quarta-feira, 8 de junho de 2016

Sensor eletrônico detecta moléculas de Alzheimer, Parkinson e câncer


Dispositivo eletrônico detecta moléculas ligadas a câncer, Alzheimer e Parkinson
O sensor pode ser adaptado para detecção de outras substâncias, como moléculas relacionadas a diferentes doenças. [Imagem: LNNano]
Sensor médico
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), em Campinas (SP) desenvolveram um dispositivo eletrônico simples para a detecção de biomoléculas relacionadas a diversos tipos de câncer e a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.


O sensor tem como elemento central um transístor com uma camada orgânica em escala nanométrica que, em meio líquido, pode identificar facilmente o peptídeo glutationa reduzida (GSH) e a enzima glutationa S-transferase (GST).


Diferentemente dos transistores convencionais, que são formados por várias camadas de diversos materiais, o novo componente possui apenas um par de contatos elétricos cobertos por uma camada orgânica - polímeros à base de carbono -, o que simplifica a fabricação do transístor.

Nessa arquitetura, o filme orgânico é exposto em meio líquido, onde há um terceiro eletrodo para a detecção do par de biomoléculas.


Transístor orgânico
A tecnologia do transístor orgânico para detecção de substâncias em meio líquido é recente e promissora, e vem sendo explorada para aplicações em várias áreas. O dispositivo brasileiro é o primeiro desse tipo reportando a detecção das moléculas de interesse médico.


"Este é um par [de moléculas] relevante para a biomedicina e que pode ser detectado de maneira reversível e em baixas concentrações devido às características peculiares do transístor," disse Rafael Furlan, responsável pela construção do sensor. "Os dispositivos orgânicos são facilmente modificáveis e mais simples que os dispositivos convencionais".


O sensor pode ser adaptado para detecção de outras substâncias, como moléculas relacionadas a diferentes doenças e elementos presentes em material contaminado, entre outras aplicações. Para isso, alteram-se as moléculas incorporadas no sensor, que reagirão na presença dos componentes químicos que são alvo de análise no ensaio, chamados de analitos.


Bibliografia:

Water-gated phthalocyanine transistors: Operation and transduction of the peptide–enzyme interaction
Rafael Furlan de Oliveira, Leandro Merces, Tatiana Parra Vello, Carlos César Bof Bufon
Organic Electronics


Vol.: 31, April 2016, Pages 217-226
DOI: 10.1016/j.orgel.2016.01.041

É possível consertar pontes e viadutos em dias


Nova técnica conserta pontes e viadutos em dias
O novo processo envolve a criação de "reparos", anéis de concreto revestidos com um material compósito, que são construídos em torno da parte inferior e superior de cada coluna. [Imagem: University of Utah College of Engineering]
Reparo acelerado
Um novo processo de fixação de colunas danificadas de pontes e viadutos consegue resolver em alguns dias um problema que hoje exige a interrupção das vias por meses.
Sejam causadas por um acidente, deslizamento de terra ou terremoto, a quebra ou fragmentação de colunas é um processo crítico que não obedece a critérios de urgência.
Isto pode mudar com o trabalho da equipe do professor Chris Pantelides, da Universidade de Utah, nos EUA, que desenvolveu um novo processo de fixação de colunas que pode ser feito em poucos dias.


"Com este projeto e com este processo, é muito mais fácil e mais rápido para os engenheiros e equipes reconstruírem uma cidade devastada por um terremoto, de modo que estradas críticas permaneçam abertas para veículos de emergência," diz ele.


Reparos para pontes e colunas
Se uma ponte sobrevive a um colapso e se suas colunas puderem ser reparadas, os engenheiros normalmente desbastam o concreto, substituem todos os vergalhões de aço e aros dobrados e, em seguida, despejam concreto novo em um molde de aço que é construído em torno da coluna. Este é um processo demorado que deixa a ponte inutilizável por meses até que o reparo seja concluído.

O novo processo envolve a criação de "reparos", anéis de concreto revestidos com um material compósito, que são construídos em torno da parte inferior e superior de cada coluna. O material é um polímero reforçado com fibra de carbono que é mais forte do que o concreto e o aço.

Primeiro, reforços de aço são colocados em furos apropriados em torno da coluna e protegidos com epóxi. Em seguida, as duas metades de um molde circular fino de compósito - menos de um centímetro de espessura - são colocadas em torno da coluna e unidas, permitindo o lançamento do concreto.

O resultado é uma coluna reparada com aproximadamente a mesma integridade estrutural da coluna original, diz Pantelides.

"A forma circular lhe dá a melhor força para a quantidade de material que você está usando. As tensões são distribuídas igualmente por toda a periferia," diz ele. "Com este método, se houver terremotos ou tremores secundários, a ponte vai sobreviver e novos danos ocorrerão adjacentes ao reparo. Isto dá à ponte uma segunda vida."


O processo também pode ser usado para equipar pontes já construídas para torná-las mais seguras contra terremotos ou em colunas danificadas em edifícios.

