quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Nascimento de primeiro filhote de bisão na Inglaterra onde espécie estava extinta há milhares de anos surpreende a todos

 

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Nascimento de primeiro filhote de bisão na Inglaterra onde espécie estava extinta há milhares de anos surpreende a todos

Nascimento de primeiro filhote de bisão na Inglaterra onde espécie estava extinta há milhares de anos surpreende a todos

Em julho, três fêmeas de bisão foram soltas na reserva natural de Blean Woods e Thornden Woods, em Kent, no sudeste da Inglaterra, onde a espécie, o maior mamífero terrestre do continente europeu, havia sido extinta da vida selvagem há milhares de anos, mais exatamente, 6 mil anos. O projeto de reintrodução do Bison bonasus é pioneiro no país e quer analisar como esse animal poderá ajudar a restaurar a vegetação degradada do interior inglês.

No final desse mês, um macho vindo da Alemanha irá se juntar ao grupo, mas para surpresa geral, mesmo antes da chegada dele, já há um novo indivíduo, ou melhor, uma nova integrante no rebanho: uma filhote, nascida em setembro.

Nenhum dos guardas-florestais que monitoravam os bisões sabiam da gravidez de uma das fêmeas, que já estava prenha antes da reintrodução. As fêmeas da espécie escondem os sinais da gestação, um mecanismo de defesa para evitar o ataque de predadores.

No final da semana passada, pega totalmente de surpresa, mas muito feliz, a equipe do Kent Wildlife Trust, uma das organizações responsáveis pela reintrodução dos bisões, divulgou a grande novidade pelas suas redes sociais:

“Temos um ‘pequeno’ anúncio… Há um novo membro da manada! 🐃 Junte-se a nós para dar as boas-vindas ao mais novo herói do ecossistema de Kent!

Em setembro, um de nossos bisões deu à luz uma adorável bezerra. Ela é o quarto membro do rebanho de bisões Wilder Blean, uma equipe de engenheiros do ecossistema que está transformando West Blean e Thornden Woods para combater as crises climáticas e de biodiversidade.

A filhote já tem muita personalidade – adora brincar na chuva e já imita os comportamentos icônicos da mãe e das tias!”

Bisões são conhecidos como “engenheiros” de seus ecossistemas porque seus hábitos ajudam a criar um habitat mais favorável a outras espécies e com isso, restaurar a biodiversidade perdida. Esses animais, por exemplo, abrem trilhas na floresta e gostam de comer as cascas de algumas árvores, o que acaba as matando, e isso é benéfico para certas plantas, vertebrados e aves.

Segundo a equipe da Kent Wildlife Trust, mesmo em pouco tempo, já é possível notar diferença na área onde as bisões estão.

“Elas criaram caminhos, que já abriram o dossel, e estão mastigando cascas de árvores, que com o tempo criarão material orgânico, tão valioso para toda uma série de espécies diferentes”, diz Vicki Breakell, especialista da entidade, em entrevista ao jornal The Guardian.

O plano é que aos poucos, mais indivíduos sejam adicionados ao rebanho de Kent. No verão do ano que vem, os animais serão levados para uma área maior, onde terão uma vida completamente selvagem. Como as primeiras fêmeas são oriundas de cativeiro, nesse primeiro momento estão recebendo um suplemento alimentar, mas que em breve será descontinuado.

Nascimento de primeiro filhote de bisão na Inglaterra onde espécie estava extinta há milhares de anos surpreende a todos

A filhote, que tem pouco mais de um mês de vida

No ano que vem, além da reintrodução dos bisões, serão soltos também pôneis (Exmoor) e porcos selvagens.

Estima-se que hoje existam em toda a Europa 9 mil bisões. Todavia, eles são descendentes de apenas 12 animais que vivem em zoológicos, o que compromete a segurança genética da espécie.

