quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Expreso (Peru) – Brasil vigila la deforestación de la Amazonía con satélites

Expreso (Peru) – Brasil vigila la deforestación de la Amazonía con satélites


La vasta selva amazónica es difícil de penetrar, y por lo tanto de vigilar, pero desde el cielo puede observarse con satélites la tala de árboles y el avance de la frontera agrícola.

Eso es lo que hacen desde hace tres décadas los investigadores del Instituto Nacional de Investigaciones Espaciales de Brasil (INPE), situado en Sao José dos Campos , cerca de Sao Paulo, a miles de kilómetros de la foresta. "Es el único proyecto en el mundo que realiza una vigilancia en tal escala", dijo a la AFP el coordinador del programa, Claudio Almeida, durante una visita al lugar.

"Toda la Unión Europea y un poco más cabría en la Amazonía. Por lo que vigilar esto significa que debes manejar a la perfección la tecnología de detección remota", dijo.

Durante la dictadura militar (1964-1985), los gobernantes encargaron un estudio satelital, como parte de sus programas de afirmación de la presencia del Estado en tierras del interior.

Desde 1988, respondiendo a la preocupación creciente por el medio ambiente, hay un rastreo permanente de la deforestación.

Al principio, un grupo de 50 especialistas trabajaba sobre mapas gigantes impresos. Realizar un estudio exhaustivo de la deforestación en un año, llevaba dos.

En la actualidad, se obtienen imágenes diarias de baja resolución y se puede alertar a la policía ambiental al día siguiente de la detección de cada actividad sospechosa.

"Esto permite dinamizar y acelerar la vigilancia". El espionaje desde el cielo permite capturar rápidamente en ciertas ocasiones a los taladores ilegales, destaca Almeida.

Pero a veces los instrumentos de precisión solo sirven para medir con impotencia la dimensión de la destrucción.

La deforestación del Amazonas alcanzó un máximo de 10 años en 2017: fueron talados 7.900 kilómetros cuadrados, o un millón de campos de fútbol, según calculó el propio INPE.

"Esto es preocupante, porque estamos muy por encima del objetivo previsto para 2020. El gobierno se comprometió a reducir para ese año la deforestación a 3.500 kilómetros cuadrados", señala Almeida.

Para mejorar la vigilancia, el INPE trabaja para lanzar su propio satélite, desarrollado totalmente en el país, llamado Amazonia-1. En las entrañas del centro de estudios espaciales, los ingenieros se agrupan alrededor de dos satélites que toman forma: el Amazonia-1 está separado por una cubierta negra de un primo más voluminoso, el CBERS-4A, construido conjuntamente con China.

El CBERS-4A está en etapa de pruebas antes de su lanzamiento previsto para el próximo año.
Amazonia-1, que dispone de un presupuesto de 77 millones de dólares, debe ser puesto en órbita en 2020. Almeida destaca la "importancia para Brasil de dominar esta tecnología".

Pero saber de deforestación es una cosa. Detenerla es otra.

Financial Times (Reino Unido) – How to rescue the global climate change agenda / Editorial

Financial Times (Reino Unido) – How to rescue the global climate change agenda / Editorial


The depressing reality about climate change is that we could solve the problem, at manageable cost, but are failing to do so. This failure is due to a mixture of blindness and self-deception. The blindness comes from those, such as US president Donald Trump, who deny the reality of climate change. The self-deception comes from those who accept the reality, but only pretend to solve it. We must do better than this — and very soon. This is no longer a scientific or technological challenge, it is far more a political and social one.

The Emissions Gap Report 2018 from the UN lays out the past failure with brutal clarity. This year will most likely be the fourth warmest year on record since 1880, with the past five years the warmest ever recorded. Worse, in 2017 emissions increased once again, after three years of stagnation. We are still to turn this corner.

Furthermore, notes the report, the "nationally determined commitments" made in the context of the Paris agreement, in 2015, would be insufficient, even if implemented, to keep the increase in global average temperatures to below 1.5C above the pre-industrial level, as most experts think desirable. Instead, states the report, "current NDCs imply global warming of about 3C by 2100, with warming continuing afterwards". Moreover, the shift has to start now: if emissions do not turn down before 2030, it will be too late to stay below 2C.