Bibliografia:

Seismic Repair of Severely Damaged Precast Reinforced Concrete Bridge Columns Connected with Grouted Splice Sleeves
Joel E. Parks, Dylan N. Brown, M. J. Ameli, Chris P. Pantelides
American Concrete Institute Structural Journal
Vol.: 113, Issue: 03, pages 615-626

Países emergentes superam ricos em investimento em energias limpas


Países emergentes superam ricos em investimento em energias limpas
As fontes de energia limpa estão deixando de lado seu aspecto de "alternativas" e compondo um setor econômico próprio: Tecnologias para serem levadas a sério.[Imagem: Leaflet/Wikimedia]


Energias renováveis
As fontes de energia renovável cresceram em ritmo recorde no mundo em 2015, ano em que pela primeira vez os países emergentes superaram os mais ricos em investimentos nessa área, segundo o "Relatório do Estado Global de Energias Renováveis 2016" (Renewables 2016 Global Status Report).


Os investimentos em energia eólica, solar e hidroelétrica foram também mais do que o dobro do valor aplicado em novas usinas de carvão e gás, aponta relatório, realizado anualmente pela REN21, uma organização que reúne uma rede de empresários, cientistas e gestores públicos em prol do avanço as fontes renováveis de energia. Ao mesmo tempo, os custos de fontes renováveis também foram reduzidos.


No ano passado, cerca de 147 gigawatts (GW) de energia renovável, principalmente eólica e solar, foram acrescentados à capacidade de geração do planeta, o equivalente a toda a capacidade de geração a partir de todas as fontes na África.


China, Estados Unidos, Japão, Grã-Bretanha e Índia foram os países que mais contribuíram para esse crescimento, ainda que os preços de combustíveis fósseis tenham caído significativamente em 2015.


Competitivas
Apesar de não estar entre os cinco principais países no total de aplicado, o Brasil se destaca por ocupar a vice-liderança em investimentos em energia hidroelétrica, de biodiesel e etanol, atrás da China, e o quarto em energia eólica.

Também é o terceiro país com a maior capacidade de geração de energia renovável quando é levada em conta a fonte hidrelétrica, atrás de China e Estados Unidos.

"Esse aumento, essencialmente a partir de energia solar e eólica, é um indicativo claro de que essas tecnologias são competitivas financeiramente (em relação aos combustíveis fósseis)", diz Christine Lins, secretária-executiva da REN21. "Elas são priorizadas por muitos países e cada vez mais também por empresas e investidores, o que é um sinal muito positivo."

Investimentos em energias limpas
O investimento em energia renovável no mundo atingiu US$ 286 bilhões em 2015.
Com a China respondendo por mais de um terço do total no mundo, os países em desenvolvimento superaram as nações mais ricas pela primeira vez.

Estas nações investiram US$ 156 bilhões no ano passado, um aumento de 19% em relação a 2014.


No caso do Brasil, o país foi o segundo do mundo em ampliação da capacidade hidrelétrica. E foi o quarto de eólica, embora o estudo ressalte a falta de linhas de transmissão para levar a energia gerada pelo vento até os consumidores.

Ao comparar o valor empenhado em um país com seu Produto Interno Bruto (PIB) de um país, os principais investidores foram países pequenos, como Mauritânia, Honduras, Uruguai e Jamaica.

"Isso mostra que os custos caíram tanto que as economias emergentes passaram a se concentrar em renováveis", afirma Lins. "Esses países são os que têm o maior crescimento de demanda por energia, e este ponto de inflexão é um acontecimento notável."

Arqueologia pré-colombiana reforça teses de impactos ambientais

Por Marc Dourojeanni
Panorâmica das ruínas de Caral, Peru. Foto: Edgar Marca / Flickr | Clique para ampliar.
Panorâmica das ruínas de Caral, Peru. Foto: Edgar Marca / Flickr | Clique para ampliar.
Ainda há muita gente de meia idade que, por falta de atualização, continua acreditando o que lhes foi ensinado na escola, ou seja, que a população americana chegou ao nosso continente através do estreito de Bering há 13 ou 13.500 anos1 (teoria dos Clovis, devido à localização no México onde essa cultura foi encontrada). A acumulação de evidências de que esse povo não foi o primeiro nem o único na América é tão grande que esse tema específico nem é mais discutido nos meios acadêmicos. Não obstante, saber que os humanos já estavam na América do Norte há uns 20.000 ou 30.000 anos e quiçá até mais de 50.000 anos está longe de resolver todas as dúvidas sobre o povoamento do continente, especialmente da América do Sul.


O tema, além de interessante, é importante, por exemplo, para discutir assuntos como o da extinção rápida da megafauna americana do pleistoceno. Com efeito, se os Clovis fossem realmente os primeiros humanos no continente, seria difícil imputar a eles a extinção dessa fauna, pelo menos na América do Sul. É improvável que em tão pouco tempo teriam alcançado uma população e uma dispersão tão grandes, bem como semelhante impacto.


 A pressão de caça é apenas uma teoria para explicar o fenômeno do súbito sumiço dessa fauna, mas é tão boa ou melhor que outras. No entanto, sabendo que a população das Américas é muito anterior, essa possibilidade aumenta consideravelmente e se torna ainda mais plausível. De outra parte, o advento da agricultura gerou as culturas e a produção de grãos gerou os reinos e até impérios. Enquanto as culturas e a agricultura desenvolviam-se, modificavam o ambiente, essencialmente desmatando florestas.


