Silvia Nobre Waiãpi reage ao assassinato do bebê Vitor Kaingang
com discurso emocionado; atriz, fisioterapeuta, tenente do Exército, ela
cobra governo e sociedade
Por
Alceu Luís Castilho (
@alceucastilho)
Qual o lugar de Vítor Kaingang? Ele foi assassinado aos 2 anos no dia
30 de dezembro, na rodoviária de Imbituba (SC). Qual o lugar dos
indígenas em nossa sociedade? O desabafo emocionado da tenente (atriz,
fisioterapeuta) Sílvia Nobre Waiãpi sobre a morte de Vítor traz embutida
essa reflexão – ou a denúncia de que nós, brancos, não oferecemos
nenhum lugar aos povos indígenas. Na cidade, não pode. E, no campo, as
terras são tomadas. Por exemplo, pelo agronegócio.
A degola de Vítor não motivou grande comoção no país. O principal
jornal do país, a Folha, só descobriu nesta terça-feira o assassinato,
em texto seco sobre o pai do bebê Kaingang:
Acabou com o meu mundo, diz índio pai de bebê esfaqueado no litoral de SC.
E é exatamente essa indiferença um dos temas do desabafo de
Sílvia, da etnia Waiãpi, do Amapá, que já fez pontas como atriz na Globo, é fisioterapeuta e tenente do Exército:
“Eu não quero ser como vocês. Não. Não assim. Que silencia diante de
tanta dor e que não tem coragem pra ficar do lado daquilo que é certo”.
Pela importância do depoimento, transcrevemos o texto do
vídeo (que
começa com uma saudação em seu idioma). Embora possa ser questionado em
alguns aspectos, como na associação entre direitos humanos e defesa de
bandidos, trata-se de um tapa na cara da civilização ocidental:
“Não, não está nada bem.
Não vim aqui dizer o quanto que estou feliz, o quanto que eu venci na vida, ou que a sociedade é linda.
Eu vim aqui falar do Vítor. Vítor Kaingang.
Uma criança de 2 anos que foi degolada em plena praça pública, enquanto mamava no seio da mãe.
Eu queria saber aonde está a Comissão de Direitos Humanos, que até agora não se manifestou.
Só nós, indígenas, estamos nos manifestando, repudiando esse ato grosseiro, inimaginável.
Uma criança de 2 anos sendo degolada em praça pública!
Ah, porque ele é índio.
Ele não podia ir pra cidade.
A família dele não podia ir pra cidade.
Os índios não podem ir pra cidade.
Nós lutamos tanto por inclusão social, e o que nós vemos é sabe o quê?
Que quando nós vamos pra cidade, a cidade não nos aceita.
Mas querem plantar em nossa terra.
Querem invadir as nossas terras.
Pra quê?
Pra plantar o arroz, pra plantar o feijão, pra produzir a soja, pra plantar a banana, plantar tudo que vocês comem na cidade.
Que vocês podem ir no supermercado pra comprar.
Então você tem o direito de invadir, você tem o direito de usar aquilo que era nosso e que é nosso.
Mas nós não podemos ir na cidade.
Porque nós seremos degolados.
Você sabia que aquilo que você come, na sua casa, está manchado de sangue?
Sabe por quê?
Porque os homens do agronegócio mandaram matar o nosso povo!
Pra você poder comer…
E só vocês que têm direito à comida.
Só vocês que podem comer. Eu não posso.
Eu não tenho direito à água gelada, eu não tenho direito à energia elétrica, porque eu sou índia.
Parabéns, sociedade.
Por que vocês não fazem nada?
Porque não é o filho de vocês.
Era só uma criança indígena.
Menos um. Menos um índio na sociedade.
Mas eu duvido que se fosse UMA CRIANÇA BRANCA, branca, uma não indígena,
todos estavam aí, nas praças, andando, contra, fazendo manifestação.
Hipócritas!
Que dor…
Que dor.
