Macaco-prego-de-cara-branca
é visto na reserva privada Club Punta Leona, onde ocorreu o XI
Congresso Latinoamericano de Redes de Reservas Privadas.
Este primata é
um dos mais esbeltos e ágeis das florestas da Costa Rica e está
espalhado
tanto por áreas úmidas e secas na costa do Pacífico e do
Caribe. A espécie está ameaçada
em razão do desmatamento e a caça. Foto:
Fabíola Ortiz
.
Punta Leona e San José, Costa Rica –
Em menos de três décadas, um pequeno país espremido entre o Panamá e a
Nicarágua conseguiu viver uma drástica mudança de mentalidade e política
ambiental. Em 1987, a Costa Rica chegou a ter apenas 21% do seu
território com cobertura florestal protegida. Hoje, após um intenso
esforço de recuperação florestal, esse número subiu para 53% do território do país.
Encravada na América Central e com uma população de 4,9 milhões de habitantes, tem quase o tamanho do Rio Grande do Norte. Outra característica sui generis é ter abdicado de ter um exército em 1948, durante o governo de José Figueres Ferrer. As bases militares passaram a ser usadas por escolas.
A Costa Rica moderna se destaca por
suas leis de conservação e mecanismos de pagamento por serviços
ambientais, em vigor desde a década de 90. Ela exalta seu modelo de desenvolvimento verde e aspira alcançar uma meta ambiciosa: tornar-se o primeiro paísneutro em emissões de carbono até 2021, ano em que celebra seu bicentenário.
Grande parte da conservação é oriunda das66 áreas silvestres protegidas públicas -- entre Parques Nacionais, Refúgios de Vida Silvestre e Reservas Biológicas. Oúltimo inventário florestal, realizado em 2012 pelo Sistema Nacional de Áreas de Conservação (SINAC), mostrou que 31% da preservação do país é de “bosques maduros”, quase 15% é de cobertura secundária, cerca de 5% de floresta decídua (temperada) e quase 1% está coberto tanto por palmeiras quanto por mangues.
Um ‘family country’ Enquanto os parques nacionais
representam 25% da porção territorial do país que está protegida, as
reservas privadas já alcançam 10%. Esta é uma tendência que tem crescido
no país, afirmou Rafael Gallo, presidente daRede Costarricense de Reservas Naturales, a primeira criada na América Latina em 1997.
Na última semana, ((o))eco foi convidado para o XI Congresso Latinoamericano
de Redes de Reservas Privadas, de 9 a 13 de novembro, na reserva Club
Punta Leona, a 90 km da capital San José, no Pacífico Central da Costa
Rica.
A conferência reuniu empresários,
amantes da conservações, ONGs e representantes do setor público para
discutir estratégias e planos a fim de incrementar a participação de
áreas privadas no esforço da conservação.
“Gostaríamos de ser levados mais em
conta pelo governo. As áreas públicas e as privadas não se falam muito,
mesmo que muitas das reservas privadas estejam coladas aos parques
nacionais”, disse Gallo. Para ele, proprietários de reservas naturais
devem ter maior protagonismo ambiental.
A Red Costarricense de Reservas Naturales conta com 220 propriedades associadas. Juntas, elas somam 82 mil hectares, das quais 60% se dedicam exclusivamente à conservação. Muitas reservas têm modelos econômicos que podem ser desde
instituições de ensino e pesquisa, como refúgios ecológicos, plantações
orgânicas de café ou frutas tropicais. A grande maioria, contudo, está
dedicada ao ecoturismo, como hotéis, canopy ou arvorismo -- muito em
voga entre os turistas americanos e europeus.
“A rede cresceu bastante quando se deu o boom do ecoturismo
nas áreas preservadas. Começamos a pensar a longo prazo. A chave é
educar e convencer a população de que é bom preservar as florestas. Há
muitos modelos de conservação que aqui só puderam funcionar depois da
década de 80, pois pararam as guerras ou conflitos na região [em países
vizinhos como Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador]. Somos um
país pequeno, uma espécie de ‘family country’ (país familiar)”, explicou
Gallo.
Rafael
Gallo, presidente da Red Costarricense de Reservas Naturales. Por
iniciativa própria, doou 200 hectares de sua reserva natural em um
programa piloto para capturar carbono.
Foto: Fabíola Ortiz.
Venda de carbono Gallo estima que em todo o país deve
haver cerca de 800 propriedades privadas. Para tornar-se membro da rede
costa-riquenha, é preciso comprovar 2 hectares de áreas preservadas. Seu
sonho é incluir a rede costa-riquenha e, depois, toda a Aliança
Latinoamericana de Reservas Privadas – formalizada legalmente no último
dia 6 de novembro – no mercado de venda de carbono.
Nos últimos 30 anos, o governo da
Costa Rica compensa os proprietários de áreas verdes e plantações
florestais através do programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
Este programa é realizado pelo Fundo Nacional de Financiamento Florestal (FONAFIFO),
de acordo com a Lei Forestal No. 7575, que reconhece e recompensa
financeiramente o papel de áreas privadas para a mitigação de emissão de
gases de efeito estufa, proteção da água, biodiversidade e uso
sustentável. A principal fonte financeira do programa é o imposto
cobrado pelo consumo de combustíveis, que arrecada 32 milhões de
dólares por ano, dos quais 3,5% (cerca de 1,1 milhão de dólares) são
destinados ao PSA.
“Queremos ser mais autônomos.
Queremos incluir a nossa rede no mercado de carbono", diz Gallo. Por
iniciativa própria, ele doou 200 hectares de sua reserva natural --
capaz de capturar algo cerca de 3.600 toneladas de carbono. A sua doação
é parte de um programa piloto da aliança das reservas privadas da
América Latina – que conta com 4.345 integrantes de 15 países
contabilizando 5,6 milhões de hectares de áreas verdes. “Sabemos que o
que vamos doar para comercializar no mercado de carbono ainda é pouco,
mas já é um começo. Temos muitos sonhos e uma paixão por conservar a
natureza. Queremos que a venda de carbono seja um mecanismo de
conservação privada a nível mundial”.
Política de desenvolvimento Ainda há um hiato entre a conservação
privada e a pública. Na opinião do vice-presidente de políticas de
conservação da Conservation International, Carlos Rodríguez, os
proprietários de áreas privadas devem ser atores políticos para a
conservação em seus países.
Rodríguez já foi diretor do serviço
de parques nacionais da Costa Rica e também esteve a frente do
Ministério do Ambiente, Energia e Minas entre 2002 e 2006. Ele
estabelece uma estreita relação entre o aumento da cobertura florestal
do país, entre 1986 e 2012, e a redução da pobreza com a elevação da
renda da população.
A renda média do costa-riquenho subiu
de 3.500 dólares para 9.200 dólares neste período, concomitante ao
aumento da cobertura florestal protegida, que passou de 21% a 53% do
território. A conservação privada pode ir mais longe, diz Rodríguez. “As
áreas privadas no país ajudaram no aumento da cobertura vegetal. A
conservação deve ser um elemento central na política de desenvolvimento
de um país”.
Virada verde Não foi de um dia para o outro que os
costarriquenhos mudaram de mentalidade. O país teve que atingir o auge
da sua devastação ambiental para dar-se conta que este não seria o
caminho mais promissor. Nos momentos mais obscuros da história do
desmatamento no país, as taxas alcançavam 600 km² por ano. Pode parecer
pouco, mas para a escala da Costa Rica, que tem um território 51.100
km², isto representa 1,1% do país devastado por ano.
Entrada
do Centro de Pesquisa Biológica Hacienda Barú, localizado na província
de
Puntarenas, na costa do Pacífico. A reserva tem 180 hectares
preservadas e foi criada
por dois americanos apaixonados por
conservação.
O biólogo Jack Erwin e Stephen Stroud.
