Por Daniele Bragança
- quinta-feira, 28 setembro 2017 23:31
Área desmatada em Novo Progresso, PArá. Foto: Vinícius Mendonça - Ascom/Ibama.
Uma das maiores dificuldades de monitorar o desmatamento na Amazônia
Legal é visualizar o corte raso em pequena escala. Isso não era um
problema enquanto o padrão de derrubada da floresta era de grandes áreas
desmatadas, e isso permitia que sensores de menor definição pudessem
ser utilizados na tarefa. Mas a intensificação da fiscalização fez com
que os desmatadores mudassem de estratégia: em vez de abrir grandes
áreas passaram a desmates menores, imperceptíveis para os satélites
usados pelos órgãos ambientais. O fenômeno já havia sido identificado
pelo Ministério do Meio Ambiente.
Agora, o Imazon, uma organização
ambientalista que faz monitoramento independente do desmatamento, passou
a usar informações de sensores de satélites mais refinados para se
adequar à nova realidade.
Desde agosto, o Instituto passou a receber informações dos sensores
Landsat 7 e Landsat 8 no seu monitoramento mensal da floresta Amazônica,
o
SAD (Sistema de Alerta de
Desmatamento). Com isso, tornou possível detectar a derrubada de
vegetação a partir de 1 hectare, equivalente a um campo de futebol.
Antes, o SAD detectava apenas derrubadas a partir de 10 hectares. O
resultado é que o desmatamento miúdo deixou de ser invisível.
“É como se o SAD acabasse de comprar óculos novos”.
É como se o SAD acabasse de comprar óculos novos. A diferença entre o
detectado pelo dados anteriores à mudança e os atuais terá que ser
ajustada para não prejudicar a série histórica, isso porque o
desmatamento sempre é comparado ao mesmo mês do ano anterior. Então,
para saber se a perda de floresta foi maior ou menor em agosto de 2017, o
cálculo é feito usando como base o desmatamento verificado em agosto de
2016, quando o satélite identificava apenas desmatamentos acima de 10
hectares.
A compensação será feita até julho de 2018 da seguinte maneira: o
Imazon disponibilizará os dados comparativos de desmatamento acima de 10
hectares em uma tabela. E em outra analisará a perda florestal de baixa
escala, separadamente.
“Estamos preservando a série histórica, fazendo somente a comparação
dos alertas acima de 10 hectares com o que já tínhamos coletado no
passado. Assim, evitamos possíveis superdimensionamento do
desmatamento”, explica Antônio Victor Fonseca, pesquisador do Imazon.
Segundo Fonseca, quando o novo SAD completar um ano, não será mais necessário a separação das duas medidas.
A ambição é que, num futuro próximo, o SAD consiga produzir um
monitoramento anual de desmate comparável ao Prodes, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais, que produz os dados oficiais sobre a
perda de floresta e os divulga anualmente. Os sensores do Prodes
conseguem detectar desmatamento a partir de 6 hectares (ou 60 mil metros
quadrados).
“Não estamos fazendo essa comparação direta agora. O sistema não está
pronto ainda, mas a ideia é de ter um produto de faixa de desmatamento,
com o dado consolidado do último mês do calendário, que é, no caso,
julho [...]. No PRODES a detecção é a partir de 6 hectares e nós estamos
detectando a partir de 1 hectare. Precisamos ver se dá para fazer esse
tipo de comparativo, porque são faixas de desmatamento diferentes”,
afirma Antônio Victor Fonseca.
Desmatamento diminuiu em agosto
Ainda segundo o Imazon, a Amazônia perdeu 184 quilômetros quadrados de florestas em
agosto,
ou 18.400 hectares. Destes, 39 quilômetros quadrados (ou 3.900
hectares) ocorreram em áreas menores de 10 hectares. Desmatamentos de
pequena escala correspondem a 21% do total desmatado em agosto, uma
parte significativa que permaneceria ignorada, não fosse o novo sistema.
A maioria desses alertas abaixo de 10 hectares se concentrou no Acre e ao longo da Rodovia Transamazônica no trecho do Pará.
Considerando apenas os alertas a partir de 10 hectares, houve redução
de 75% em relação a agosto de 2016, quando o desmatamento somou 582
quilômetros quadrados. Em agosto de 2017, a divisão entre estados da
área desmatada foi: Mato Grosso, que desmatou 7 mil hectares e,
portanto, foi responsável por 40% do desmatamento no período, seguido do
Pará, que derrubou 4.900 hectares (32%), Acre, com 2oo hectares (9%);
Rondônia, com 1.100 hectares (9%); Amazonas, com 1000 hectares (8%) e
Roraima, com 300 hectares (2%).