Abaixo outro vídeo da filhote bisão, em plena atividade, e com muita energia:

Foto de abertura: divulgação Kent Wildlife Trust/Donovan Wright

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Corpo humano tem aura química que ajuda a limpar o ambiente

 

Corpo humano tem aura química que ajuda a limpar o ambiente

Com informações da BBC




Limpeza do ambiente

Que as pessoas emitem componentes químicos - ao respirar ou transpirar, por exemplo - era algo que já se sabia. Mas que podemos transformar outras substâncias e, ao longo do caminho, "limpar" nosso ambiente, isso é novidade.

E foi exatamente isso que um grupo de cientistas do Instituto Max Planck de Química (Alemanha), juntamente com pesquisadores dos Estados Unidos e da Dinamarca, descobriram: Temos um "campo de oxidação" que muda a química ao nosso redor.

Tanto fora como dentro de nossas casas, nos transportes ou no trabalho, estamos expostos a uma infinidade de produtos químicos e poluentes. Desde tintas, emissões de gases ou até o que produzimos com atividades como cozinhar ou limpar.

Até agora, os cientistas acreditavam que a limpeza desses componentes, que geralmente desaparecem naturalmente, era totalmente externa ao corpo humano, induzida por raios ultravioleta, vindos do Sol, vapor d'água e ozônio.

De fato, quando esses três componentes entram em contato são produzidos radicais hidroxila (OH), moléculas altamente reativas responsáveis por grande parte da limpeza química do meio ambiente. É por isso que esses radicais muitas vezes são chamados de "detergentes da atmosfera".

Mas dentro de casa não parecem haver condições para que esse mecanismo funcione. Até agora, as pesquisas sobre espaços fechados analisavam quais componentes são emitidos por móveis, pinturas ou cortinas. Até que os cientistas perceberam que a única coisa em comum em todos os espaços habitáveis é o ser humano.

"Então pensamos em ver como a presença dos humanos afeta a atmosfera no interior (da residência)," disse o professor Jonathan Williams, especialista em química da atmosfera do Instituto Max Planck e que liderou este novo estudo.

Corpo humano tem
A pele humana reage com o ambiente imediato ao seu redor.
[Imagem: Universidade da California Irvine]

Reações da pele humana

"Fizemos nosso experimento em um ambiente que era ideal, controlado, porque queríamos determinar o que vinha apenas dos humanos. É a primeira vez que isso é feito", explicou Nora Zannoni, química do Instituto de Ciências Atmosféricas e do Clima de Bolonha (Itália) e coautora do estudo.

Para fazer isso, eles usaram uma sala feita inteiramente de aço inoxidável, uma "câmara de controle climático", onde não havia nada além das duas mulheres e dos dois homens que participaram do experimento. "Parece um ambiente bastante sóbrio, porque não tem móveis, tapete, nada. Cuidamos até para que as roupas dos participantes fossem lavadas com detergentes sem perfume, para garantir que não entrasse nada na sala. Demos a eles uma pasta para escova de dentes especial. Foi tudo muito cuidadosamente controlado," contou Williams.

Os cientistas fizeram testes em diferentes temperaturas e umidades, trocaram as roupas dos participantes para expor mais ou menos pele e mediram os níveis de ozônio que entravam na câmara de metal. Depois de expor os participantes a diferentes quantidades de ozônio, eles viram que foram gerados radicais hidroxila (OH). "Ficamos surpresos porque foi gerado bastante [radical], foi uma concentração realmente alta."

Mas a principal descoberta é como o ozônio reage com a pele humana: "Existe um óleo que nossa pele produz naturalmente e é isso que a mantém flexível. E o ozônio reage com um de seus principais componentes," disse William.

Nesse momento ocorre uma reação em cadeia. O ozônio reage com o óleo da pele, produzindo outras moléculas na forma gasosa que são emitidas no ar e estas, por sua vez, reagem novamente com o ozônio. É quando os radicais OH são produzidos. E, quanto mais pele fica exposta, mais radicais OH (os tais "detergentes da atmosfera") são gerados.

