Deu a louca nas contas de luz
Não adianta sair apagando as luzes e tropeçar na escuridão, na vã esperança de economizar energia
A bandeira vermelha anda fazendo estragos por onde passa. Foi fincada em
nossas contas de luz – e o consumidor berra como pode nas redes sociais
contra algo que escapa a sua compreensão. A cor vermelha da bandeira
significa “perigo”: um adicional pelo uso da energia das termelétricas.
Ao receber uma conta até três vezes mais alta, é esquisito ler que o reajuste médio da tarifa de energia elétrica foi de 39%. E só neste ano de 2015. Porque a realidade é muito pior – e também envolve a inépcia, a omissão e o mau funcionamento de operadoras, leituristas e medidores. Além de falta de transparência no atendimento.
Não adianta sair apagando as luzes e ir tropeçando na escuridão, na vã esperança de ser premiado por economizar e viver na penumbra. A conta é um choque maior a cada mês. O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) subiu 1,32% em março, o pior resultado em 20 anos. O vilão maior? A tarifa de luz, que só no mês passado subiu 22,08%.
Somos vítimas da incompetência de anos desse governo na administração
das contas públicas. Somos punidos pela conveniente cegueira do PT em
ano eleitoral, ao ignorar a crise da água. Prefeitos podem processar a
presidente Dilma quando ela tenta “renegociar”, eufemismo para
“arrecadar mais e cobrir o rombo federal”. Prefeitos têm a caneta na mão
e não querem pagar pela irresponsabilidade fiscal da equipe de Dilma no
primeiro mandato, que maquiou cifras e contabilidades. Nós,
consumidores, só podemos entubar.
Alguns economistas tentam acalmar os ânimos dizendo que o governo concentrou seu pacote de maldades agora para aliviar depois. “É aquela ideia do Maquiavel de que maldade se faz toda de uma vez”, disse ao jornal O Globo Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Mas já está claro que voltamos a viver no mundo assombrado das estatísticas mirabolantes. Ler na imprensa que a inflação anual está em 8,13% e que o custo com alimentação em março subiu 1,17% é um convite irresistível para as donas de casa brasileiras saírem em gigantesco panelaço contra a dona da casa do Planalto.
Quem vai ao supermercado semanalmente sabe que o custo com comida subiu muito mais. No mercado, ainda dá para substituir produtos. Mas, na hora em que a tarifa da energia elétrica chega, dá até medo abrir e verificar consumo e valores. Se não pagarmos, a luz será cortada. Simples assim. O círculo é vicioso e viciado. Não há como fazer caber no orçamento doméstico os aumentos súbitos e escorchantes como os das tarifas públicas, transporte, educação, saúde e alimentos. O desemprego sobe.
As distribuidoras de energia estão se prevenindo contra a inadimplência desde já. Se você pensa que sua conta de luz já chegou ao limite máximo, prepare-se. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda como repassar o “calote” do vizinho para você. Assim, vamos pagar mais ainda por quem não pode arcar com os aumentos. O consumidor também precisa estar atento para erros absurdos em suas contas. Por causa de medidores defeituosos, falhas em leituras ou motivos não revelados. No Rio de Janeiro, reuni alguns exemplos de queixas consideradas procedentes e improcedentes pela Light.
Alguns economistas tentam acalmar os ânimos dizendo que o governo concentrou seu pacote de maldades agora para aliviar depois. “É aquela ideia do Maquiavel de que maldade se faz toda de uma vez”, disse ao jornal O Globo Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.
Mas já está claro que voltamos a viver no mundo assombrado das estatísticas mirabolantes. Ler na imprensa que a inflação anual está em 8,13% e que o custo com alimentação em março subiu 1,17% é um convite irresistível para as donas de casa brasileiras saírem em gigantesco panelaço contra a dona da casa do Planalto.
Quem vai ao supermercado semanalmente sabe que o custo com comida subiu muito mais. No mercado, ainda dá para substituir produtos. Mas, na hora em que a tarifa da energia elétrica chega, dá até medo abrir e verificar consumo e valores. Se não pagarmos, a luz será cortada. Simples assim. O círculo é vicioso e viciado. Não há como fazer caber no orçamento doméstico os aumentos súbitos e escorchantes como os das tarifas públicas, transporte, educação, saúde e alimentos. O desemprego sobe.
As distribuidoras de energia estão se prevenindo contra a inadimplência desde já. Se você pensa que sua conta de luz já chegou ao limite máximo, prepare-se. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda como repassar o “calote” do vizinho para você. Assim, vamos pagar mais ainda por quem não pode arcar com os aumentos. O consumidor também precisa estar atento para erros absurdos em suas contas. Por causa de medidores defeituosos, falhas em leituras ou motivos não revelados. No Rio de Janeiro, reuni alguns exemplos de queixas consideradas procedentes e improcedentes pela Light.
A atriz Guida Vianna reproduziu suas contas nas redes sociais. Em
janeiro, R$ 237,41. Em fevereiro, R$ 333,13. Em março, R$ 960,20. “É
possível?”, perguntou. A Light admitiu, em carta, que o valor
identificado para devolução era de R$ 660,19 e seria descontado nas
próximas contas. “Sinceramente”, disse Guida, “acho que o que valeu foi
botar a boca no Facebook.” Não foi explicada a origem do erro.
Outra atriz, Dani Antunes, não obteve a mesma atenção da Light. Sem ar,
sem TV, sem ferro de passar, com chuveiro elétrico queimado, num
apartamento pequeno de dois quartos no Morro do Vidigal, Zona Sul da
cidade, viu seu consumo médio de luz, de 70 kWh, saltar para 150 kWh,
depois para 220 kWh e, enfim, 621 kWh. Mandou e-mail para a Ouvidoria, a
Light prometeu verificar, mas não enviou ninguém. Em carta, disse que a
reclamação era “improcedente” e que, se ela não pagasse a conta, a luz
seria cortada e o nome da proprietária iria parar no SPC. Abuso? “A
Light sempre aumenta aleatoriamente meu consumo no verão, mesmo que eu
passe o verão fora da cidade, com apartamento fechado”, disse Dani.
Fiz várias perguntas específicas à Light por e-mail. Perguntei quantas
reclamações desse tipo a Light recebeu nos três primeiros meses por ano,
quantas foram consideradas procedentes e quantos clientes foram
ressarcidos. Perguntei qual foi o valor total cobrado a mais erradamente
nesse período. E quais são os principais motivos de erro nas contas.
Recebi uma resposta protocolar, me remetendo ao site da Aneel. Descaso?
No Brasil, ficamos no escuro.
Por: Ruth de Aquino - Revista Época