Na história americana o milho ocupa um lugar preponderante, embora não explique tudo.
A teoria de que os Clovis foram os primeiros a chegar à América do Norte e que, de lá, se dispersaram até o estreito de Magalhães, no extremo sul do continente, foi progressivamente desmantelada pelo achado de vestígios humanos mais antigos na própria América do Norte. Agora se acredita que pelo mesmo estreito de Bering passou não uma, senão duas ou mais ondas migratórias.


E, como se menciona a seguir, também foram achadas evidências de presença humana antiga na América do Sul. Se isso não fosse suficiente, seria assim mesmo difícil explicar como, há mais de 5.000 anos, já existia, no centro do Peru, uma civilização, que apesar de seu aparente isolamento, foi capaz de construir uma cidade comparável às que na mesma época existiram no velho mundo, incluindo pirâmides colossais. E, como explicar que uma cidade como essa esteja no Peru quando não existe –ou não foi ainda descoberta- nenhuma outra cidade comparável que seja da mesma idade ou mais antiga na América do Norte ou Central?


Antiguidade de vestígios humanos nas Américas


"Hoje se sabe que na Amazônia, em quase toda ela, há evidências da existência (e extinção) de desenvolvimentos culturais importantes"
Vários estudos nos EUA (Virgínia, Oregon, Texas, Pensilvânia) e no Canadá provaram a existência de povoadores mais antigos que os Clovis.


Mas, o golpe de misericórdia para os tradicionais veio com descobertas como as de Topper Hill, na Carolina do Sul, onde foram encontradas ferramentas que insinuaram uma antiguidade de 50.000 anos, sendo logo confirmada uma idade de pelo menos 22.900 anos.



Outro golpe foi o achado de figuras de barro e restos humanos em Tlapacoya, perto da cidade de México, com uma antiguidade de uns 22.000 anos.


Isso não é de chamar a atenção, pois, estudos de seis décadas atrás no Peru, por exemplo, já haviam demonstrado presença humana muito antiga: Lauricocha (mais de 8.000 anos), Vale do Chillón (12.000 anos) e Ayacucho (20.000 anos). Neste último local foram encontrados ossos de mastodontes, megatérios e de tigres dente de sabre assim como ossos humanos, estes datados de 10 a 14.000 anos. Porém como aconteceu mais tarde com os estudos da Serra da Capivara, esses achados foram inicialmente desacreditados pelos arqueólogos tradicionalistas.


É assim que a tese e as provas respectivas, acumuladas por décadas pelas persistentes Niede Guidon e Anne-Marie Plessis, as pesquisadoras da Serra da Capivara, no interior do Piauí, só passaram em tempos relativamente recentes, a ganhar adeptos também entre os cientistas americanos.


Das diversas provas encontradas no amplo e meticuloso trabalho, as datações mais aceitas indicam 32.000 a 48.000 anos para as camadas estudadas e até de 60.000 anos para outras e, no caso de artefatos, a antiguidade varia de 17.000 a 32.000 anos. As autoras das pesquisas acreditam, ainda sem prova definitiva, que a antiguidade da presença humana no Piauí é bem maior, talvez mais de 200 mil anos.


Outro lugar fascinante é a caverna da Pedra Pintada em Monte Alegre (Pará) em plena Amazônia brasileira, com uns 13.200 anos. Neste sítio a pesquisadora Anna Roosevelt descobriu pinturas rupestres que simbolizam formas humanas, animais e figuras compostas, assim como desenhos geométricos.


Estas pinturas são consideradas as mais antigas da América. Também acharam arpões e pontas de lanças, buréis, raspadores e outras ferramentas. A cerâmica encontrada nesse sítio arqueológico data de 7.500 anos, o que significa a mais antiga das Américas. Adiantou-se a hipótese que esses habitantes sejam os mesmos que estavam antes no Piauí. Hoje se sabe que na Amazônia, em quase toda ela, há evidências da existência (e extinção) de desenvolvimentos culturais importantes que, como nas selvas da América Central, foram substituídos por grupos de vida tribal.


Assim, sobre o encontrado no coração da Amazônia se soma a descoberta de vestígios de presença humana de 10.000 anos de antiguidade nas Pampas de Mojos, na Bolívia, que precederam as civilizações hidráulicas bem conhecidas dessa região, que também desapareceram. A relativamente curta sobrevivência das culturas superiores em selvas tropicais na América e na Ásia é outro tema fascinante, sobre o qual existem várias teorias inconclusivas.


E para complicar ainda mais o panorama, foi provado que em Monte Verde, ao sul de Puerto Montt, no Chile, ou seja, nos confins da América do Sul, houve habitantes há mais de 13.000 anos. Ainda mais, pelos objetos encontrados se suspeita que seja possível que essa ocupação tivesse 33.000 anos de antiguidade. Há pouco tempo foi descoberta no deserto, a 1.100 km ao norte de Santiago, uma mina de óxido de ferro de 12.000 anos, considerada a mais antiga encontrada, até o momento, nas Américas.


