O Prêmio Nobel Hayek dizia que os mitos
históricos tinham mais importância, muitas vezes, do que os fatos
históricos. As crenças acerca do passado, formadas com base em
superstições, tinham profundo impacto no presente. O capitalismo era
visto como uma exploração dos pobres trabalhadores, por exemplo, e não
importava o fato de que foi ele que retirou milhões da miséria: a imagem de exploração perdurava pela ignorância, e com isso o anticapitalismo crescia.
Denis Rosenfield, em sua coluna
de hoje no Estadão, fala a mesma coisa: a narrativa que conquista a
opinião pública acaba prevalecendo e, muitas vezes, distorcendo a
realidade, para alterá-la no presente. O professor cita os casos dos
“heróis” que hastearam uma segunda bandeira quando o combate já havia
terminado, mas que foi capturada por foto que circulou o mundo, e os
vietnamitas que, mesmo sem vitórias expressivas nas batalhas, saíram
como os vitoriosos perante a opinião pública.
A narrativa que conquista corações tem
mais relevância do que a verdade em si, para efeitos concretos no mundo
em que vivemos. É por isso que os inimigos de Israel exploram tanto a
propaganda enganosa, pintando a única democracia desenvolvida da região
como o verdadeiro demônio, invertendo totalmente os fatos. É por isso
também que os regimes comunistas sempre deram tanta importância à
máquina de propaganda, para disseminar narrativas favoráveis, ignorando
os fatos.
O foco do texto de Rosenfield é a
“Comissão da Verdade”, que tem lutado para criar uma narrativa
maniqueísta e falsa dos anos 1960, como se aqueles comunistas fossem
democratas em busca da liberdade, e não jovens perigosos encantados com a
ditadura cubana. Diz o autor:
Os
“combatentes” que tinham o objetivo de instalar no Brasil uma “ditadura
do proletariado”, nome da época da ditadura comunista, se tornam os
lutadores da liberdade, da democracia, apesar de não terem compromisso
algum com esses princípios e valores. O comunismo era a sua meta.
Marighella, um stalinista de estrita observância, torna-se um
“democrata”. Não há narrativa verídica que resista, é como se os
brasileiros fossem idiotas!
Fiel a essa
narrativa de cunho ideológico, a Comissão da (in)Verdade editou a
Resolução n.º 2, restringindo o escopo de sua investigação aos atos
cometidos pelos agentes de Estado, principalmente os militares. É como
se os “guerrilheiros”, que assim se chamavam à época, fossem inocentes,
meras vítimas que não teriam cometido nenhum crime. Note-se que a lei
que criou a Comissão da Verdade estava voltada, muito justamente, para
uma investigação isenta de todos os envolvidos em crimes durante o
regime militar. No momento em que há essa restrição e unilateralidade, é
a verdade mesma que é deixada de lado. Que credibilidade pode, então,
ter uma comissão que prima pela parcialidade e emprega a verdade somente
enquanto termo que pode ser manipulado ideologicamente?
Recentemente, a jornalista Miriam Leitão
relatou que foi torturada pelos militares, o que gerou muita comoção.
Escrevi um texto que depois decidi retirar, sob argumentos convincentes
do editor, pois havia gerado equívocos de interpretação. Alguns poderiam
pensar que eu estava igualando o fato de uma jovem de 19 anos militar
pelo PCdoB e militares no poder a torturarem. Não! O foco era outro: a
jornalista tem total direito a um pedido de desculpas pelo horror que
sofreu, mas só não pode ser vista como uma heroína que lutava, naquela
época, por algo bom e desejável.
Meu objetivo era o mesmo de Rosenfield
com esse artigo: deixar claro que aqueles comunistas queriam algo
terrível para o Brasil, não eram democratas, não tinham apreço algum por
um regime de liberdades civis e individuais. Eram autoritários,
totalitários, e estavam dispostos a praticar muitos crimes em nome de
sua causa “nobre”. Caso tivessem logrado sucesso, o Brasil teria visto
um verdadeiro regime de torturas sistemáticas e fuzilamentos sumários,
como ocorreu em toda experiência comunista.
Por que os crimes praticados pela
esquerda na época não são investigados? Como questiona Rosenfield, será
que as pessoas vitimadas e assassinadas pela esquerda armada não eram
“humanas”? Quais “direitos humanos” se deseja realmente defender aqui?
Há aqueles que buscam de forma imparcial a verdade, e há aqueles que só
querem saber das narrativas, dos mitos históricos. Infelizmente, o
segundo grupo parece existir em maior quantidade no mundo…
Rodrigo Constantino