segunda-feira, 2 de março de 2020

A batalha dos jumentos




por para o Diálogo Chino – 
Como um símbolo nordestino virou o centro de uma disputa que paralisou um comércio milionário com a China

Desde que uma decisão judicial proibiu o abate de jumentos na Bahia em novembro, o restaurante de José Bispo dos Santos, na cidade de Amargosa, vive às moscas. Boa parte dos clientes de Santos, ou Zeca de Patrão, como é conhecido pelos amigos, trabalhava no matadouro da cidade e perdeu o emprego.
O matadouro Frinordeste existia desde junho de 2017, depois que o abate de jumentos fora regulamentado na Bahia como parte de uma negociação internacional entre diplomatas brasileiros e chineses. Os chineses usam o couro do jumento para fabricar ejiao, um remédio que, acredita-se, combate desde o envelhecimento até a falta de apetite sexual das mulheres. Eles também comem a carne do animal.

Mas apreciar um hambúrguer de jumento, comum nas ruas de Pequim, é algo impensável para o baiano Zeca. Apesar dos prejuízos – além da queda no movimento no restaurante, o filho dele, Luiz Fernando da Cruz, foi um dos que perderam o emprego no frigorífico – ele é contra o abate agora proibido.

“Os jumentos ajudaram muito meus antepassados,

trabalhado”, disse. “O pessoal aqui é fiel ao jegue”.

Jumentos estão no centro de uma batalha judicial que expõe como diferenças culturais podem ter um peso em questões de comércio internacional — e como o apetite chinês por ejiao causa temores por todo o mundo de que a extinção do jumento seja uma ameaça real.

A demanda por importação de couro pela China está crescendo. Apesar de o país produzir 1,8 milhão peles por ano, seu consumo é de 4 milhões. Com isso, a China passou a comprar couro de jumento de diversos países em desenvolvimento. A proibição de novembro torna o Brasil o último em uma lista de mais 15 países que baniram o abate de jumentos — a maioria na África.
Mas, diferente de Zeca, quem lucra com o abate de jumentos está longe de desistir da batalha no Brasil.

Uma conta que não fecha

Tudo começou com uma portaria publicada pela Agência de Defesa Agropecuária da Bahia, Adab. O documento, com apenas nove artigos, poderia ter se perdido no meio de tantos outros publicados no Diário Oficial de 29 de junho de 2016. Não foi o que aconteceu. Ao regulamentar o abate de jumentos, muares e bardotos em todo território baiano, aqueles poucos artigos mexeram em um vespeiro, tornando-se o estopim para uma acirrada batalha jurídica, econômica e ética.

O documento pretendia resolver o problema histórico dos animais errantes que, “além de provocar acidentes rodoviários, poderiam servir de agentes disseminadores de doenças”.

4 milhões: O número de peles de jumento

consumidas pela China por ano

Apesar de considerados símbolos do Nordeste, nos últimos anos os animais foram largamente abandonados, substituídos por um meio de transporte muito mais rápido, se menos amigável: a motocicleta. No Ceará, o problema se tornou tão grave, que o departamento de trânsito local frequentemente envia equipe para recolher os animais abandonados e evitar acidentes de trânsito. Só no último feriado de ano novo, foram 115 jumentos recolhidos.

Mas a portaria era mais que uma resposta a um novo problema social. Ela dava o sinal verde para o início de um projeto que vinha sendo articulado por empresários e pelo governo baiano há anos: a exportação de carne e couro de jumentos para a China. Um negócio que, na época, a então ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou que poderia chegar na casa dos três bilhões de dólares. A articulação existia pelo menos desde 2012, quando foi assinado um acordo comercial sobre jumentos entre China e Brasil.

Dias depois da portaria entrar em vigor, a empresa FrigoCezar, no município de Miguel Calmon/BA, iniciou o abate. Só na primeira semana foram mortos aproximadamente 300 jumentos.  Um ano depois, em 26 de junho de 2017, em uma solenidade que contou até com o governador da Bahia, Rui Costa, era inaugurado o frigorífico Frinordeste, vizinho do restaurante de Zé do Patrão.