O centro oferece
instalações para abrigar cientistas dedicados a pesquisar sobre o
Corredor Biológico do Paso de la Danta, que vai da bacia hidrográfica do
Rio Savegre
até o Rio Térraba-Sierpe. Foto: Fabíola Ortiz.
“As taxas de desmatamento eram muito altas. Sem os parques nacionais, não teria sobrado nada”, disse a ((o))eco Carlos Sandí, responsável pela reserva florestal acadêmica da universidade internacional de agronomiaEarth, com sede na província de Limón, vertente atlântica do país.
O avanço sobre as áreas verdes foi
resultado de uma política de liberação de crédito para proprietários
rurais sob condição de que “limpassem” suas florestas. “Era um conceito
muito primitivo numa época em que a pecuária estava em alta. Esta
política suja teve seu auge nos anos 70”.
A mudança se deu a partir do momento
em que se começou a valorizar as florestas e ver a importância das áreas
verdes para proteger a água e promover o turismo no país, afirmou Mario
Boza, professor de parques nacionais do Instituto Internacional em
Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Nacional (UNA).
“A floresta antes não tinha nenhum valor”.
Por muito tempo, pensou-se que o
esforço para conservar deveria partir apenas dos entes estatais. Mas os
gastos para desapropriar e pagar indenizações acabou criando mais
inimigos do que aliados da conservação.
E foi assim que, em 1995,
proprietários propuseram que o governo reconhecesse as reservas naturais
privadas e voluntárias. Os donos de terras submeteriam parte de seus
terrenos para a conservação. E o governo passou a incentivar esta medida
com o programa de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), tanto para
atividades que reflorestassem quanto para as que protegessem mananciais
de água.
É aí que as áreas privadas
protagonizam um papel relevante, destaca Sandí, “no que chamamos de
conectividade ou corredores biológicos que ligam as Áreas de Conservação
(as ACs, um aglomerado de áreas protegidas de gestão pública e
distribuído por ecossistemas)”.
As áreas privadas veem para preencher
o vazio entre as onze ACs existentes no país para que não fiquem
fragmentadas. “Os animais têm que circular, locomover-se, muitas
espécies de vegetação são de polinização cruzada”.
Ecoturismo A conservação também foi usada como
uma carta na manga para gerar divisas com o turismo ecológico. A Costa
Rica aproveitou-se da proximidade com os Estados Unidos e da chegada de
investimentos estrangeiros para a construção de hotéis e agências
turísticas com uma perspectiva sustentável.
Além de ter sido vice-ministro de
Ambiente e Energia (1990-1993), o renomado ambientalista Mario Boza foi
um dos fundadores dos parques nacionais da Costa Rica. Ele defende ser
preciso estimular a criação de mais áreas privadas. Elas podem crescer
dez vezes e atingir 800 mil hectares -- 15% do território da Costa Rica.
“Elas
contribuem do ponto de vista ecológico, pois um parque nacional pode
estar rodeado de áreas privadas ou de outros usos da terra compatíveis
com a conservação e, assim, ampliar seu habitat natural. Quanto maior a
área, melhor para a conservação, pois as espécies grandes não podem
viver em áreas pequenas”, explicou Boza. Entre os animais que precisam
de áreas maiores para sobreviver estão a onça-pintada, o gato-maracajá
(ou caucel em espanhol), o Macaco-prego-de-cara-branca ou Macaco-capuchinho (mono cariblanco em espanhol) e o tamanduá-bandeira (oso real).
Críticas à gestão dos parques Por haver testemunhado e participado
do processo de transformação radical que viveu o país rumo a uma
economia mais verde, Boza é um dos críticos da atual gestão de áreas
públicas. Afirma que o país perdeu “entusiasmo” pela conservação ao
reclamar das condições precárias que vivem os parques nacionais. “Já
fomos líderes em conservação, mas
agora não tanto”, lamentou ao enfatizar que os parques nacionais passam
por uma crise por estarem “totalmente descuidados”.
Mario
Boza, ambientalista e um dos criadores do sistema de parques nacionais
da Costa Rica.
Hoje leciona no Instituto Internacional em Conservação e
Manejo da Vida Silvestre da
Universidade Nacional (UNA) e é um dos
grandes críticos à atual gestão pública de áreas
protegidas. Foto:
Fabíola Ortiz.
Segundo seu relato, os visitantes
testemunham instalações mal conservadas, falta de trilhas demarcadas,
falta de informações e interpretação explicando o quê o visitante irá
encontrar no atrativo. Além da diminuição do número de guarda-parques –
em média, existe um guarda-parque para cada 4 ou 5 mil hectares.
A Costa Rica tem duas caras, critica.
“Há problemas de incêndios, caça ilegal, roubo de madeira e retirada de
ouro. A política é a de reduzir o tamanho do Estado. Estão despedindo
os guarda-parques e as áreas ficam abandonadas. Existe um turismo que
quer ser sustentável com essas instalações que dão vergonha”.
Boza também reclama da perda de
biodiversidade. “Eu comecei o programa de parques nacionais há 45 anos,
posso comparar melhor que ninguém como era a biodiversidade que havia
antes e como é agora”.
Segundo Boza, o problema nas áreas
públicas é administrativo. Ele questiona também o funcionamento do
SINAC (Sistema Nacional de Áreas de Conservação), criado no final dos
anos 90, quando se uniram o serviço de parques nacionais, de fauna
silvestre e a direção florestal.
“Se funcionasse, seria
importantíssimo, mas não funciona pela burocracia. Há 160 empregados em
um escritório central fazendo não se sabe o quê. Enquanto isso, nas
áreas protegidas, não há guarda-parques”.
O que falta, diz, é interesse dos
governos e não dinheiro. Sozinhos, os parques nacionais geram seus
próprios recursos, entre 9 e 11 milhões de dólares por ano, com
potencial para 20 milhões.
Em 2012, Boza se aliou a um grupo de
ambientalistas e apresentou um projeto de lei na Assembleia Legislativa
para recriar o serviço de parques nacionais sob o argumento de que a
administração será mais eficiente.
Fonte de inspiração O carioca Beto Mesquita, da Conservação Internacional, que trabalha com reservas
particulares de patrimônio natural (RPPNs) desde 1995, sentiu in loco
as mudanças na Costa Rica, quando cursou o mestrado doCATIE (Centro Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza), sediado no país.
Apesar das críticas que todo modelo de desenvolvimento gera, a Costa Rica tem interessantes
exemplos de gestão para a conservação, disse Mesquita. “Nos dois anos
que morei aqui (1998-99), me pareceu muito claro a noção que a população
tem sobre a conservação”.
Para Mesquita, o país é referência na
agenda ambiental e na estratégia de pagamento por serviços ambientais.
“Não é perfeito, tem pontos frágeis, mas funciona e é inovador. Começou a
funcionar na década de 90 quando ninguém fazia, eles têm experiência
acumulada”.
O que este pequeno país de menos de 5
milhões de habitantes empreendeu não necessariamente pode ser
implementado num país da escala do Brasil. Mas, para Mesquita,
funcionaria bem a nível estadual e municipal.
Mesquita não hesita ao destacar que
temos muito a aprender com a legislação inovadora pró-conservação.
“Alguns dos modelos podem ser aplicáveis no Brasil, como as leis de
fomento à proteção ambiental, os incentivos financiados por impostos e a
forma de gestão dos recursos”. Ele destaca o Fundo Nacional de Financiamento Florestal e o imposto cobrado pelo consumo de combustíveis para destinar recursos ao programa de pagamento por serviços ambientais.
Vilarejo de Bento Rodrigues, em Mariana, foi destruído pela barragem.
Antonio Cruz/Agência Brasil.
A Lei n. 8.036, de 11 de maio de 1990, que dispõe sobre o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, estabelece em seu art. 20, inc. XIV que a
conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada em caso de
necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural,
conforme disposto em regulamento, desde que o trabalhador seja
residente em áreas comprovadamente atingidas de Município ou do Distrito
Federal em situação de emergência ou em estado de calamidade pública,
formalmente reconhecidos pelo Governo Federal. O dispositivo foi
introduzido em nosso ordenamento legal pela Lei n. 10.878, de 8 de junho
de 2004.
