo para desdizer os
fatos para contar uma não-verdade mil vezes na tentativa de recriar a
história, como sugeriria o chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels.
Assim, a abertura democrática foi possível devido ao esforço da
sociedade como um todo, e que optou pela luta política não armada, em
promover a conciliação nacional, patrocinada pelo então
Presidente João Figueiredo ao assinar a Lei da Anistia,
ampla, geral e irrestrita.
Erros tais como a censura e outros arbítrios
ocorreram? Sim. Não os defendo, mas é importante reconhecer também as
conquistas e, sem dúvidas, a mais importante foi impedir uma ditadura
comunista que só seria vitoriosa com muito derramamento de sangue, como
foi em toda parte do mundo.
A efetiva reconciliação nacional estaria ao nosso alcance, a exemplo do
que o estadista Nelson Mandela promoveu na África do Sul, mas o
revanchismo revelado com a condução dos trabalhos da Comissão Nacional
da Verdade distanciou essa possibilidade.
Ao invés de examinar de forma
isenta a totalidade das graves violações de direitos humanos, como pede a
literalidade do texto legal, optou pelo critério parcial de se ater
apenas aos atos praticados pelos agentes de Estado, desejoso de jogar a
Lei da Anistia no fogo.
Tivesse os grupos VAR-Palmares e COLINA obtido
êxito na implantação da ditadura comunista no Brasil, o paredão de
fuzilamento seria rito sumário. Foi somente graças à vitória da
democracia do regime Cívico-Militar que foi possível a eleição de um
operário e de uma ex-guerrilheira
Presidentes da República. Eleições essas tuteladas pela Constituição
Cidadã, promulgada em 1988, e não subscrita pela correspondente legenda partidária.
Novembro de 1989 marcaria dois acontecimentos históricos: a queda do Muro de Berlim e o
fim da Guerra Fria,
e a eleição direta de Fernando Collor para a Presidência do Brasil,
selando a abertura democrática no Brasil.
Tudo parecia estar dentro de
uma sincronia natural para que o país pudesse se concentrar nos seus
problemas internos e geopolíticos na busca do seu desenvolvimento
econômico e social.
Parecia. No ano seguinte, em julho de 1990, depois
que o comunismo socialista demonstrou seu fracasso global, reuniram-se
no Hotel Danúbio, os senhores Luis Inácio da Silva, que fora derrotado
nas eleições presidenciais no ano anterior, e o ditador cubano Fidel
Castro, desamparado com a dissolução da URSS, para criar o Foro de São
Paulo.
Na visão deles, o regime que não deu certo em lugar nenhum do
mundo, "daria" certo na América Latina, com o pacto entre partidos ditos
de esquerda e ideologicamente alinhados e, até, com milícias armadas,
tais como as FARC da Colômbia, com o objetivo de chegarem ao poder em
seus respectivos países e “socializar” o continente.
É ainda o resquício de uma cáustica brisa da Guerra Fria e, ao que
parece, tudo ao arrepio da Constituição brasileira. Conforme discurso do
Sr. Luiz Inácio da Silva nesse
vídeo,
na última edição do Foro, em 2013, fica a dúvida se ele fala como líder
partidário ou se avoca para si a condição de estadista, ainda mais com o
reforço da aparição em
mensagem gravada
da atual presidente.
Importante ressaltar que o país já possui o
mandamento programático constitucional, parágrafo único do artigo
quarto, no qual a República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações, e isso,
em uma relação de Estado, independentemente do alinhamento
ideológico-partidário de quem estiver exercendo o poder.
Analisado pela ótica ideológica do Foro de São Paulo, faz sentido a
exclusão do Paraguai do Mercosul por, supostamente, ter infringido a
“cláusula democrática” após decisão soberana do senado daquele país que,
por 39 votos a 4, destituiu o então presidente Fernando Lugo. Essa
mesma cláusula “justifica” a entrada e permanência no Mercado da
Venezuela de Nicolás Maduro que cala, aprisiona opositores, enquanto
milícias armadas assassinam manifestantes contrários àquele governo nas
ruas de Caracas.
Isso para não citar a pífia reação do governo
brasileiro diante da “invasão” das refinarias da Petrobrás, na Bolívia,
nem os “financiamentos secretos” do BNDES, nem a mão de obra escrava
cubana do programa Mais Médicos, nem os termos da construção do porto de
Mariel, em Cuba, no que seria a “socialização” latina do dinheiro do
contribuinte brasileiro.
Estariam os adeptos do comunismo de outrora, que foram derrotados pela
Revolução Cívico-Militar de 1964, desejando cubanizar, venezuelizar o
Brasil com o propósito de se perpetuarem no poder, pervertendo a ordem
democrática? Adeptos esses que não subscreveram a Carta Maior de seu
país, que querem a todo o custo a regulação da mídia, mas flertam com
ditaduras e milícias armadas no Foro de São Paulo.
Ao que tudo indica,
sim, cujos fins justificam os meios ao elevar a corrupção à categoria de
prática política institucionalizada como revelado nos escândalos do
Mensalão e do Petrolão. Antes, eram igualmente “justificável” os
assaltos a banco para financiar a luta armada.
Enquanto os Black Blocs promoviam a depredação em meados de 2013, a
atual presidente chegou a propor o absurdo, em rede nacional, de uma
constituinte com propósito exclusivo da reforma política, sabendo, por
óbvio, que uma constituinte é incondicionada e revoga a constituição
vigente. Alguns diriam que o nome disso seria tentativa de golpe.
E é
exatamente o vigor da Carta Cidadã que respalda que movimentos como o
Brasil Livre e Vem pra Rua, juntamente com milhões de brasileiros,
saíssem pacificamente às ruas, no dia 15 de março de 2015, para dizer
“basta” no que denomino, agora, por uma espécie de Revolução “Cívica e
não Militar”, mas que conserva em si a mesma natureza da de 1964,
rendendo homenagem ao legado e à memória daqueles brasileiros, civis e
militares, que não optaram pela luta armada no passado.
Claro, como sugeriria Nietzsche, hei de confessar a minha parcialidade.
Escrevo única e exclusivamente como mais um cidadão que, como tantos
outros, indigna-se e ama seu país. Tive uma infância pobre nos arredores
do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, no subúrbio do Rio de
Janeiro. Perto de uma violência que nos distancia da civilidade quando o
país registra mais de cinquenta mil homicídios anuais.
Isso não é
banalizável. Cresci num mundo injusto e desigual e, na adolescência, até
via com simpatia a tal dialética marxista da luta de classes, mas com
estudo contrariei probabilidades. Hoje eu tenho a convicção de que essa
conversa fracassada do século passado, sepultada por Gorbatchev na queda
do Muro, mas que o gramscismo deseja ressuscitar com os Foros de São
Paulo de agora, nunca será uma alternativa viável para combater o
patrimonialismo, que insiste entre nós nas relações promiscuas entre o
público e o privado.
A solução genuinamente brasileira passa pelo
respeito ao pluralismo de idéias dentro do que a nossa Constituição
permite. De outro modo, será um grande erro o engano em ter por verdade a
lógica perversa que se pretende absoluta para subverter os demais
juízos, cuja ambição não seria outra senão a dominação despótica, numa
democracia de fachada e fratricida.
Fonte: Por Mauro Rogério - 24/06/2015 - - 16:51:04
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