O empreendimento, feito em parceria com os chineses, começou a funcionar gerando 150 empregos diretos, 270 indiretos e com a expectativa de produzir e exportar mensalmente 300 toneladas de carne para o mercado asiático.

O Frinordeste é uma sociedade formada por uma empresa brasileira e dois sócios chineses: Zhen Yongwei e Ran Yang. Ambos residem na China, e não foram localizados pela reportagem. A reportagem tentou entrar com seu representante legal no país, mas não obteve retorno.
Na esteira do Frinordeste, mais dois frigoríficos começaram a operar no abate de jumentos na Bahia: o Cabra Forte, em Simões Filho, e o Sudoeste, em Itapetinga. O primeiro em dezembro de 2017 e o segundo em agosto de 2018.

Do ponto de vista econômico, a incipiente cadeia produtiva caminhava bem. Somando os três frigoríficos – únicos no Brasil autorizados para o abate de jumentos– foram criados 376 empregos diretos e 1.360 indiretos, segundo dados do governo da Bahia. Além disso, a cadeia produtiva gerava emprego e renda para mais de 500 produtores, vaqueiros e ajudantes na  coleta de jumentos abandonados nas diversas regiões do estado.

Mas os argumentos econômicos não convenceram os defensores dos animais, organizados globalmente. Depois de contestar a portaria de 2016 sem sucesso, eles continuaram protestando e, principalmente, brigando na Justiça. Até que, em 30 de novembro de 2018, a juíza Arali Maciel Duarte, da 1ª Vara Federal, em Salvador, concedeu liminar proibindo o abate de jumentos em todo território da Bahia.

A decisão resultou de uma ação civil pública contra a União e o Estado da Bahia, de autoria da União Defensora dos Animais – Bicho Feliz, da Rede de Mobilização pela Causa Animal, do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, da SOS Animais de Rua e da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.

Um fato foi decisivo para que a juíza Arali Maciel suspendesse o abate de jumentos. Em 4 de setembro de 2018, mais de 200 animais foram encontrados mortos, provavelmente de fome e sede, em uma fazenda na zona rural de Itapetinga/BA.

O local servia para o confinamento de jumentos antes de serem abatidos no Frigorífico Sudoeste. O caso teve ampla repercussão na mídia e chocou a opinião pública baiana.

Na argumentação, a juíza fala dos maus-tratos sofridos pelos animais na “captura”, durante o transporte e, principalmente, no confinamento. A magistrada demonstrou, ainda, preocupação com questões de saúde pública. Ao não serem cumpridas todas as exigências legais no processo de abate dos jumentos, eles poderiam se tornar transmissor de doenças, argumentou.
jumento brasil
Mas foi em uma uma conta rápida, usando dados do Conselho Regional de Veterinária e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que a juíza construiu seu principal argumento: o plano das novas empresas de abater 200 mil animais por ano poderia levar a extinção dos jumentos nordestinos.

“Com uma estimativa de população atual de 600.000 animais no Nordeste, considerando o ritmo de abate, nos próximos [3] anos a população de jumentos nordestinos estará extinta!”, escreveu.

O governo da Bahia, por meio da Procuradoria Geral do Estado, tentou derrubar a liminar e restabelecer o abate dos jumentos. Na argumentação, Marcos Sampaio, Procurador Geral do Estado, diz que a juíza extrapolou sua competência administrativa mandando paralisar toda uma cadeia produtiva relevante, “produto de acordos privados e compromissos públicos assumidos internacionalmente” pelo governo da Bahia.

Para o procurador, a proibição do abate nada faria para dirimir a crise que matava os jumentos de fome e sede. “Quando um agente econômico ou público comete uma irregularidade, a ordem não pode ser de proibição da atividade desempenhada, mas de exigir a correção da atitude”.
A decisão foi mantida em segunda instância. Mas a batalha legal continua.

Negócio empacado

 

Enquanto as entidades protetoras dos animais comemoram a vitória parcial na Justiça Federal, os empresários contabilizam os prejuízos. Ainda é difícil dimensionar seu tamanho.Falta transparência em boa parte da cadeia produtiva de carne e couro de jumentos. Entre as empresas, a regra é o silêncio e a falta de clareza na condução dos negócios. Só para se ter uma ideia, dos três frigoríficos autorizados, apenas o de Simões Filho tem página na internet e canal de comunicação com os clientes.