Corpo humano tem
Imagens da aura química humana.
[Imagem: Universidade da California Irvine]

Aura química

O campo de oxidação gerado pelos voluntários variava de acordo com diferentes condições de ventilação e ozônio, mudando de intensidade conforme a distância - o que os cientistas chamam de um gradiente.

"A partir dos resultados ficou claro que os radicais OH estavam presentes, abundantes e formando fortes gradientes espaciais," relata a equipe.

No modelo gráfico, o campo de oxidação parece uma espécie de labareda de diferentes tonalidades que sai do nosso corpo para o exterior. As imagens lembram o que algumas crenças espirituais conhecem como "aura", um campo de energia com cores diferentes que nos cerca.

"É uma boa visualização de como o campo realmente se parece. Mas não tem nada a ver com essas coisas que não são científicas," esquivou-se Williams. "Os gradientes (os diferentes valores e, portanto, as diferentes cores) que vemos coincidem com a evidência empírica da química que medimos. Por isso tivemos a confiança de mostrar que em torno do ser humano aparecia isso."

Embora esta equipe pareça não estar disposta a ir além da química conhecida, alguns cientistas garantem que é realmente possível ver a aura das pessoas.

Corpo humano tem
Outra equipe já havia demonstrado que cada ser humano tem sua própria Aura Biológica.
[Imagem: Chao Jiang]

Comunicação química interpessoal

Williams e Zannoni afirmam que este experimento é apenas um primeiro passo, destacando a importância futura que essa descoberta pode ter em muitos âmbitos de nossas vidas.

"Em ambientes reais temos muito mais fontes, a química é mais completa, mas já temos uma linha de base que poderia ajudar, por exemplo, a mitigar a acumulação e a concentração de tóxicos em ambientes fechados e melhorar a qualidade do ar," disse Nora Zannoni. "Quando se trata de efeitos na saúde, é algo importante para sabermos, especialmente após a pandemia, em que todos tivemos que ficar presos por muito tempo."

Para o estudo de materiais, pinturas, móveis e as toxinas que contêm, essa novidade também pode significar uma mudança.

"Até agora, o teste tóxico de um sofá apenas avaliava o sofá. Agora será possível avaliar o sofá com alguém sentado nele, porque as emissões do sofá vão chegar até você e vão oxidar na sua própria oxidação - serão duplamente transformadas de alguma forma," comentou Williams.

E, embora não seja a área de pesquisa da equipe, os pesquisadores consideram que o campo de oxidação que temos ao nosso redor poderia afetar as relações entre as pessoas.

"Muitas vezes se fala que uma parte da nossa comunicação é química, há comunicação química na troca interpessoal. Então, se cada um tem esse campo de oxidação, dependendo de como ele se desenvolve, isso pode afetar o campo do outro," destacou Zannoni. "Pode ser que isso impacte as funções sensoriais de cada um de uma certa forma."

Checagem com artigo científico:

Artigo: The human oxidation field
Autores: Nora Zannoni, Pascale S. J. Lakey, Youngbo Won, Manabu Shiraiwa, Donghyun Rim, Charles J. Weschler, Nijing Wang, Lisa Ernle, Mengze Li, Gabriel Bekö, Pawel Wargocki, Jonathan Williams
Publicação: Science
Vol.: 377, Issue 6610 pp. 1071-1077
DOI: 10.1126/science.abn0340

Pequi é a fonte de novo anti-inflamatório e novo protetor solar

22/11/2021

Pequi é a fonte de novo anti-inflamatório e novo protetor solar

Com informações da Agência Fapesp

Pequi é a fonte de novo anti-inflamatório e novo protetor solar
Atualmente, menos de 10% da massa do pequi é aproveitada para a extração do óleo.
[Imagem: Lucinéia dos Santos/Unesp]



 Pequi para a pele

Mais conhecido por suas aplicações culinárias, o óleo de pequi (Caryocar brasiliense), extraído a partir da polpa e da amêndoa do fruto originário do Cerrado, já é utilizado na indústria farmacêutica e de cosméticos.