O Dicionário Houaiss apresenta quinze acepções do adjetivo “natural”.
Merecem destaque as quatro primeiras, que são as que dizem respeito
mais de perto à questão ecológica: (1) Que pertence ou se refere à
natureza (ex: riquezas naturais, paisagem natural); (2) Regido pelas leis da natureza; provocado pela natureza (fenômenos naturais, catástrofes naturais); (3) Em que não ocorre trabalho nem intervenção humana (fronteiras naturais, açude natural); e (4) Que decorre normalmente da ordem regular das coisas.
Richard A. Posner, em sua obra “Catastrophe: Risk and Response”, subdivide as catástrofes em naturais e aquelas geradas pelo homem
(man-made catastrophes) – e estas, em três subgrupos: acidentes
científicos, outras catástrofes não intencionais geradas pelo homem e
catástrofes intencionais. São catástrofes naturais as pandemias, as
quedas de asteróides (aliás, a origem etimológica da palavra desastre é a
mesma de astro), as erupções vulcânicas, os terremotos etc.
O inciso XIV do art. 20 da Lei 8.036/90 foi regulamentado pelo
Decreto n. 5.223, de 22 de junho de 2004 que, em seu art. 2º considera
desastre natural:
I - vendavais ou tempestades;
II - vendavais muito
intensos ou ciclones extratropicais;
III - vendavais extremamente
intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais;
IV - tornados e
trombas d’água;
V - precipitações de granizos;
VI - enchentes ou
inundações graduais;
VII - enxurradas ou inundações bruscas;
VIII -
alagamentos;
e IX - inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão
do mar.
Todas as hipóteses previstas no referido Decreto de 2004 são, inequivocamente, desastres naturais, isto é, são desastres provocados pela natureza, não ocorreram por trabalho ou intervenção humana.
Espantosamente, no dia 13 de novembro de 2015 foi publicado o Decreto
n. 8.572, de 13 de novembro de 2015, que altera o mencionado Decreto n.
5.113/2004, introduzindo um parágrafo único ao seu art. 2º com o
seguinte teor:
“Para fins do disposto no inciso XVI do caput do art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, considera-se
também como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de
barragens que ocasione movimento de massa, com danos a unidades
residenciais.”
Como assim? O rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração
está sendo chamado de “desastre natural”, à semelhança de um vendaval,
uma queda de asteroide ou um terremoto? Exatamente isso: o primeiro
gesto da Sra. Presidenta da República, em face da catástrofe no distrito
de Bento Rodrigues causada exclusivamente pela empresa Samarco, foi de
declará-lo oficialmente um “desastre natural”.
Só que não, como diria a garotada.
Barragens não são formações provocadas pela ação de
placas tectônicas ao longo de eras geológicas e seu rompimento, neste
caso, não se deu por algum terremoto.
A responsabilidade da empresa é objetiva. Trata-se de entendimento pacificado pelo STF:
“ROMPIMENTO DE BARRAGEM. INUNDAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS
MORAIS E MATERIAIS COMPROVADOS. INDENIZAÇÃO DEVIDA. Comprovado o
ilícito, o dano e o nexo causal entre um e outro, decorrentes de
rompimento de barragem e inundação e destruição de casas e pertences,
aliados à responsabilidade objetiva da Mineradora, impõe-se a
procedência do pedido indenizatório por danos morais e materiais.” (STF -
ARE: 671674 MG , Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, J. em 31/05/2012,
Publ. em 05/06/2012).
Co-responsabilidade do Poder Público
Mas a operadora não é a única responsável. Sua licença estava vencida
há dois anos. E, ao que consta, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, confortavelmente amparada
pela Deliberação Normativa 193/2014, do Conselho de Política Ambiental,
preferiu sentar-se sobre o processo de revalidação da Licença de
Operação, feito em 2013, já que seu art. 1º estabelece que, enquanto a
Unidade Regional Colegiada do Copam não decidir, o prazo fica
automaticamente prorrogado.
Uma comodidade administrativa que contribuiu
decisivamente para a morte de diversos moradores e, possivelmente, de
toda a fauna do Rio Doce.
O decreto da Sra. Presidenta Dilma, porém, não irá melhorar a
situação jurídica da Samarco, do Estado de Minas Gerais ou da União
(DNPM, IBAMA).
Em seu artigo “Apenas uma fotografia”, a professora de Direito Ambiental Márcia Brandão Carneiro Leão (Mackenzie – Campinas/SP) pondera:
“O Governo Federal emitiu uma fria e distante nota na qual lamenta o
acidente e trata de liberar o FGTS da população afetada para que ela
trate de ‘se socorrer’ com suas próprias reservas para o
futuro. Generosidade? Não, apenas transferiram à população o ônus de
pagar, com seus próprios recursos, os prejuízos causados pela Samarco. O
que acontecerá a essas pessoas quando se aposentarem e não tiverem mais
o Fundo de Garantia é algo que sequer foi pensado”.
A estas pertinentes observações caberia acrescentar: a não ser que
seja totalmente subvertido o significado da palavra “natural”, o decreto
é ilegal, pois colide diretamente com a lei que pretendeu regulamentar.
A liberação do FGTS poderia, sim, ocorrer, desde que o Congresso
Nacional aprovasse a inserção de um novo inciso ao art. 20 da Lei n.
8.036/90. Eu sugeriria a seguinte redação:
“Art. 20. A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nas seguintes situações:
XIX –quando o trabalhador perder o seu
patrimônio, sua dignidade, seus familiares, sua comunidade e sua
história em razão da irresponsabilidade organizada do poder econômico e
dos governos na área ambiental”.
*Guilherme José Purvin de Figueiredo é Doutor e Mestre em
Direito Ambiental pela Faculdade de Direito da USP; Professor convidado
de Direito Ambiental da Escola Paulista de Magistratura, da Escola
Superior de Advocacia Pública da PGE-SP e do Curso de Pós-Graduação da
Faculdade de Direito da PUC-RJ; Diretor da APRODAB - Associação dos
Professores de Direito Ambiental do Brasil e do IBAP - Instituto
Brasileiro de Advocacia Pública e Procurador do Estado de São Paulo.
Ao dizer num
seminário que sente cheiro de retrocesso, Babalorixá de Banânia expõe o
que entende por democracia: PT, Cristina Kirchner e Nicolás Maduro
Luiz
Inácio Lula da Silva discursou na terça da abertura da 7ª Conferência
Latino-Americana e do Caribe em Ciências Sociais (Clacso), um dos muitos
organismos da esquerda na região que vivem mamando nas tetas dos
respectivos estados. Entre 2006 e 2012, quem comandou a entidade foi
Emir Sader, um subintelectual petista com sérios problemas até de
alfabetização. Mas deixo isso pra lá agora.
Em seu discurso, o Babalorixá de Banânia
atacou a imprensa livre — nem poderia ser diferente — e deixou claro
onde estão as raízes do seu, por assim dizer, pensamento.
O chefão do partido que protagonizou o
mensalão e o petrolão — o que, tudo indica, o fará beijar a lona por um
bom tempo — afirmou sentir um forte “cheiro de retrocesso” na América
Latina e na América do Sul.
Retrocesso?
Explica-se: no Brasil, o seu PT chafurda
na lama. Na Argentina, o candidato de Cristina Kirchner, Daniel Scioli,
deve perder a eleição para Mauricio Macri. Se não houver uma
roubalheira de dimensões homéricas na Venezuela, o ditador de chanchada
Nicolás Maduro — é um palhaço amador, mas ele mata — será fragorosamente
derrotado pelas forças de oposição nas eleições parlamentares de 6 de
dezembro.