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Frigorífico de Simões Filho, na Bahia, segue parado. 
Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Dados do Ministério da Agricultura, levantados pelo jornal Correio da Bahia, apontam que os três frigoríficos autorizados para o abate de jumentos exportaram mais de 25 mil toneladas de carne e couro de “cavalos, asininos e muares”, com uma receita próxima a 40 milhões de dólares, em 2018, para Vietnã e Hong Kong.

Reginaldo Filho, proprietário do Cabra Forte, em Simões Filho, trabalha com abate de animais desde 1997, quando sua família adquiriu o frigorífico que na época operava com bovinos e suínos. Em 2015, ele realizou um estudo para atestar a viabilidade econômica do abate de equídeos (jumentos, muares e bardotos), chegando até a visitar a China. Em dezembro de 2017, após conseguir autorização do Serviço de Inspeção Federal, começou a operar.

Quando veio a proibição, o Cabra Forte abatia cerca de 200 jumentos por dia, de segunda a sexta-feira, com capacidade instalada para chegar a 500. Para isso, contava com 180 funcionários –120 perderam o emprego depois da decisão da justiça. Segundo  Reginaldo, o investimento total no projeto foi de cerca de 1,5 milhão de dólares.

Com um ano de funcionamento, o negócio comandado por Reginaldo ainda não dava lucro. Em média, com a exportação do couro e da carne, a previsão de receita era de R$ 370 por animal abatido. O problema é que, por questões “burocráticas” (faltava alguns certificados), o Cabra Forte não conseguia vender direto para a China, tendo que negociar com Hong Kong e com o Vietnã, cujas empresas atuavam como intermediários. Caso exportasse direto para a China, como era o caso do frigorífico de Amargosa/BA, a receita subiria para R$ 870 por animal. “Havia uma luz no fim do túnel”, lamenta Reginaldo.

O principal interesse dos importadores chineses é o couro. Dele é retirada uma substância que serve de princípio ativo para fazer o ejiao. Seu preço vem subindo, junto com sua popularidade, nos últimos anos. Hoje, .uma caixa com 250 gramas do produto custa em torno de 180 dólares.

Além da exportação da carne e do couro de jumento, a proibição também afetou outro projeto que o frigorífico Cabra Forte vinha tocando. Inspirado no que viu quando visitou a China, Reginaldo se preparava para inaugurar um centro de equoterapia que atenderia crianças com deficiências ou necessidades especiais, utilizando os animais que não passassem na triagem para o abate.
Além de uma fonte extra de recursos e do aproveitamento de animais que não seriam aproveitados (abaixo do peso ou prenhe), o centro também funcionaria como um projeto social da empresa ao atender gratuitamente crianças das comunidades vizinhas ao frigorífico.

Reginaldo Filho discorda da proibição do abate, mas prefere evitar polêmica. “Tá tudo lá no processo”. Mesmo assim, reclama da demora para se chegar a uma decisão. Segundo ele, isso gera insegurança para quem quer investir no negócio. Reginaldo ressalta que cumpre com todas as normas e está pagando pelos erros dos outros. “Só quem deveria ser punido é quem fez algo errado”.

Ruim para os empresários, pior para os trabalhadores e para os pequenos comerciantes que prosperaram em torno dos frigoríficos . Em Amargosa, por exemplo, cerca de 150 pessoas perderam o emprego com a paralisação das atividades do Frinordeste — incluindo o filho de Zeca do Patrão, dono do restaurante local. Outros 270 postos de trabalhos indiretos também foram fechados.
Lucas Oliveira, de 23 anos, é um dos que foram diretamente afetados pela proibição do abate. Lucas trabalhou como auxiliar de desossa por um ano e meio. Neste período, quando pela primeira vez conseguiu a carteira de trabalho assinada, teve um filho e muitos planos para o futuro. Há quatro meses vive de “bicos” e do seguro-desemprego. “Só eu sei a falta que tá fazendo. Mas a gente tem esperança de voltar”.

