O objetivo do acordo de Paris, de limitar o aquecimento global médio
a menos de dois graus Celsius, é insuficiente para proteger as terras
secas do mundo, diz um novo estudo.
Por Madhukara Putty*, SciDev.Net
O estudo, publicado on-line em Nature Climate Change, também sugere
que reduzir o objetivo do aquecimento global a 1,5 graus Celsius é
benéfico tanto para as terras áridas como para as regiões úmidas.
Essas descobertas são importantes para a Ásia-Pacífico, uma região
com terras secas e úmidas. As regiões que cercam o deserto de Thar no
oeste da Índia estão secas, enquanto o nordeste está entre as áreas mais
úmidas do mundo. Os países do Sudeste Asiático são extremamente úmidos.
“A maioria dos países com terras secas são países em desenvolvimento
com pouca representação”, diz Jianping Huang, diretor e cientista-chefe
do Laboratório Chave de Mudanças Climáticas Semi-Áridas na China, que
concebeu o estudo. Ele acredita que reduzir o objetivo do aquecimento
para 1,5 graus Celsius pode reduzir a carga sobre as terras secas e
também beneficiar os países úmidos. O aumento de temperatura resultante
do objetivo do Acordo de Paris pode resultar em rendimentos de milho
reduzidos, secas mais longas e criar condições climáticas favoráveis à
transmissão da malária . Além disso, os países com terras secas não são
suficientemente considerados nos diálogos climáticos globais, como o
Acordo de Paris.
Shalander Kumar, cientista principal do Instituto Internacional de
Pesquisa de Culturas para os Trópicos Semi-áridos na Índia, afirma que o
estudo proporciona uma melhor compreensão das contribuições regionais e
dos impactos das mudanças climáticas nas regiões úmidas e secas.
Kumar, no entanto, diz que a variação do rendimento das culturas é
muito mais complexa. “As mudanças na distribuição das chuvas são
susceptíveis de afetar os rendimentos das culturas de forma
significativa, enquanto o aumento dos níveis de dióxido de carbono pode
ter um impacto positivo nas produções da safra”.
*Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/08/2017
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Operação de combate à supressão ilegal da Mata Atlântica realizada
pelo Ibama na região sul do país resultou no embargo de 1.225 hectares e
na aplicação de 16 autos de infração que totalizam R$ 9,4 milhões. Cada
hectare equivale à área de um campo de futebol.
A partir de imagens de satélite, agentes ambientais identificaram as
vinte maiores áreas de supressão no nordeste do Rio Grande do Sul. A
região abriga formações vegetais ricas em biodiversidade, conhecidas
como campos de altitude, que ocupam cerca de 1,3 milhão de hectares,
ameaçados pela expansão da atividade agrícola.
A Nova Lei Florestal (Lei 12.651, de 2012) estabelece que a supressão
de vegetação nativa para uso alternativo do solo, de domínio público ou
privado, dependerá de inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e de
prévia autorização do órgão estadual competente. A Lei da Mata Atlântica
(11.428/2016) só admite a retirada de vegetação nativa em casos
excepcionais.
Em regra, a supressão vegetal não é autorizada para campos de
altitude em estágio médio ou avançado de regeneração. Ou seja, campos
nativos não suprimidos até a edição da Resolução do Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama) n.º 423/2010 e historicamente utilizados para
atividade pecuária.
“O monitoramento e a fiscalização serão mantidos. O Decreto
6.514/2008 estabelece multa de R$ 7 mil por hectare para destruição
desse tipo de vegetação nativa e embargo da área para recuperação
ambiental”, disse o chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama no Rio
Grande do Sul, Rodrigo Dutra, que coordena a Operação Campereada.
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Aquecimento global afeta produção de frutas, verduras e outras culturas agrícolas dependentes de polinização
Jornal da USP
O aquecimento global e as mudanças no clima podem afetar a ocorrência de polinizadores naturais. Em artigo publicado na revista PLOS One,
pesquisadores avaliaram 95 polinizadores de 13 culturas agrícolas
dependentes de polinização. Concluíram que quase 90% dos 4.975
municípios analisados enfrentarão perda de espécies polinizadoras nos
próximos 30 anos, de acordo com informações da Assessoria de Comunicação
da Escola Politécnica (Poli) da USP. Em todo o País, a probabilidade de
ocorrência de polinizadores poderá ter uma queda de 13% até 2050,
segundo o estudo.
Assinado por um time multidisciplinar encabeçado pela bióloga e pós-doutoranda da Poli, Tereza Cristina Giannini, o artigo Projected climate change threatens pollinators and crop production in Brazil aponta
que a região Sudeste será a mais impactada, ao passo que na região
Norte há possibilidade de um leve aumento da ocorrência de determinados
polinizadores. Entretanto, como afirmou Tereza, atualmente pesquisadora
do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, as perdas
serão maiores que os ganhos.