Isso nunca vai acabar.
Nós ainda estamos em 1500.
É loucura imaginar isso, mas nós ainda estamos em 1500.
Aonde um cidadão brasileiro se acha no direito de degolar uma criança indígena, enquanto mama no colo da mãe.
Vai ficar como?
Vítor Kaingang vai desaparecer da história?
Querem eliminar Vítor Kaingang.
Assim como vocês eliminaram o Galdino. O Galdino Pataxó.
Queimado vivo em Brasília.
Parabéns, sociedade.
Eu não sei o que dizer.
Eu não sei dizer pra vocês que dói.
E nenhum de vocês de direitos humanos foi consolar a mãe do Vítor Kaingang.
Vocês, parlamentares, vocês que fazem as leis, por que vocês fazem tantas leis se vocês não cumprem?
E essa criança vai ficar como?
E essa mãe vai ficar como?
Ela não tem direito a voz.
Ela não tem direito a identidade.
Ela não tem direito a cultura.
Porque ela é índia.
Porque ela é índia.
Gente, é inadmissível que você fique na sua casa, que você não cobre nada de ninguém.
Vendo um povo ser assassinado.
Nós não somos bandidos.
Nós temos uma forma diferente de pensar e de agir.
Foram vocês que vieram pra cá.
Vocês são fruto desse povo que veio pra cá nos destruir.
Por favor, faça alguma coisa.
Porque nós, indígenas, estamos fazendo. Eu estou fazendo.
Nós estamos estudando. Nós estamos fazendo tudo aquilo que podemos.
Pra não permitir que isso de novo aconteça.
Que nunca mais isso aconteça.
Mas o que há de se esperar de um país que vai fazer legislação a favor de bandido?
Porque é isso o que tá acontecendo.
Sociedade, acorda.
Sociedade, acorda. Era uma criança indefesa, gente.
Mamando no colo de sua mãe.
E se aproxima um não índio, um branco, e corta a garganta dela.
Se fôssemos nós, ah, era um bando de selvagens.
São selvagens. É só isso que nós ouvimos.
Que somos selvagens, que somos sujos, que não sabemos falar bem o português.
Eu estou falando bem o português, eu falo bem português.
Eu não quero ser como vocês.
Não. Não assim. Que silencia diante de tanta dor e que não tem coragem pra ficar do lado daquilo que é certo.
É inadmissível perceber que nós estamos em 2016 e parece que voltamos no tempo.
Ou parece que nunca saímos de 1500.
Justiça para os Kaingang.
Justiça para Vítor.
Se a polícia mata um bandido, o governo tem que indenizar a família.
E a vítima? Quando um bandido mata um cidadão brasileiro.
E Vítor?”
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Somos covardes e inativos em nome de uma sociedade bruta, estúpida e cruel. Defendemos os comportamentos, etiquetas dos idiotas metidos a besta que fazem protestos muitas vezes sem sentido que leva a nenhum resultado.
Que coisa triste o caso desse indiozinho morto dessa forma cruel, e a imprensa dessa sociedade que não tem nada de socialização se cala.
Está havendo a dessocialização dessa sociedade? Estamos nos tornando, agora me enrolei… tornando o que? Diria selvagens, mas levaria os leitores a imaginar nos índios. Índios sabem respeitar sua sociedade, seus costumes, suas maneiras e leis, que nós mestiços não sabemos, apenas ficamos nas nossas cidades solitários presos em apartamentos ou casas vivendo todos entre desconhecidos.
A culpa é dos pais e da sociedade : A culpa é dos pais que não o apoiaram quando ele se auto-declarou adorador de Satã; adorador das trevas; a culpa é dos pais que não deram apoio e amor quando ele mais precisou pra continuar chocando a sociedade quando ele assumiu que adorava a nictofilia!
A culpa é da escola e da sociedade que não o apoiou em usar preto e dar uma de estranho! A culpa é dos pais que não o apoiaram quando ele quis usar drogas! A culpa é dos pais que não o amaram quando ele puxou faca para eles.
