07/02/2014 08h18
Enquanto estava na 15ª DP, casa dele foi furtada por outro rapaz.
Corporação diz não ter registro das cinco ligações feitas pela vítima.
Enquanto registrava o boletim de ocorrência, outro homem invadiu a casa dele e furtou o tubo de oxigênio que ele usava para consertar geladeiras, no valor de R$ 1,7 mil. Dias depois, ele encontrou o segundo ladrão e também o levou amarrado à polícia.
A história começou na madrugada de segunda-feira (3), no Setor Sol Nascente. Na hora em que decidiu guardar o carro, que estava estacionado na porta de casa, ele notou a presença do primeiro rapaz. "Escutei só o estouro no vidro. Já abri a porta perguntando o que ele estava fazendo. Ele disse que não era nada, que não havia sido ele, mas respondi que não tinha mais ninguém na rua", lembra.
Silva decidiu “enrolar” o homem enquanto tentava contato com a PM. Segundo ele, foram cinco ligações, todas com a resposta de que uma guarnição logo chegaria ao local, o que não ocorreu. Por e-mail, a assessoria da corporação disse ao G1 não ter registro de que o soldador os acionou pedindo resgate - nesta semana, policiais que aderiram à operação targaruga, derrubada pela Justiça, anunciaram estratégias para boicotar o trabalho.
Soldador William Silva mostra corda usada para amarrar ladrão no DF (Foto: Lucas Salomão/G1)
Nesse intervalo, de acordo com Silva, um segundo homem apareceu, xingando o rapaz. "Ele ficou falando que ele era burro, que era incapaz até de furtar um carro. Logo vi que eram comparsas, mas não tive como segurar os dois. Se tentasse, eu ficaria sem nenhum", disse.
O soldador, que já teve o carro furtado três vezes, anunciou, então, que ele mesmo levaria o ladrão à delegacia. O rapaz tentou fugir e foi perseguido por Silva, que estava de carro. Três quadras depois, ele foi capturado quanto tentava subir no telhado de uma casa e amarrado com a corda que o trabalhador deixa no porta-malas para transportar geladeiras.
saiba mais
Na 19ª Delegacia de Polícia, o soldador ouviu que não seria possível
registrar ocorrência, já que não havia delegado. Ele foi orientado a
procurar a 15ª DP, também em Ceilândia. Os policiais que estavam de
plantão deram R$ 5 para contribuir com o combustível, já que Silva
estava transportando o suspeito no próprio carro.- No DF, ladrão rouba bicicleta de R$ 6 mil e deixa velha no lugar
- Ladrões furtam caminhão sem volante de prédio residencial no DF
- Políticos trocam xingamentos em debate sobre violência no DF
- 'Estou trabalhando para ficar', diz secretário de Segurança do DF
- Sem 'tartaruga', PMs do DF traçam estratégia para boicotar trabalho
- Sem 'tartaruga', PMs do DF dizem que vão 'abordar até gente do governo
- Se houver pedido, governo ajudará DF a combater violência, diz ministro
- 'Você descansa, a gente chora', diz a Agnelo prima de morto em roubo
Chegando em casa, após a prisão, o homem notou que havia esquecido a porta destrancada. Mas somente na manhã seguinte ele se deu conta de que o prejuízo havia sido maior: o tubo de 1 quilo de oxigênio, usado na solda de geladeiras, não estava mais lá. Coincidentemente, ele encontrou o segundo suspeito na porta de casa no mesmo dia e também o levou à delegacia. Lá, o homem foi liberado porque não havia flagrante e porque ele negava o crime.
Nesta quarta, Silva encontrou o suspeito novamente na rua e o perseguiu. Eles entraram em luta corporal, mas o soldador conseguiu amarrá-lo e também o levou à delegacia. O homem confessou o crime em depoimento, porém foi liberado antes mesmo de a vítima terminar de prestar depoimento porque não houve flagrante.
"Fiquei desolado", diz Silva. "Ele ainda saiu de lá me ameaçando de morte."
Procurada pelo G1, a Polícia Civil informou que os flagrantes em Ceilândia são sempre registrados na 15ª DP. A corporação informou ainda que a corregedoria vai apurar as suspeitas de transgressão disciplinar dos servidores que se recusaram a conduzir o primeiro ladrão à outra delegacia.