As culturas agrícolas estudadas foram acerola, urucum e maracujá
(categorizadas como culturas agrícolas em que a polinização é
essencial); abacate, goiaba, girassol e tomate (muito dependentes da
polinização); coco, café e algodão (modestamente dependentes); feijão,
tangerina e caqui (pouco dependentes). A dependência se deve à
morfologia da flor: há flores que não precisam de polinizador animal (o
vento, por exemplo, já resolve). Outras precisam que o polinizador
carregue o grão de pólen de uma flor para outra, garantindo, assim, a
polinização.
“Para as culturas agrícolas e os polinizadores que estudamos, esse
foi o resultado. Isso não significa que esse resultado seja válido para
todas as espécies”, afirmou Tereza, ponderando que no oeste da região
Norte, ainda bem protegido por mata nativa, o impacto das mudanças de
clima pode ser menor do que em áreas do Sul, Sudeste e Nordeste do
Brasil.
“É importante ressaltar as seguintes descobertas: primeiro, as perdas
maiores afetam municípios com baixo PIB, o que pode impactar ainda mais
os níveis de pobreza dessas regiões; e segundo, ao mesmo tempo [e em
menor grau], elas afetam também um grupo de municípios muito rico, com
valores de PIB muito altos que podem ser potencialmente reduzidos pelas
perdas de polinizadores”, afirmou a pesquisadora.
As perdas maiores afetam municípios com baixo PIB, o que pode impactar ainda mais os níveis de pobreza dessas regiões.”
Na pesquisa o grupo usou a Modelagem de Distribuição de Espécies
(MDE), técnica que determina áreas potenciais de ocorrência de espécies e
projeta sua distribuição futura. Para estimar a ocorrência e
localização de cada espécie polinizadora, foram usados os bancos de
dados do Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria) e do Global
Biodiversity Information Facility (GBIF).
“A modelagem de distribuição de espécies já tem sido usada há alguns
anos. O ineditismo nesse trabalho foi a abordagem de cruzar a estimativa
dos polinizadores do País, com foco nos municípios, com o impacto que
isso tem na produção agrícola, município por município”, resume o
professor Antonio Mauro Saraiva, do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade
e Computação da Poli.
Supervisor de Tereza no pós-doutorado, ele afirma que o enfoque do
trabalho ultrapassa o de um mero exercício científico. “Não se trata de
entender apenas como as mudanças climáticas afetarão os polinizadores,
mas como elas poderão impactar diretamente as culturas polinizadas e a
produção agrícola, e os efeitos econômicos disso – algo que tem uma
importância social grande. Esses resultados podem ser apresentados para
tomadores de decisão e produtores e a metodologia tem potencial para
tornar-se uma ferramenta de políticas públicas.”
“De modo geral, achamos que a adaptação provavelmente vai acontecer
com espécies que toleram amplas faixas de temperatura e precipitação.
Mas isso é muito difícil de medir. Podemos mensurar a tolerância de um
polinizador à mudança de calor, por exemplo. Mas como medir essa mesma
tolerância se a mudança demorar dez anos para acontecer?”
Entre as espécies estudadas pelo grupo, Tereza aponta como relevantes as abelhas sem ferrão do gênero Melipona e a Tetragonisca angustula (chamada de jataí); as espécies do gênero Bombus e Xylocopa (as mamangavas); e as abelhas do gênero Centris (abelhas de óleo).
O artigo é assinado ainda por Wilian França Costa, também
pós-doutorando na Poli, Guaraci Duran Cordeiro, Vera Lucia
Imperatriz-Fonseca, Jacobus Biesmeijer, da Holanda, e Lucas Alejandro
Garibaldi, da Argentina, além do professor Antonio Mauro Saraiva.
Da Agência Fapesp
Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/08/2017
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Pesquisa mostra que empresários estão preocupados em investir em sustentabilidade. Tema é discutido em Curitiba nesta semana
Pesquisa realizada ao longo dos últimos cinco anos durante a
realização do Fórum Sustentabilidade e Governança mostra que a maioria
dos executivos e gestores tem elevada consciência do impacto das
questões ambientais nos seus negócios, porém “falta cultura empresarial”
para uma adesão maior a práticas responsáveis.
“De forma geral, os gestores sabem da importância do tema
sustentabilidade e governança, têm consciência dos riscos envolvidos e
das medidas necessárias para a sua implementação, sabem também que não
podem esperar eficiência das ações governamentais, porém a mudança dessa
cultura é muito mais difícil”, afirma Miguel Milano, engenheiro
florestal e um dos organizadores do Fórum.
