sábado, 20 de março de 2021

Afundamento do solo e aumento do nível do mar: uma dupla crise que afeta comunidades litorâneas

 


Afundamento do solo e aumento do nível do mar: uma dupla crise que afeta comunidades litorâneas

O PREJUÍZO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOMADO À SUBSIDÊNCIA DO SOLO CAUSADA PELAS PESSOAS SIGNIFICA QUE OS HABITANTES DE ÁREAS LITORÂNEAS GLOBAIS ESTÃO TENDO QUE ENCARAR AUMENTOS EXTREMOS NO NÍVEL DO MAR.

O muro de contenção na Baía de Jacarta evita que lojas, casas e mesquitas sejam inundadas pelo mar.  Devido ao aumento do nível do mar e à extração de água subterrânea em excesso, a capital é uma das cidades que está afundando mais depressa no mundo inteiro.
FOTO DE IAN TEH, PANOS PICTURES/REDUX

Habitantes de áreas litorâneas do mundo inteiro estão observando um aumento do nível do mar mais extremo do que o normal, porque estão concentrados em áreas onde as terras estão afundando mais rapidamente, segundo um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Climate Change.

O nível dos mares está subindo no mundo inteiro, à medida em que camadas de gelo da Terra derretem e águas mornas estão mais presentes nos oceanos. Mas a nível local, a subsidência, ou afundamento do solo, pode agravar muito o problema. Cidades como Nova Orleans e Jacarta estão vivenciando um aumento rápido do nível do mar em suas costas — a terra está afundando à medida em que a água está subindo.

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Uma equipe internacional de pesquisadores constatou que esse prejuízo duplo não é apenas um problema local. O afundamento do solo faz com que os habitantes de áreas litorâneas no mundo inteiro estejam desproporcionalmente vulneráveis ao aumento do nível do mar: que é de três a quatro vezes maior do que a média global.

“Não estamos falando de uma previsão; isso já está acontecendo”, declara o autor principal do estudo, Robert Nicholls, membro do Centro Tyndall de Pesquisa sobre Mudança Climática, organização da Universidade de East Anglia. “E é um problema muito significativo.”

O lado bom é: grande parte do problema do afundamento do solo é causado por atividades humanas, como extração de água subterrânea, então as próprias cidades litorâneas podem tomar atitudes para resolver a situação.

De problema local para problema global

Alguns dos fatores que contribuem para a diminuição (ou aumento) das áreas litorâneas da Terra estão além do controle humano. Partes do planeta Terra ainda estão se adaptando ao desaparecimento das geleiras que as cobriram durante a última Era Glacial, surgindo em alguns lugares e afundando em outros. Nos deltas dos rios presentes em áreas litorâneas, o solo vai diminuindo lentamente à medida que novos sedimentos se depositam.

Mas além desses processos naturais, diversas atividades humanas podem contribuir para o afundamento do solo: extração de água subterrânea, exploração de petróleo e gás, extração de areia e construção de barreiras em rios para prevenir inundações. Evitar a inundação de rios, que à primeira vista soa como algo positivo, também impede que ele espalhe os sedimentos que aos poucos reconstroem o solo.

Em lugares onde há maior concentração de população, essas atividades, em especial a extração de água subterrânea, fazem com que o espaço de terra diminua mais rapidamente do que aconteceria por meio de processos geológicos naturais: ao longo do século 20, regiões de Jacarta, Nova Orleans, Xangai e Bangkok afundaram cerca de dois a três metros.

O problema da subsidência e seus efeitos no aumento do nível do mar — nos locais onde o solo afunda, o nível do oceano em relação à costa sobe na mesma proporção — está bem documentado em algumas cidades. Mas antes desse novo estudo não havia uma avaliação dos efeitos a nível global. “Nós queríamos realmente entender como é a experiência humana em relação ao aumento do nível do mar” levando em consideração as taxas de subsidência no mundo inteiro, conta Nicholls.            

Para estimar a taxa de aumento do nível do mar em milhares de áreas litorâneas do mundo, Nicholls e seus colegas compilaram dados de quatro fontes principais: observações de satélite mostrando o aumento do nível do mar causado pela mudança climática; modelos que estimam como os solos estão se adaptando desde a última Era Glacial; dados sobre subsidência natural nos deltas de 117 rios, e estimativas de subsidência causada pelas pessoas em 138 grandes cidades litorâneas.

As descobertas foram impressionantes. Medições feitas por satélites estimam que o aumento do nível do mar causado pela mudança climática é de 3,3 milímetros por ano. Nicholls e seus colegas descobriram que as áreas costeiras do planeta Terra, na verdade, tiveram uma média de aumento um pouco mais baixa, de aproximadamente 2,6 milímetros, entre os anos de 1993 e 2015, porque muita terra ainda está surgindo devido à recuperação glacial. Mas essas não são as áreas onde a maioria das pessoas vive: durante o mesmo período, habitantes de áreas litorâneas observaram o nível no mar aumentar em média de 7,8 a 9 milímetros todos os anos.