Em todos os casos, as respectivas
derrotadas significam fortalecimento das correntes que defendem a
democracia política e se opõem a regimes aparelhados por milícias mais
violentas (como na Venezuela) ou menos, como no Brasil. Por enquanto ao
menos.
O Apedeuta fez ainda uma comparação
aloprada. Associou os movimentos em curso na América Latina contra os
governos de esquerda às agitações que antecederam a Primavera Árabe —
que “Primavera” nunca foi — e que concorreram para o acirramento da
desordem política na região.
A comparação é um despropósito porque
boa parte dos movimentos que promoveram o que se chamou tolamente de
“Primavera” era composta de fundamentalistas islâmicos que queriam
ditadura religiosa. Quem combate o PT no Brasil, Cristina na Argentina e
Maduro na Venezuela quer um regime de liberdades públicas. Mas há um
grão de verdade no que ele diz: aqueles grupos — islâmicos, sim! —,
lutavam contra ditaduras. O diabo é que queriam outra, como Dilma,
quando pertencia a grupos terroristas. Os antipetistas,
antikirchneristas e antibolivarianos querem democracia.
Pós-Primavera Árabe, o que se tem,
exceção feita à Tunísia, é banho de sangue e ditaduras ainda mais
ferozes, do velho ou do novo establishment. Lula, por acaso, está nos
ameaçando com guerra civil quando o PT for apeado do poder pelo
Congresso, pela Justiça ou pelas urnas? Lula, por acaso, está nos
ameaçando com um banho de sangue?
Sempre que este senhor sente um cheiro de retrocesso político, então é sinal de que a democracia avançou.
Tuitadas sobre a entrevista de Lula a Roberto D’Ávila na Globonews:
Quem critica Dilma jogaria fora um filho com febre. É a tese de Lula, após negar que dá palpite no governo. Não há limite para o ridículo.
– O mesmo Lula que exige saída do
ministro da Justiça diz: “Acabou o cerceamento à investigação neste
país.” Faltou completar: apesar de mim.
– Lula legitima a roubalheira do PT culpando o financiamento que beneficiou o próprio partido. É asqueroso.
– Lula, confrontado com roubalheira do
PT, acusa o PSDB também. Mas se não há cerceamento à investigação, por
que só os petistas estão presos?
– Lula: “A única preocupação que Dilma deve ter é começar a cuidar do Brasil.” Ela está no quinto ano do governo. Lula sabe que não começou.
– Lula diz que tem vergonha na cara. (Risos.)
– Lula diz que nenhum empresário teve com ele conversa imprópria. Nem precisa. O negociante é seu melhor amigo Bumlai.
– Lula: “Não quero tirar o Levy.” Só fritar.
– Lula culpa imprensa por “negar a
política e achar que tem saída fora da política”. O que o PT chama de
política tem outro nome na Lava Jato.
– Lula usa metáfora futebolística até
para atacar a credibilidade de delatores, alegando que um diz que o
outro disse que Pelé, Neymar, Cristiano Ronaldo disseram… Puro
populismo.
– O PT de Lula dá credibilidade aos delatores só quando lhe interessa. Recordar é viver:
Ele foi citado na delação de Ricardo Pessoa (UTC), segundo a qual teria coagido o empresário a fazer doações eleitorais.
O
PT não “errou” porque quis, mas sim porque reproduziu o que é feito
pela “sociedade” – essa é a tese defendida por Edinho Silva, que foi
tesoureiro da última campanha de Dilma e agora é Ministro da Comunicação
Social. Talvez ele d iga isso, agora, mais para tirar a si próprio da
reta, mas ainda assim chama atenção o fato de o discurso ser alinhado
ideologicamente a uma das maiores imbecilidades doutrinárias da
esquerda: culpar toda a sociedade por crimes de indivíduos.
Ora, a “sociedade” é o todo, são/somos
todos nós, e isso inclui até mesmo as vítimas (especialmente quando se
generaliza a culpa por coisas como corrupção). Mas esquerdista é assim e
vale para (quase) todo crime: a culpa é do SISTEMA, não do criminoso –
que tão-somente agiu seguindo um padrão, foi “forçado” pelas
circunstâncias etc. Sim, a conta não fecha.
Criminoso é minoria, bem
minoria, então o padrão obviamente é NÃO cometer crime. Enfim, nessa
toada de culpar a sociedade, acabamos por descobrir que a culpa é nossa
até mesmo quando se trata de desvio de bilhões dos nossos próprios
bolsos.
A Vale, uma das proprietárias da Samarco,
empresa responsável pelas barragens que se romperam em Mariana (MG),
recebeu título em 2012 devido a impacto social, ambiental e trabalhista
de suas operações em Moçambique, Canadá e Brasil
Douglas Resende e Rafael Lage / Jornalistas Livres
Panorama tomado pela lama em Gesteira, distrito no
município de Barra Longa, MG, afetado pelo rompimento da barragem em
Mariana
Tanto durante quanto depois de seus dois mandatos, o ex-presidente Lula
apostou muito do seu legado na cooperação "Sul-Sul" com a África. Em
troca, ele é tido pelo continente quase que com a mesma estima que os
líderes das lutas de libertação, como o sul-africano Nelson Mandela ou o
moçambicano Samora Machel.
Em sua primeira visita presidencial a Moçambique, em 2003, Lula foi
recebido como um herói e fez discursos emotivos sobre a importância da
solidariedade entre o Sul Global. Ele respondeu com empatia à epidemia
de HIV e prometeu apoio brasileiro em um projeto de produção de
medicamentos a preços acessíveis para combatê-la.
Mas, talvez, o mais revelador não tenha sido o que Lula disse na
África, mas quem ele levou consigo. A comitiva brasileira incluía Roger
Agnelli, ex-banqueiro que desempenhou um papel de destaque na avaliação
de uma importante empresa estatal, a Companhia Vale do Rio Doce, antes
de sua privatização em 1997.
Posteriormente, Agnelli tornou-se o primeiro presidente executivo da
Vale, liderando a corporação nomeada a "pior empresa do mundo" em 2012
por ativistas devido a suas relações trabalhistas, seus impactos na
comunidade e suas pegadas ambientais.
Não que isso tenha manchado a reputação de Agnelli. Impulsionado pelo
"superciclo das commodities" com aumentos médios de 150% entre 2002 e
2012, pela aparente infinita demanda chinesa por minério de ferro e pelo
abundante capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), Agnelli parecia ter o toque de Midas. O tempo em que ele
esteve no comando da Vale foi caracterizado por uma expansão global
agressiva e por lucros e retornos fabulosos aos acionistas.
A equipe de relações públicas de Agnelli na Vale trabalhou duro para
projetar um espírito de cooperação Sul-Sul em sincronia com a retórica
de Lula, alegando que os investimentos em mineração do Brasil no Sul
Global trariam empregos e desenvolvimento econômico, diferentemente das
empresas do "Norte" imperialista.
Porém, ao rastrear a trajetória da Vale, seja em Moçambique, onde ela
iniciou um investimento pioneiro em mineração de carvão, ferrovias e um
complexo portuário, ou no Canadá, onde ela adquiriu operações de níquel
já estabelecidas, ou dentro do Brasil, surge uma figura bem diferente,
caracterizada pela dissonância clara entre a retórica da empresa e as
realidades no terreno em todas as suas operações globais.
Como parte da equipe do fundo internacional de desenvolvimento dos
trabalhadores, criado pela United Steelworkers (Trabalhadores do Setor
de Metais Unidos, em tradução livre), o principal sindicato a
representar os mineiros do Canadá, eu tive a oportunidade de monitorar
essa desconexão durante a última década, tanto no Canadá, depois que a
Vale comprou a Inco, a maior mineradora do país, quanto em Moçambique,
onde o sindicato possui vínculos de longa data através de seus programas
de formação sindical.