No entanto, o que sobra após esse processo (cerca de 90% da massa) geralmente é descartado, gerando um desperdício que pode chegar a centenas de toneladas por ano.

Foi esse cenário que motivou pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) a encontrar uma forma criativa, sustentável e barata de aproveitar os restos do fruto.

O resultado são dois novos produtos a partir dos resíduos de pequi: um creme com atividade anti-inflamatória e um protetor solar com propriedades antioxidantes, capazes de retardar o envelhecimento da pele.

As formulações apresentaram resultados promissores em testes farmacológicos. "Tivemos a mesma resposta que produtos já consolidados no mercado, utilizando uma matéria-prima genuinamente brasileira que iria para o lixo," disse a bioquímica Lucinéia dos Santos.

Cremes naturais mais baratos

As novidades já foram patenteadas e estão disponíveis para licenciamento pela Agência Unesp de Inovação. Segundo Lucinéia, para produzir uma bisnaga de 60 gramas do novo creme anti-inflamatório, por exemplo, o custo aproximado seria de R$ 8,10. Atualmente, a mesma quantidade de um creme anti-inflamatório comercial, também feito com ativos naturais, chega a ser vendida por R$ 65,00.

"A indústria farmacêutica não para de buscar novas medicações e soluções estéticas que sejam eficazes, seguras, de baixo custo e que não causem consequências negativas para o organismo. Nós temos esses produtos. Além disso, nossas inovações contribuem para o bem-estar ambiental, econômico e social, agregando valor a um resíduo que normalmente é descartado", afirmou a professora.

Hoje já se sabe que o óleo de pequi previne e faz regredir o câncer e também protege contra doenças cardiovasculares.


O que respiramos na floresta que nos faz tão bem?

 

O que respiramos na floresta que nos faz tão bem?

Redação do Diário da Saúdeprimir
O que respiramos quando na floresta que nos faz tão bem?
Os cientistas acreditam ter encontrado os compostos exalados pelas florestas que nos fazem tão bem - física e psicologicamente.
[Imagem: UAB]
Saúde e áreas verdes

Quando estamos em contato com ambientes naturais, fora da cidade, experimentamos uma série de efeitos benéficos em nossa saúde.

Em geral, esses efeitos ocorrem no nível dos nossos sistemas cardiovascular, imunológico, respiratório e nervoso. E também experimentamos mudanças em nosso bem-estar fisiológico e psicológico.

Essa constatação de que a natureza faz bem à saúde fez aumentar muito o interesse da comunidade científica - e da própria sociedade - em relação ao potencial das florestas e demais áreas verdes naturais como fonte de bem-estar humano.

É claro que os cientistas nunca se contentam apenas com a medição dos efeitos benéficos: Eles também querem saber os mecanismos que ligam o estar em uma floresta com os benefícios fisiológicos que os exames mostram.

As pesquisas mais recentes vêm apontando compostos orgânicos voláteis emitidos pelas plantas, chamados monoterpenos, como os principais determinantes dos efeitos benéficos das áreas verdes naturais sobre a nossa saúde.

As plantas produzem monoterpenos como um mecanismo defensivo contra herbívoros e para se adaptar ao meio ambiente. Entre os efeitos mais estudados, destacam-se as atividades anti-inflamatórias, neuroprotetoras e antitumorigênicas dos monoterpenos. Apesar de seu papel relevante no binômio saúde-floresta, contudo, esses compostos foram pouco estudados até agora no nível do dossel das árvores, onde eles pretensamente interagem com as pessoas para gerar benefícios.

Monoterpenos

Albert Bach e uma equipe da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha) decidiram estudar a variabilidade desses compostos químicos em uma floresta de azinheiras, uma árvore muito comum na região do Mediterrâneo.