Nosso irmão

 

Um trecho da polêmica decisão da juíza Arali Maciel Duarte que não foi questionado por nenhuma das partes é a que ressalta a importância do jumento para a população nordestina:

“A população brasileira e principalmente a nordestina respeita e reconhece a importância histórica e social dos jumentos“, ela escreveu.“Os jumentos têm na história uma contribuição incalculável para o desenvolvimento do país, principalmente do Nordeste.”



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Jumenta criada em Carpina é produtora de leite. 
Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
A juíza chama atenção às estátuas de jumentos pelos estados nordestinos, e às músicas que foram feitas em homenagem ao bicho. O nome de uma delas, de Luiz Gonzaga, talvez resuma o sentimento que muitos nordestinos têm pelo jumento: “Apologia Ao Jumento (O Jumento É Nosso Irmão)”.

Não existe pesquisa de opinião confiável sobre o assunto. Mas a rejeição do nordestino ao abate de jumentos fica clara no apoio às manifestações promovidas pelas organizações de defesa dos animais ou mesmo nos comentários deixados nas redes sociais.  Das dezenas de pessoas ouvidas para a elaboração dessa reportagem, com exceção daquelas diretamente envolvidas na cadeia de produção, todas eram contra o abate.

Ao proibir o abate, a juíza não fugiu da questão cultural. Para a maioria dos brasileiros que nasceram na região Nordeste, a relação com o  jumento mistura religiosidade, gratidão e estima.
Originário do norte da África, o jumento – um animal forte e resistente – adaptou-se perfeitamente ao clima árido que predomina no Nordeste brasileiro. Desde muito tempo, o nordestino tem o animal “que levou o menino Jesus no lombo” como um aliado para o trabalho de arar a terra, carregar a água ou puxar a carroça.

Em uma entrevista publicada no portal do Instituto Humanitas Unisinos, Kátia Lopes, doutora em Ciência Animal e sócia-fundadora da ONG Defesa da Natureza e dos Animais, de Mossoró/RN resumiu esse sentimento: “Na formação da nossa civilização muita gente defende que foi no lombo de um jumento que a nação nordestina nasceu. Ele é o símbolo da resistência da nossa região.”
Ao ressaltar o companheirismo entre jumentos e trabalhadores no nordeste, a juíza Duarte deixou escapar ainda uma cutucada na cultura chinesa:

“Juntos passavam fome, porém, nunca cogitaram a possibilidade de incluí-los no rol de alimentos.”

Guerra em Canudos

 

O cenário era de guerra. Quando os fiscais da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente chegaram à fazenda Santa Rita, em Canudos, Sertão do estado, encontraram por volta de 200 jumentos mortos. Outros cerca de 800 animais continuavam confinados ilegalmente no espaço e aparentavam estar desnutridos e desidratados. O cenário foi revelado no dia 1º de fevereiro de 2019, dois meses após a proibição do abate de jumentos pela Justiça Federal.



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Jumento na beira da estrada em Pernambuco. 
Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo
Segundo o relatório produzido pela fiscalização, o destino dos animais seria o abate em Itapetinga e Amargosa, ambas cidades baianas. A suspensão das atividades pegou de surpresa os responsáveis pelo confinamento e transporte dos jumentos, dois chineses cujos nomes não foram revelados. Sem destino, os animais foram abandonados.

Por conta dos maus-tratos, os jumentos continuaram morrendo na fazenda Santa Rita. Atualmente, apenas cerca de 420 estão vivos. Em uma entrevista por telefone, a a bióloga Patrícia Tatemoto, contou que existe o risco de mais mortes devido a uma doença metabólica conhecida por hiperlipemia, sequela das condições adversas . Patrícia é a única representante no Brasil da ONG britânica The Donkey Sanctuary, que atua globalmente na defesa dos jumentos.

A The Donkey Sanctuary faz parte, junto com outras entidades, da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos. Por determinação da justiça, são as entidades que agora têm a tutela dos animais e são responsáveis por mantê-los. Isso, claro, tem um custo elevado e exigem recursos que os ativistas não possuem.