The NDCs announced so far are inadequate. The climate talks that finished this month in Katowice, Poland, have not changed this in any way. That did not make the exercise worthless. Countries agreed to submit data on emissions to the UN every two years starting in 2024, along with new climate targets every five years. This will make progress (or the lack of it) more transparent. But it does not mean progress will be adequate, particularly now that the US established itself as an egregious free-rider. Yet, even without US backsliding, the commitments so far are inadequate to achieve the goals the world agreed to set for itself.

What makes this so depressing is that — as Adair Turner, chairman of the Energy Transitions Commission, recently argued — a zero-carbon economy is now both feasible and affordable. Indeed, he stresses, this "would be undoubtedly technically possible at a very small economic cost". The core of the transition would be a huge boost to the role of electricity, with a parallel shift to nuclear and, above all, renewable sources of electricity generation. Three other essential technologies will be: hydrogen power, from hydrogen produced by electrolysis; bioenergy, for aviation fuel and feedstocks for plastics; and carbon capture.

Overall, estimates this commission, the economic cost would be just 0.5 per cent of global output by 2060. Yet this transition, feasible and desirable though it is, will not happen on its own. It requires determined policy, to promote the right technologies, set the right incentives and create the right plans, notably for land use. All this will be politically difficult, not least because free-riders must be penalised: carbon-dumping will be unacceptable.

The tragedy is that while the scientists and technologists have won the argument, the climate sceptics and deniers have effectively won the policy debate: we are doing far too little, far too late. It is now essential to transform the discussion from fear of what the carbon-transition will cost to hope for the opportunities it will bring. What is needed now are people and organisations — above all, politicians — able and willing to persuade humanity that a promised land of sustainable prosperity for all is within our collective reach.

Vitória! A Total não vai explorar petróleo perto dos Corais da Amazônia


Vitória! A Total não vai explorar petróleo perto dos Corais da Amazônia

 7 de dezembro de 2018 |  42 Comments


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O Ibama negou a licença para a empresa francesa atuar na bacia da Foz do Rio Amazonas. A mobilização de mais de 2 milhões de pessoas faz parte desta vitória.

Os mais de 2 milhões de defensores e defensoras dos Corais da Amazônia podem comemorar porque fizeram história: A Total não vai explorar petróleo perto dos Corais, na costa norte do Brasil!

O Ibama finalmente negou a licença de operação para a empresa francesa com base em questões técnicas envolvendo o Estudo de Impacto Ambiental da petrolífera. Segundo a nota da agência ambiental publicada hoje, o Estudo de Impacto Ambiental tem “profundas incertezas relacionadas ao Plano de Emergência Individual (PEI) do empreendimento”. Essas incertezas são agravadas pela possibilidade de um vazamento de óleo afetar os Corais da Amazônia e a biodiversidade marinha da região.

Por enquanto, o nosso tesouro natural, único e revelado ao mundo há pouco tempo ficou são e salvo da ameaça do petróleo. A atuação dos defensores foi uma peça importante para isso porque juntos fizemos muita pressão e mostramos o quão especial e único é o recife.

Agora, é hora de celebrar e dizer: Petróleo perto dos Corais da Amazônia NÃO!

Nossa aventura pelos Corais da Amazônia começou em janeiro de 2017 a bordo do nosso navio Esperanza, revelando as primeiras imagens do recife debaixo d’água. Cumprimos nossa missão de torná-lo famoso para o mundo todo e de chamar atenção para a necessidade de sua proteção.
Desde o começo sabíamos que nossa batalha contra a Total não seria fácil. Sabíamos que precisávamos ser fortes e que precisávamos ser responsáveis com nosso trabalho. E conseguimos.

Reunimos mais de 2 milhões de pessoas em uma petição online que correu o mundo todo. Fomos fortes ao fazer várias atividades pressionando a Total a desistir de seu plano absurdo (simulamos derramamentos de petróleo e até invadimos uma reunião da Total, lembra?). Fomos diversos por ter como defensores dos Corais pessoas de mais de 21 países – entre eles estão lideranças indígenas, cantores e atores famosos, atletas e tantas outras pessoas que é difícil listar.

Fizemos ciência para descobrir mais sobre os Corais. Nossas duas expedições revelaram que esse sistema recifal é maior do que imaginávamos e encontramos possíveis novas espécies de peixes. Também encontramos rodolitos dentro de um dos blocos onde a Total queria explorar. Isso foi arrebatador!