Os resultados demonstraram uma forte variabilidade da concentração de monoterpenos, dependendo da estação e da hora do dia. As maiores concentrações foram medidas no início da manhã (das 6 às 8 da manhã) durante o início do verão, e no início da tarde (das 13 às 15 horas), no mesmo período.

Os resultados também mostram como os monoterpenos estão fortemente conectados à temperatura, à radiação solar e à umidade relativa do ar.

Esses picos nas concentrações não foram identificados no restante dos meses do ano, quando as emissões dos compostos aumentaram com a radiação solar, atingindo seu pico por volta das 14h, coincidindo com o pico diário de temperatura.

A lição a se levar para casa - ou para a floresta - é que, se os cientistas estiverem corretos de que são os monoterpenos os responsáveis pelos efeitos benéficos das áreas verdes sobre os seres humanos, então você irá tirar o maior proveito possível indo para lá logo de manhã no verão.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Human Breathable Air in a Mediterranean Forest: Characterization of Monoterpene Concentrations under the Canopy
Autores: Albert Bach, Ana Maria Yáñez-Serrano, Joan Llusià, Iolanda Filella, Roser Maneja, Josep Penuelas
Publicação: International Journal of Environmental Research and Public Health
DOI: 10.3390/ijerph17124391

Interior da Terra tem seis vezes mais água que os oceanos

 

Interior da Terra tem seis vezes mais água que os oceanos

Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/09/2022

Água no interior da Terra é seis vezes maior que a dos oceanos
A pista para a água do interior da Terra está dentro de inclusões encontradas no diamante - as inclusões podem ser de um mineral sólido ou conter líquidos ou gases.
[Imagem: Tingting Gu et al. - 10.1038/s41561-022-01024-y]

Oceano no interior da Terra

No clássico Viagem ao Centro da Terra, Júlio Verne imaginou todo um novo mundo abaixo de nossos pés, incluindo um oceano nas profundezas da Terra.

Agora, usando experimentos científicos, geólogos alemães demonstraram que a ideia de o interior da Terra ter tanta água quanto os oceanos na superfície não é assim tão estapafúrdia.

"Neste estudo, nós demonstramos que a zona de transição não é uma esponja seca, mas contém quantidades consideráveis de água. Isso também nos aproxima da ideia de Júlio Verne de um oceano dentro da Terra. A diferença é que não há um oceano lá embaixo, mas rochas hidratadas," disse Frank Brenker, da Universidade Goethe.

Na verdade, embora pareça haver muita água lá embaixo, essas rochas não apenas não pingariam água, como sequer pareceriam molhadas ao toque.

Mas o volume de água que elas podem conter em sua estrutura cristalina é tão grande que elas poderiam teoricamente absorver o equivalente a seis vezes a quantidade de água de todos os oceanos da Terra, segundo o cálculo dos geólogos.

Água no interior da Terra é seis vezes maior que a dos oceanos
Detalhe de uma das inclusões estudadas pela equipe.
[Imagem: Tingting Gu et al. - 10.1038/s41561-022-01024-y]

Zona de transição

A zona de transição a que o pesquisador se refere é o nome dado à camada que separa o manto superior da Terra e o manto inferior. Ela está localizada a uma profundidade de 410 a 660 quilômetros.

A imensa pressão - de até 23.000 bar - faz com que o mineral verde-oliva olivina, também conhecido como peridoto e que constitui cerca de 70% do manto superior da Terra, tenha sua estrutura cristalina alterada.

No limite superior da zona de transição, a cerca de 410 quilômetros de profundidade, a olivina converte-se em um mineral mais denso, chamado wadsleyíta; e, a 520 quilômetros, ela se metamorfoseia na ainda mais densa ringwoodita - a wadsleyíta foi batizada em homenagem a Arthur David Wadsley (1918-1969), e a ringwoodita homenageia Alfred E. Ringwood (1930-1993).