O histórico da Vale mostra que as práticas e atitudes de corporações
multinacionais sediadas nos países-membros do BRICS não são diferentes
das empresas internacionais de mineração ligadas aos países do centro
capitalista.
Ao chegar no Canadá, a Vale gabou-se de sua experiência em gestão
corporativa, das suas credenciais de Wall Street e da sua habilidade em
lidar com sindicatos intrometidos. A empresa insistiu em grandes
concessões como condições prévias até mesmo da mesa de negociação,
provocando greves do sindicato de 11 e 18 meses, uma longa queda-de-braço na qual a Vale ganhou grande parte do que queria.
Tito Martins, um executivo da empresa, deixou bem claras as intenções
da Vale ao fim da primeira greve numa reportagem intitulada "Vale
comemora redução do poder do sindicato no Canadá", publicada no jornal Valor Econômico:
"O que era importante para a Vale nessa negociação era conseguir o
alinhamento dos empregados do Canadá como um todo ao tipo de relação que
a empresa mantém com seus funcionários no resto do mundo, que envolve
três pontos cruciais: plano de pensão, bônus e linha de comando entre
empregador e empregado sem intervenção direta do sindicato."
Desde 2011, a empresa viu acontecerem cinco mortes
no país: uma em Thompson, no estado canadense de Manitoba, e quatro em
Sudbury, Ontário, além de mais duas numa operação contratada a um braço
de distância da Vale. Como um trabalhador disse: "Seja no subterrâneo ou
na fundição e refinaria, a Vale tornou tudo mais perigoso do que era
antes".
Mas a empresa deixou um legado ainda pior na África, onde é menos
restringida por leis do governo. No entanto, é lá onde a Vale alega
estar ajudando milhares de pessoas.
Vale na África
Diz a lenda que Lula apresentou Agnelli e a Vale a Moçambique,
encorajando o então presidente Armando Guebuza a rejeitar a oferta
chinesa pelos depósitos de carvão moçambicanos, porque os chineses
levariam seus próprios trabalhadores, em vez de contratarem mão-de-obra
local.
Seja qual for o envolvimento de Lula, Agnelli foi convidado pouco
depois da visita do presidente brasileiro em 2003 para tornar-se membro
do conselho consultivo internacional de Guebuza. Pouco depois, a Vale
foi a primeira empresa multinacional a ganhar licença para desenvolver
as principais reservas de carvão de Moçambique.
Semelhante à visita de 2003, durante seu retorno a Moçambique em 2012,
Lula transmitiu mensagens contraditórias de solidariedade, por um lado, e
propagandeou o investimento de empresas brasileiras, por outro. Mas dessa vez ele chegou com o sucessor de Agnelli, Murilo Ferreira.
Durante a viagem, o ex-presidente deu uma conferência pública
intitulada "A luta contra a desigualdade social", apresentado por Graça
Machel, viúva do primeiro presidente moçambicano, Samora Machel, e uma
figura pública bem conhecida pelos seus próprios atos. Ela definiu Lula
como um herói do povo, assim como Samora.
Lula, por sua vez, falou sobre
a experiência do Brasil sob o governo do Partido dos Trabalhadores
(PT), caracterizando-o como um de crescimento e ao mesmo tempo de
divisão do bolo econômico, além de garantir a criação de empregos e de
programas sociais de redistribuição de renda que poderiam aliviar a
pobreza.
Ele incitou empresas brasileiras a investirem em Moçambique para
contribuir com a luta contra a desigualdade, em nome da justiça social.
Porém, pouco depois da palestra, Lula uniu-se ao novo presidente da Vale
numa campanha de lobby junto à ministra do trabalho de
Moçambique, Helena Taipo, para reduzir as restrições aos trabalhadores
estrangeiros nas operações da mineradora brasileira no país.
A revista Veja falou sobre o caso:
"A Vale foi uma das patrocinadoras do tour que Luiz Inácio Lula da
Silva fez há duas semanas pela África. O presidente da empresa, Murilo
Ferreira, viajou no mesmo jatinho do ex-presidente até Moçambique. Lá,
eles se reuniram com a ministra do Trabalho, Helena Taipo, que vem
colocando barreiras para a exploração de carvão pela empresa brasileira
na mina de Moatize, uma das maiores do mundo. Na reunião, Lula tentou,
sem sucesso, convencê-la a derrubar a exigência de empregar 85% de mão
de obra moçambicana no empreendimento."
A pressão brasileira para reduzir o controle moçambicano sobre os
trabalhadores estrangeiros não é novidade. Num encontro com
trabalhadores de Canadá e Brasil em 2011, nos reunimos com o diretor de
trabalho da província Tete e fomos informados de que a Vale
constantemente pressiona as autoridades para que permitam à empresa
exceder as cotas de trabalhadores estrangeiros anteriormente negociadas. Danielle Scott / Flickr CC
Trabalhadores canadenses do sindicato United Steelworkers protestam contra a Vale/Inco em Toronto em 2010
A fase de construção do projeto da mina incluiu não apenas um grande
número de trabalhadores brasileiros, como também trabalhadores de
construção das Filipinas. Muitos destes foram contratados pela Kentz
Engineers and Contractors, uma empresa que opera em quase trinta países e
comanda uma das maiores refinarias de níquel e cobalto do mundo, em
Madagascar.
A Kentz emprega mais de 2.500 trabalhadores filipinos fora de seu país
em suas operações globais. Depois que muitos filipinos trabalhando pela
Kentz em Madagascar foram repatriados no fim de 2010, eles abriram
denúncias junto à Administração Filipina de Emprego em País Estrangeiro
(Philippines Overseas Employment Administration, ou POEA) alegando práticas de trabalho injustas pela Kentz, incluindo atrasos de pagamentos, alojamentos superlotados, falta de alimentos e atendimento médico inadequado.
A Kentz foi uma das muitas empreiteiras contratadas pela Vale
Moçambique conforme esta construía em suas concessões de carvão em
Moatize, no noroeste do país. Inspetores do departamento encontraram
trabalhadores no canteiro de obras que tiveram negadas as férias, os
fins de semana e o vestuário de proteção adequado. A Kentz também não
registrou seus trabalhadores moçambicanos na previdência social.
Em 18 de novembro de 2011, o Ministério do Trabalho de Moçambique
finalmente respondeu, expulsando 115 trabalhadores, a maioria da África
do Sul e das Filipinas, ilegalmente levados ao país pelos subcontratados
da Vale. A Kentz Engineers foi multada em quase 34 milhões de meticais
(cerca de 1,1 milhão de dólares) e recebeu 30 dias para acertar as
irregularidades.
Os trabalhadores com base em Tete que participaram nos intercâmbios
internacionais indicaram que a fase operacional da mina de carvão de
hoje emprega não apenas o número máximo da cota, ou mais, de
trabalhadores brasileiros, como também muitos outros estrangeiros, com
ou sem status de residência legal, vindos de países vizinhos e de fala
inglesa, como Zimbábue, Zâmbia e Malawi. Filhos e sobrinhos de figuras
do poderoso governo moçambicano e de empresários na capital nacional,
Maputo, também ganham empregos cobiçados na Vale.
Além disso, o desenvolvimento mais amplo prometido pelo Partido dos
Trabalhadores e pelos funcionários da Vale é incerto. Apesar de serem os
mais impactados pelo crescimento da mineração — e de serem quem lida
com a poluição, a escassez de moradias e de outros serviços, o trânsito,
o barulho e o aumento do custo de vida —, as pessoas nas comunidades
locais ao redor da mina e os nativos da cronicamente subdesenvolvida
província Tete têm visto raros empregos novos e poucos benefícios a
partir do projeto.
