Nova publicação em VESPEIRO |
O que pode acabar junto com a USPby fernaslm |
Matéria da Folha de S. Paulo
de hoje oferece um quadro suscinto da doença terminal que vai matar a
USP, até ha pouco tempo a única universidade brasileira a fazer parte do
ranking das 100 melhores do mundo do Times Higher Education, o mais respeitado do setor.
Partindo
da tendência inversa revertida a partir de 2010, a instituição tinha
vindo de 55 mil para 54 mil funcionários administrativos de 2009 para o
ano seguinte e de 45 para 46 mil professores. O que se segue de 2010 até
2013, porém, é a inversão dessa tendência com a multiplicação em
metástese do numero e do valor dos salários dos funcionários de par com a
devastação do numero e do valor dos salários dos professores.
Entre
2009 e 2013 a USP contratou 2400 novos funcionários administrativos e
apenas 396 novos professores. Por cima disso, aumentou em 75% os
salários dos funcionários e em apenas 43% o dos professores (contra uma
inflação no período de 27%).
Com
isto a USP passou a gastar, no ano de 2013, 5% a mais que a dotação que
recebe por ano do governo apenas com a folha de pagamento, valor que
este ano vai subir a 35% a mais do que recebe, que é uma parcela do ICMS
paulista.
O bonus para todos os funcionários a cada vez que a universidade subisse nos rankings
internacionais que tinha sido introduzido pelo governo Serra a título
de componente meritocrático numa realidade em que o merecimento não
entra de forma nenhuma nos critérios de remuneração, também foi
desvirtuado em uma espécie de “direito adquirido”. Em 2013 todos os funcionários da USP receberam bonus de 2 mil reais a esse título apesar da universidade ter caído no ranking acima referido.
Sexo explícito, enfim.
Saindo
de uma greve de quatro meses de duração contra o plano de demissões
voluntárias proposto pelo governo paulista para tentar conter a
multiplicação por 7xs do buraco de 2013 prevista para este ano, os
funcionários da universidade abrem a nova etapa de “negociações”
exigindo aumentos no vale-refeição e no auxílio alimentação, o que é só
o prenuncio de novas greves que virão antes da implosão final.
A
USP tem 87,8 mil alunos, 17,6 mil funcionários e 6 mil professores, o
que representa proporções semelhantes de professores e funcionários por
aluno às da PUC do Chile, por exemplo, tida pelo ranking do Times
como a melhor universidade sul-americana. Só que no Chile 68% do total
de salários pagos vai para os professores e 32% para os funcionários
enquanto na USP 62% vai para os funcionários e 38% fica para os
professores.
Na
universidade chilena, só 42% dos gastos vão para salários. Na
brasileira, 105% do orçamento total é para salários. Tudo o mais, da
manutenção de prédios às pesquisas, fica sem um tostão.
Tudo
isso deixando sem dizer que a destruição da qualidade da educação que
ali se ministrava precedeu a destruição financeira da instituição, e que
a perversão do espírito universitário sintetizado no dístico "Com a ciência vencerás" do escudo da USP, pautado pela liberdade de pesquisa e pela busca da verdade científica, na entronização gramsciana de uma "verdade única"
imposta a todos -- professores, funcionários e alunos -- pela coerção
moral e, muitas vezes, até pela força física precedeu a ambos.
É
mais um retrato sintético do que está acontecendo com tudo o mais neste
país que sustenta uma casta cheia de direitos especiais com o
sacrifício do seu presente e do seu futuro, sem esquecer que o que
acontecer com a USP – que já foi o melhor equipamento de produção de “infraestrutura humana” de qualidade do país – mais cedo do que tarde acontecerá com todo o Brasil.