Ou seja, hoje não cabe mais duvidar que a América e a América do Sul fossem habitadas muito antes que os Clovis. Estes chegaram bastante tarde. Chineses e vikings chegaram muito mais tarde. A grande dúvida que subsiste, embora a origem asiática da população seja reconhecidamente dominante, é saber de onde e por onde chegaram. As pesquisas da Serra da Capivara podem alterar muito as nossas convicções, pois sugerem uma origem africana.


A isso podem se agregar as teorias do Paul Rivet e a façanha contundente, embora de interpretação um tanto confusa de Thor Eyerdahl na sua viagem pelo Pacífico. Esta insinua tanto uma antiga origem oceânica da população sul-americana como a presença mais recente de povos da costa sul-americana no Pacífico. O que ficou bem demonstrado por Eyerdahl é que os povos muito antigos nem sempre gostavam de andar a pé no gelo, como os que passaram pelo estreito de Bering. Muitos preferiram navegar, aproveitando os anticiclones e o faziam muito bem, tanto no Pacífico (a balsa Kon Tiki) como no Atlântico (a balsa Rá).



Mais ainda, aproveitavam-se dos períodos glaciais que facilitavam "pular de ilhota em ilhota". É óbvio que as viagens intercontinentais não se limitaram à pré-história. Embarcações melhores, embora basicamente sob os mesmos princípios, parecem ter sido utilizadas em tempos bem mais recentes, como na provável expedição enviada pelo Inca Tupac Yupanqui à Polinésia e assim mesmo na relação que parece existir entre algumas culturas andinas e a que se desenvolveu na ilha de Páscoa.



Então, embora a origem asiática seja um fato indiscutível, não se pode descartar que coexista com outras origens, como a oceânica (que também seria de origem asiática) ou a africana. Não há provas concludentes e há muitas provas contraditórias formando um grande quebra cabeça. Mas, por exemplo, pode se imaginar que os que chegaram à costa do Chile e que habitaram Monte Verde e o deserto de Atacama, fossem oceânicos e não asiáticos.


Caral e suas pirâmides
"Caral, localizada a apenas 200 km ao norte da capital do Peru, Lima, é uma cidade que tem não menos de 5.000 anos de antiguidade"
 
 
Como dito se as evidências acumuladas sobre a antiguidade da presença humana não fossem suficientemente convincentes, subsistiria Caral para desmentir uma ocupação humana tão tardia da América do Sul como seria o caso se os Clovis fossem realmente os primeiros no continente.



Esse povo não teria tido tempo de chegar tão ao sul e simultaneamente desenvolver uma cultura de dimensões tão consideráveis.


Caral, localizada a apenas 200 km ao norte da capital do Peru, Lima, é uma cidade que tem não menos de 5.000 anos de antiguidade, o que faz dela a cidade de grande porte mais antiga das Américas, contemporânea das que existiram no Egito, Mesopotâmia, Índia e China. Caral existiu há mais de um milênio antes de outras cidades de todo o continente americano.


Foi a capital da civilização do mesmo nome que ocupou o vale do rio Supe e outros próximos na costa norte do Peru. O sítio era conhecido dos arqueólogos, mas, a evidência da sua grande antiguidade e importância foi comprovada graças à arqueóloga Ruth Shady.


Em Caral destacam-se 7 grandes pirâmides rodeadas de outras, menores, somando 32 no total. Seus construtores organizaram a cidade em dois setores. Num deles se localizam 6 pirâmides principais rodeadas de espaços livres, em forma de praças. No outro setor destaca-se uma pirâmide muito grande com um amplo anfiteatro e vários edifícios menores alinhados com ela. Há, ainda, uma vasta zona residencial.



A população residente da cidade que era essencialmente cerimonial é estimada num mínimo de 3.000 pessoas, embora para construir as pirâmides participassem muitos mais que eram habitantes de vilas vizinhas subordinadas à autoridade religiosa.


O que cabe perguntar, no caso de Caral e de outras grandes civilizações da costa peruana, é qual foi a origem dessa população. Poderiam, certamente, ter baixado da América do Norte e, portanto, ser de origem asiática. Se as teorias da origem oceânica têm validade, também poder-se-ia considerar que essa população que dependia muito do mar tenha subido do sul do Chile para o Peru, a procura de terras mais quentes.


É interessante notar que sempre existiu uma presunção que a raça dos peruanos autóctones costeiros é diferente da dos propriamente andinos, sendo os primeiros fisionomicamente muito semelhantes aos povos da Polinésia e os segundos com rasgos acentuadamente asiáticos. Essa percepção pode ser fruto da mestiçagem, maior na costa que na montanha, mas a dúvida persiste.


Tampouco pode se descartar uma origem africana (ou amazônica) já que se os povos do Piauí se deslocaram pelo vale do Amazonas poderiam chegar à costa do Pacifico pela enorme bacia do rio Marañón, um dos seus dois rios formadores.