As poucas oportunidades de emprego geradas pelas operações de mineração
e as drásticas desigualdades nos salários e benefícios entre
estrangeiros e cidadãos nacionais criam uma indignação generalizada. Um
trabalhador da Vale comentou: "Trabalho ao lado de estrangeiros, mas
eles ganham quatro vezes mais do que eu". Outro disse: "Os operadores de
máquinas moçambicanos trabalham junto aos brasileiros, alguns dos quais
possuem menos treinamento do que os moçambicanos, mas o brasileiro é
automaticamente o supervisor".
Estes sentimentos foram expressos numa pesquisa realizada em 2012 para
determinar se as experiências dos trabalhadores da Vale no Brasil eram
semelhantes às vividas pelos trabalhadores da empresa em Moçambique e no
Canadá. Esses comentários expressam o vazio das promessas da Vale de
criar postos de trabalho para moçambicanos, e também demonstram a força
do sentimento antibrasileiro, que não é muito diferente dos sentimentos
antiamericanos ou antibritânicos nos lugares onde se estabelecem
empresas desses países.
Moçambique, assim como outros governos africanos, não possui os meios
ou a vontade política de usar megaprojetos em mineração como pilares
estratégicos para uma tática industrial mais ampla. Projetos de
mineração tendem a se tornar enclaves, articulados globalmente, mas
desconectados de seu próprio país.
Embora não haja estudos sistemáticos para analisar, o sentimento geral
em Moçambique sugere que a Vale está, na verdade, diminuindo os
empregos. Reassentamentos forçados para dar espaço às minas deixaram
famílias rurais sem terra ou água para suas atividades agrícolas, e sem
acesso aos mercados locais.
Um estudo recente realizado por Antonio Jone para o Observatório do
Meio Rural moçambicano concluiu que famílias enviadas para
reassentamentos rurais em Cateme foram afetadas negativamente. A
aderência tão elogiada da Vale a todas as recomendações do Banco Mundial
sobre reassentamentos forçados está, na verdade, longe da realidade.
Nos relatórios oficiais de sustentabilidade da Vale e em seus vídeos de
Relações Públicas, os reassentamentos moçambicanos são considerados
modelos de excelência. Mas o "relatório de insustentabilidade" preparado
pela Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale
vai além da agitação para capturar as vozes dos reassentados que contam
a história da falta de terra, da falta de água e de casas com
rachaduras nas paredes e fundações desintegrando-se depois da primeira
estação chuvosa.
O estudo mais recente de Antonio Jone, sobre "segurança alimentar" nos
reassentamentos da Vale, confirma que eles têm sido tudo, menos uma
história de sucesso, e, na verdade, deixaram as condições dos produtores
camponeses muito piores do que estavam antes da remoção. Além disso, os
artesãos das áreas afetadas pela concessão de mineração, como os que
fazem tijolos, por exemplo, ficaram sem lugar para venderem.
Nos últimos anos eles têm realizado atividades de lobby agressivas
direcionadas tanto ao governo moçambicano quanto à Vale. Adotando uma
prática da cartilha corporativa, os artesãos argumentam que sofreram
perdas permanentes de seus meios de subsistência através dos quais
poderiam esperar uma renda vitalícia em torno de 350 mil dólares, em vez
dos 2 mil que a Vale lhes pagou a princípio.
Em junho de 2013, a Vale declarou que a questão estava definitivamente
fechada. Ela foi forçada a reabrir as discussões sobre a compensação, no
entanto, pois os fabricantes de tijolos continuaram exigindo suas
demandas com barricadas que pararam a mineração, apesar da prisão de
seus líderes. O governo moçambicano respondeu com contínuas expressões
de preocupação com os lucros perdidos por seu "parceiro no
desenvolvimento", a Vale.
Vale no Brasil
As ações da Vale também fizeram com que a empresa ganhasse inimigos em
casa. A expansão agressiva da corporação nos anos desde a sua
privatização transformou-a na terceira maior mineradora do mundo, com
operações em 13 estados brasileiros e em 27 países em seis continentes.
Apesar de suas origens como uma empresa estatal próxima ao governo
brasileiro, a ascendência da Vale para seu status atual de empresa
global foi caracterizada, assim como qualquer outra corporação
capitalista, por uma devoção desmedida e obstinada aos altos lucros e
generosos dividendos para seus diretores e acionistas.
Muitos brasileiros estão particularmente indignados com a forma com que
esse ícone nacional passou para as mãos privadas em 1997 como parte do
padrão global de privatizações sob programas de ajustes estruturais. Nos
anos antes da chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder, o BNDES
assumiu a responsabilidade de promover privatizações. A venda da Vale é
considerada o episódio de privatização mais escandaloso na história do
Brasil.
A empresa foi vendida por apenas 3,4 milhões de reais num período de
paridade entre o real e o dólar. Uma apresentação de 2004 ao Tribunal
Regional Federal (TRF) em Brasília apontou uma série de irregularidades
que provavam que a Vale foi subavaliada.
Algumas minas foram ignoradas
nos cálculos, e outras, incluindo o setor florestal, depreciadas.
Incontáveis ativos de valores enormes (tecnologias, patentes e
conhecimento técnico relacionado à geologia e engenharia de minas) não
foram nem sequer considerados e a participação acionária da Vale em
outras empresas foi ignorada.
A lista de irregularidades é enorme. O Bradesco, banco responsável pela
avaliação, tomou o controle da Vale um ano depois, e, não por acaso, o
primeiro presidente da Vale, Roger Agnelli, era um ex-diretor executivo
do banco.
Até mesmo uma década depois, um plebiscito informal pela renacionalização da Vale,
organizado por sindicatos, estudantes e o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) em 2007 conseguiu mobilizar três milhões
de votos. Apesar de o presidente Lula aparentemente não dar atenção às
demandas do plebiscito, ele pressionou publicamente a Vale durante a
crise econômica global que se seguiu.
Amanda Rossi / Livro 'Moçambique, o Brasil é aqui'
Vista da mina de carvão da Vale em Moatize, Moçambique
A Vale tentou tirar vantagem da crise de 2008 para realizar demissões
em massa e suspender investimentos planejados na indústria siderúrgica
brasileira. Lula usou o sentimento popular contrário à privatização
expressado através do plebiscito para justificar uma bronca pública que
deu em Agnelli. Ele sugeriu que, para uma empresa tão próxima do governo
quanto a Vale, havia uma obrigação de responder ao momento de
turbulência global desempenhando um papel estabilizador.
Durante o ano de 2009, a visão do governo brasileiro sobre o papel que a
Vale deveria assumir e a visão de Agnelli estavam abertamente
desalinhadas. Por volta de setembro, a revista brasileira Exame sugeria
que o governo planejava destituir Agnelli. Numa reportagem intitulada
"Lula critica Agnelli e articula saída do presidente da Vale",
[repercutida pela InfoMoney], o jornalista Rafael Souza Ribeiro reportou:
"Não é de hoje a vontade do governo em elevar sua participação no
controle administrativo da Vale. Só este ano, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva já falou algumas vezes que a mineradora precisa investir
mais no Brasil para proporcionar emprego à população. Desde que demitiu
mais de mil funcionários no ano passado em decorrência da crise
econômica, Roger Agnelli, presidente da Vale, caiu em desencanto nos
bastidores do governo."
É verdade que o uso da crise global por Agnelli para justificar a
demissão de 1.300 trabalhadores e recuar nos seus compromissos de
investimento na produção de aço no Brasil voltou para assombrá-lo quando
o mandato de Lula terminou em 2011. A nova presidente do Brasil, Dilma
Rousseff, orquestrou uma tentativa de mudança na liderança da Vale entre
os blocos de acionistas da empresa próximos ao governo.
Murilo Ferreira assumiu o posto como novo presidente em 2011 e logo
depois começou a visitar as operações da Vale por todo o mundo. A
mudança na liderança de Agnelli para Ferreira e as promessas da Vale de
uma gestão mais humana e de redução do estresse trouxeram esperança de
mudança, mas as expectativas levantadas foram rapidamente frustradas
pelo desprezo demasiado de Ferreira em relação aos líderes sindicais ao
longo de sua turnê inaugural. No entanto, em resposta às críticas, ele
concordou em se encontrar com 14 presidentes de sindicatos das operações
da Vale ligadas à mineração no Brasil em setembro de 2011.