Para se ter uma ideia, o gasto diário só com a alimentação dos sobreviventes é de R$ 890, somado com outras despesas (veterinário, remédios) chega a algo em torno de R$ 50 mil ao mês. Uma campanha de financiamento coletivo, na plataforma Catarse, foi iniciada para arrecadar fundos. Até o momento, apenas 11% da meta estabelecida foram atingidos.


Esta reportagem é uma parceria entre Diálogo Chino e Marco Zero Conteúdo, uma organização de jornalismo independente em Recife, Brasil.

Degradação da Floresta Amazônica tem aumento de mais de 1.300% em janeiro, indica alerta de desmatamento do Imazon

Degradação da Floresta Amazônica tem aumento de mais de 1.300% em janeiro, indica alerta de desmatamento do Imazon

Degradação da Floresta Amazônica tem aumento de quase 800% em janeiro, indica alerta de desmatamento do Imazon
O primeiro mês de 2020 trouxe más notícias para a região amazônica. Infelizmente, é uma tendência que vem se repetindo, praticamente mês a mês, desde o ano passado.

Segundo o mais recente monitoramento divulgado pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)*, em janeiro foram detectados 188 km2 de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 74% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando a destruição da floresta somou 108 km2.

A chamada Amazônia Legal é uma área que compreende nove estados brasileiros e corresponde a quase 60% do território nacional.

Assim como em meses anteriores, Pará, Mato Grosso e Rondônia lideraram o ranking do desmatamento nesse começo de 2020.

Os municípios que apresentaram os mais altos índices de destruição de floresta foram Senador José Porfírio (PA), Lábrea (AM), Rorainópolis (RR), São Félix do Xingu (PA) e Altamira (PA).
A maior parte de perda florestal ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse (66%). O restante aconteceu em assentamentos (21%), Terras Indígenas (11%) e Unidades de Conservação (2%).

Todavia, a pior notícia é em relação à degradação da floresta, quando não se faz o corte raso, ou total, da mata. Em comparação a janeiro de 2019, houve um salto de mais de 1.300%. As florestas degradadas somaram 163 km2 em janeiro de 2020, enquanto que no mesmo período do ano passado esse número era de “apenas” 11 km2.

Mensalmente, o Imazon realiza o levantamento do desmatamento da Floresta Amazônica, através de dados gerados pela plataforma Google Earth Engine (EE), com a utilização de imagens de satélites e mapas digitais.
*O Imazon é um instituto nacional de pesquisa, sem fins lucrativos, composto por pesquisadores brasileiros, fundado em Belém há 29 anos. Através do sofisticado Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), a organização realiza, há mais de uma década, o trabalho de monitoramento e divulgação de dados sobre o desmatamento e degradação da Amazônia Legal, fornecendo mensalmente alertas independentes e transparentes para orientar mudanças de comportamento que resultem em reduções significativas da destruição das florestas em prol de um desenvolvimento sustentável

Leia também:
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Governo federal tira sociedade civil do conselho do Fundo Nacional do Meio Ambiente

Foto: Mayke Toscano/Secom-MT/Fotos Públicas

Incêndios da Austrália destruíram 20% das florestas do país

Por Suzana Camargo, de Conexão Paneta – 
 
O fogo atingiu uma escala sem precedentes, nunca antes observada em nenhum outro bioma florestal do mundo nos últimos 20 anos. “Eventos como esses são vistos como prenúncios de um futuro que está rapidamente se tornando presente”, alertam pesquisadores

Foram quatro meses de incêndios florestais que devastaram mais de 10 milhões de hectares de vegetação, deixaram 28 vítimas humanas fatais e mataram quase 500 milhões de animais.
O fogo que começou a se alastrar em setembro de 2019 e provocou destruição até fevereiro de 2020 foi o pior já enfrentado pelos australianos nas últimas décadas. A região de New South Wales e Victoria, no sudoeste do país, foram as mais afetadas pelos incêndios.

Segundo um levantamento realizado por pesquisadores do Hawkesbury Institute for the Environment da Western Sydney University, cerca de 20% de áreas de florestas foi destruída pelas chamas, aproximadamente 5,8 milhões de hectares.