Juntos nós criamos um movimento global de defesa aos Corais da Amazônia. E alcançamos o que parecia impossível. Isso prova o poder do ativismo e da mobilizaçãopara causas ambientais!
Vamos continuar defendendo os Corais da Amazônia de qualquer empresa que queira explorar petróleo ali perto. Fique orgulhoso e espalhe a notícia! Nós protegemos os Corais da Amazônia e você foi responsável por essa vitória!

SOBRE O(A) AUTOR(A)
Jornalista do Greenpeace Brasil em São Paulo. Embarcou nos navios da ONG para buscar os Corais da Amazônia e protestar contra petróleo. Não enjoou nenhuma vez e está pronta pra próxima aventura.


O Globo – Bolsonaro diz que vai iniciar projeto para dessalinizar água



Futuro ministro da Ciência e Tecnologia vai a Israel estudar o assunto


O presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou ontem que pretende começar um programa de dessalinização de água no Nordeste. A proposta, que deverá ser implementada em fase de testes em janeiro, consiste em retirar água salobra de poços, dessalinizá-la e fazer a distribuição para a agricultura familiar.

Para incrementar o projeto, o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, vai a Israel em janeiro —o país tem vasta experiência no processo. Lá, ele deverá visitar instalações de dessalinização, plantações e escritórios de empresas que atuam na área.

“Também estudamos junto ao embaixador de Israel e empresa especializada em testar tecnologia que produz água a partir da umidade do ar em escolas e hospitais da região. Poderemos, inclusive, negociar a instalação de fábrica no Nordeste para venda desses equipamentos no nosso mercado”, escreveu Bolsonaro no Twitter.

Além da tecnologia de dessalinização de água, outros projetos do futuro governo miram o Nordeste, como a continuação da transposição do Rio São Francisco e a retomada de obras paralisadas, caso da Ferrovia Transnordestina.

MISSA DE NATAL

Bolsonaro permanece na Ilha da Marambaia, área militar na Costa Verde, onde participou de uma missa de Natal na segunda-feira. Ontem, ele também esteve na cerimônia de condecoração de um militar. De acordo com a assessoria, Bolsonaro voltará ao Rio amanhã. Na sexta-feira, o presidente eleito deverá almoçar com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

O Globo – Exploração irregular de minério



Ibama identifica uma ação de garimpo ilegal em terras indígenas a cada semana

VINICIUS SASSINE

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ( Ibama) faz a cada semana, em média, uma apreensão ou destruição de equipamentos flagrados em garimpos ilegais em terras indígenas.

Um levantamento inédito do órgão, elaborado apedido do GLOBO, revela a dimensão do interesse na exploração ilegal de minérios nesses territórios.

Nos últimos três anos, os fiscais fizeram 175 apreensões de maquinários, balsas, tratores, retroescavadeiras e outros equipamentos em 12 terras indígenas, toda selas na Amazônia — quase metade dessas ações resultou em destruição do material.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, já manifestou a intenção de permitir a mineração em terras da União demarcadas para usufruto dos índios. Na semana passada, Bolso na rode fendeu que a exploração seja feita com “racionalidade” e que os royalties arrecadados beneficiassem populações indígenas.

O presidente quer permitir a exploração econômica irrestrita nessas terras, com liberação da mineração e de arrendamentos agropecuários — a Constituição determina que cada caso envolvendo a possibilidade de exploração de minério deve passar pelo crivo do Congresso.

Os mapas revelam que a exploração ilegal de minérios em terras indígenas é uma prática recorrente e de difícil identificação da autoria. Em 2016, 2017 e 2018, os fiscais lavraram 94 termos de apreensão e 81 termos de destruição, num total de175 autuações de garimpos ilegais flagrados em terras indígenas.

No mesmo período, foram lavrados 29 autos de infração —um a cada 37 dias, em média. Isto significa que a maior parte das operações resulta em localização de um garimpo ilegal e em apreensão ou destruição do equipamento usado, mas não na identificação do responsável pela atividade criminosa.

Os mapas do Ibama revelam uma predominância de flagrantes de garimpo ilegal nas terras dos Yanomami, em Roraima, e dos Kayapó, no Pará. Outras apreensões e destruições de equipamentos de garimpo ilegal foram feitas em terras indígenas no Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.

Os Yanomami já viveram uma corrida do ouro em suas terras. No fim da década de 80, cerca de 100 pistas clandestinas de garimpo foram abertas para a exploração ilegal, e o número de garimpeiros ilegais na área era estimado entre 30 mil e 40 mil. Parte dos garimpeiros permanece na região.