De uma parte, está demonstrada a relação de Caral com a Amazônia. Produtos amazônicos foram encontrados e podiam chegar lá facilmente através da passagem de Porculla (apenas 2,150 metros sobre o nível do mar), o ponto mais baixo dos Andes que facilita acesso à bacia do Marañón ou, diretamente através das montanhas, desde o relativamente próximo vale de Conchucos, onde se localizou o epicentro da cultura Chavin num afluente andino do rio Marañón.
Antes de ficar demonstrada a antiguidade de Caral, Chavin era considerada a cultura mais antiga do Peru. E, seu descobridor, o arqueólogo José C. Tello, sempre defendeu sua origem amazônica. Mais ainda, nas cidadelas da cultura Pajatén, na Amazônia alta do Peru, foram encontradas cerâmicas fabricadas tanto nos Andes, como na costa norte do Peru, demostrando o tráfico de produtos entre as três regiões.



Claro que, como dito, a evidência genética da origem asiática dos povos originais americanos é tão contundente que, por enquanto, a única explicação para essa hipótese seria que, sendo eles o contingente humano principal, os eventuais aportes genéticos de outras origens ficaram muito diluídos. A última palavra não está escrita.



O milho, forjador de civilizações?
"O milho foi, é verdade, um facilitador dos grandes desenvolvimentos culturais dos Andes, a partir de uns 4.000 anos"



Alguns cientistas acreditam que só o cultivo do milho poderia permitir os grandes desenvolvimentos culturais das Américas. Porém está devidamente provado que as culturas peruanas mais antigas, antes de conhecer o milho, domesticaram muitas espécies nativas como a quinoa (no altiplano do sul, há uns 6.000 anos), a batata e várias outras plantas de altitude.


A base da alimentação em Caral eram peixes (anchovas e sardinhas), crustáceos diversos e várias espécies de feijão, abóbora, batata doce, mandioca, palhar, amendoim, pimentas diversas, tomate, etc.


 Já conheciam o algodão e, provavelmente, a coca e quiçá já tinham adaptado a batata às condições da costa. Alguns produtos, como mandioca, amendoim ou coca, foram adaptados da costa norte tropical úmida (hoje o Equador) ou diretamente da Amazônia. Dito de outro modo, poderiam ter se desenvolvido sem necessidade do milho, como os primeiros resultados das escavações de Caral indicaram.


Embora existam evidências substantivas de que a origem do milho é mexicana (o teosinte, endêmico do México, seria seu único parente selvagem), onde já era cultivado há 9.000 anos, subsistem argumentações que localizam a sua domesticação também no Peru, onde a diversidade genética desta espécie é máxima. Supõe-se que o milho chegou ao Equador e ao norte do Peru há uns 7.000 anos. O registro documentado mais antigo do cultivo e consumo de milho no Peru, inclusive moído, data de 4.000 anos atrás, no vale sulino de Cotahuasi (a uns 200 quilômetros do Lago Titicaca).


No lapso de 3.000 anos entre essas datas e levando-se em conta que Caral está a meio caminho entre a costa equatoriana e Cotahuasi, o milho deveria ter chegado bem antes a Caral, que além do mais está na costa. E, confirmando a suposição, estudos mais recentes demonstraram que a planta já era conhecida por essa cultura. O milho foi, é verdade, um facilitador dos grandes desenvolvimentos culturais dos Andes, a partir de uns 4.000 anos, embora outras plantas o tenham precedido na América do Sul.


Ao contrário, até pouco tempo atrás se acreditava que a domesticação do cacau foi feita na América Central dado a grande importância que teve nas culturas dessa região (em especial, os Olmecas), tendo sido considerado até como moeda entre os Maya. Mas, estudos recentes demonstraram que, ademais da existência de cacau silvestre e de espécies próximas em muitas partes da Amazônia, o cacau já era consumido na Amazônia do Equador há 5.500 anos - quiçá 7.000 anos - como se constatou nos vestígios de recipientes encontrados na província de Zamora Chinchipe.


Os vestígios encontrados correspondem à cultura Mayo-Chinchipe-Marañón, que seria a "mais antiga da Amazônia ocidental" e que aparentemente se estendeu pela floresta peruana até o rio Marañón. De lá, o cacau foi levado à América Central do mesmo modo que, provavelmente, o milho chegou à América do Sul. Naqueles dias a navegação costeira, a cabotagem, já era prática comum. Há evidência de que a cultura Olmeca, do México, usou o cacau há 3 mil anos, quando obteve um desenvolvimento importante e se estendeu pela Guatemala, Honduras e Nicarágua, além do México.

O caso da origem do feijão (na realidade várias espécies do mesmo gênero), outra planta essencial para o desenvolvimento das civilizações devido à sua capacidade de ser armazenada tal como no caso dos grãos, não está bem resolvido. A sua origem americana é indiscutível, mas, são admitidos dois centros de origem e de domesticação. Um no México e outro no Peru.


O impacto humano
"Hoje não há mais dúvidas que os antigos americanos tiveram tempo suficiente, sim, para eventualmente extinguir a megafauna pleistocênica"
O ser humano é o maior modelador das paisagens, principalmente através da agricultura e da pecuária e, antes, através das suas práticas de caça e captura dos animais que eram seu principal sustento. Por isso, é importante para todos entender melhor a história da ocupação humana do continente americano que, como visto, foi um processo muito mais complexo e mais interessante que a simplista explicação propalada pelos livros que ainda dominam as bibliotecas das escolas, colégios e universidades da América Latina.
Hoje não há mais dúvidas que os antigos americanos tiveram tempo suficiente, sim, para eventualmente extinguir a megafauna pleistocênica antes de ter que substituir essa fonte de alimentos com a progressiva domesticação de grãos como a quinoa ou o milho e de tantas outras plantas como batata, batata doce, diversos feijões, mandioca, amendoim, abóboras e tomate.