Da última vez que houve incêndios dessas proporções no país, a perda florestal foi de “somente” 2%.
“Analisamos os principais biomas florestais da Austrália, Ásia, África, Oceania e Américas do Norte e do Sul para determinar a extensão das áreas anuais queimadas por incêndios florestais”, revelou Matthias Boer, principal autor do estudo.

“As florestas na Austrália e em outros continentes queimaram historicamente até aproximadamente 5% da área florestal a cada ano, com percentuais mais altos de 8 a 9% registrados apenas em pequenas regiões florestais da África e Ásia. No entanto, em 2019/2020 na Austrália, essa área queimada saltou para 21% em uma única temporada”.

Para Boer, o fogo em seu país atingiu uma escala sem precedentes, nunca antes observada em nenhum outro bioma florestal nos últimos 20 anos.

Em um artigo publicado na Nature Climate Changeespecialistas analisaram as causas e os impactos da tragédia na Austrália. “Os incêndios ocorreram no início de um ano em que houve um aumento do envolvimento do público com a ciência e as políticas climáticas, bem como uma maior cobertura da mídia. Eventos como esses são vistos como prenúncios de um futuro que está rapidamente se tornando presente”, alertaram os autores.

Há 13 anos, cientistas já tinham previsto o agravamento dos incêndios florestais na Austrália. Em 2007, representantes do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) destacaram o impacto do aquecimento global relacionado ao fogo, ressaltando o risco de incêndios naquele país. Naquela época, o primeiro-ministro, Scott Morrison, já negava os efeitos das alterações do clima e era contra políticas de redução de gases de efeito estufa.

Foi justamente por esta razão que Morrison foi tão criticado pelos australianos, que exigiram mais recursos para os serviços de combate a incêndios e ações urgentes de combate à crise climática, começando com a manutenção de combustíveis fósseis no solo.

Secas históricas

Um dos impactos mais conhecidos das mudanças climáticas são os eventos climáticos extremos. O sudoeste da Austrália teve um dos períodos mais secos de sua história, de janeiro a agosto de 2019.
A seca, combinada a um inverno com recordes de calor, proporcionou o cenário ideal para que as chamas se alastrassem pela vegetação. Ou seja, o que vemos agora são alguns dos efeitos práticos da crise climática global. É isso mesmo, o futuro já começou!
As mudanças climáticas na Austrália significam que os incêndios florestais começam mais cedo, duram mais e são mais intensos.
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

#Envolverde

Gafanhotos-do-deserto expõem os extremos da crise climática na África

Por Sucena Shkrada Resk* – 

Situação atual em vários países do continente é avaliada como sem precedentes, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU)

A palavra “extremo” permite resumir o quadro complexo e caótico que países da África Oriental estão vivenciando desde dezembro do ano passado e que se agrava atualmente. Nuvens gigantescas com gafanhotos-do-deserto estão causando destruição. São bilhões de insetos que devastam plantações e pastos, alimentação de milhares de pessoas. Nada fica de pé. Este fenômeno, que ocorre, há séculos, ganhou proporções nunca antes vistas, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

A ocorrência de ciclones na Península Arábica e chuvas intensas, que têm se intensificado nos últimos três anos, possibilitaram a proliferação dos insetos. As mudanças climáticas expõem mais uma faceta nesta região já tão vulnerável no planeta do enfrentamento à praga migratória mais destrutiva do mundo.

Paquistão e Somália chegaram a declarar estado de emergência, agora, em fevereiro de 2020. Etiópia, Quênia, Djibuti e Eritreia já sofrem com a invasão. O risco também atinge Iêmen, Arábia Saudita, Omã, Sudão e Sudão do Sul e Uganda, e pode se propagar a outros países. A gravidade das consequências gerou alerta por parte da FAO, braço da área de alimentação e segurança alimentar da ONU. Mais de 11 milhões de pessoas, que vivem nesta região, já sofrem com a insegurança alimentar. Os processos migratórios são mais um fator que pesa neste processo de vulnerabilidade, somados às crises políticas e econômicas que afligem boa parte destas nações.

No intervalo de um dia, os gafanhotos podem atingir uma área de 150 km e uma nuvem de 1 km2 destes insetos, pode ter 80 mil exemplares e consumir alimentos correspondentes a 35 mil pessoas. Faça a conta da multiplicação da devastação…A situação é mais caótica, pois atinge populações que têm principalmente cultivos de subsistência e já sofrem com a insegurança alimentar.