Em agosto deste ano, o Ibama e a Polícia Federal desativaram 27 escavadeiras hidráulicas ,11 balsas ,26 motores de bombeamento, três tratores e duas pistas clandestinas na terra indígena dos Kayapó. Dez acampamentos foram desmontados. No mês seguinte, o Ibama identificou oito supostos responsáveis por dois garimpos ilegais na terra indígena Sararé, em Mato Grosso, onde vivem os Nambikwára.

Na terra indígena Tenharim do Igarapé Preto, no Amazonas, quatro escavadeiras, uma retroescavadeira e duas bombas eram usadas para exploração ilegal da cassiterita — foram todas apreendidas. Equipamentos semelhantes foram encontrados n aterra Munduruku, no Pará. Neste caso, foram identificados supostos autores de garimpo ilegal de ouro e de desmatamento em unidade de conservação. As multas somaram R$ 49,4 milhões.

— Antes, quando chegávamos numa operação de atividade ilegal em terra indígena, só havia brancos. Agora, há bastante índio envolvido com essas atividades, operando máquinas. Os brancos estão aliciando cada vez mais, e há cada vez mais anuência de lideranças indígenas — afirma o coordenador-geral de Fiscalização Ambiental do Ibama, René Luiz de Oliveira.

FIM DAS DEMARCAÇÕES

Oliveira ressalta que o ouro é o mais cobiçado, mas há também exploração ilegal de diamante, cassiterita, columbita, tantalita e nióbio.

O governo Bolsonaro já sinalizou que vai mudar a política indígena no país. Primeiro, a Fundação Nacional do Índio (Funai) deixará o guarda-chuva  do Ministério da Justiça para se vincular ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado pela pastora Damares Alves.

Depois, a autarquia será esvaziada. A atribuição de analisar impactos de uma obra em terras indígenas deixará a Funai e ficará soba responsabilidade do líder ruralista Luiz Nabhan Garcia, futuro secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura.

Além disso, Bolsonaro não pretende fazer novas demarcações de terras indígenas, como declarou mais de uma vez após ser eleito.

O Estado de S. Paulo – O Brasil e o Acordo de Paris / Coluna / Michel Miraillet e Georg Witschel


MICHEL MIRAILLET E GEORG WITSCHEL

As mudanças climáticas, cuja origem antrópica é um consenso para toda a comunidade científica, é um dos maiores desafios globais enfrentados hoje pela comunidade internacional. 

Os eventos extremos que elas estão produzindo ao redor do mundo, como secas, ondas de calor, enchentes e furacões, estão afetando diretamente a vida das populações.

O Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas é o elemento central da resposta dos Estados a esse desafio. Além dos atores estatais, muitos outros estão se mobilizando em prol do acordo: o setor financeiro, pelo impacto dos riscos climáticos para o valor dos seus ativos; as cidades, que já afrontam as consequências dos alagamentos; e o setor agropecuário, exposto principalmente ao impacto das secas. No Brasil, as perdas econômicas atribuídas a eventos climáticos extremos já teriam ultrapassado R$ 6 bilhões por ano.

O Brasil, “gigante pela própria natureza”, sempre foi um grande protagonista no âmbito das negociações internacionais, desde a Cúpula da Terra, mais comumente chamada Rio 92, até a adoção, em 2015, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas por 195 países. Este último constitui um acordo histórico, justo e equilibrado, que demonstrou a eficácia do multilateralismo em desenhar uma resposta inédita para enfrentar esse desafio comum.

O Acordo de Paris busca limitar o aquecimento global a 2°C em relação ao período pré-industrial, e alcançar a meta de 1,5°C, limitando a quantidade de gases de efeito estufa emitida na atmosfera. Cada país estabeleceu voluntariamente suas próprias metas nas chamadas “contribuições nacionalmente determinadas”, as quais são baseadas nas suas respectivas capacidades e poderão ser revisadas de cinco em cinco anos.

O acordo não fere a soberania dos países e não impõe obrigações quanto às contribuições nem sanções. Cada país decide as medidas que deverão ser tomadas nos setores da energia, indústria, agropecuária e florestas para que sua meta seja alcançada. Cabe ressaltar que a iniciativa relativa à implementação de um corredor ecológico, conhecida pelo nome Triplo A, não faz e nunca fez parte do Acordo de Paris: não há no texto do acordo nenhuma referência explícita ou implícita a essa iniciativa e não está sendo defendida por nenhum país.