Apenas na região andina e andino-amazônica do Peru foram domesticadas e cultivadas 54 espécies alimentícias e outras 149 foram plantadas sem ter sido previamente domesticadas. A América do Sul é a maior provedora mundial de espécies de plantas domesticadas para a alimentação humana, das quais depende grande parte da humanidade.

Tudo indica que a falta de animais susceptíveis de domesticação como no caso de bois, equinos, caprinos, porcinos, ovinos e camelídeos das civilizações indo-europeias, os antigos americanos enfatizaram a domesticação de plantas. Os únicos animais domesticados nas Américas foram lamas, alpacas e cobaias nos Andes; uma espécie de pato na Amazônia e o peru, na América do Norte.

A origem do cachorro sem pelo e de uma raça de galinhas de ovos azuis continua sendo um mistério associado às discussões prévias sobre os visitantes, em especial os chineses, ao continente. Apesar de que a pecuária foi pobre em espécies, bem antes da chegada dos europeus ela já tinha marcado indelevelmente as paisagens andinas, devido ao uso do fogo para favorecer pastagens.


Essa prática teve início na pré-história, quando os caçadores do pleistoceno ateavam fogo na mata para facilitar capturar e matar as suas presas.


Em conclusão, vale a pena para aqueles que se interessam pelos temas ambientais da América Latina que mantenham um olho atento sobre as descobertas da arqueologia.


Nota:
1 Neste texto todos os intervalos de tempo histórico são medidos em anos contados até os dias de hoje.

Crime ambiental é a quarta atividade ilegal mais lucrativa do mundo

((o))eco
Marfim confiscado em Singapura está de volta ao Parque Nacional Tsavo East, no Quênia. Foto: International Fund for Animal Welfare Animal Rescue/Flickr.
Marfim confiscado em Singapura está de volta ao Parque Nacional Tsavo East, no Quênia. 

Foto: International Fund for Animal Welfare Animal Rescue/Flickr.


O lucro advindo do saque de recursos naturais resultou num caixa que varia de US$ 91 e 258 bilhões em 2015, um crescimento de 26% em relação ao período anterior. A estimativa vem de um relatório divulgado no sábado (04) pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), em parceria com a Interpol.


De acordo com as autoridades, o crime ambiental, que inclui o comércio ilegal de animais selvagens, a exploração ilegal de madeira, a exploração ilegal de ouro e outros minerais, a pesca ilegal, o tráfico de resíduos perigosos e fraude de crédito de carbono -, é a quarta atividade ilegal mais lucrativo do mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas, falsificação e tráfico de pessoas.


Segundo o documento, as leis para coibir esse tipo de crime são fracas e as forças de segurança são mal financiadas, o que impossibilita o devido enfrentamento contra as redes criminosas internacionais e rebeldes armados que lucram com o comércio ilegal de recursos naturais. Para se ter uma ideia, a quantidade de ativos perdidos devido a crimes contra o meio ambiente é 10 mil vezes maior do que a quantidade de dinheiro gasto por agências internacionais na luta contra ele — valor estimando entre US$ 20 e 30 milhões.


O crime ambiental vez crescendo entre 5 a 7% ao ano no mundo na última década, duas a três vezes mais rapidamente que o PIB mundial.


"O resultado não é apenas devastador para o meio ambiente e as economias locais, mas para todos aqueles que são ameaçados por estas empresas criminosas. O mundo precisa se unir agora e tomar medidas nacionais e internacionais fortes para levar o crime ambiental ao fim", afirma Achim Steiner, Diretor Executivo do PNUMA.



O relatório também analisa a forma como o dinheiro gerado a partir da exploração ilegal de fundos de recursos naturais de grupos rebeldes, redes terroristas e cartéis criminosos internacionais. Na última década, por exemplo, caçadores mataram uma média de 3 mil elefantes por ano na Tanzânia. Isso é um valor de mercado anual para os traficantes de marfim de US $ 10,5 milhões, quantia que é cinco vezes maior que todo o orçamento nacional da divisão de vida selvagem do país.


Ainda de acordo com o documento, empresas multinacionais utilizam o crime ambiental para lavar dinheiro do tráfico de drogas, como a mineração ilegal de ouro na Colômbia, por exemplo, considerada uma das maneiras mais fáceis de lavagem de dinheiro do tráfico do país.

A natureza que nós construímos ao longo do tempo

Por Vandré Fonseca
Proporção da megafauna conhecida extinta em cada região do globo em relação ao contato com humanos. O número ao lado de cada gráfico indica o total de gêneros da megafauna que existia em cada região. Foto: divulgação.
Proporção da megafauna conhecida extinta em cada região do globo em relação ao contato 

com humanos. O número ao lado de cada gráfico indica o total de gêneros da megafauna 
que existia em cada região. Crédito: divulgação.

