quarta-feira, 14 de abril de 2021

Por que as baleias encalham? Nós também temos uma parcela de culpa

 

Por que as baleias encalham? Nós também temos uma parcela de culpa

DE MARÉS ENGANOSAS À POLUIÇÃO SONORA E PESCA EM EXCESSO, HÁ MUITOS MOTIVOS PELOS QUAIS AS BALEIAS — ÀS VEZES CENTENAS AO MESMO TEMPO — ACABEM ENCALHANDO NA TERRA FIRME.

Baleia-comum encalhada na praia de Holland-on-Sea, cidade localizada na costa leste da Inglaterra, em 30 de maio de 2020. Embora seja um fenômeno global, baleias encalham com mais frequência ao longo da costa rasa do Mar do Norte.
FOTO DE ROB DEAVILLE, CSIP-ZSL

Todo ano, milhares de baleias, golfinhos e outros animais marinhos aparecem em praias do mundo inteiro. Esse fenômeno, conhecido como encalhe, ocorre tanto com animais saudáveis quanto com aqueles feridos (ou mortos), que são arrastados pelo vento até a praia. Às vezes, grupos de animais marinhos encalham juntos, em um fenômeno conhecido como encalhe em massa. Outras vezes, uma determinada região testemunha um número incomum de encalhes em um período de tempo.

No Reino Unido, o Programa de Investigação de Encalhe de Cetáceos , da Sociedade Zoológica de Londres (CSIP, na sigla em inglês), registrou mais de 12 mil cetáceos encalhados desde 1990. Eventos importantes — como o encalhe de mais de 300 baleias-sei na região da Patagônia no sul do Chile, em 2015, ou uma série de baleias-bicudas que encalharam no litoral de Guam entre 2007 e 2019 — mostram que esse é um fenômeno global. As causas de um encalhe podem estar ligadas a diversos fatores.

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“A variedade de fatores que podem causar o encalhe de baleias e golfinhos é tão grande quanto a quantidade de encalhes que acontecem”, relata Kevin Robinson, diretor do Centro de Pesquisa e Resgate de Cetáceos, uma instituição de caridade escocesa voltada à conservação da vida marinha. Esses são os fatores identificados por cientistas como causas de encalhes — desde costas marítimas confusas até ameaças criadas pelos humanos.

Topografia

A topografia costeira e as variações na maré levam algumas regiões a se tornarem armadilhas para mamíferos marinhos. Encalhes em massa ocorrem regularmente em lugares como Farewell Spit na Nova Zelândia, a costa do Mar do Norte, e Cape Cod ,na costa leste dos Estados Unidos. Nick Davison, coordenador de encalhes do Projeto Escocês de Encalhe de Animais Marinhos, explica que essas regiões são muito rasas para as baleias circularem porque a habilidade de ecolocalização delas funciona apenas em águas profundas.

Além disso, durante um ciclo de maré, a água pode retroceder diversos quilômetros em poucos minutos, fazendo com que alguns animais fiquem presos. Daren Grover, do Projeto Jonah, explica que, se os animais não percebem que estão em águas mais rasas, encontram-se em perigo quando a maré vira. “O volume de água simplesmente diminui”, ele relata. “Eles ficam desamparados.”

Causas naturais

Uma baleia encalhada pode estar doente ou machucada, senil, perdida, incapaz de se alimentar ou em algum outro tipo de risco — por exemplo, um trabalho de parto difícil — ou, simplesmente, velha, explica Dan Jarvis, funcionário de apoio em campo e desenvolvimento de bem-estar do Instituto de Resgate de Vida Marinha British Divers . Animais enfraquecidos podem ser arrastados pelas correntes até as praias, enquanto aqueles que ficam desorientados podem chegar em águas mais rasas acidentalmente.

A predação também pode causar encalhes — tanto da presa quanto do predador. Grover lembra de situações em que golfinhos nadaram até uma praia para fugir de uma orca , assim como orcas que encalharam enquanto caçavam arraias em águas rasas. Embora se lançar às praias seja uma técnica de caça comum das orcas, às vezes, elas calculam mal a distância e precisam esperar que uma onda suficientemente grande as leve de volta ao oceano.

