Por Duda Menegassi
- terça-feira, 10 maio 2016 23:37
Educar as crianças sempre foi uma fórmula para garantir um futuro
melhor, mas quando o assunto é educação ambiental, ainda faltam
iniciativas voltadas diretamente para conscientizá-las sobre a
importância de preservar a natureza e seus recursos.
Da ponta do lápis, o
cartunista Léo Valença deu cor e traço a um projeto para ajudar a
suprir essa demanda. Assim surgiu o Duende Lucas, personagem principal
do Almanaque Ecológico do Lucas, lançado em 2012 com o objetivo de
servir de material didático sobre educação ambiental.
O Almanaque,
inclusive, não levou a ideia de sustentabilidade só na teoria, e
funciona dentro do sistema
Print On Demand, ou seja, o livro só
é impresso quando há uma encomenda, com o objetivo de evitar
desperdício de papel e a estocagem desnecessária.
De acordo com o
cartunista, “todo mundo tem que entender a importância da reciclagem,
aprender a não jogar lixo na rua, a não desperdiçar água, não
desmatar...” e com os cartuns do Duende Lucas esse aprendizado pode ser
feito de forma lúdica, muito mais acessível e atraente para as crianças.
O colorido “professor” Lucas é um modo de ensinar à nova geração os
valores que seus pais talvez tenham demorado demais para aprender.
Leia a entrevista que ((o)) eco fez com o cartunista Léo Valença:
De onde surgiu a ideia de criar o Duende Lucas? Por que um duende?
Léo Valença: Pensando na construção de uma
comunidade global sustentável, surgiu a ideia de criar um personagem que
trouxesse a importância da sensibilização e da reeducação, começando
pelas crianças. Eu idealizei um personagem que pudesse se dirigir
diretamente às crianças e jovens e, a partir daí, também chamar a
atenção dos adultos. Esse personagem chama-se Lucas e é um duende
ecológico, para criá-lo busquei inspiração nos duendes que habitam o
imaginário infantil universal. Devido a sua forte ligação com a
natureza, o duende pode transmitir às crianças uma importante mensagem
de preservação ambiental. Ele é um verdadeiro guardião da natureza, que
inspira as crianças a adotar atitudes mais ecológicas no dia a dia.
Você acredita que ainda falta literatura adequada para educar as crianças a pensar de forma mais sustentável e ecológica?
Léo: Acho que atualmente está crescendo a produção
de materiais didáticos sobre o assunto, contudo apenas uma minoria
possui acesso a uma boa educação ambiental. Nós vivemos num país ainda
com um grande déficit educacional, muitas crianças ainda encontram-se
fora das escolas e, mesmo dentro delas, o que se tem muitas vezes é um
ensino sucateado, professores mal-pagos e mal-preparados, ou seja, ainda
há muito por se fazer pela educação brasileira. Mas ela é a chave para
um futuro melhor, com gerações mais esclarecidas, politizadas e capazes
de cuidar melhor do planeta do que cuidamos até agora.
Precisamos
colocar a disciplina “Consciência Ecológica” em todas as escolas desde o
ensino fundamental. Todo mundo tem que entender a importância da
reciclagem, coleta seletiva, usinas de tratamento de lixo orgânico e de
despoluição da água. Todo mundo tem que aprender a não jogar lixo na
rua, não desperdiçar água, não desmatar, não construir em áreas de
mananciais e beiras de morros e rios. E também aprender a serem mais
engajados politicamente para lutarem contra governos que não querem
fazer sua parte e cobrarem dos mesmos o cumprimento dos tratados
assinados em prol da defesa do meio ambiente.
Qual a importância da educação ambiental para crianças através de ferramentas como o cartum?
Léo: Acredito que a melhor maneira de educar é através de uma experiência atrativa e prazerosa, ou seja, baseada nos conceitos de
edutainment, que quer dizer educação + entretenimento. O
edutainment
é a combinação da educação a partir do entretenimento que usa
normalmente o ambiente lúdico para estimular a aprendizagem.
Os cartuns
são ótimos recursos lúdicos e podem ser aplicados em atividades
pedagógicas, dentro e fora da “sala” de aula. Eles podem ser utilizados
tanto para passar o conceito de sustentabilidade, estimulando a
percepção ambiental, quanto para a discussão de temas diversos e até
questões atuais, como o aquecimento global, o destino do planeta,
poluição, reciclagem… O próprio conteúdo dessas produções funciona até
hoje como atrativo, uma vez que aborda assuntos críticos com humor e de
maneira lúdica.
O Almanaque Ecológico do Lucas foi lançado no final de 2012,
qual tem sido a resposta dos professores que adotaram o livro em sala de
aula?
Léo: O resultado do livro junto ao público infantil
tem crescido muito atualmente. O interesse pelo Lucas nas redes sociais,
visitas na fanpage do Facebook, tweets e posts em blogs, sites, jornais
e revistas aumentam a cada dia. Há bastante procura por parte dos
educadores e profissionais da área de educação ambiental. Eles apreciam o
caráter lúdico do livro que contribui de forma divertida neste processo
de aprendizagem. É gratificante ter esse reconhecimento pelo meu
trabalho, fico feliz que o livro está sendo cada vez mais utilizado como
ferramenta de educação ambiental junto ao público infantil e adulto
também.
O seu livro anterior “Aquecimento Global em cartuns” (2010),
feito em colaboração com vários cartunistas, não era especialmente
voltado para o público infantil. Qual a importância de, mesmo para o
público adulto, simplificar essa mensagem em prol da conscientização
ambiental?
Léo: O cartunista é um profissional que está sempre
antenado do que acontece ao seu redor, e o problemas que temos hoje de
cunho social, político, econômico e agora a questão ambiental, com o
aquecimento global e outros problemas que nos afetam diariamente, têm
sido fontes de constante inspiração para o humor gráfico. Os cartunistas
participantes no livro utilizaram representações bem-humoradas através
do cartum para tratar um tema nada amistoso como este.
Pinguins assados,
um urso polar solitário em cima de um pequeno pedaço de gelo ou uma
plantação de ventiladores, a ideia foi provocar. E é exatamente isso que
acontece. Por mais que a coletânea traga desenhos irreverentes, faz
pensar. A agilidade com que a arte ilustrativa transmite conteúdos
informativos a um dado observador é encarada como sendo muitas vezes
superior àquelas das informações verbais veiculadas em textos. Em outras
palavras, o humor gráfico é uma chamada muito mais persuasiva ao
leitor, uma espécie de “Ei, psiu, veja isso!”.
Algum projeto novo em vista para o personagem do Duende Lucas?
Léo: Pretendo lanças no próximo semestre um livro só
de passatempos ecológicos do Lucas. Percebi que o público infantil
apreciou muito essas atividades que acompanhavam os textos do Almanaque.
E decidi então fazer uma nova publicação do Lucas inteiramente voltada
para isso. Além dos passatempos, o livro contará, é claro, com
ilustrações do Lucas e sua turminha ecológica.