De acordo com um relatório de Valério Vieira, presidente do Sindicato
Metabase Inconfidentes, que representa duas minas da Vale no estado de
Minas Gerais, a maioria dos líderes sindicais presentes estavam felizes
em comprar a ideia de Ferreira de uma Vale mais boazinha e amável e
louvavam sua prontidão em dialogar. Eles elogiaram sua aparente emoção
durante a discussão sobre as mortes no local de trabalho.
Mas Vieira – que, entre idas e vindas, trabalhou na Vale por 25 anos –
não estava convencido. Em seu relatório para a Metabase, compartilhado
com ativistas da Vale em outros países, Vieira contou que disse a
Ferreira que o presidente levaria bem mais do que três meses para mudar o
curso da Vale depois de uma década sobre a liderança de Agnelli. Além
disso, demandaria um nível de vontade política que ainda não tinha sido
demonstrada.
O relatório de Vieira da reunião identificou oito características do
trabalho da Vale no Brasil:
1) A Vale é reconhecida por ser fortemente
oposta aos sindicatos;
2) Um trabalhador da Vale tende a ganhar menos do
que trabalhadores em lugares semelhantes;
3) Os gerentes da Vale
constantemente constrangem os trabalhadores;
4) A Vale impõe metas de
produção extremamente distantes da realidade;
5) Trabalhadores da Vale
vivem sob ameaças constantes de serem demitidos sem justa causa;
6)
Supervisores da Vale impõem medidas disciplinares arbitrárias
frequentemente;
7) Trabalhar na Vale significa trabalhar em condições
perigosas porque a Vale coloca a produção acima de todo o resto e muitas
vezes encobre incidentes de saúde e segurança; 8) A Vale regularmente
tenta comprar os sindicatos e os líderes do governo oferecendo veículos,
viagens, cartões de crédito e outros privilégios.
Em 2012, um pequeno grupo de trabalhadores da Vale no Canadá, em
Moçambique e no Brasil foram questionados sobre essas oito
características do trabalho na Vale identificadas por Vieira para
responderem se elas eram aplicáveis às suas realidades. Embora as
situações em cada país sejam diferentes, a resposta esmagadora à
pesquisa foi que a caracterização do trabalho na Vale feita por Vieira
ressoava profundamente com outros países.
Por trás do marketing
Apesar dessas contradições, a Vale lidera as corporações brasileiras
que alcançaram o status de "competidoras mundiais". Empresas como a Vale
projetam uma imagem de si mesmas como "motores do desenvolvimento"
tanto no Brasil quanto nos países onde investem, gerando emprego e
crescimento econômico, um símbolo do "Brasil global".
Em contrapartida, o Estado brasileiro atribui grande importância ao
apoio que dá a essas empresas. As grandes quantias de crédito concedidas
pelo BNDES e outras políticas públicas criadas para apoiar e facilitar
os investimentos globais das multinacionais brasileiras são vistas como
plenamente justificadas e as atividades das empresas são retratadas como
vantajosas para o Brasil como um todo.
O argumento é que através dessas "competidoras globais" o Brasil irá
aumentar a entrada de capital estrangeiro (através dos depósitos dos
lucros), aumentar as exportações, ampliar sua inserção nas cadeias de
inovação global e beneficiar seus fornecedores, que também aumentam sua
produção.
Esta narrativa está enquadrada no paradigma neoliberal: um país que
quer ganhar uma posição hegemônica globalmente precisa de grandes
empresas. Embora sejam tomadas por interesses privados e pela
priorização aberta dos grandes lucros e retornos altos aos diretores e
acionistas, as grandes empresas brasileiras e suas expansões globais são
tratadas como sinônimos dos "interesses nacionais" brasileiros. A
resistência dos trabalhadores e da comunidade às operações dessas
empresas, seja em seu país natal ou no exterior, é prontamente vista
como criminosa.
Será que essa tão anunciada ascensão dos BRICS a um grupo de elite de
potências globais realmente abrange os interesses nacionais de todos os
cidadãos do Brasil? Será que todos brasileiros veem o sucesso da Vale
como uma "competidora global" como motivo para celebração? Será que
pensam que a habilidade da Vale em entrar para a competição feroz entre
as gigantes globais num mundo de grandes minerações significa que o
Brasil "chegou lá", que agora pode ficar em pé, levantar a cabeça,
ocupando orgulhosamente seu lugar no G20 entre os países "desenvolvidos"
do Norte?
Assumir o sucesso da Vale e os interesses nacionais do Brasil como
sinônimos é operar dentro de um velho discurso sobre desenvolvimento que
vê a transição do estado-nação de uma sociedade agrária para industrial
como o objetivo, com o Estado como o principal ator. Além disso, a
sociedade nacional é considerada como o principal alvo de planejamento
do desenvolvimento, e investidores estrangeiros diretos são apontados
como a principal fonte de capital para realizar as metas de
desenvolvimento de empregos, modernização e crescimento econômico.
Talvez compreenda-se melhor as corporações multinacionais dos BRICS ao
sair desse velho discurso sobre desenvolvimento baseado em territórios, e
situá-las, em vez disso, como agentes num novo discurso global baseado
em fluxos.
Este é um mundo onde há uma economia transnacional plenamente
articulada em fluxos de capital, informação, tecnologia, equipamento e
até mesmo terra, trabalho e forças de segurança particulares. Toda essa
economia global opera fora da lógica e muito fora das regulações em
jurisdições nacionais.
Uma grande mineradora tem responsabilidade mínima pelo território —
e pelos cidadãos — no qual acontecem suas operações de mineração,
atuando, em vez disso, através de cadeias de fornecimento globais e de
fluxos altamente articulados que hoje caracterizam a economia global.
Corporações usam instrumentos de marketing para “pintar de
verde” sua imagem com forte linguajar de sustentabilidade ou "pintá-la
de azul", envolvendo-se no linguajar legitimador do Pacto Global das
Nações Unidas. O que é apresentado ao público como necessidade de uma
licença social para operar é, de fato, considerado internamente um
exercício de gestão de riscos de segurança.
Empresas são guiadas
fundamentalmente por suas preocupações de controle de riscos, e veem
qualquer pessoa, política ou instituição que entra no seu caminho como
um risco de segurança e, consequentemente, um inimigo da corporação.
André Almeida, ex-diretor do Departamento de Inteligência e Segurança
Corporativa da Vale, entregou recentemente um grande número de
documentos a um promotor do Estado brasileiro que apontavam o
envolvimento da Vale em uma ampla rede de espionagem e infiltração focada
em pessoas e organizações consideradas pela empresa como inimigas.
Entre estes estão jornalistas respeitados, advogados e ativistas de
direitos humanos, assim como organizações, como Justiça nos Trilhos e
Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale.
Por mais perturbador que possa ser o comportamento da Vale, ele não é
diferente das divisões de classe tanto dentro do Brasil quanto fora. As
forças sociais da elite brasileira e de outros BRICS que pretendem
tornar seus países competitivos na economia global são parte de uma nova
classe transnacional de vencedores produzidos pela globalização.
Através de suas corporações multinacionais, como a Vale, eles aspiram um
consumo de classe mundial.
O desejo do governo e dos líderes empresariais nos BRICS em alcançar
status global, medido por triunfos como receber as Olimpíadas e a Copa do Mundo,
pode genuinamente incluir um componente de recuperação de orgulho,
dignidade e respeito depois de séculos de humilhação colonial.
A visão
buscada, no entanto, não oferece nenhuma outra alternativa à ordem
mundial atual de produção exploradora e consumo para poucos. As práticas
dos capitalistas emergentes do Brasil, da Índia, da África do Sul ou da
China distinguem-se muito pouco do saque de seus competidores globais
ligados aos velhos centros imperiais da Europa e da América do Norte.