"Essas transformações minerais dificultam muito os movimentos das rochas no manto," explica o Prof. Brenker. Por exemplo, as plumas do manto - colunas ascendentes de rocha quente do manto profundo - às vezes param diretamente abaixo da zona de transição. O movimento de massa na direção oposta também pára, criando um gigantesco depósito de material.

"As placas subductoras também carregam sedimentos do fundo do mar para o interior da Terra. Esses sedimentos podem conter grandes quantidades de água e CO2. Mas até agora não estava claro o quanto entra na zona de transição na forma mais estável de minerais hidratados e carbonatos - e, portanto, também não estava claro se grandes quantidades de água realmente são armazenadas lá".

As condições prevalecentes lá embaixo certamente seriam propícias a isso. Os minerais wadsleyíta e ringwoodita podem (ao contrário da olivina em profundidades menores) armazenar grandes quantidades de água - tão grandes que a zona de transição teoricamente seria capaz de absorver seis vezes a quantidade de água em nossos oceanos.

"Então, sabíamos que a camada limite tem uma enorme capacidade de armazenamento de água," disse Brenker. "No entanto, não sabíamos se esse era realmente o caso."

Água no interior da Terra é seis vezes maior que a dos oceanos
Este é o pequeno diamante brasileiro usado no estudo de 2014, que era pequeno demais para que as conclusões pudessem ser generalizadas.
[Imagem: D. G. Pearson et al. - 10.1038/nature13080]

Inclusões no diamante

Em 2014, Brenker fez parte de uma equipe analisou um diamante encontrado no Brasil, na cidade de Juína (MT), e comprovou a existência de ringwoodita rica em água incrustada no diamante. Mas, na ocasião, a equipe reconheceu não ser possível demonstrar que a ringwoodita presente no diamante era representativa da zona de transição porque o diamante era pequeno demais, com cerca de três milímetros.

Ele prosseguiu nessa linha de pesquisa, analisando agora um diamante maior, encontrado em Botswana, na África, que se formou a uma profundidade de 660 km, bem na interface entre a zona de transição e o manto inferior, uma região quase totalmente tomada pela ringwoodita.

Diamantes dessa região são muito raros, mesmo entre os diamantes raros de origem super-profunda, que representam apenas um por cento dos diamantes já encontrados na superfície.

As análises revelaram que a pedra contém inúmeras inclusões de ringwoodita - que apresentam alto teor de água. Além disso, os pesquisadores conseguiram determinar a composição química da pedra: É quase exatamente a mesma de praticamente todos os fragmentos de rocha do manto encontrados em basaltos em qualquer lugar do mundo, comprovando que o diamante definitivamente veio de um pedaço normal do manto da Terra.

E as inclusões no diamante de 1,5 centímetro de Botsuana, que a equipe investigou agora, eram grandes o suficiente para permitir que a composição química precisa fosse determinada, e isso forneceu a confirmação final dos resultados preliminares de 2014.

Água no interior da Terra é seis vezes maior que a dos oceanos
Além de mostrarem que a atmosfera terrestre era propícia para a vida há bilhões de anos, as inclusões já permitiram até mesmo encontrar água líquida dentro de um meteorito.
[Imagem: Michael Broadley]

Zona de transição dinâmica

Um alto teor de água na zona de transição tem consequências de longo alcance para o comportamento dinâmico do interior da Terra, permitindo que os geólogos criem modelos totalmente novos.

A equipe propõe, por exemplo, que as plumas quentes vindas do manto abaixo, que ficam presas na zona de transição, aquecem a zona de transição, o que, por sua vez, leva à formação de novas plumas menores, que absorvem a água. Se essas plumas menores do manto, ricas em água, agora migram para cima e rompem a fronteira para o manto superior, a água contida nas plumas do manto é liberada, o que diminui o ponto de fusão do material emergente.