Mark Lowcock, chefe humanitário da ONU, expôs a urgência de se arrecadar fundos, na ordem de US$ 76 milhões (já conseguiram US$ 20 mi), para combater a praga e evitar o risco de fome das populações, que já sofrem com este problema por causa das secas. Ele alerta que um terço dos 30 milhões de vítimas de insegurança alimentar pode ter a situação mais comprometida no extremo leste africano. Para se ter noção, uma nuvem com 200 bilhões de insetos pode consumir mesma quantidade de alimentos que 84 milhões de pessoas em um dia no Quênia.

A média de vida do gafanhoto é de cinco meses e com o risco de chuvas, que facilitam sua proliferação, o número de exemplares pode crescer em 500 vezes, de acordo com a FAO.  Para complicar o quadro, que já é desolador, a técnica utilizada atualmente ainda é com pesticidas. Métodos de biocontrole ainda estão em estudo.

O comprometimento na economia destes países é de grande vulto. Para se ter ideia, houve o prejuízo de US$ 2,5 bilhões em perdas de colheitas, quando houve outra invasão de gafanhotos no norte africano, entre 2003 e 2005.

Em qualquer cenário diante desta invasão de gafanhotos-do-deserto, a resiliência humana de povos africanos mais uma vez é colocada em xeque. Um preço muito alto a ser pago pelo descompasso da humanidade acelerado por um modelo de desenvolvimento fóssil.

*Sucena Shkrada Resk – jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk 

(https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
#Envolverde

Micróbios encontrados na terra tem ação similar a antidepressivos

Estudos relacionam o contato com a terra com aumento da produção de serotonina e consequente melhora na saúde e sensação de bem-estar



 terra antidepressivo felicidade


Se sujar de terra pode ser uma maneira de ficar mais feliz e aumentar a sensação de bem estar. É o que apontam estudos realizados com o micróbio vaccae, encontrado em solos saudáveis.

Pesquisadores estudaram a reação de pacientes com câncer a estes micróbios e descobriram que os níveis de stress caíram consideravelmente entre aqueles que tiveram contato com os micro-organismos. Outros estudos estão sendo conduzidos para avaliar a possível melhoria na qualidade de vida de pacientes com doenças inflamatórias, como artrite.

Os cientistas também realizaram testes em dois grupos de ratos: um teve contato com o micróbio e o outro não. As capacidades cognitivas e de concentração aumentaram no grupo de ratos em contato com o vaccae, que também teve uma redução nos níveis de stress. Os resultados positivos puderam ser notados durante 3 semanas.




Efeito similar a antidepressivos

O micróbio vaccae demonstrou ter efeitos similares a remédios antidepressivos, como o Prozac, mas sem os efeitos colaterais destas drogas. Isso porque os micro-organismos elevam os níveis de ocitocina no organismo, o que aumenta a produção de serotonina.

Baixos índices de serotonina são associados a quadros depressivos, ansiedade, distúrbio bipolar e transtorno obsessivo compulsivo.

O vaccae é encontrado em solos saudáveis, livres de poluentes, e quando as pessoas entram em contato com este solo e com estes micróbios, a produção de serotonina é estimulada gerando uma sensação de felicidade e relaxamento.

O contato com os micro-organismos acontece viva aérea e, por vezes, por pequenos cortes que dão acesso ao sistema sanguíneo. Além de não ter efeitos colaterais negativos, o hábito de plantar e cultivar plantas pode ajudar também no desenvolvimento de hábitos alimentares mais saudáveis.



Foto: Brenda Amaral
Para mais informações, acesse os estudos publicados (em inglês):
“Identification of an Immune-Responsive Mesolimbocortical Serotonergic System: Potential Role in Regulation of Emotional Behavior”
“Mind & Brain/Depression and Happiness – Raw Data “Is Dirt the New Prozac?”

RJ reduz 1 bilhão de sacolas plásticas em 6 meses


 sacolas no Rio

Antes da proibição, cerca de 4 bilhões de sacolas eram distribuídas no Rio de Janeiro.