Após a aprovação dos ODS e do Acordo de Paris, muitos atores brasileiros lançaram programas e ações para concretizá-los. Cidades, Estados, bancos de desenvolvimento, bancos privados e grandes empresas são hoje atores da sua implementação. O respeito do acordo faz parte hoje da cartilha das instituições financeiras internacionais. As agências europeias de desenvolvimento acompanharam esse movimento e aumentaram sua participação no financiamento dessa transição energética.

Assim, esse cenário traz novas oportunidades que permitem aos países desenvolver estratégias rumo a uma economia de baixo carbono, especialmente no setor das energias novas e renováveis, com a criação de empregos de qualidade e geração de renda para as populações, no âmbito de um desenvolvimento econômico e social sustentável.

Hoje, a dinâmica nascida do Acordo de Paris já está sendo aplicada. Ela é irreversível, como foi confirmado pela imensa maioria dos chefes de Estado do G-20 em Buenos Aires e durante a COP-24 em Katowice.

Por não haver “plano B”, nós devemos enfrentar juntos este desafio, respeitando os interesses econômicos e as decisões soberanas de cada nação. Ficar à margem do caminho é uma opção de curto prazo. Esperamos poder continuar contando com o protagonismo ativo e construtivo do Brasil no âmbito do Acordo de Paris.

SÃO, RESPECTIVAMENTE, DIPLOMATA DE CARREIRA, EMBAIXADOR DA FRANÇA NO BRASIL; E DIPLOMATA DE CARREIRA, EMBAIXADOR DA ALEMANHA NO BRASIL

Valor Econômico – É hora de chamar os engenheiros! / Artigo / Jeffrey D. Sachs


A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CoP-24) realizada neste mês em Katowice, na Polônia, conseguiu elaborar um guia de regras para implementar o Acordo de Paris de 2015 sobre o clima. Todos os países da ONU o assinaram, mas isso não vai ser suficiente para evitar uma catástrofe climática. É hora de pedir ajuda aos engenheiros.

O sucesso diplomático da CoP-24 foi notável, em vista das incansáveis pressões e procrastinações das empresas de combustíveis fósseis. Os diplomatas entenderam a base científica e sabem da realidade: sem uma rápida transição a um sistema de energia mundial de zero emissões de carbono até meados deste século, a humanidade vai correr sério perigo. Nos últimos anos, milhões de pessoas sofreram as agruras de ondas de calor extremo, secas, inundações, furacões potentíssimos e incêndios florestais devastadores, em razão de a temperatura da Terra já estar 1,1° C acima da média pré-industrial. Se, ainda neste século, o aumento da temperatura média chegar a 1,5° C ou 2° C - temperaturas nunca vistas em todos os 10 mil anos de história da civilização humana - o mundo vai ficar tremendamente mais perigoso.

Pelo Acordo de Paris, os governos nacionais comprometeram-se a manter a temperatura média "bem menos que 2 °C acima dos níveis pré-industriais e esforçar-se para limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais". Agora, temos um guia de regras para mensurar as emissões de gases causadores do efeito estufa, compartilhar conhecimentos e medir as transferências financeiras dos países ricos para os pobres. Carecemos, entretanto, de planos para direcionar o sistema de energia mundial rumo a um futuro dominado pelas fontes de energia renováveis ainda em meados deste século.

Os diplomatas, naturalmente, não são especialistas técnicos. A próxima fase precisa de engenheiros de todo o mundo especialistas em geração e transmissão de energia, em veículos elétricos, células de combustível de hidrogênio, inteligência artificial para gerenciar sistemas de energia, projetos urbanos de eficiência energética e em transporte público, além dos demais técnicos relacionados. Foram os diplomatas, não os engenheiros, os que estiveram na dianteira dos encontros de cúpula da ONU nos últimos 24 anos. Chegou a hora de os engenheiros ocuparem o centro do palco.

O Acordo de Paris presume que cada governo faça consultas com os engenheiros de seu próprio país para elaborar estratégias de energia nacional, de forma que basicamente cada um dos 193 países da ONU vai criar um plano separado. Tal abordagem é reflexo de um profundo desconhecimento de como a transição energética mundial precisa funcionar. Precisamos de soluções que sejam negociadas e coordenadas em escala internacional, não país a país.

