É claro que ainda voltarei a este assunto. Acabo de ler na Folha aquela
que me parece ser a informação mais importante do ano: o ministro
Gilberto Carvalho — sim, ele mesmo! — esteve com os black blocs.
Confessou isso a Naturza Nery.
Sim, o ministro Gilberto Carvalho queria
fazer um acordo com os black blocs. Sim, enquanto os brasileiros eram
vítimas da ação desses criminosos, Carvalho estava batendo um papinho
com eles. Leiam. Comento mais tarde. O ministro também comenta a reação
ao decreto bolivariano, o 8.243. Escreverei um texto específico a
respeito.
Fica claro que houve várias reuniões. O ministro que se
escandaliza porque Dilma foi xingada num estádio levou um rolo de papel
higiênico na cara e reagiu “numa boa”. Então tá. Pouco antes de a
Seleção Brasileira entrar em campo para enfrentar Camarões, esta
potência do futebol mundial, segue uma confissão do Carvalho.
*
Esperava que a discussão do decreto de conselhos populares fosse trazer tanta polêmica?
Nem de longe. Até porque ele não muda nada a realidade de hoje. Apenas organiza aquilo que está acontecendo. É justamente esse clima de ódio que levou a uma interpretação açodada de chavismo. E me assusta muito a desinformação, uma distorção brutal.
Nem de longe. Até porque ele não muda nada a realidade de hoje. Apenas organiza aquilo que está acontecendo. É justamente esse clima de ódio que levou a uma interpretação açodada de chavismo. E me assusta muito a desinformação, uma distorção brutal.
A
participação popular está prevista na Constituição e tem feito bem para o
país. Políticas como o SUS, Lei Maria da Penha, Prouni, ficha limpa.
Este decreto não fere em nada o Poder Legislativo. Acho que vai ser um
tiro no pé derrubar o decreto, pois vai na contramão das manifestações
de junho. Espero que o Congresso, ao invés de gastar energia para votar
contra, assuma papel de vanguarda de abrir um debate com a sociedade.
O sr. esteve no “ninho” ‘black bloc’?
No esforço de diagnóstico, conseguimos um
pouco antes da Copa, um contato em São Paulo com um grupo de pessoas que
são partidários da tática ‘black bloc’.
Partiu de vocês?
Foi, nós buscamos. Nós procuramos abrir o
debate nas 12 sedes da Copa para aqueles que eram contra a Copa. E em
muitas cidades a reação deles foi muito explícita ao mundial. Numa das
reuniões, um menino jogou um rolo de papel higiênico e disse: isso aqui é
o ingresso de vocês para a Copa.
Como o sr. reagiu?
Na boa. Fiz que o gesto não existiu. Foi
importante conversar com eles porque me dei conta que é uma filosofia
que eu chamaria anárquica que tem a convicção de uma violência praticada
pelo Estado através das omissões nos serviços públicos e denuncia muito
a violência policial na periferia, com aquela história de que, na
periferia, as balas não são de borracha, são metálicas e letais.
É que a
única forma de reagir contra essa violência é também com a violência,
que eles dizem que não é contra pessoas, mas contra símbolos e
objetivos. Por isso escolhem bancos e concessionárias de carros
importantes. É uma velha tática de criar um foco e tentar atrair a
atenção imaginando que vai atrair a simpatia, o apoio e o engajamento
das pessoas. Essa é a tese.
O que vocês disseram a eles?
Que essa tática os isola. Que essa tática
em grande parte contribuiu para a desmobilização das manifestações.
Então acho que eles estão completamente equivocados, e cabe a nós
procurar mostrar esse equívoco.
O clima foi tenso?
Muito tenso, mas não violento, respeitoso
até. Porque havia um acordo de conversa. Para eles, o PSOL e o PSTU são
conservadores, são à direita, e nós somos traidores, aqueles que enganam
as pessoas com reformas que não vão trazer nenhuma mudança.
Houve algum acordo?
Nenhum. Não tinha como dar acordo. Mas foi
importante como aprofundamento do diagnóstico e mostrar que é possível
conversar. As reações sempre muito iradas, adjetivadas.