Além desse aspecto, 65% dos
pesquisados, em sua maioria coordenadores, gerentes e diretores,
reconheceram que bens e produtos com origem produtiva comprovadamente
legal, eficiente e sustentável merecem uma precificação (prêmio)
diferenciada. Outros 35% defendem que as práticas sustentáveis não
deveriam influenciar no preço, pois a “produção eficiente e legal é uma
obrigação empresarial”.
Pesquisa mundial realizada pela ISEAL Alliance confirma esse
diferencial, ao constatar que os resultados de longo prazo identificados
em 53% dos casos foram o aumento do lucro, a diminuição de custos (30%)
e a melhoria reputacional (60%)”. A razão para as práticas não serem
adotadas mesmo em empresas “já convertidas”, já que existe consciência
das vantagens, pode ter sido traduzido pelo resultado da pesquisa
realizada, pois 45% dos entrevistados apontam para a “falta de
conhecimento e cultura no assunto, falta de clareza no assunto e a falta
de coordenação em cadeia”.
A pesquisa do Fórum mostra ainda que: apenas 37% dos entrevistados
têm conhecimento de iniciativas na área ambiental em âmbito federal. O
desconhecimento reflete a descrença na efetividade dos mecanismos de
incentivo existentes. Na média dos cinco anos de pesquisa, mais da
metade (52%) dos entrevistados respondeu que consideram ineficientes as
ações governamentais das quais têm conhecimento.
A vulnerabilidade às mudanças climáticas também entrou na agenda de
preocupações dos gestores. Em conjunto com a escassez e poluição da
água, esses fatores somam dois terços das respostas do ano passado ao
questionamento sobre quais limitações ecossistêmicas poderiam afetar o
crescimento da empresa ao longo de dez anos.
O índice de preocupação com os eventos climáticos (20%) foi o mais
expressivo de todos os anos estudados, o que mostra uma consonância da
consciência dos empresários com o que está sendo discutido globalmente.
Sobre o Fórum
Sob o tema “O caminho natural do desenvolvimento”, o Fórum
Sustentabilidade & Governança realiza sua sexta edição em Curitiba,
nos dias 22 e 23 de agosto e oferece espaço para que iniciativas
inovadoras que envolvam sustentabilidade e negócios sejam discutidas e
compartilhadas com os principais atores envolvidos no tema.
Entre os palestrantes estão: David Brand, CEO da companhia
australiana New Forests, que conta com mais de 30 anos de experiência
com investimentos na área florestal e de políticas públicas; e Manoel
Sobral Filho, Diretor Executivo do Fórum de Florestas da ONU, que vai
falar sobre as metas de desenvolvimento sustentável estabelecidas pela
Organização.
Colaboração de Marina Pilato, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/08/2017
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Seca limita a diversidade de árvores na floresta amazônica. Foto: Vandré Fonseca.
Manaus, AM -- A intolerância a longos períodos sem chuvas limita a
diversidade de árvores floresta amazônica. Espécies encontradas nas
regiões mais úmidas da Amazônia, como matamatás, ucuúbas e ingás, não
suportam bem a falta de água e podem ser prejudicadas por um clima mais
seco.
A conclusão está em um artigo publicado nesta segunda-feira na
revista Scientific Reports, que também traz um alerta sobre as
consequências do aquecimento global sobre a Amazônia. “Se aumentar a
frequência de secas e atemporalidades que aumentam o estresse hídrico,
essas plantas não vão tolerar “, afirma a bióloga brasileira Adriane
Esquivel Muelbert, autora principal do artigo e pesquisadora da
Universidade de Leeds, Reino Unido.
Pela primeira vez, o efeito da seca sobre a diversidade das florestas
tropicais no Novo Mundo foi analisado em escala continental. Os
pesquisadores examinaram dados de experimentos e observações de mais de
100 gêneros de árvores, para comparar a distribuição de cada um deles,
em 11 países da Amazônia e América Central.
Foto: Vandré Fonseca.
Os resultados do estudo indicam que secas mais frequentes e longas,
como previsto nos cenários de Aquecimento Global, podem provocar a
extinção de espécies exclusivas da região. As mais vulneráveis à seca
seriam substituídas ao longo do tempo por outras, mais tolerantes. As
áreas úmidas, onde está a maior diversidade e árvores que precisam de
mais água, seriam as mais afetadas pelas mudanças climáticas, conforme
destaca Adriane.
Os pesquisadores descobriram também que as árvores adultas sofrem
mais com a falta de água do que plântulas ou jovens. Adriane afirma que
ainda não se sabe os efeitos dessa substituição de espécies sobre a
absorção de carbono pela floresta. E ainda há outras coisas a serem
estudadas.
São necessários, por exemplo, estudos sobre a fisiologia das árvores,
para saber como as espécies de áreas úmidas são afetadas pela seca.
Além disso, as mudanças na floresta podem ter efeitos, ainda
desconhecidos, sobre a interação biótica, ou seja, pode afetar também
outros grupos de seres vivos, como pássaros ou insetos.