A visão dos BRICS exclui os pobres dentro de suas próprias nações e
ignora o impacto ambiental do modelo de crescimento que aspiram ter. O
desejo dos BRICS em serem agentes no sistema global mundial e
consumidores de "classe mundial" reforça as disparidades existentes e
inflige mais danos ao ambiente, transformando-os em importantes
perpetradores de instabilidade e injustiça global.
Tradução: Jessica Grant Artigo original publicado na revista norte-americana Jacobin.
Enzima no estômago do bicho-da-farinha,
descoberta por especialistas da Universidade de Stanford, abre
possibilidade para possível reciclagem de lixo plástico
Um
estudo realizado pela Universidade de Stanford e divulgado na última
terça (29/09), descobriu que o bicho-da-farinha, a larva do besouro
Tenebrio, comem e digerem poliestirenos, uma resina que compõe o
plástico e o isopor.
Os pesquisadores deixaram as larvas alimentando-se exclusivamente de isopor durante 30 dias
Os pesquisadores examinaram as fezes das larvas após deixarem-nas por
30 dias alimentando-se exclusivamente de isopor, e descobriram que o
poliestireno que não havia se convertido em dióxido de carbono ou
biomassa havia se transformado em matéria fecal comum. Isso significa,
inclusive, que os excrementos ainda poderiam ser usados como adubo sem
prejudicar o solo.
A capacidade de digerir o isopor é causada por alguma enzima no
estômago da larva. O próximo passo, para os pesquisadores, é buscar
isolar essa enzima para posteriormente desenvolver um processo rápido e
barato de reciclar plástico, a fim de diminuir a poluição decorrente
desse tipo de lixo.
A pesquisa indicou que, nos EUA, 33 milhões de toneladas de plástico
são descartados e apenas 10% desse total é reciclado. No mundo são
consumidas mais de 290 milhões de toneladas de plástico.
Fruto
de uma política pública de enfrentamento à discriminação racial no
Distrito Federal, o Disque Racismo, um importante canal de atendimento a
vítimas de crimes de injúria racial e racismo, ainda é pouco conhecido
pela população. Com a reestruturação das secretarias no governo Rodrigo
Rollemberg (PSB), o serviço, pioneiro no país, passa por adaptações. E
pouco se sabe, na prática, sobre o funcionamento do serviço e sobre o
fluxo das informações atualmente. A situação levou o Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a tomar uma atitude. O órgão
vai oficiar a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres,
Igualdade Racial e Direitos Humanos em função da falta de repasse de
dados do canal, conforme adiantado à reportagem do Correio.
Por
dois dias, a reportagem solicitou à pasta estatísticas de atendimentos.
Inicialmente, a informação repassada era de que não havia números
recentes disponíveis. Ontem, porém, a secretaria encaminhou tabelas
compiladas pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan)
que apontam o recebimento de mais de 5,1 mil denúncias de janeiro a
outubro deste ano, mas apenas 31 teriam sido, de fato, levadas da
central de atendimento à ouvidoria da pasta. Isso é o que diz a
coordenadora de Enfrentamento ao Racismo, Maria Isabel Rodrigues.
Significa dizer que somente essas poucas dezenas tiveram algum
desdobramento. “As ligações precisam ser filtradas e analisadas antes de
serem encaminhadas. Algumas, por exemplo, são trotes”, justifica Maria
Isabel.
Os problemas na transparência dos dados esbarram também
na falta de acompanhamento dos casos e de informações repassadas às
vítimas. O ex-assessor de gabinete Jânio Candido Portela, 40 anos, conta
ter procurado o Disque Racismo um dia após sofrer injúria racial, em
dezembro do ano passado. Na época, recebeu ligação confirmando o
registro da denúncia no sistema do canal. Contudo, apenas em outubro
deste ano, novo contato foi feito pela ouvidoria da pasta, por e-mail,
solicitando novas informações (Leia fac-símile). “Em um ano, só recebi
um mensagem e uma ligação. Minha crítica é que os órgãos não dão amparo e
nem meios para que sigamos com a denúncia”, reclamou. Portela foi
agredido verbalmente por um funcionário do metrô, na Estação Galeria dos
Estados, após um problema no acesso ao terminal. Procurados,
representantes da Companhia Metropolitana do Distrito Federal (Metrô-DF)
informaram que o órgão repudia esse tipo de atitude e que foi uma
situação pontual.
Ouvidora na gestão passada e atual coordenadora
do Movimento Negro Unificado (MNU) no DF, Jacira da Silva pondera sobre
as necessidades de aperfeiçoamento do serviço. Segundo ela, o Disque
Racismo, como “política alternativa”, precisa de maior divulgação, maior
força e maior efetividade. “Ele precisa ser um instrumento de defesa
dos direitos para que as notificações tenham um grau de resolutividade
no Executivo e nas outras instâncias”, argumenta.
Vítima de
injúria racial, a modelo e promotora de eventos Nayce Samara Silva
Santos, 22 anos, desconhecia o Disque Racismo. Agora que sabe da
existência, ainda alega que não saberia como utilizá-lo e como indicar
para as pessoas, se precisasse. Em setembro deste ano, ela voltava para
casa de ônibus após um dia de trabalho. Um pouco antes de descer na
parada de casa, em Ceilândia, duas senhoras sentadas à sua frente
disseram para Nayce que “ela era até bonita, mas, com aquele lenço de
macumbeira, para esconder o cabelo ruim, ficava feia”. “Quando fui
descer, gritei que ruim era o preconceito delas. No caminho para casa,
chorei, fiquei muito deprimida”, relatou. A modelo gravou um vídeo e
postou em sua página do Facebook contando a história. A repercussão foi
grande: 1,3 milhão de acessos. “Mas na internet também recebi vários
comentários racistas. Fui à delegacia e denunciei”, contou.
Fusão
Até
o fim de 2014, a Secretaria de Igualdade Racial era independente. No
fim de outubro, porém, com a nova reestruturação para corte de gastos
feita pelo GDF, a secretaria tornou-se de Trabalho e do
Empreendedorismo, de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e
Direitos Humanos e de Desenvolvimento Humano e Social. O secretário
adjunto da pasta, Carlos Alberto Santos de Paulo, acredita que o ideal
seria que cada uma delas tivesse o próprio caminho, mas que o prejuízo
pode ser minimizado. “Nós estamos fazendo um esforço no sentido de,
efetivamente, realizar o exercício de transversalidade trazendo a pauta
da inibição do racismo no mundo do trabalho e da assistência social e
procurando responder às necessidades de políticas de estado que devem
ser desenvolvidas com grupos vulneráveis”, concluiu.
Com a
mudança, movimentos negros acreditam que houve um retrocesso. Para o
coordenador da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) e membro do
Conselho do Negro do DF, João Negrão, a articulação das políticas
públicas fica prejudicada. “A Secretaria de Igualdade Racial tinha poder
de articulação com outras secretarias, o que chamamos de
transversalidade. É uma economia sem sentido. Você economiza em uma
estrutura, mas cria outros problemas, porque pode gerar mais gastos com
problemas de saúde, violência, a longo prazo”, disse.
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Comentário
Cada país tem o mártir que merece.Os franceses se tornam mártires quando são assassinados pelos jihadistas.Os católicos líbios quando são decapitados pelos muçulmanos.Os brasileiros, quando alguém fala mal do cabelo deles.É muito mimimi para o meu gosto!Será que esses afro descendentes leem os jornais?Acompanham as noticias?Veem o que está acontecendo no mundo?Ou acham que criticas dirigidas ao cabelo de alguém é o máximo da crueldade que um ser humano pode fazer?E ultrapassa o que a tolerância deles para maldade pode aguentar??Caiam na real e deem graças a Deus por morarem em um país pacifico como o Brasil. Anonimo