O Acordo de Paris presume que cada governo elabore estratégias de energia nacional. Precisamos de soluções que sejam coordenadas em escala internacional, não país a país. Sistemas de engenharia globais precisam de coordenação global

Sistemas de engenharia globais precisam de coordenação global. A aviação civil, por exemplo, é um triunfo da engenharia coordenada internacionalmente. O sistema de aviação civil funciona tão bem porque todos os países usam aeronaves produzidas por poucas empresas internacionais e compartilham procedimentos operacionais padronizados de navegação, de controle de tráfego aéreo, de segurança em aeroportos e aviões, de manutenção e de seguro, entre outros. Outros sistemas globais são coordenados de forma similar. A média diária de transferências bancárias de dinheiro em dólar chega a estarrecedores US$ 2,7 trilhões e, ainda assim, elas são compensadas rotineiramente por meio do uso de protocolos de comunicações e de operações bancárias padronizadas. Bilhões de chamadas de telefones celulares e de atividades na internet todo dia são possíveis graças a protocolos compartilhados. Tanto o tamanho quanto a confiabilidade desses sistemas de alta tecnologia conectados internacionalmente são assombrosos e dependem de soluções adotadas em todo o mundo, não país a país.

Recentemente, fiz parte de uma comissão formada por três economistas e um experiente engenheiro do setor privado. Depois de os economistas terem falado, o engenheiro falou de forma sucinta e efetiva. "Não entendo realmente do que vocês economistas acabaram de falar, mas tenho uma sugestão", disse. "Digam a nós, engenheiros, as especificações que desejam e o prazo, que nós fazemos." E não se trata de bravata.

Aqui estão as especificações. Para limitar o aumento do aquecimento médio a 1,5 °C, o sistema de energia mundial precisa estancar as emissões de carbono até meados do século. Isso vai exigir a mobilização das fontes de energia de carbono zero, como a eólica, a solar e a hidrelétrica, o que implica ter um sistema de energia capaz de lidar com fontes intermitentes, dependentes do brilho do sol, da força dos ventos e do fluxo dos rios.

As energias renováveis mais abundantes e de menor custo frequentemente são encontradas longe dos centros populacionais. Essa energia, portanto, vai precisar ser transmitida por longas distâncias, muitas vezes cruzando fronteiras nacionais, com o uso de linhas de transmissão especiais de alta voltagem. As vantagens de um sistema de transmissão de longa distância conectado internacionalmente vêm sendo ressaltadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento da Interconexão Mundial da Energia (Geidco, na sigla em inglês), uma aliança internacional de instituições e empresas de engenharia criada pela State Grid Corporation, da China, em 2016.

Em qualquer plano sensato mundial de emissões zero de carbono, vários dos atuais países e empresas exportadoras de combustíveis fósseis se tornariam os exportadores de energias renováveis do amanhã. Os produtores de petróleo do Golfo Pérsico deveriam exportar energia solar do vasto Deserto da Arábia, tanto para a Europa quanto para Ásia. A Austrália, exportadora de carvão, deveria exportar energia solar do enorme sertão australiano para o Sudeste Asiático via cabos submarinos. O Canadá deveria aumentar suas exportações de energia hidrelétrica de carbono zero para o mercado dos EUA e pôr fim a seus esforços para exportar produtos derivados de suas areias betuminosas de alto teor de carbono.

Na conferência de Katowice sobre o clima, os diplomatas apresentaram o guia de regras climáticas no prazo, como prometido. A próxima grande empreitada cabe aos engenheiros. Quando os chefes de Estado voltem a se reunir na ONU em setembro, os principais engenheiros do mundo deveriam recebê-los com um arcabouço tecnológico avançado traçando as ações e medidas a ser tomadas mundialmente. (Tradução de Sabino Ahumada)

Folha de S. Paulo – Por que Japão quer voltar a caçar baleias apesar de proibição internacional



País planeja deixar a Comissão Baleeira Internacional e retomar a caça comercial do mamífero

25.dez.2018 às 10h09
BBC

O Japão planeja deixar a Comissão Baleeira Internacional (IWC, na sigla em inglês) e retomar a caça comercial do mamífero, segundo notícias publicadas pela imprensa japonesa.