Mesmo que baleias saudáveis encalhem de vez em quando, a maioria delas está doente ou morta, como a baleia-comum que encalhou na costa leste da Inglaterra no dia 30 de maio de 2020. A causa de sua morte é desconhecida.
FOTO DE ROB DEAVILLE, CSIP-ZSL

Atividades humanas

Nós também somos parte do problema. Pesca, poluição e colisões de navios estão entre as causas de muitas lesões (e, consequentemente, mortes) que resultam em encalhes. A causa principal da morte de cetáceos causada por humanos é quando os animais ficam presos em redes de pesca. Robinson considera que a pesca seja a responsável pela extinção funcional do baiji ,uma espécie de golfinho, e pela extinção iminente da vaquita. A pesca em excesso também priva os cetáceos de suas maiores fontes de alimento, levando-os a se aventurarem em águas costeiras ou ondas de maré para caçarem.

Algumas causas, como a poluição, são traiçoeiras. Todos os químicos chegam até as águas oceânicas em algum momento, causando problemas duradouros. Rob Deaville, gerente de projetos da CSIP, conta que há evidências de animais mortos com níveis maiores de químicos poluentes que animais saudáveis, embora seja difícil provar a causa verdadeira. Ao mesmo tempo, a poluição feita por meio de resíduos plásticos também prejudica esses animais, pois causam enredamento, ingestão ou contaminação de microplásticos acumulados em seus corpos. 

Por fim, a possibilidade de ser atingido por um navio representa um problema para as espécies de movimentos lentos, como as baleias-francas do Norte do Atlântico. Colisões podem causar grandes lesões (ou morte) e levar ao encalhe.

Oceano barulhento

Poluição sonora, incluindo pulsações decorrentes do uso de sonares e pesquisas sísmicas, interferem nas habilidades de comunicação e movimento das baleias, e podem conduzi-las à terra devido à surdez, desorientação ou medo. Espécies que vivem no oceano aberto e em águas profundas, como as baleias-bicudas, são especialmente suscetíveis aos sonares, mesmo que estejam a quilômetros de distância. Acredita-se que atividades de sonares estejam associadas à série de encalhes de baleias-bicudas em Guam, por exemplo. Robinson sugere que as baleias “talvez sejam os animais com a acústica mais sofisticada do planeta”. Devido às ondas sonoras viajarem mais rápido na água do que no ar e manterem a intensidade por mais tempo, os sons podem causar lesões nos ouvidos desses animais.

“Então, toda vez que uma baleia tenta mergulhar, ela não consegue equalizar a pressão”, explica Robinson. Incapaz de mergulhar, a baleia não consegue caçar, ficando desnutrida e desidratada, uma vez que ela ingere água através do alimento. Enfraquecida, ela será arrastada pela corrente e, por fim, acabará no litoral.

Encalhes em massa

Encalhes em massa são definidos como qualquer evento envolvendo dois animais — com exceção de uma mãe e seu filhote — até um grupo inteiro, que pode variar entre poucas baleias até uma centena delas. Geralmente, eles ocorrem com espécies altamente sociáveis, como a baleia-piloto e o golfinho-cabeça-de-melão. Devido ao instinto de manada, o grupo inteiro permanecerá unido, mesmo se um deles estiver doente ou prejudicado, fazendo com que todos encalhem juntos ao tentarem ajudar um indivíduo em sofrimento.

Seus laços são tão fortes que, mesmo se os animais saudáveis sejam mandados de volta ao oceano — ou “desencalhados” — e ouvirem um membro do grupo chamando-os da praia, eles encalharão novamente para se reunirem a esse animal. Para evitar que isso aconteça, os resgatadores devem cuidar primeiro do animal acometido, antes de desencalhar o resto do grupo.

Chances de sobrevivência

Quando uma baleia encalha, começa uma corrida contra o tempo. O peso do cetáceo, que geralmente era sustentado pela água, fará com que ela fique esmagada contra o chão. Devido à circulação reduzida, as toxinas se acumulam, intoxicando o animal. Fora da água, a camada grossa de gordura da baleia pode gerar seu superaquecimento. Assim como outros mamíferos, as baleias respiram ar, então elas podem se afogar quando estão encalhadas se a água entrar em seu respiradouro durante a maré alta.

Se você encontrar uma baleia encalhada, não tente movê-la. Arrastar o animal de volta à água é “uma linha de ação totalmente errada”, explica Robinson, já que pode danificar suas caudas delicadas e pode ser fatal caso o animal necessite de tratamento veterinário antes de ser liberado. Em vez disso, instituições de caridade marinhas, a guarda costeira ou serviços de emergência podem prestar auxílio enquanto se aguarda voluntários treinados e veterinários. Mantenha o animal ereto, molhado (evite molhar o respiradouro) e o cubra para evitar queimaduras de sol.