Manaus, AM --


Não há paisagem neste mundo que não tenha sofrido a interferência do ser humano. Ao longo de milhares de anos, nossos ancestrais provocaram extinções em larga escala, introduziram espécies em novos ambientes ou interferiram na paisagem, mudando os rumos e direcionando a evolução de bichos e plantas. Para afirmar isso, um grupo internacional de pesquisadores liderado pela arqueóloga Nicole Boivin, da Universidade de Oxford, fez uma exaustiva revisão de dados obtidos nos últimos trinta anos.



Os resultados foram publicados na edição desta semana do jornal científico Proceedings of de Nacional Academy of Sciences (PNAS). Com o uso de novos métodos estatísticos e computacionais, além de informações sobre DNA, isótopos estáveis e microfósseis, foi possível construir um cenário que demonstra como muitas espécies tiveram a evolução direcionada pela atividade humana. O estudo identificou quatro fases de maior interferência humana sobre os ecossistemas: a expansão humana durante o Pleistoceno, a propagação neolítica da agricultura, a colonização de ilhas e a emergência da sociedade urbana e comercial.


Nossos antepassados viviam, há cerca de 195 mil anos, na África Oriental. Durante milhares de anos, eles buscaram novos ambientes e ganharam espaço no globo terrestre. Há cerca de 12 mil anos, haviam chegado à Eurásia, Austrália e América. Esta expansão está associada a uma grande variedade de espécies extintas que significou a redução de dois terços das 150 espécies da megafauna, entre 50 e 10 mil anos atrás. O desaparecimento desse grande número de espécies teve efeitos sobre a estrutura do ecossistema e dispersão de sementes.


E depois de domesticar cabras, ovelhas e bois, no Oriente Médio, por volta de 10.500 anos atrás, levamos esses bichos à Europa, África e outros pontos da Ásia. As galinhas, domesticadas primeiro na Ásia Oriental, chegaram à Grã-Bretanha por volta da metade do último milênio e já superam o número de pessoas por lá. Aliás, há muito mais galinhas do que seres humanos no mundo, uma proporção de três para um.


Há muitos cães também. Eles se tornaram nossos melhores amigos antes da sociedade agrícola e hoje são estimados entre 700 milhões e 1 bilhão em todo o mundo. Infelizmente, a maioria dos vertebrados silvestres não pode contar com a nossa amizade. O número de espécies de vertebrados hoje é considerado pequeno pelos autores do estudo. Culpa da ação humana.


Na terceira fase, os seres humanos atravessaram o mar e chegaram às ilhas, carregando o mundo que conheciam. Os pesquisadores falam em “paisagens transportadas” devido à grande movimentação de espécies durante este período. Os novos ambientes foram transformados pelo fogo, desmatamento, predação e chegada de novas espécies.


Uma nova onda de transformações foi registrada na Idade do Bronze, com a intensificação da atividade agrícola para dar conta do aumento da população e o comércio no Velho Mundo. Árvores decíduas (que perdem a folha no inverno) foram trocadas por carvalhos sempre verdes no Oriente Médio.


A floresta nativa foi transformada pelo cultivo de plantas de interesse comercial, como oliveiras, videiras e figueiras. Plantas encontradas em florestas francesas estão associadas possivelmente a assentamentos romanos. Roma teria sido responsável também pela introdução de cerca de 50 espécies de plantas alimentares entre os bretões.


"A evidência arqueológica é fundamental para identificar e compreender a história profunda de efeitos humanos”, afirma Boivin. “Se queremos melhorar a nossa compreensão de como gerimos o nosso meio ambiente e conservar as espécies hoje, talvez nós temos que mudar nossa perspectiva, pensar mais sobre como proteger o ar puro e água potável para as gerações futuras e um pouco menos sobre o retorno planeta Terra à sua condição original”, completa.


A arqueóloga enfatiza também a importância do estudo sobre os debates atuais sobre o papel humano no aquecimento global. A arqueologia, de acordo com ela, demonstra que o ser humano é mais do que capaz de remodelar e transformar os ecossistemas radicalmente. “Agora a questão é que tipo de ecossistemas irão criar para o futuro”, reflete. “Será que vão sustentar o nosso bem-estar ou de outras espécies ou vão fornecer um contexto para novas extinções em grande escala e alterações climáticas irreversíveis?”


Saiba Mais
Ecological consequences of human niche construction: Examining long-term anthropogenic shaping of global species distributions’, is by Nicole Boivin, Melinda Zeder, Dorian Fuller, Alison Crowther, Greger Larson, Jon Erlandson, Tim Denham, and Michael Petraglia.

Agrotóxicos podem causar doenças como depressão, câncer e infertilidade

 


 

 

A Anvisa avalia todo ano se os alimentos não têm agrotóxicos demais. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido.