O governo japonês já teria informado seus parlamentares a respeito da decisão, noticiou a NHK, a maior emissora do país. Não houve confirmação oficial sobre a medida, que está sendo criticada por grupos de ambientalistas.

A caça comercial de baleias foi banida pela IWC em 1986, depois que algumas espécies foram quase extintas.

Por muitos anos, o Japão capturou baleias supostamente com fins científicos —ainda que a carne dos animais mortos sob essa prerrogativa acabasse sendo usada comercialmente—, algo que era amplamente criticado por conservacionistas.

Especula-se que o governo japonês vá argumentar que houve recuperação nos níveis populacionais de certas espécies de baleias como uma justificativa para a retomada da caça.

Autoridades do país dizem que comer baleias é parte da cultura local. Algumas comunidades na costa do Japão caçaram-nas por séculos, mas o consumo só cresceu no país após a Segunda Guerra Mundial, quando os animais eram a principal fonte de carne.

Nas últimas décadas, a procura despencou.

O que se sabe sobre a medida?

Apesar de a mídia japonesa estar noticiando que a decisão já foi tomada, não houve anúncio oficial.

Hideki Moronuki, da Agência de Pesca do Japão, falou à BBC que o Japão estava considerando algumas opções, mas que ainda "não havia chegado a uma decisão".

Citando uma fonte governamental não identificada, a agência de notícias Kyodo informou que um anúncio formal deve ser realizado nesta semana.

Em setembro, o governo japonês tentou convencer a IWC a permitir a caça comercial de baleias estabelecendo cotas para a captura do animal, mas a proposta foi rejeitada.

Como funciona a proibição à caça comercial de baleias?

Em 1986, os membros da IWC concordaram em estabelecer uma moratória à caça para permitir que o estoque de baleias se recuperasse.

Países que exploram a atividade esperavam que a proibição fosse temporária, até que se chegasse a um consenso sobre o número de baleias que poderia ser capturado para caça.

Em vez disso, o banimento foi praticamente permanente. Nações como Japão, Noruega e Islândia argumentam que a caça a baleias é parte de cultura local e, por isso, deveria ser mantida de forma sustentável.

Hoje, o estoque de animais é cuidadosamente monitorado. Enquanto algumas espécies continuam em perigo, outras não são mais consideradas nessa situação —como a baleia-de-minke, a principal espécie caçada no Japão.

O Japão pode sair do IWC?

Se o Japão quiser sair da organização, deve enviar-lhe uma notificação até o final do ano. Então, poderia se retirar formalmente em 30 de junho de 2019.

Mas, mesmo assim, o país estaria obrigado a cumprir determinadas leis internacionais. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar obriga países a cooperarem para a conservação das baleias "por meio de organizações internacionais apropriadas para a conservação, gestão e estudo".

O texto, no entanto, não diz que organizações seriam essas.

O Japão poderia até tentar criar um outro organismo internacional, se conseguisse apoio de um número suficiente de países, ou se juntar a um grupo já existente, como a Comissão de Mamíferos Marinhos do Norte do Atlântico (Nammco), nascida a partir da frustração de alguns membros com a IWC, que reúne a Noruega, Islândia, Groelândia e Ilhas Faroé.

O Japão hoje caça baleias?

Sim, o país tem capturado baleias nos últimos 30 anos como parte de seu programa científico, autorizado pela IWC como uma exceção ao banimento.

Como os animais abatidos com fins científicos podem ter a carne posteriormente vendida, críticos afirmam que a prática é uma espécie de fachada para o que, na realidade, se configura como exploração comercial da caça ao mamífero.

O Japão captura algo entre 200 e 1,2 mil baleias por ano sob a justificativa de que, com isso, está investigando os níveis populacionais dos animais, para verificar se estão ameaçados ou não.

Por que a IWC não aceita os pedidos de flexibilização da regra?

O Japão tem reiteradamente tentado reverter a moratória à caça e costurar um novo acordo que estabeleça cotas para uma caça sustentável.

A última tentativa foi em setembro, em uma reunião realizada em Florianópolis, no Brasil.

O país propôs um pacote de medidas, que incluía a criação de um Comitê para a Caça Sustentável de Baleias e a fixação de cotas sustentáveis de captura para "espécies/níveis abundantes".

A proposta foi rejeitada em votação. Desde então, tem se falado sobre a possível saída do país da organização para que ele pudesse teoricamente deixar de se submeter às suas regras.