A culpa é da sociedade e principalmente dos pais que não apoiaram depois de tudo isso feito não aceitaram vê -lo dando a breoco! Beijando outro garoto em público!
Poxa coitadinho…. a culpa é do irmão que deu uma surra nele porque ele usava drogas; não respeitava os pais… e se achava o invencível! Depois que apanhou e não foi apoiado; não passaram a mão na cabeça e muito menos não conseguiram amar uma “pessoa” assim tão dócil; tão vítima e tão santa!
A culpa é da sociedade e da escola que não o aplaudiu com esse comportamento…. nossa! Que sofrimento! Que dor! Que depressão profunda! A depressão foi tão profunda que as drogas nem sequer permitiram que ele se matasse! Maldita droga! Maldita sociedade que ainda não aprovou a liberação da maconha!
A culpa é dos pais que queriam que ele estivesse no caminho de honra! Malditos pais que não o entenderam; nem amaram e nem apoiaram ele que usava drogas; não aceitava conselhos; queria passar o dia na rua com delinquentes.
A culpa é da mãe que além de ser ameaçada com faca; tirou o cabo do computador para ele não acessar a Internet e viajar num mundo que ele escolheu pra ele. Pobre Matheus….. a sociedade não o aceitou com um bando de garotos que ficavam na praça usando drogas! Ele não teve escolha… ele foi obrigado…. ele foi obrigado pelo pai; pela mãe; pelo irmão e pela escola a ficar observando de longe aquele indiozinho!
A culpa foi de quem colocou o estilete na mochila!
A culpa foi de quem vendeu pra ele as luvas que ele usou pra não deixar impressão digital e não se sujar com sangue desse índio!
A culpa deve ter sido da indígena Kaingang que não deveria ir na cidade vender artesanato…. a culpa dessa sociedade desigual que tem liberdade religiosa e alguns não quiseram usar drogas ou simular quem adoravam um tal de “Satã”… coitadinho do Matheus que teve a chance de escolha… culpa total do Vitor Kaingang que tinha 2 anos; não sabia se defender; era indigena; e sentindo fome, mamou no seio da mãe e não “ficou esperto” pra desconfiar que alguém tão frágil como o Matheus de porte de estilete e luvas…. deu tempo até de ir no banheiro da rodoviária dar uma “cagada”…. e ficar aliviado pra poder sair cortando gargantas… quantos maus tratos esse pobre Matheus sofreu! Quanta falta de apoio! Malditos pais, malditos colegas de classe ! São esses os verdadeiros culpados!
Malditos indígenas que vão pra cidade… e ficaram no caminho do vitimado Matheus!…. pobre Matheuszinho que ficou altamente insano e louco por falta de apoio; amor e o uso das drogas…. a culpa é todos…. menos do Matheus.
Mas ainda tem solução para ele, ele vai se reabilitar depois que cumprir pena no presídio; ele vai ficar forte recebendo comida sem precisar trabalhar; vai ter psiquiatra pra atendê -lo como louco! Que bom que há justiça pro Matheus! Ainda há uma chance…. Talvez se os pais apoiarem agora! Sim! Porque ele é a vítima! Ele está doente coitadinho e precisa de muito amor e compreensão!
Ainda há uma chance para Matheus; depois que Vitor Kaingang ressuscitar e ir na praça em Imbituba dar uma Abraço nele e talvez oferecer a garganta para aliviar as dores do Matheus! Coitado do Matheus! Ele não merece passar por isso…. ele é só uma vítima dessa sociedade! A sociedade tem que pagar mesmo!!! Tem que pagar mais imposto porque não poderá faltar comida no presídio, lençol, colchão; visita íntima; horário para banho de sol; e quem sabe fumar mais “umzinho”…. ainda bem que existe DIREITOS HUMANOS NO BRASIL PRA SALVAR O MATHEUS!