 

 

Parece que o agricultor José Gonçalves Durães vai para a guerra, mas ele está indo para o pomar. Toda a roupa e a arma na mão são para enfrentar um inimigo. Há anos, ele trabalha com agrotóxico. O veneno é poderoso. Não mata só a mosca da goiaba, ataca também a saúde do homem.
Quem afirma é o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz, que se dedica a estudar os efeitos dos pesticidas, substâncias das mais agressivas. “Elas têm o efeito bastante diversificado nas populações que estão expostas tanto diretamente, como na população em geral, que, por exemplo, entra em contato através dos alimentos”, alerta.
O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Mas, na hora de fazer compras, passa pela cabeça das pessoas que frutas legumes e verduras podem fazer algum mal para saúde?
“Não, pelo contrário, porque eles têm vitaminas, coisas que são boas”, diz a dona de casa Maria Lambertini. “A gente pega essa fruta aqui. Como é que eu posso saber quanto de agrotóxico ela tem?”, questiona a assistente financeiro Sandra Malheiros.
Como saber se os alimentos que nós consumimos todos os dias não têm agrotóxicos demais? Só mesmo testes em laboratório para dizer, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faz essa avaliação todo ano. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido ou resíduos de produtos químicos não autorizados para aquele tipo de alimento.
Onde será que o peso dos agrotóxicos foi maior? Em terceiro, foi no pepino. Em segundo, vem a uva. E, em primeiro lugar, está o pimentão. A Anvisa descobriu que 80% das amostras de pimentão apresentavam irregularidades.
A avaliação faz parte de um programa para controlar e reduzir a quantidade de agrotóxicos na alimentação dos brasileiros. No levantamento mais recente, de 2009, em 20 alimentos analisados, quase 30% das amostras tinham agrotóxicos acima do limite ou substâncias não permitidas.
“Em determinadas amostras, tinha mais de cinco tipos diferentes de agrotóxicos não autorizados. E isso é sério. É sinal de que a gente precisa fazer um bom trabalho com esse agricultor, para que ele mude essa prática agrícola e utilize aqueles produtos que estão autorizados”, diz o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.
O agricultor Cristiano Juliatto aprendeu a plantar sem veneno e gostou do resultado. “O consumidor final vai comer um produto de qualidade. Eu também não estou envenenando as pessoas”, destaca.
Na lista da Anvisa, os alimentos com menor índice de contaminação foram a banana, o feijão e a batata. E os consumidores devem cobrar e exigir qualidade do que se compra. Comer frutas, legumes e verduras é uma das recomendações para prevenir o câncer - melhor ainda, se forem livres de agrotóxicos.
O nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca) explica por quê: “os alimentos orgânicos têm uma quantidade de compostos quimiopreventivos, compostos anticancerígenos, que é 15% a 30% maior do que os alimentos que são produzidos com agrotóxicos”, explica o nutricionista Fábio da Silva Gomes, do INCA.
Na casa de Joel, ninguém duvida do poder dos orgânicos. Ele traz os alimentos da horta. E a dona de casa Rose Márcia de Carvalho prepara. Na casa deles, tem refeição orgânica todos os dias. Ela garante que o corpo já sentiu a diferença e se livrou de um tumor no útero. “Eu fiz duas cirurgias, até parei de trabalhar aqui para me cuidar. E o médico falou que eu não tenho mais nada”, conta.
Rose acha que foi a alimentação que ajudou a superar o problema. Ela aposta que a comida orgânica que a curou.
Mas se o que tem na geladeira de casa não é orgânico, o que fazer para, pelo menos, diminuir a carga de agrotóxicos? Os especialistas dão as dicas:
Sônia Stertz, química da UFPR: No caso de frutas, você deve eliminar a casca.
Luiz Cláudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa: Retirar folhas mais externas das hortaliças folhosas. Lavar abundantemente todos os alimentos.
Mas não espere que assim você vai ficar livre do veneno. “Aquilo que está na polpa do alimento não é retirado”, alerta o gerente geral de toxicologia da Anvisa.
A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou amostras de alimentos orgânicos, convencionais e hidropônicos (aqueles cultivados em água). Advinha qual delas apresentou maior concentração de agrotóxico? “Os hidropônicos, para nossa surpresa, tem mais de 40% das amostras com algum tipo de contaminação”, revela Sônia.
Mas qual é o mal que os agrotóxicos podem causar? A lista de doenças é enorme. “Depressão, má formações congênitas, alguns tipos de câncer como leucemia e tumores de cérebro, transtornos da imunidade, alterações na qualidade dos espermatozóides”, lista o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz.
Agrotóxicos também podem causar infertilidade, uma revelação para o produtor orgânico José Bassit. “Minha esposa não conseguia engravidar. Aí eu vi que alguma coisa estava errada”, conta.
Após sete anos em contato direto com pesticidas, hoje ele está convencido de que a culpa foi do veneno. José revela que tinha certeza de que era fértil e possuía até uma prova: “tinha um exame. No começo, era normal. Depois de três anos, a fertilidade foi caindo e, depois de sete anos, eu já não tinha mais espermatozóides vivos”, revela.
O agricultor José Gonçalves Durães ainda parece duvidar. “Nós fazemos exame direto, nunca deu problema”, afirma.
Pelo sim, pelo não, ele decidiu diminuir pela metade a quantidade de veneno que usa nas goiabeiras. Agora ele protege a fruta embrulhando cada uma delas. Ele veste uma a uma com saquinhos de papel. Só que ele ainda acha que a lavoura não sobrevive sem veneno.
fonte: 
http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/03/agrotoxicos-podem-causar-doencas-como-depressao-cancer-e-infertilidade.html