Esse material então derrete imediatamente, e não apenas antes de atingir a superfície, como geralmente acontece. Como resultado, as massas rochosas nessa parte do manto da Terra não são mais tão resistentes como se acreditava, o que dá mais dinamismo aos movimentos de massa.

A zona de transição, que de outra forma atuaria como uma barreira para a dinâmica, de repente se torna um motor da circulação global do material no interior do planeta.

Bibliografia:

Artigo: Hydrous peridotitic fragments of Earth’s mantle 660-km discontinuity sampled by a diamond
Autores: Tingting Gu, Martha G. Pamato, Davide Novella, Matteo Alvaro, John Fournelle, Frank E. Brenker, Wuyi Wang, Fabrizio Nestola
Revista: Nature Geoscience
Vol.: 507, pages 221-224
DOI: 10.1038/s41561-022-01024-y

Artigo: Hydrous mantle transition zone indicated by ringwoodite included within diamond
Autores: D. G. Pearson, F. E. Brenker, F. Nestola, J. McNeill, L. Nasdala, M. T. Hutchison, S. Matveev, K. Mather, G. Silversmit, S. Schmitz, B. Vekemans, L. Vincze
Revista: Nature
DOI: 10.1038/nature13080

Morre Pocha, elefanta que foi trazida com a filha da Argentina para o Santuário de Elefantes Brasil

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Morre Pocha, elefanta que foi trazida com a filha da Argentina para o Santuário de Elefantes Brasil

Morre Pocha, elefanta que foi trazida com a filha da Argentina para o Santuário de Elefantes Brasil

Que notícia mais devastadora. Muito triste mesmo. No sábado, 08/10, o Santuário de Elefantes Brasil usou suas redes sociais para anunciar que Pocha havia falecido. Contamos aqui no Conexão Planeta, em várias reportagens a história dessa elefanta e sua filha, Guilhermina. Mãe e filha, de 55 e 24 anos, eram duas elefantas asiáticas que viviam num “recinto” de um ecoparque em Mendoza, na Argentina: na verdade, um fosso, totalmente de concreto, sem vegetação alguma. Guille, como é carinhosamente chamada, nasceu ali e nunca tinha estado num ambiente ao ar livre.

Após muitas negociações, em maio, após cinco dias de viagem, mãe e filha chegaram ao Santuário de Elefantes Brasil, no Mato Grosso. Ao longo dos últimos meses, elas demonstraram uma excelente adaptação ao novo lar, aprendendo a explorar a natureza, e apreciar a companhia de outras companheiras da mesma espécie, Maia, Rana, Lady, Mara e Bambi.

Mas infelizmente, nos últimos dias, os cuidadores perceberam uma leve modificação no comportamento de Pocha.

“Nós notamos que ela estava exigente com seu feno, embora ainda estivesse pastando e desfrutando de todas as frutas e legumes que lhe foram dados. Depois de uma dose de vitamina na noite passada, ela parecia mais resplandecente e, mesmo ainda cansada, seus olhos pareciam mais brilhantes. No entanto, quando voltamos para checá-la um tempo depois, descobrimos que ela havia falecido”, escreveu o santuário.

Ainda não se saber a causa da morte de Pocha e uma autopsia será realizada para descobrir o que poderia provocado seu falecimento.

“Embora este seja um momento difícil, e possa ser difícil processar essa perda, sentimos gratidão a Pocha pelo amor e estabilidade que ela foi capaz de proporcionar a Guillermina por 24 anos. Uma vez que as duas estavam no santuário, ela pôde ver sua filha experimentar a verdadeira alegria e começar a construir relacionamentos com outros elefantes – algo que pode ter sido apenas um sonho para Pocha… Também temos uma grande sensação de alívio em saber que ambas fizeram a viagem para o santuário antes do falecimento de Pocha, assim Guillermina não está processando sua dor sozinha, ela agora tem outros elefantes a quem recorrer. Talvez Pocha tivesse um senso que seu tempo aqui era curto e encorajou Guille a se aventurar, aproveitar a vida com as amigas, explorar a natureza e descobrir verdadeiramente como a vida de um elefante deve ser. Em poucos meses, ela foi capaz de lembrar que o mundo era mais do que apenas um muro de concreto na frente dela. Na realidade, a vida poderia ser grande, bela e cheia de oportunidades e ela também foi capaz de dar essa grande vida a sua filha com amor e um sentimento de imenso orgulho”, acredita a equipe do santuário.