De acordo com os autores do estudo, isso é um reflexo do fato de que esses habitantes estão concentrados em áreas de subsidência rápida, incluindo deltas de rios e cidades que estão afundando.  O problema é ainda maior no sudeste asiático, onde em 2015, 185 milhões de pessoas viviam em planícies de inundação em áreas litorâneas — cerca de 75% do total global. Essas pessoas vivem com a ameaça de inundações do rio e aumento do nível do mar.

Se a subsidência continuar nos níveis atuais, ainda mais residentes de áreas litorâneas estarão em risco nas próximas décadas. O estudo constatou que apenas a projeção de crescimento populacional prevê que o número de pessoas vivendo em planícies de inundação em áreas litorâneas vai passar de 249 milhões em 2015 para 280 milhões em 2050. O aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas ampliará a área de inundação de modo a atingir mais 25 a 30 milhões de pessoas; a subsidência que já ocorre nas cidades acrescenta 25 a 40 milhões de pessoas nessa conta.

Harold Wanless, especialista em aumento do nível do mar da Universidade de Miami, alerta que não é correto supor que as altas taxas atuais de subsidência nas cidades permanecerão as mesmas até a metade deste século.

“Xangai, por exemplo, está há algum tempo tentando limitar suas taxas”, esclareceu Wanless por e-mail. “E o aumento do nível do mar nos próximos 30 anos vai forçar o abandono de algumas dessas cidades.”

Uma estratégia fundamental para adaptação ao clima

De fato, uma observação importante do estudo é que as cidades litorâneas do mundo inteiro deveriam tomar medidas imediatas para limitar a subsidência, antes que os efeitos da combinação do afundamento do solo e do aumento do nível do mar forcem os residentes a recuarem para o interior.

Para muitas cidades, Nicholls considera que o “problema fundamental” é a extração de água subterrânea, que faz com que os sedimentos dos aquíferos se depositem e o solo acima afunde. Essa foi a situação que aconteceu em Xangai, onde o problema da subsidência do solo foi reconhecido na década de 1920 e amplamente mitigado nas últimas décadas devido a um melhor controle das águas subterrâneas. O mesmo se aplica a Tóquio, onde partes da cidade afundaram cerca de quatro metros durante o século 20 devido ao rápido esgotamento das águas subterrâneas. Nos dias atuais, a cidade praticamente eliminou a subsidência por meio de regras severas para bombeamento de água.

Em outros lugares, como o delta do Rio Mississippi, na costa da Louisiana, que está afundando rapidamente, reverter o dano causado por medidas históricas de controle de inundações será a chave para reduzir a subsidência. Um plano multibilionário está em andamento para ajudar a restaurar o ciclo natural de crescimento do pântano através da abertura de buracos no sistema de diques do rio, construído no século 20. Esse sistema vai permitir que os sedimentos voltem a transbordar para os pântanos.

“Cada localidade precisa entender sua própria situação”, explica Arnoldo Valle-Levinson, oceanógrafo e engenheiro de áreas litorâneas da Universidade da Flórida, que não participou do estudo. Valle-Levinson afirma que o estudo oferece “uma boa maneira de lembrar as prefeituras de cidades litorâneas que elas não devem focar a atenção somente no aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas”. Por fim, ele diz que estratégias de adaptação terão que ser elaboradas de forma específica para os desafios de cada local.

Nicholls concorda que é essencial o entendimento e a abordagem das causas locais de subsidência.  Mas ele espera que, ao classificar como um problema global a situação de imóveis em áreas litorâneas que estão afundando, o novo estudo irá encorajar o compartilhamento de informações entre regiões que já desenvolveram estratégias de mitigação bem-sucedidas, além de aumentar a consciência dos legisladores de políticas relacionadas ao clima sobre essa questão.

“Deve-se considerar uma estratégia de mitigação da subsidência em conjunto com a mitigação da mudança climática”, afirma Nicholls. “Não se trata de ‘estabelecer uma ou outra estratégia’ — mas sim ‘as duas’.”

Fonte: National Geographic Brasil

‘Fim do mundo’. Pequim enfrenta a maior tempestade de areia da década

 


‘Fim do mundo’. Pequim enfrenta a maior tempestade de areia da década

Na Mongólia, seis pessoas morreram vítimas da tempestade e 81 foram declaradas desaparecidas, anunciaram as autoridades locais. (Crédito: Reprodução/Divulgação)

Pequim registou nesta segunda-feira (15) uma grande tempestade de areia, a maior dos últimos 10 anos, que provocou o cancelamento de 350 voos e agravou ainda mais a poluição. O fenômeno provocou um resultado perigoso para a saúde e reduziu a visibilidade em centenas de metros.