Oficialmente, a proibição à distribuição gratuita de sacolas plásticas no Rio de Janeiro passou a valer para todos os estabelecimentos só neste ano. Ainda assim, o setor já conseguiu uma redução impressionante: em seis meses de adequação da Lei Estadual nº 8.006/18 houve redução de cerca de 50% na distribuição de sacolinhas.

Apontada pela Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), a marca de um bilhão a menos de sacos produzidos com petróleo reflete uma pequena amostra do quanto ainda é possível fazer pelo meio ambiente.

É importante salientar que a redução pode ter sido ainda maior, uma vez que o levantamento foi feito apenas nos estabelecimentos que aderiram ao movimento “Desplastifique Já!” da Asserj. Outro ponto é que os números são referentes ao período de junho a dezembro de 2019, quando a lei ainda não valia para supermercados de pequeno porte – apesar de muitos terem se adequado antes da exigência, segundo a associação.

Antes da proibição, estima-se que, por ano, cerca de 4 bilhões de sacolas plásticas eram distribuídas no Rio de Janeiro. O estado foi o primeiro do país a banir as sacolinhas, sancionando a lei em 2018. Antes, as cidades de Belo Horizonte e São Paulo haviam implementado leis semelhantes. Além disso, o Rio também proibiu a distribuição de canudos plásticos e microesferas plásticas que, comumente, são usadas na produção de cosméticos e produtos de higiene, como pasta dental.


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Lançada em junho de 2019, a campanha da Asserj busca conscientizar os cariocas para a redução do uso de plásticos.
Leia também: Rio de Janeiro aprova lei que bane microesferas plásticas

RJ passa a multar estabelecimentos que oferecer canudos de plástico

É lei: plásticos de uso único serão proibidos em São Paulo

Marcia Sousa
Jornalista aparelhada para gostar de passarinhos. Tem interesse por mais assuntos do que é capaz de acompanhar. Aqui escreve sobre infinitas possibilidades de tornar o mundo um pouquinho melhor.

Usina solar flutuante vai ser testada no reservatório Billings

Tecnologia inédita na capital paulista começa a funcionar em fevereiro de 2020 e vai passar por 90 dias de testes 

O projeto piloto da primeira usina fotovoltaica flutuante da cidade de São Paulo começa a operar no dia 28 de fevereiro de 2020 no reservatório Billings, junto à usina elevatória de Pedreira. Foram investidos R$ 450 mil em equipamentos e o empreendimento de 100 kilowatts passa a ocupar uma área de mil metros quadrados.

O projeto piloto vai funcionar como teste durante 90 dias e faz parte de ações para o desenvolvimento de fontes alternativas e sustentáveis na geração de energia elétrica. A instalação é uma parceria entre a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, por meio da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), e a Sunlution Soluções em Energia Ltda.

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Desenvolvimento sustentável

“Nós temos que buscar alternativas em parceria com a iniciativa privada e com a população a fim de mudarmos nossos hábitos e investirmos no desenvolvimento sustentável. Cuidar do meio ambiente é um dever de todos! A SIMA está atenta e buscando desenvolver políticas públicas e ações que contribuem para preservar o nosso meio ambiente”, explica o secretário Marcos Penido.

O teste servirá para avaliar a viabilidade da implantação de usinas fotovoltaicas nos reservatórios da Capital e, se a experiência demonstrar a viabilidade desse tipo de fonte, a EMAE abrirá uma nova chamada pública para implantação de usinas fotovoltaicas flutuantes nas represas Billings e Guarapiranga.

A escolha da empresa Sunlution para implantação do projeto piloto ocorreu por meio de um Chamamento Público, lançado em outubro. A empresa enviou a documentação comprobatória dentro dos critérios técnicos e financeiros exigidos pela companhia. A energia gerada deve alimentar um dos escritórios da EMAE.

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Natasha Olsen
Apaixonada pelo mar e pelo mato (apesar da relação difícil com insetos). Jornalista, com especialização em Comunicação Corporativa, descobriu na Sustentabilidade seu propósito. Estuda Gestão Ambiental e procura descobrir diariamente como nossas escolhas podem construir um mundo melhor para todos.