Mesmo assim, as taxas de sobrevivência são baixas. Equipes de resgate tentarão desencalhar somente os animais que estejam saudáveis o suficiente para sobreviver. Outras opções seriam colocar o animal em cativeiro — em países onde isso é permitido — ou eutanásia. Ainda que seja angustiante, Jarvis argumenta que essa é a melhor decisão baseada no bem-estar do animal, em vez de submetê-lo ao cativeiro.

O lado bom

Os encalhes ajudam os cientistas a entenderem melhor esses animais, especialmente as espécies difíceis de serem estudadas, como as baleias-bicudas. As necrópsias ajudam os pesquisadores a entenderem não apenas como o animal morreu, mas também como ele viveu: onde esteve, o que comeu, como foi afetado pela poluição com plástico ou químicos e quantas vezes procriou. “Não se trata apenas da morte”, afirma Deaville. “Trata-se também da sua vida”.

Além disso, Deaville chama a atenção para o fato de que os encalhes podem ser um bom sinal para as espécies, porque indicam números populacionais mais saudáveis: de forma simples, se o número de animais for maior, é mais provável que eles encalhem devido a causas naturais, mesmo se outras ameaças sejam minimizadas. Na Escócia, a diminuição no número de encalhes de orcas deixa claro que sobraram poucos indivíduos de uma população que está em perigo de extinção; enquanto que o aumento de encalhes de baleias-jubarte no Reino Unido indica que a população aumentou desde que a pesca de baleias foi banida.

“Contraditoriamente”, conta Deaville, “é ruim para o animal, mas uma situação melhor para sua população”.

Fonte: National Geographic Brasil

MPF quer investigar presidente do Ibama por afrouxar regras para exportação de madeira

 

MPF quer investigar presidente do Ibama por afrouxar regras para exportação de madeira

terça-feira, 13 abril 2021 22:35
Presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim. Foto: Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF.

A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio do Ministério Público Federal (4CCR/MPF) pediu a abertura de investigação para apurar a eventual responsabilidade do presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, por assinar despachos que liberaram a exportação de madeira sem fiscalização ambiental. O pedido foi feito nesta segunda-feira (12). O MPF quer saber se o comandante do Ibama cometeu improbidade administrativa. 

A decisão da 4ª Câmara ocorreu após um procurador da República no Pará arquivar um inquérito que investigava a venda ilegal de madeira no Pará. O procurador responsável pelo caso pediu o arquivamento após concluir que os responsáveis pela exportação apenas cumpriram com a atual orientação do Ibama, que dispensou a exigência do documento. O arquivamento foi encaminhado ao colegiado, que não concordou com a decisão e reabriu o inquérito, desta vez com foco na orientação dada pelo presidente do Ibama.

Em fevereiro de 2020, atendendo pedidos da Associação Brasileira de Empresas Concessionárias Florestais (Confloresta) e da Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira do Estado do Pará (Aimex), o presidente do Ibama eliminou a necessidade de autorização específica para exportação de madeira de origem nativa em geral, como estabelecia a Instrução Normativa 15/2011. A autorização só seria necessária em caso envolvendo espécies em perigo de extinção. 

A decisão de Bim foi assinada na terça-feira de Carnaval. Antes, ele havia se reunido com representantes de madeireiras multadas em R$ 2,6 milhões, no início de fevereiro, como mostra reportagem de Leandro Prazeres, em O Globo

Liberou geral

Pelo novo entendimento, a legalidade da exportação seria atestada apenas pelo Documento de Origem Florestal (DOF), extraído de sistemas do Ibama, ou pela Guia Florestal (GF) expedida pelos órgãos ambientais estaduais. 

“Como a declaração no Sisdof [sistema de informação do Ibama que é alimentado pelas próprias empresas e que gera o DOF] é realizada pelo próprio exportador, ou seja, autodeclaratória, sem passar pelo controle direto do Ibama, está sujeita a erros e muitas vezes má-fé, portanto, insuficiente para o controle da legalidade do produto vegetal destinado à exportação”, aponta o Colegiado. Na avaliação dos procuradores, “permitir que o DOF ou a Guia GF/Sisflora seja equivalente à Autorização de Exportação é reduzir a capacidade e a abrangência da fiscalização, ocasionando um grave risco de danos à vegetação nativa do Brasil, em afronta direta e esvaziamento do núcleo central do direito fundamental da coletividade, em suas presentes e futuras gerações, e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”.

O pedido de investigação foi encaminhado à Procuradoria da República no Distrito Federal, unidade do Ministério Público Federal que atua na primeira instância da Justiça Federal no DF.