As tempestades de areia, procedentes do deserto de Gobi, são frequentes na primavera no norte da China, mas os moradores da capital não observavam o céu tão carregado em muitos anos. Na Mongólia, seis pessoas morreram vítimas da tempestade e 81 foram declaradas desaparecidas, anunciaram as autoridades locais.

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A autarquia de Pequim, cidade de mais de 20 milhões de habitantes, suspendeu todas as atividades desportivas ao ar livre nos centros de ensino e aconselhou as pessoas que sofrem de problemas respiratórios a não saírem de casa. Porém, a maioria dos moradores seguiu para o trabalho com as cabeças cobertas e alguns até com óculos de proteção ou redes para o cabelo.

A situação dificultava a visibilidade de alguns edifícios emblemáticos, como a Cidade Proibida ou a sede da televisão nacional, com o topo de 234 escondido atrás da névoa. Na rede social Weibo, os chineses transformaram o fenômeno em um dos principais temas do dia.

O site especializado aqicn.org considera “perigosa” a qualidade do ar. No início da manhã, o nível de partículas PM10 era quase 20 vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O nível das partículas PM2,5, ainda mais nociva, chegou a 560, um nível poucas vezes registado nos últimos anos em Pequim.

Os episódios de poluição extrema tornaram-se menos frequentes nos últimos anos na capital chinesa, onde o combate à a poluição se tornou um dos maiores desafios para o país, que deseja alcançar a neutralidade de carbono até 2060. Um dos fatores que explicaria o fenômeno pode ser a falta de chuvas nos últimos dias.

Fonte: IstoÉ

Pássaro em risco de extinção ‘esquece’ como cantar

 


Pássaro em risco de extinção ‘esquece’ como cantar

Os pássaros usam o canto para marcar território e encontrar uma companheira para acasalar – LACHLAN L. HALL

Um pássaro raro se tornou tão ameaçado que começou a perder a capacidade de cantar, dizem os cientistas.

O melífago-regente (Anthochaera phrygia), outrora abundante no sudeste da Austrália, agora está listado como criticamente ameaçado de extinção — há apenas 300 exemplares da espécie no mundo.

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“Eles não têm a chance de andar por aí com outros melífagos e aprender como deveria soar seu canto”, explica o pesquisador Ross Crates, que publicou suas descobertas na revista científica Proceedings B, da Royal Society do Reino Unido, instituição britânica dedicada à promoção do conhecimento científico.

Crates, que é membro do Difficult Bird Research Group da Universidade Nacional da Austrália, em Canberra, está agora tentando preservar o canto dos pássaros ensinando melífagos em cativeiro as canções de seus parentes selvagens.

‘Agulha num palheiro’

O objetivo inicial dos pesquisadores não era estudar o canto do melífago-regente; era simplesmente a encontrar os pássaros.

“Eles são tão raros e a área que poderiam ocupar é tão grande — provavelmente 10 vezes o tamanho do Reino Unido —, que estávamos procurando uma agulha num palheiro”, diz Crates.

Durante essa busca meticulosa, ele começou a notar pássaros que estavam “cantando canções estranhas”.

“Não soavam como um melífago-regente, pareciam espécies diferentes”, recorda.

Os pássaros aprendem a cantar da mesma maneira que os humanos aprendem a falar.

“Os pássaros jovens, quando deixam o ninho e vão para o mundo, precisam se associar a outros machos mais velhos, para que possam ouvi-los cantar e repetir essa canção ao longo do tempo”, explica Crates.

O melífago-regente, que perdeu cerca de 90% de seu habitat, agora tem uma população tão pequena e dispersamente distribuída que os machos jovens simplesmente não conseguem encontrar outros machos e ouvir seu canto.

“Então, eles acabam aprendendo o canto de outras espécies“, acrescenta Crates.

O canto natural do melífago-regente basicamente “desapareceu” em 12% da população, conforme revelou a pesquisa.

Ensinando pássaros a cantar

Em um esforço de conservação, os cientistas estão usando gravações de pássaros selvagens para ensinar melífagos em cativeiro seu próprio canto.

Os pesquisadores acreditam que ensinar pássaros criados em cativeiro a cantar pode ajudar nos esforços de conservação – MICK RODERICK

Já existe um projeto para liberar melífagos-regentes criados em cativeiro na natureza de tempos em tempos, para aumentar sua população.

“Mas se esses pássaros machos estão cantando uma canção estranha, as fêmeas podem não acasalar com eles”, explica Crates.

“Portanto, esperamos que, se eles ouvirem o que deveriam cantar, eles aprendam seu canto.”

O cientista acrescenta que, ao tentar conservar a espécie, temos que pensar nesses “traços culturais” como o canto dos pássaros e outros comportamentos naturais que são essenciais para os animais sobreviverem e se desenvolverem na natureza.

Fonte: BBC