Morre Pocha, elefanta que foi trazida com a filha da Argentina para o Santuário de Elefantes Brasil

Pocha tinha cerca de 55 anos

A morte da elefanta foi sentida por todos os outros animais, especialmente, sua filha. Guillermina, que estava dividindo os recintos perto do galpão com a mãe, deu longos estrondos para alertar o grupo. Em uma longa e detalhada postagem, o santuário relatou o comportamento das integrantes da manada após o falecimento de Pocha.

“Uma vez que abrimos os portões para que as outras meninas pudessem entrar, Bambi, Mara e Rana estavam lá esperando para estar com Guille. Rana se aproximou de Pocha com Guillermina por alguns minutos e depois voltou com as demais. A seguir, Bambi se aproximou, mas ficou à distância, com os olhos um pouco arregalados e parecendo preocupada. Depois de Bambi voltar para as outras meninas, Mara veio e ficou com Guille e Pocha. Depois disso, uma por uma, as outras meninas voltaram, desta vez Bambi se aproximou de Pocha, cheirando-a e acariciando seu rosto. Pouco depois da meia-noite, todas elas estavam em lados diferentes de Pocha, em silêncio e relaxadas, tendo um daqueles momentos de elefante que só eles entendem. Pouco antes das 4 da manhã, Maia também veio ficar com Guilhermina. Cada menina ficou por perto, algumas por mais tempo que outras, observando o corpo de Pocha com respeito. Os elefantes têm uma habilidade inata de se comunicar uns com os outros de maneira que nunca entenderemos, e é isso que parecia estar acontecendo entre este grupo de companheiras de manada.

Com todos os nossos anos trabalhando com elefantes, nunca vimos esse nível de apoio da manada dado a outro durante uma passagem. O apoio delas está se mostrando muito mais familiar por natureza do já presenciamos no Santuário no passado e, embora triste, também há algo incrivelmente bonito sobre o que está acontecendo. Como está começando a entender o que aconteceu com Pocha, Guillermina tem sido muito gentil com a mãe dela. Ela a toca, a cheira e a acaricia com sua tromba, parecendo sentir que sua mãe não está mais aqui. Enquanto Guille não se posicionou completamente sobre o corpo da mãe (o que os elefantes às vezes fazem), ela manobrou muito gentilmente suas patas sobre as patas dianteiras de Pocha e ficou lá por um tempo”.

Abaixo um dos últimos vídeos feitos de Pocha, durante um dia chuvoso:

O Santuário de Elefantes Brasil é o sexto santuário de elefantes do mundo e primeiro da América Latina. É fruto da parceria de duas organizações internacionais – a Global Sanctuary for Elephants (GSE), do Tenessee, nos Estados Unidos, e a ElephantVoices – ambas dirigidas por renomados especialistas.

A iniciativa se deve também à paixão por elefantes de uma brasileira, Junia Machado. Ela representa a ElephantVoices no Brasil e se uniu à Scott Blaiss – que tem mais de 20 anos de experiência no manejo de elefantes africanos e asiáticos em zoos, circos e em santuários e é o fundador da GSE – para tocar o projeto.

A reserva não é aberta ao público, pois não é um zoológico. Ela tem como única missão proteger, resgatar e prover um santuário de ambiente natural para elefantes em cativeiro.

Fotos: reprodução Facebook Santuário de Elefantes Brasil