Por Daniela Chiaretti | De Da Nang (Vietnã)
GreenViet Biodiversity Conservation Center
É o primeiro aviso que a recepcionista dá aos recém-chegados, depois do lembrete de que se trata de quarto para não fumantes: "Proibido comer durian, e a multa para infratores é de US$ 50!". Tudo certo, mesmo se não se entendeu nada do que dizia a moça tão exclamativa. Certamente culpa do inglês com sotaque asiático. Mas, na escrivaninha do apartamento, o adesivo vermelho desenha a fruta aos ignorantes - durian parece um parente da jaca, só que bem menor e de casca mais espinhuda. É muito apreciada no leste asiático. Aparece em toda barraca do calçadão da orla, a avenida Võ Nguyên Giáp, que leva o nome do mítico general que derrotou primeiro os franceses, em 1954, e depois os Estados Unidos no que aqui é conhecida como "a guerra americana". Bem-vindos ao Vietnã.
Mais especificamente a Da Nang, a quarta cidade vietnamita, porto e universidades importantes, bem no meio do mapa deste país comprido. Situada na boca do rio Han, é citação obrigatória em todo filme sobre a guerra - foi a grande base aérea americana durante o conflito. Dizem que registrava uma média de 2.600 operações diárias, mais do que qualquer outro aeroporto do mundo naqueles anos.
Agora o frenesi acontece nas ruas, com milhares de scooters circulando por todo canto e compondo um trânsito maluco. Os vietnamitas são muito gentis, mas se transformam sobre duas rodas. As motonetas carregam todos - velhos, mulheres, cachorros, crianças, gente com capa de chuva, moças de máscara hospitalar para se proteger da poluição, velhinhos vestindo calças largas de linho, pai, mãe e duas crianças dividindo o mesmo assento da motoca. Ali eles levam de tudo. Podem ser coroas de flores de defuntos ou cômodas, montão de durians ou caranguejos de patas gigantes com as pinças bem atadas. A regra é ninguém parar no farol. Atravessar a rua é uma aventura.
Em julho faz muito calor. Talvez por isso às 5h30 da manhã já tem muita gente na linda praia de My Khe, com seus coqueiros altos e areia branca. Não há conchas visíveis, ou melhor, são pequeninas. O povo faz aula de zumba, caminha e tira selfies perto dos barcos redondos dos pescadores. Os "thung chai" são uma das peculiaridades que tiram Da Nang do insosso circuito de lugares globalizados. Seu formato é curioso e a textura, também. Criados à época em que o país era colônia francesa, são feitos de palha e trançados como cestos. A ideia era precisamente essa, confundir, surpreender. Os franceses começaram a taxar donos de barcos, e os pescadores que não podiam arcar com a despesa teceram a novidade. Se alguém perguntasse diziam que eram cestos. Barcos? Não, não, cestos. Lindos de se ver na água e no retorno à praia, carregados de peixes e frutos do mar. Até os barcos salva-vidas em My Khe são assim, pequenos, simpáticos e redondos.
Barcos de pesca tradicionais repousam aos milhares à tardezinha, nos 25 Km que separam o centro de Da Nang da cidade antiga de Hoi An. No trajeto vão surgindo os verdes campos de arroz. Não é difícil ver mulheres trabalhando ali, escondidas sob os famosos chapéus cônicos feitos de palha ou bambu e que as protegem das chuvas e do Sol.
Espiar a cidade antiga de Hoi An é imprescindível. O casario bem preservado do Patrimônio da Humanidade da Unesco tem tons amarelados. Perder-se pelas ruelas, cruzar os pequenos canais, caminhar pelas pontes é mergulhar em um universo de bicicletas e muitas, muitas, muitas lanternas de papel, de todas as cores e formatos que contaminam com alegria instantânea. As lojas oferecem cortes de seda, os restaurantes têm gastronomia deliciosa para quem gosta de peixe, frutos do mar e coco. Os pratos custam milhares de dong, uns poucos dólares quando convertidos.
Turistas chegam aos bandos, a maioria dos países vizinhos, mas há muitos vietnamitas. São mais de 20 milhões por ano. O saldo ruim é que eles deixam, estima-se, 27 mil toneladas de lixo neste pequeno mix de influências japonesa, francesa e chinesa. Um projeto apoiado pelo fundo ambiental global conhecido por GEF ajuda na reciclagem da montanha de resíduos e tornou-se fonte de receita para muitas mulheres.
Na volta à Da Nang, a apenas 20 minutos do centro, vive uma preciosidade. Basta subir uma colina, entrar na reserva de Son Tra, fazer silêncio e esperar. Logo surge um movimento nas árvores. Nessa península mora a maior população de macacos "red-shanked douc" do mundo. O "douc-de-canelas-vermelhas" é um primata caleidoscópico. Tem as pernas vermelhas e as coxas pretas, longas caudas brancas e o olhar muito doce. No rosto, contornado por uma barba suave, diria-se que exagerou no pancake laranja. O pelo acinzentado na cabeça arranja-se como uma boina. É animal impressionante, incrivelmente bonito.
Conhecidos também por "macacos fantasiados", os canelas-vermelhas podem ser encontrados no Camboja e Laos, mas é aqui onde estão mais concentrados. Um estudo recente patrocinado pelo fundo de conservação da Disney calculou que existe nesta reserva uma população de 1.330 indivíduos distribuídos em famílias com cinco a sete animais, invariavelmente lideradas por um macho barrigudo. São ameaçadíssimos de extinção, diz Hieu Nguyen, porta-voz da GreenViet, a ONG local que procura conscientizar a população do encanto que é esse bicho único no mundo. Eles sobreviveram ao napalm, mas agora correm risco com a caça e captura ilegais, o rápido desenvolvimento do turismo e a pressão dos resorts sobre seu habitat. É emocionante vê-los sobre os galhos, retribuindo olhares curiosos.
A jornalista viajou ao Vietnã a convite de Internews Earth Journalism Network